Estações escrita por Emma


Capítulo 35
Vendaval de Verdades


Notas iniciais do capítulo

Ainda tem alguém aqui além da minha leitora mais leal e fiel, resumindo a melhor, Mico? Se eu continuo com essa historia é principalmente por vc que nao me deixa desistir. Obrigada amiga, esse cap é todo para vc.
Perdao pelos erros e por todo esse tempo sem postar, sem mais delongas, eis aqui o capitulo.



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I've been all around the world, done all there is to do 

But you'll always be the home I wanna come home to 

You're a wild night with a hell of a view 

There ain't no placeain't no place like you” - No place (Backstreet Boys) 

 

O telefone de Sônia estava descansando num apoio próprio sobre o criado, ao lado da cama onde ela terminava de arrumar Arthur para a consulta que Alexandre tinha conseguido com o especialista, enquanto conversava com Helena por uma vídeo chamada. Ele não tinha apresentado mais febre depois daquela noite, mas por precaução, ela queria ter certeza de que tudo estava bem. Quando se tratava de seus filhos, todo cuidado era pouco. 

— Lê, você tem certeza que seus pais não vão enlouquecer com todas as crianças fazendo bagunça na fazenda? – perguntou enquanto terminava de colocar o macacãozinho azul marinho no filho. 

— Eles vão adorar, tenho certeza que amam seus filhos como se fossem netos deles. Quando me ligaram perguntando se poderiam pegar as crianças para passar o dia com eles, logo me pediram para telefonar para você e verificar se os netinhos postiços gostariam de vir também, pois eles estavam com saudade.  

— Fico muito grata por seu pai ter todo esse amor pelos meus filhos, eu particularmente tenho um carinho especial por ele. Sua mãe chegou depois, mas tem um coração não enorme e não foi difícil abrir o meu para ela entrar – ambas sorriram e Helena acenou, voltando a procurar entre as roupas uma combinação para o dia – Mas diga-me, quais seus planos para hoje? 

— Eu vou a uma loja no centro, ver se ainda encontro um vestido que vi ontem na vitrine. Heitor vai ficar louco quando me ver vestida nele. Só não parei para comprar porque os gêmeos começaram a chorar simultaneamente e Gabriela se juntou a eles, fazendo uma birra imensa porque não a deixei tomar sorvete. Imagina você querida, se ela têm toda aquela energia sem ajuda de açúcar, com uma dose extra ela me deixaria louca à noite toda. Aquela garota está ficando impossível! 

— Igual a mãe dela – Sônia sorriu e Helena revirou os olhos – Gabriela não podia ser mais filha de vocês do que é honeyPodemos nos encontrar depois da consulta de Arthur e assim você me mostra esse vestido maravilhoso, porque fiquei curiosa. 

— Quer comprar um igual para tentar Alexandre? 

— Helena! – ela protestou e depois se rendeu, soltando uma risada. 

— Que foi Sônia?! Vai me dizer que agora que vocês se acertaram não vai “matar a saudade” – a amazona balançou as sobrancelhas enquanto frisava essa parte – do seu doutor. 

— Lê, não é tão simples assim. Estamos indo devagar, não é como se eu tivesse esquecido tudo o que aconteceu nesse último ano ao decidir dar uma nova chance à ele. 

— Meu amor, eu adoraria ter seu autocontrole, porque eu juro a você, que se não fosse a relutância de Heitor, eu não teria esperado todo o resguardo necessário do parto e da cirurgia, foram quase 10 meses!  

— Não é fácil chegar nesse patamar de novo, eu desejo que você nunca experimente isso na sua vida, esse amor incontrolável dentro de você por alguém e ao mesmo tempo um mar de reservas te puxando para longe. Eu quero, não vou mentir, porém ainda não superei o fato de Alexandre ter dormido com outra mulher. Eu anseio pelos toques e carícias, mas só de pensar que ele compartilhou isso com outra pessoa, meu desejo se apaga. Dá pra entender? 

— Sim amore, eu compreendo – ela deu-lhe um sorriso solidário sentindo–se um pouco mal pela brincadeira – Não leve a sério o que eu digo, sabe que adoro brincar com você. 

— Eu sei, eu sei – Sônia disse pensativa lembrando-se do que tinha acontecido naquela noite. 

* * * 

Duas noites atrás ... 

 

Sônia pediu para que Alexandre não fosse embora, arrumou umas cobertas e pôs sobre o sofá para que ele dormisse ali, já estava tarde e se houvesse qualquer mudança em Arthur era bom que ele estivesse por perto para verificar.  

Ela não tinha como negar que o clima ficou um pouco estranho depois do beijo, no ápice da felicidade que sentira, ela não pensara, só queria sentir os lábios dele sobre os seus outra vez, para selar a nova chance a qual ela tinha os permitido. Quando ele tirou o suéter e as calças, não pode deixar de olhar de relance e apreciar a forma do corpo, ainda que dentro da samba canção e blusa regata, que ela conhecia tão bem. Afinal, ele era o marido dela, ela podia olhar! 

Mas, uma vozinha venenosa insistia em sussurrar coisas em sua mente  como: “é seu marido, porém dormiu com outra”. Shit! Balançando a cabeça, ela lhe desejou boa noite e acomodou-se para dormir. 

* * * 

Alexandre sabia que a manhã tinha chegado quando uma leve abertura na cortina que cobria as portas de vidro da sacada permitiu que um fugaz raio de sol passasse e aquecesse seu rosto. Espreguiçando-se, sentiu seu pescoço reclamar um pouco, provavelmente pela posição que tinha dormido, ele não se adaptava fácil a novos ambientes, sempre a primeira noite em um novo hotel era difícil, por mais luxuoso que você.  

Pegando seu Rolex que descansava sobre a mesa de centro na frente do sofá, ele sorriu ao ler a inscrição atrás, tinha sido um presente dela pela aprovação da tese, há um ano atrás. Olhou para a cama próxima e sorriu mais uma vez, em algum momento da noite que ele não viu, provavelmente a parte em que ele finalmente conseguiu pegar no sono, ela pegou o caçula e o colocou na cama, agora os dois dormiam abraçados e ele se permitiu deliciar com a vista por um tempo, até Arthur acordar e resolver fazer o dedo da mãe de chupeta acordando-a também. 

Ao perceber que Alexandre estava olhando-os, ela sorriu gentilmente e passou a mão pelo cabelo enquanto sentava-se na cama para acomodar o filho no peito. 

— Bom dia – quebrou o silêncio um pouco envergonhada, pois seu marido não desviou os olhos dela um segundo, admirando-a como se fosse algum tipo de obra de arte cara e preciosa. 

— Quando amanheci ao seu lado pela primeira vez, eu sempre me perguntava se você despertaria linda daquele jeito todos os dias – Alexandre deu dois passos, ainda mantendo distância, fitando-a a cada palavra dita – Os anos passaram e ainda não entendo como alguém tem o dom de acordar tão bela assim. 

— Eu estou descabelada, com olheiras de acordar pela madrugada pra amamentar e com resíduos de bebê por toda parte. Não tem nada de lindo nisso – ela desviou o olhar para o filho que passou a segurar seu dedo e aperta-lo.  

— Pelo contrário querida, não tem nada em você que não seja lindo – sentando-se ao seu lado na cama, descansou a mão em sua coxa numa carícia inocente. 

— Você só está dizendo isso porque quer se retratar – ela tentou descontrair, balançando o rosto em negação, mas um sorriso bobo escapou de seus lábios e as bochechas coradas revelavam claramente que o comentário tinha surtido o efeito desejado. 

— Não, eu digo porque é a verdade. Você é realmente a mulher mais bonita do mundo. 

— Faz um tempinho que não carrego mais esse título – constatou. Alexandre instintivamente segurou a maçã do rosto dela em uma carícia suave.  

— Alguém que já o carregou por 5 vezes consecutivas com certeza pode revoga-lo quando quiser – ela sorriu e ele a achou ainda mais linda quando, outra vez, as bochechas dela ficaram vermelhas pelo elogio. 

— Obrigada – ele queria beija-la, mas conteve-se em inclinar-se um pouco e deixar um beijo casto em sua testa. Sonia permaneceu encarando-o e pela forma hesitante em que ela abriu e fechou a boca duas vezes, Alexandre não teve dúvidas de que ela queria lhe perguntar algo. Até que...  

— Eu... – fechando os olhos ela puxou uma respiração profunda e abriu-os outra vez – estou aqui me perguntando como serão as coisas entre nós depois da decisão que tomamos ontem? 

Bufando uma risada, Ale pegou sua mão livre e cruzou seus dedos, deixando um sorriso empático delinear seus lábios. “Que resposta ele teria se sua dúvida era exatamente a mesma?!” 

— My darling, não faço a menor ideia... – dando um pequeno e gentil aperto em suas mãos unidas, continuou – Mas quando diz respeito a você eu sempre estarei disposto à tudo. O importante é, o que você – enfatizou – quer? 

Depois de pensar alguns segundos, tempo no qual ela mantinha o olhar fixo nos pequenos círculos que ele fazia com o polegar onde este tocava sua pele, respondeu, ainda que não soubesse de fato o que desejava. 

— Bem... Do que se trata um recomeço? — ela voltou os olhos para os dele, mesmo que não estivesse esperando uma resposta naquele momento — Nunca imaginei que pudesse ser tão complicado e estranho. Até porque, eu não sei direito o que eu quero aqui. Sim, eu desejo estar contigo outra vez e seguir em frente, entretanto, esquecer é mais difícil do que eu pensava. Não me sinto pronta pra dividir uma casa com você outra vez, mas não te quero longe de mim e dos nosso filhos... Eu quero tantas coisas, porém, tenho muitas reservas. Talvez, o que eu mais precise e espere de você agora é: — Alexandre permanecia fitando-a com interesse e atenção – paciência, um pouco de espaço e tempo. Está disposto a me oferecer isso? 

— Claro que sim Sonia, reafirmo o que lhe disse anteriormente, procurarei meios de oferecer o que precisar de mim. Eu não sou um idiota querida, bem, pelo menos não costumava ser, mas prometo dar o meu melhor para consertar os males que fiz. 

— Fico feliz em saber — ele olhou a hora em seu relógio de pulso, constando que se quisesse chegar a tempo de seus compromissos, deveria partir em no máximo 10 minutos. 

— Eu preciso ir para o hospital, o médico que está me substituindo me pediu ajuda no procedimento da cirurgia de um paciente e marquei com ele essa manhã. Vou aproveitar e ver se  acho um espaço na agenda de algum pediatra para Arthur. 

— Seria perfeito se você conseguisse, sei que não é fácil devido à época do ano em que estamos.  

— Eu darei um jeito querida, tenho certeza que algum dos pediatras não recusará um favor à um homem ferido – ele fingiu uma expressão dolorida ao apontar para o abdômen, trazendo outro sorriso ao belo rosto dela.  

— Vou esperar você me ligar para confirmar então. Obrigada. 

 

* * * 

Presente... 

Naquela manhã Vicente tinha acordado de bom humor, se arrumou e decidiu que faria uma visita a Melissa no hospital. Já tinham algumas semanas que eles não mantinham contato, ela o ignorava a maioria das vezes, seja por chamadas ou mensagens, mas ele já estava habituado, sabia que ela lhe devia e só seguia seus planos por obrigação.  

No começo, era ciente de que  a fixação em ter Alexandre era seu principal impulso, entretanto, as coisas tinham mudado depois de tudo e aquilo era um problema. Ela sabia muito, tinha meios de acabar com tudo o que ele estava conquistando outra vez e Vicente não pouparia ninguém que se colocasse entre ele e seus planos 

Ao descer do carro, ele notou a bela mulher que guiava um carrinho com um bebê dentro e ficou extremamente surpreso quando percebeu que era Sonia. “Quem era o pequeno bebê que ela carregava? Não poderia ser deles dois certo?! Como ninguém ficou sabendo disso?”.  

Pegando um pequeno maço de flores do jardim na frente do edifício, ele esperou que Sônia entrasse e seguiu seu caminho, mas não sem antes parar na recepção e tentar sutilmente arrancar alguma informação sobre a identidade daquele bebê. 

Não foi difícil, na verdade, foi justamente o contrário, ele ainda se impressionava com a ingenuidade das pessoas, um pequeno gesto de gentileza, umas flores pegas em um jardim qualquer e se arrancava fácil qualquer informação. Sorrindo satisfeito, olhou para a última flor remanescente em sua mão e seguiu por um caminho já conhecido. 

 

*** 

Quando Sônia chegou ao hospital foi recebida com muita gentileza por Clarisse, Alexandre estava auxiliando uma última cirurgia marcada antes do natal e não pode recebê-los, mas ela a informou que quando a consulta acabasse, provavelmente Alexandre também estaria livre e encontraria os dois na sua sala.  

A pediatra que os atenderia ainda estava ocupada com outro compromisso, Clarisse aproveitou para demonstrar o quanto estava feliz com o novo pequeno pacote de amor de seus patrões e como Sonia apreciava muito a companhia da senhora, ambas engataram uma longa conversa, envolvendo as crianças, os planos para o natal e qualquer boa novidade que tinha sido perdida aquele ano. 

— Sabe Sra. Del Rio, é impressionante o bem que você faz ao Dr. Alexandre, a áurea ao redor dele muda quando a senhora está aqui. 

— Por que você está dizendo isso Clarisse? — ela perguntou com um sorriso intrigado. 

— Porque a senhora precisa saber que de todos os anos que eu trabalho aqui com ele, esse foi o primeiro em que o vi realmente mal humorado, o doutor não sabe disfarçar e é muito educado para descontar em alguém, então retém tudo aquilo para si. Nunca imaginei que ele sempre tão alegre e gentil, pudesse se tornar tão rabugento – ela sorriu e Sônia a acompanhou – e bastou poucos dias com você de volta à vida dele e nosso querido patrão havia tornado — entendendo o que ela realmente queria dizer, seu sorriso cresceu um pouco mais. 

— Obrigada Clarisse, é importante pra mim saber disso. 

Sonia ficou realmente feliz em saber aquilo, em contrapartida o tempo passou muito rápido, a outra consulta terminou e logo mãe e filho foram chamados, Clarisse se despediu desejando boas festas, pois seu recesso iniciaria quando a mesma saísse para o almoço logo mais. E, depois  de um caloroso abraço e um beijo suave na testa do bebê, ela partiu deixando Sônia para seu compromisso. 

— Olá, sou a doutora Alba Fuentes, vou atender seu belo menino hoje — ela terminou estendendo a mão para um cumprimento que foi prontamente aceito por Sonia. 

— Oi, sou Sônia… - ela parou um pouco, ainda incerta sobre qual sobrenome usar – Del Rio, espo… 

— Esposa do doutor Del Rio, eu sei – Alba sorriu simpática. 

— É um prazer. Obrigada por nos atender tao em cima da hora. 

Nao se preocupe, eu ainda tinha alguns compromissos a cumprir aqui no hospital antes do recesso e saiba senhora, quando seu marido nos pede um favor nos nunca sabemos como negar –  as duas mulheres sorriram e Alba continuou – Dr. Del Rio me informou um pouco sobre o quadro de Arthur, mas você trouxe os últimos exames? — Sonia lhe estendeu uma pasta e ambas desenrolaram uma conversa sobre o curto histórico médico do menino enquanto a consulta se seguia. 

*** 

Melissa estava pensativa e receosa, porém, sabia que havia tomado a decisão certa. Aquela seria a melhor forma de recomeçar, tirar todo aquele peso dos seus ombros, acabar com os olhares julgadores que recebia da maioria dos seus colegas, com a culpa que ultimamente vinha corroendo seu coração. Não seria fácil, todavia, o caminho certo sempre é o mais difícil de se seguir. 

Estava preparando-se para sair quando o viu entrar e sentar-se na cadeira a frente de sua mesa como se houvesse recebido um convite para isso. Desenhando um sorriso coberto de malícia no rosto, Vicente lhe estendeu uma singela flor, mas ela havia se recusado a alçar suas mãos para pegá–la. Não se deixando abalar, o homem depositou a flor sobre a mesa e iniciou a falar: 

— É assim que você recebe o presente de natal que te trago com tanto carinho? – ela revirou os olhos e bufou. 

— A quem você quer enganar Vicente? O que você quer? Você jamais viria aqui só para me trazer um presente. 

Ignorando seu pouco humor, ele sorriu. 

— Você me julga muito mal minha cara, porque eu estava apenas dando uma volta pelo meu hospital e imagina quem eu vejo entrando? Sônia e a nova pequena adição da família Del Rio – ele se levantou a encarando severamente e Melissa se sentiu encurralada — como você não me disse uma coisa dessas? 

— Será que é porque eu não sabia?! – ela empurrou a cadeira para trás com intuito de se livrar da opressão que a presença dele lhe trazia. 

— Eu não consigo acreditar que você não sabia, Alexandre não deixou escapar nada? – não lhe dando trégua ele deu uma volta até que estivesse na frente dela. 

— Vicente, Sônia praticamente desapareceu depois que se mudou para a França, nenhuma revista ou blog de fofoca fez qualquer postagem sobre sua vida, pelos comentários que ouvi pelo hospital, até mesmo Alexandre só soube do pequeno agora – se levantando Melissa tentou se afastar, a presença dele era intimidante, e tão próximo como estava, ela conseguia sentir seu cheiro e isso lhe desencadeava algumas memórias muito, muito ruins.  

— E como vamos remediar essa situação querida? – o sarcasmo transbordava a respeito do último termo usado e ela se sentiu enojada. Tanto que tentou dar um passo para aumentar a distância entre eles, mas foi rudemente bloqueada por ele. 

— Isso não é problema meu Vicente! Era impossível eu saber o que acontecia entre eles, tudo graças a sua brilhante ideia que fez com Alexandre cortasse todo tipo de relações comigo! 

— Não brinque comigo garota! - ela forçou a passagem e ele a segurou pelo antebraço. 

— E o que você quer que eu faça para remediar isso? Não existe algo que possa ser feito, o menino está aqui e pronto. E não venha me pedir para “sumir” com ele, porque não sou uma sequestradora e muito menos uma assassina de crianças, não consigo descer mais baixo do que já fui!  

— Quem decide o quão baixo você desce ou não sou eu – Vicente pressionou com mais força seu braço, até deixar uma mínima distância entre eles – Se você se senta nessa cadeira e brinca de médica hoje em dia, é tudo por minha causa, então trate de ser a boa garota de sempre e obedecer as minhas ordens caladinha – buscando seus olhos, ele viu que ela estava um tanto aterrorizada e sorriu malicioso pois tinha atingido seu objetivo – não me obrigue a discipliná-la como nos velhos tempos. 

A ideia de reviver aqueles momentos fez com que seu estômago se revirasse de tanto asco, as coisas as quais ela tinha se submetido para estar ali realmente eram horríveis, ela sabia e tinha muita vergonha. Além de toda a culpa que a perseguia. Foi difícil, mas com ajuda ela estava conseguindo ver quanto mal ela tinha causado e estava determinada a corrigir o que ainda era possível. 

Buscando uma força que ela nem imaginava ter, Melissa o encarou e lutou para estampar um sorriso no seu rosto, ele soltou seu braço e ela não pode deixar de notar que estava arroxeado tamanha pressão ele havia imposto. Ele pagaria por aquilo e todas as outras coisas que lhe tinha feito. 

— Não se preocupe Vicente, você me fez recordar algumas coisas e eu já sei o que posso fazer. Vou procurar Sonia e teremos uma conversa onde a farei ver quem realmente é Alexandre Del Rio.  

Estranhando a mudança de humor repentina, mas gostando de sua resposta ele se afastou e deu passagem a ela. Por precaução ele ficaria e manteria um olho na sua conduta. 

— Assim é melhor, eu odiaria machucá–la outra vez por culpa sua. Esperarei notícias na minha sala. 

* * * 

Sonia tinha acabado de fechar a porta do consultório de Alba, feliz porque conforme havia diagnosticado Alexandre, o bebe não tinha nada. Ela pegou o carrinho que havia deixado do lado de fora e colocou um adormecido Arthur dentro e foi em direção ao escritório do marido. Quando abriu a porta não imaginava encontrar sentada na cadeira dele a pessoa que ela menos queria ver diante dela. 

— Oi Sonia... 

— Eu realmente não sei o que você está fazendo aqui, mas não quero falar contigo então estou saindo – ela aproveitou que havia deixado a porta meio aberta e começou a manobrar o carrinho para fora quando escutou Melissa falar. 

— Eu sei que sou a última pessoa que você quer ver nesse momento, mas eu tenho algo para te dizer — seu tom era neutro e ela se manteve de costas para a médica, parada em frente a porta, ainda não dando outro passo em direção a saída. 

— Não quero ouvir, só... Me deixe em paz por favor, deixe a minha família em paz! – ela se virou e quando o fez, Melissa já estava a poucos passos dela. 

— Eu juro que o que tenho para te dizer você vai sim querer ouvir, é sobre minha história com Alexandre – negando com um movimento de sua cabeça, Sonia a encarou. 

— Alexandre já me disse tudo o que eu precisava ouvir, você – ela apontou o dedo indicador em direção a Melissa – é muito astuta, não quero ouvir mais do seu veneno, se mantenha longe de nós e se conforme com o fato de seja lá o que for, que você e meu marido tiveram, acabou. 

Ela bufou um sorriso enquanto Sonia franziu a testa. “ela aparecia assim de uma hora para outra querendo lhe envenenar contra seu próprio marido e ainda ria dela?!” 

— Não sei o que estou fazendo aqui ainda – se girando novamente, ela segurou o carrinho outra vez e Melissa se apressou: 

— Eu e Alexandre nunca tivemos nada, foi tudo uma armação. 

Sentindo todo o sangue sumir do seu corpo ela se apoiou com força no carrinho por alguns segundos, depois se virou rapidamente para Melissa. 

— O que? – foi a única coisa que ela conseguiu pronunciar porque todo seu mundo tinha desabado bem na sua frente com aquela revelação. 

— Sente-se aqui comigo, é uma longa história e eu preciso te contar desde o início. 

* * * 

Melissa se sentou no sofá e Sonia se mantinha em pé a sua frente a encarando totalmente chocada e sem palavras. Não sabia se sentia felicidade ou um imenso pesar pelo que tinha ouvido. Olhou para o bebê, que ainda dormia, pensando em tudo o que tinha acontecido entre ela e Alexandre no último ano e depois voltou-se para a mulher novamente. 

— Co... como assim uma armação? – Sonia perguntou ainda incrédula, sua mente parecia mil anos luz de distância naquele momento, gravitando em torno das memórias dolorosas, que agora Melissa dizia não serem verdadeiras.  

Tomando coragem, a médica engoliu a seco, insegura sobre suas revelações, mas iniciou: 

— Quando meus pais morreram, eu não tinha mais ninguém por mim, nós sempre lutamos muito para ter as coisas e pagar as contas, quando eu entrei na universidade de medicina, meu pai arrumou um segundo emprego só para pagar pelas despesas extras. Mas como você sabe, perdi meus pais em um acidente, eu estava no segundo ano e vi tudo sendo arrancado de mim... Minha família, meus estudos que eu não poderia bancar sozinha... Até que o reitor da minha faculdade me fez uma proposta que mudaria os rumos da minha vida para sempre. 

Intrigada com o que aquele discurso tinha a ver com a história dela com seu marido, indagou: 

— Eu sinto muito Melissa, mas não estou entendendo aonde você quer chegar?  

Ignorando a pergunta de Sonia, Melissa seguiu a linha de seu discurso, ela tinha ensaiado aquilo por meses e se parasse agora, talvez nunca mais conseguiria se expor para outro alguém além de sua terapeuta como pretendia. 

— O reitor da minha universidade se chamava Vicente Suaréz... – a ex modelo segurou o olhar significativo que Melissa lhe deu, voltando anos atrás em uma conversa que seu marido havia tido com ela sobre a ilegalidade de seu antigo sócio. 

— Oh – chocada com tudo que lhe estava sendo revelado, ela só permaneceu ouvindo. 

— O acordo era simples, eu deveria entrar no hospital, me aproximar e fazê–lo se apaixonar por mim, assim ele conseguiria sua vingança destruindo a imagem de homem perfeito de Alexandre e tirando o que ele mais amava nesse mundo, sua família.  

— Meu Deus, eu... eu não sei nem o que dizer – a encarou assustada. 

— Eu sei que é horrível de ouvir e não está sendo fácil falar, porque eu também posso me escutar e ver o quão baixo eu desci. Só estou conseguindo fazer isso porque comecei a fazer terapia há alguns meses e isso vem me fazendo repensar nos meus atos. 

— A princípio eu recusei, mas depois, como o próprio Vicente percebeu, eu era só uma alma desesperada e aceitei colaborar com ele, me agarrando ao último fio de esperança que aparentava existir alçado a mim para não perder a única coisa boa que eu tinha, a medicina. Não fazia ideia em que abismo estava me afundando – ela riu amarga desviando o olhar enquanto meneava a cabeça – ele me ofereceu sua casa, era isso ou a rua, então eu morei com ele nos 3 anos seguintes, até iniciar minha residência no Del Rio e ter alguma independência financeira. Vicente não me havia dito que eu teria que pagar o aluguel, até que um dia ele apareceu no meu quarto me obrigando a pagá–lo da pior forma que eu poderia imaginar – a voz dela falhou, sua garganta se fechou e uma lágrima escorregou pela bochecha da médica – E isso se repetiu por muito tempo. 

Sonia a encarava totalmente sem palavras, a raiva que sentia se amenizando, dando espaço para pena e revolta. Melissa podia ter apunhalado seu marido e até mesmo ela pelas costas, mas era só uma garota quando teve que se submeter a todos esses abusos. Mesmo que a médica estivesse agora mantendo seu olhar fixo na vidraça a sua destra, ela podia perceber que a essa altura o rosto da jovem estava banhado pelas lágrimas que ela lutava para segurar.     

— Eu me senti suja por muito tempo, minha terapeuta tem me ajudado a superar isso. Depois que eu sai daquele lugar, jurei que não deixaria ele ou qualquer outro homem me tocar daquela maneira novamente. Então eu conheci Alexandre, ele me ajudou sem hesitar desde a primeira vez.  

Sonia se lembrava da conversa que o marido teve com ela quando retornou para casa no dia que havia conhecido Melissa, do quanto ele tinha se enternecido com a situação da moça e a acompanharia de perto. 

— Alexandre me tratava tão bem que eu juro que esperava pelo momento em que teria que “pagar” pelos favores, todavia isso nunca aconteceu e um pouco depois me vi apaixonada por ele. Foi o único homem fora da minha família que cuidou de mim sem segundas intenções. E como pagamento eu quase destruí a vida dele. 

A jovem passou a mão pelo cabelo enquanto meneava a cabeça, frustrada limpou outra leva de lágrimas, suspirando com profundo pesar e depois se recompondo. Já Sonia se sentia tão atônita, que apenas continuava calada, escutando os detalhes de tudo. E quanto mais Melissa falava, mais ela sentia o coração doer por toda injustiça sofrida por Alexandre. 

— Me apaixonar pelo seu marido foi muito fácil, você melhor do que eu sabe o quanto ele é um homem maravilhoso. Porém, ele te amava de uma forma tão especial, nunca tinha visto um homem tão devoto a uma mulher antes. Uma vez eu até tentei beijá–lo em uma das nossas viagens, estávamos no restaurante do hotel após uma de suas palestras e ele me parou assim que percebeu o que faria e pediu desculpas se tinha mostrado qualquer interesse errado, mas ele era casado e completamente enfeitiçado por ti. Eu pelo menos pude reunir o resto de dignidade que tinha e jogar a culpa na bebida. Todavia, a inveja foi tomando conta de mim com o passar dos anos e tudo o que eu queria era ser Sonia Del Rio e poder receber o amor de Alexandre. Foi a minha motivação final para seguir com o plano. Fui tão estupida a ponto de pensar que depois de tudo, ele seria meu... 

— Destruir a felicidade de alguém da maneira como você fez não é amor. 

—  Eu sei Sonia, agora eu sei. Mas eu estava tomada pela inveja, eu o queria tanto... Por isso, o dopei na noite do encerramento, quando tornamos aos chalés, o levei para o quarto, tirei nossas roupas e depois fiz as fotos. Alexandre estava totalmente inconsciente, eu sempre ri do fato dele praticamente desmaiar com um simples calmante... Ele dormia profundamente, então fiz os ângulos e posições certas para que você acreditasse que estava acontecendo alguma coisa, porém, a verdade é essa, ele estava apagado e dormiu o tempo todo. 

— Mas e a vez que vi vocês quase sem roupas aqui mesmo na sala dele? 

—  Eu ouvi sua conversa com Clarisse, inclusive ele estava sob efeito de um calmante aquela noite... Assim que soube disso, eu corri e fiz parecer aquilo que você viu – Sonia se levantou e deu alguns passos pela sala, ainda chocada com tudo – Mas quando me deitei ao lado dele, sabe qual foi o nome que ele chamou mesmo um pouco inconsciente? Isso mesmo, o seu. 

— Meu Deus... Meu Deus – Sonia tinha sussurrado e se girou, a encarando sem saber o que dizer, era tanta informação para digerir que a única coisa que ela queria fazer era vomitar. Melissa se levantou do sofá parando em frente a ela e sua reação foi praticamente involuntária. Sua mão subiu e estalou contra o rosto pardo da médica. 

— Me desculpe, eu... eu... não queria – Sonia não podia acreditar que tinha esbofeteado Melissa. Surpresa consigo mesma, afinal ela odiava qualquer tipo de violência, passou a fitar Melissa que segurava o rosto e diferente dela, não estava surpresa pela reação da ex modelo, pelo contrário, parecia ter aceitado o tapa. 

— Não se desculpe, penso que era o mínimo que eu merecia por todo mal que causei a vocês. 

— Entretanto eu não deveria ter reagido assim, foi mais forte que eu, portanto, me desculpe – ainda perplexa com a bomba que lhe tinha sido revelada, ela perguntou – Por que você decidiu me contar tudo isso agora? 

— Porque minha terapeuta me passou como exercício antes de ir embora. Eu necessitava deixar meu passado para trás, mas para isso, primeiro eu tinha que me livrar dos fantasmas que moravam no meu presente e assombrariam para sempre meu futuro. Amanhã me mudo para Vancouver, enviei meu currículo para alguns hospitais e recebi uma proposta, começo depois do ano novo. Era tudo o que eu precisava, estou indo embora para bem longe daqui e principalmente de Vicente, porém antes eu tinha que te contar a verdade. Alexandre não merece o que o fiz passar – se voltando para a bolsa no sofá, ela tirou dois envelopes, entregou o primeiro a Sonia lhe explicando – aqui está o documento assinado aonde testifico que estou devolvendo as ações da rede Del Rio para o nome dele de novo. Entregue a ele por mim e diga que sinto muito, de verdade, espero que vocês encontrem uma maneia de me perdoar um dia – estendendo o segundo, continuou – nesse aqui são todas as provas que Alexandre precisa para colocar Vicente na cadeia, eu já chamei a polícia, acredito que a qualquer momento eles chegam, apresente isso e diga que ele está na ala C, sala 34. Ele não espera por isso, então não vai fugir. É minha última vingança, sei que essa a terapeuta permitirá. 

— Ok... – Sonia pegou os dois envelopes, segurando-os contra seu corpo, assistindo Melissa pegar sua bolsa, analisando Arthur enquanto o fazia. 

— Ele é lindo – ela sorriu envergonhada e Sonia acenou agradecendo – estou indo. 

Quando Melissa alcançou a porta, Sonia, que parecia ter finalmente digerido toda aquela intensa conversa, falou:  

— Obrigada por me contar Melissa, sei que não falei muito antes, realmente não sabia o que dizer diante tudo o que você me disse, mas saiba que eu... eu te perdoo e sinto muito por tudo o que você passou. Espero que encontre a paz que procura nesse novo lugar. Adeus. 

Melissa a olhou de canto, ainda de costas, sorriu e em seguida passou pela porta, finalmente ponto um ponto final justo naquela história e pronta para começar a escrever um novo capítulo de sua vida. 

 

* * * 

Sonia sentou no sofá, se permitindo sentir todos os sentimentos avassaladoramente, primeiro a tristeza por tudo o que tinha falado ao marido nos momentos de raiva, por quase ter tido um relacionamento com Victor, por ter escondido Arthur e principalmente por não ter confiado nele desde o início. 

Lágrimas começaram a descer pelo seu rosto desenfreadamente, eles tinham sido vítimas de um plano mesquinho e perverso que quase os tinha destruído. Arthur soltou um chorinho fino, o olhando, ela viu que apesar de todos os esforços que haviam feito para separá-los, seu filho estava ali, uma pequena sementinha, um símbolo de como o amor entre ela e Alexandre era forte e não cederia, como um tronco podado ao meio que contra todas as probabilidades, começa a brotar ramos de folhas verdes diante da morte eminente.  

Naquele momento a tristeza deu lugar a alegria, uma felicidade sem tamanho a inundou, pois se o caso com Melissa era uma farsa, a história deles era verdadeira, cada pedacinho, ele nunca tinha mentido para ela e nunca tinha dormido com outra mulher. Ele era sim o homem íntegro por quem ela tinha se apaixonado tantos anos atrás e entregado seu coração e alma por inteiro. 

Colocando a chupeta na boca do bebê, ela balançou o carrinho, o menino se tranquilizou e logo se adormentou novamente. Alexandre escolheu aquele momento para abrir a porta e entrar na sala se aproximando devagar. 

— Está tudo bem por aqui? – perguntou receoso ao notar as marcas de lágrimas em suas bochechas. A essa altura ele já havia parado diante dela e Sonia podia ver os traços de apreensão aparecendo em seu rosto – O que aconteceu meu amor? – Sônia quebrou a distância entre eles, o abraçando apertado, prendendo com força o tecido da camisa dele entre os dedos, vendo depois de tanto tempo, apenas Alexandre, seu doutor querido diante dela. A sombra do homem mentiroso e enganador finalmente tinha ido embora e ela quis chorar novamente. Até que uma solitária desceu e mão dele subiu automaticamente para enxugá-la. 

Permanecendo com os olhos fixos nos dele, meneou a cabeça e se inclinou, sussurrando sobre os lábios dele: 

— Tudo finalmente voltou ao seu devido lugar meu doutor – encaixando as mãos entorno o rosto dele, ela o puxou para um beijo apaixonado. 

* * * 

Alexandre não tinha entendido bem o que ela quis dizer, mas aceitou o beijo de bom grado, sendo guiado e se envolvendo pelo cheiro adocicado, pela sutileza dos movimentos dos lábios combinados com o toque suave em suas bochechas, pela sensação envolvente do corpo dela perto do dele... Quando ela deslizou a língua pelos lábios dele pedindo passagem, ele também concedeu, estranhando, mas totalmente inebriado. Eles tinham se beijado sim dois dias atrás, tinha sido algo mágico em meio caos ao qual a história deles se transformou. Porém, tinha sido rápido demais, um relâmpago em meio a uma escura noite. Esse, entretanto, tinha um sabor familiar, de algo que ele quase pensou ter perdido entre eles, intimidade e amor. 

 Quando eles se afastaram, ela ainda o olhava deslumbrada e seu coração riu, ele tinha sentido falta daquele sorriso, daquele olhar. Apesar de feliz, ele estava confuso com a mudança de atitude repentina, quando ia questionar outra vez, sua esposa, que desenhava em seus lábios um sorriso deliciado, se antecipou: 

— Eu sei que você está se perguntando o que foi tudo isso, é só que estou muito feliz e não pude me conter – ela bufou uma risada tão gostosa que ele a acompanhou. 

— Amor, não se incomode, se quiser me beijar assim todas as vezes que nos encontrarmos daqui por diante, não vou reclamar – ainda perdida nas carícias que ela fazia em seu rosto, Sonia bebeu mais um pouco dos olhos castanhos que a fitavam com uma alegria radiante. 

— Eu tive uma conversa com Melissa – as sobrancelhas dele se franziram um pouco. “Se Melissa esteve ali, como Sonia estava tão contente?” – nós tivemos uma longa conversa esclarecedora, ela me contou toda a verdade Ale.  

— Co... como? – Sonia se virou, pegou os envelopes e entregou nas mãos dele.   

—  É uma longa história, nós precisamos conversar sobre isso. Eu te devo desculpas – ela desviou o olhar envergonhada, mas ele não deixou, segurou seu rosto e lhe deu um sorriso – Sinto muito por não ter confiado em você – ela começou a chorar novamente e ele se compadeceu. 

— Oh darling – abraçando-a, ele a embalou suavemente – está tudo bem. 

Uma batida na porta os fez se distanciar um pouco. Era um dos seguranças lhe avisando que a polícia estava ali, buscavam por Vicente Suarèz. Sem entender ainda, ele a olhou novamente, imaginando que ela teria a resposta para aquilo. 

— Aqui Alexandre, nesse envelope Melissa deixou todas as provas necessárias para você colocar Vicente na cadeia, por favor, dessa vez faça com que o prendam, estaremos mais seguros assim. 

Ele concordou enquanto ela lhe explicava rapidamente o que eram os documentos, ele já os havia tirado do envelope e os lia com atenção. Em seguida ele acompanhou o segurança, encontrando os policiais no caminho.  

Quando Alexandre voltou a sua sala, Arthur já tinha acordado e Sonia brincava com ele. Beijando a testa do filho, o médico a informou que ele teria que ir até a delegacia prestar depoimento e concluir o processo de queixa. Ela se ofereceu para ir junto, mas ele preferiu que ela o esperasse no hotel. 

— Não, vou esperar você na nossa casa – surpreso, ele sentiu o peito queimar e as lágrimas aparecerem no canto de seus olhos ao ouvi-la falando assim, acenando feliz, se despediu com um beijo na testa dela. 

* * * 

O sol já havia se posto, dando lugar as primeiras estrelas da noite quando Alexandre passou pelo portão de sua casa. Enquanto estacionava na garagem subterrânea, sua mente ainda tentava processar o desenrolar daquela história.  

Vicente ficaria detido enquanto aguardava o julgamento pelos diversos crimes nos quais as provas de Melissa o tinham enquadrado, inclusive pelo abuso sexual que ela tinha sofrido. Ele estava chocado no mínimo. Apesar de tudo o que ela o tinha feito passar, sentiu pena da mulher, pois ninguém deveria ser submetido àquilo. Pensou em suas filhas e sentiu os pelos arrepiarem só com a menor possibilidade de algo assim ocorrendo com elas. Melissa não era inocente, fato. Todavia, foi sim uma vítima de toda trama doentia de seu ex sócio. 

Estava confuso, porém extremamente grato, tudo o que tinha passado no último ano tinha sido um inferno, um purgatório no mais brando dos sentidos, mas finalmente parecia ter chegado ao fim. 

Descendo do carro, ele abriu a trava de segurança com sua digital e subiu as escadas rumo ao corredor que ligava a garagem aos outros cômodos do primeiro andar. Ao passar pela sala principal, ele estranhou o silêncio, se Sonia estava em casa, era impossível que as crianças estivessem tão tranquilas, principalmente tão perto da hora do jantar. Ele começou a chamar pelo nome de sua esposa, até que a ouviu responder que estava na cozinha. 

Quando ele se aproximou da entrada do amplo, moderno e aconchegante espaço, se surpreendeu mais uma vez, pois aquela era uma cena que ele tinha visto pouquíssimas vezes em sua vida. Sonia Colucci, parada em frente à um fogão, cozinhando. 

— Eu com certeza estou sonhando... – ela deu um sorriso de canto e se virou para encará-lo – você cozinhando? 

— Eu estava com fome – ela deu de ombros – pensei em pedir alguma coisa, mas quando cheguei aqui para procurar o telefone de algum restaurante, eu pensei: por que não tento fazer algo?! E cá estou, tentando fazer um risoto de camarão.  

— É o meu preferido...  

— Eu sei, por isso estou fazendo – sorrindo, ela lhe lançou uma piscadinha e voltou-se a sua preparação. 

Alexandre deu a volta na ilha e parou atrás dela, sem tocá-la, apenas olhando a mistura na panela, sentindo a barriga roncar. Ele quase aproveitou a proximidade e a abraçou, entretanto, preferiu não fazer, ainda incerto sobre onde estavam. Dando dois passos para trás, ele olhou ao redor e só encontrou Arthur sentado em uma cadeirinha de bebê no canto da mesa.  

— Onde estão nossos outros filhos? 

— Com Helena e o resto da família na fazenda. Eu não tinha a intenção de deixá-los passar a noite, mas Soriano pegou o telefone e você sabe que ninguém sabe dizer não a ele... Tudo bem para você? 

— Sim, sei que eles estão em boas mãos. 

Sonia pegou uma pequena vasilha com queijo parmesão ralado e outra com um pouco de manteiga dentro, juntando tudo na panela, finalizando sua receita, colocando uma porção em dois pratos. Alexandre já tinha arrumado dois jogos americanos, alguns talheres e copos no balcão, eles se sentaram, comeram e Sonia evitou a todo custo tocar no assunto Melissa, seu marido percebeu e lhe deu espaço, deixaria que ela abordasse o tema quando se sentisse a vontade para aquilo. Ele já era grato pelo fato dela estar ali com ele. 

* * * 

“E se você me machucar?! Ok, está tudo bem amor, algumas palavras sangram mesmo... Dentro dessas recordações, apenas me abrace e eu nunca te deixarei ir” 

Photograph (Ed Sheeran) 

 

Assim que eles terminaram de jantar, Alexandre colocou as louças para lavar na máquina, enquanto ela tinha subido para dar um banho em Arthur. Quando tudo estava ordenado, ele também começou a subir os degraus rumo ao seu quarto. Depois do dia que tinha tido e da conversa que teria pela frente, tudo o que mais queria era um banho para relaxar um pouco. 

Entrando no quarto, encontrou o menino dormindo em um mini berço que ela tinha arrastado até ali, tinha pego na garagem e o montado depois que soube da existência do caçula, para os dias em que as crianças passavam com ele.  

Sonia estava saindo do closet, vestindo um de seus longos robes de seda, a forma como caminhava e o sorriso que ela lhe lançou confirmavam como estava nervosa e apreensiva.  

— Ainda bem que você não tirou minhas roupas do closet — a ex modelo se sentou na cama, desviando o olhar para o berço. 

— Eu sempre tive esperança de que você voltaria e gostaria de encontrar tudo como tinha deixado – Sonia lhe agradeceu com um sorriso, mas agora passava a brincar com seus dedos, mantendo o olhar ali. 

— Alexandre... eu não sei nem como começar a te pedir perdão.  

— Não precisa se martirizar por isso amor. Nessa história doentia, só existe um culpado e não é você... Vou tomar um banho rápido, assim você tem um tempo para se acalmar um pouco, ok?  

Ele seguiu para o banho, deixando-a com seus pensamentos, como havia prometido, não demorou, voltando ao quarto vestindo um pijama composto por calça e camiseta, decidido a fazê-la entender que tinham sido vítimas de um plano maldoso e o que tivesse sido quebrado entre eles, tinha conserto. 

Sonia estava tão absorta em seus devaneios que não percebeu sua presença até que sentiu o colchão ao seu lado afundar e o cheio do perfume dele espalhar-se ao redor. Sentiu também a mão dele segurar uma das suas, entrelaçando-as.  

— Parece uma vida desde que te toquei pela última vez – cautelosamente ela elevou a mão livre e contornou a lateral do rosto dele, demorando-se no maxilar. 

— Bem, para mim foi quase isso – ele disse em um fio de voz, com medo de que se falasse mais alto pudesse quebrar a áurea de intimidade crescendo entre eles novamente – A sensação que tive foi que vivi uma vida inteira sem você outra vez Sonia. 

— Me desculpe – ele ia interrompê-la, mas ela não deixou – eu sei que você vai dizer que fui induzida a pensar assim, que no meu lugar também teria duvidado, porém... eu fui uma estúpida e essa é a verdade! Eu o maltratei demais, o que te fiz passar não se perdoa – abaixou a cabeça envergonhada – Só o seu bondoso coração tem essa capacidade. 

Inclinando o belo e afilado queixo dela, Alexandre sorriu docemente para sua esposa. 

— Você tem razão, eu realmente fiquei magoado por não ter confiado em mim, entretanto, como já citei, se eu estivesse no seu lugar eu não sei como teria reagido – Alexandre limpou uma lágrima que escapuliu dos olhos dela – Eu me corroía de ciúmes de Victor todos os dias, eu não posso mensurar a quantidade de vezes que desejei socar a cara dele – ela balançou a cabeça sorrindo. 

— Eu nunca imaginei você batendo em alguém. 

— Eu sei, nem eu, mas meu coração estava em um lugar escuro, infestado de sentimentos ruins, a ideia de outro homem tocando-a, beijando-a e... Deus! Minha mente me assaltava com pensamentos assim constantemente – tomando sua mão direita, beijou o dorso continuando – Eu me acostumei com o fato de que você era apenas minha, desde o dia em que te pedi casamento e você me revelou que eu seria o único homem na sua vida, porque este era o seu desejo. Quando te fiz minha, amei profundamente seu corpo, tal qual fiz com sua alma. Mais tarde, em nossas núpcias, quando lhe dei nosso refúgio, te pedi que entregasse tudo de você para mim e quando assim fizeste minha querida, meu deu tudo o que um homem espera de uma mulher... – a mão que ele havia beijado segundos atrás estava entrelaçada a dela, a outra tinha subido para brincar com os cabelos macios e recém lavados, em toque tão envolvente que ela quase ronronou – amor, alguém para adorar, conforto, um lugar de refúgio, inúmeras razões para acordar dia após dia. Gerou meus filhos e só por isso eu seria servo das suas vontades até a morte – Sonia sorriu de leve e seus olhos se iluminaram, justamente aquele brilho apaixonado que o doutor sempre via nas irises azuis de sua esposa, ele agradeceu porque novamente estava lá – Perder minha família por um erro não cometido foi imensamente doloroso, entretanto, cogitar que agora tudo isso pertencia a outro homem, por capricho de um doente que não suporta o sucesso alheio, me despertou um lado obscuro, por isso quis bater em seu amigo.  

— Alê... – ainda tímida, ela desviou rapidamente e depois buscou seu olhar mais uma vez – gostaria que soubesse que eu e Victor nunca tivemos nada, eu não poderia, não enquanto carregava nosso bebê, era tão estranho. Victor sempre foi uma boa companhia, não posso negar que nós tentamos, uma única vez – ele puxou a respiração, esperando pelo pior, logo a mão dela tocou seu rosto, o confortando, não tanto quanto as palavras seguinte – entretanto não pudemos, nossos corações pertenciam a outras pessoas e quando tentamos nos beijar foi a sensação mais estranha do mundo e começamos a rir um do outro. Até então eu pensava que éramos dois fracassados no amor que nunca poderiam seguir em frente e esquecer seus amores antigos. 

— Tudo bem, estou realmente grato que vocês não tiveram nada, mas sei que preciso tratar esse sentimento em mim, eu também te magoei com as coisas que te disse porque estava com ciúmes. 

— Você teria me perdoado caso eu e Victor tivéssemos realmente conseguido algo? – indagou receosa. 

Ele sorriu, tornando a acariciar o rosto dela. Sua mão direta deixou a dela e se encaixou pela sua nuca, firmando o contato visual entre eles. A ex-modelo suspirou fraquinho quando só viu amor nos olhos castanhos do marido. Estava tão envergonhada por toda essa situação. 

— Claro que sim... Teria te aceitado de volta de qualquer forma, eu a amo além do que posso cogitar e preferiria tratar você e as dores que isso teria trazido ao nosso relacionamento, a ter que viver sem ti... Eu já estava adoecendo Sonia! – quem suspirara agora fora ele – Mais alguns meses e não sei o que seria de mim.     

— Eu sinto tanto, realmente sinto... – bufou frustrada – Veja só o espaço que criei entre nós, estamos aqui há tempos, tocando um ao outro como estranhos, por medo, temor e dúvida... tudo isso é minha culpa! – ela colocou as duas mãos sobre o rosto e chorou. 

Alexandre esperou alguns segundos, delicadamente como só ele poderia, puxou as mãos dela do rosto, beijando-as, colocou os cabelos para trás das orelhas pequenas e perfeitas. 

— Deixe-me mostrar como ainda conheço você, não mudamos tanto assim, e se o tivermos feito, me permita conhecê-la outra vez minha querida – ele encaixou docemente o rosto dela entre suas mãos – me conceda a alegria indescritível, misturada ao prazer imenso que sinto toda vez que a faço minha, toda vez que nos tornamos um, me presenteei com seu coração e eu oferecerei como retorno toda minha devoção, todo meu desejo, todo meu carinho, toda minha alma, tudo o que possuo para sempre. Você tem tudo de mim – seus lábios tocaram a testa dela em um beijo casto e demorado – absolutamente tudo. Eu quase não posso respirar quando estou perto de você de tanto que a quero – puxou a respiração com um pouco de dificuldade, Alexandre ofegava de leve buscando conter suas emoções, finalizando com um movimento suave de seu nariz sobre o dela – Então Sonia, me aceita como seu marido outra vez?  

Como ter palavras para tamanha destilação de amor? Estava presa em uma onda de sentimentos tão forte que ela quase se afogou. Ele não poderia respirar de tanto que a queria? Alexandre certamente não tinha ideia do que estava fazendo com ela...”  

Desde que o conheceu tivera certeza que ele era alguém único, agora, depois de toda a bagunça que tinha sido esse último ano, depois de tê-lo machucado e duvidado da íntegra lealdade dele aos preciosos votos matrimoniais que trocaram anos atrás, ela sabia que Alexandre Del Rio era um homem especial, como um sonho doce, tal qual seu pai tinha sido, como dificilmente se pisa sobre a terra.  

Um homem que quando ama, entrega sua alma junto, que quando cativa, zela até o último suspiro da pessoa amada, que não tem medo em expor os sentimentos, que quando desejava algo, lutava até o fim e com perseverança por isso, como fez por ela. Sonia não merecia o amor dele, nenhuma outra mulher mereceria. Aliás, Cristal e Charlotte, elas sim era dignas de um homem incrível como ele, se havia um presente bom que ela poderia ter dado a suas crianças, era este, escolhido Alexandre como pai deles. Escolha... ela precisava fazer uma agora... Na verdade já a tinha há muito, seu coração pertencia ao marido e assim seria até o último fôlego que tivesse. 

— Você me permite amá-la outra vez? Me deixa ser teu marido, teu homem, teu companheiro e o que mais você quiser que eu seja?  

— Claro que sim, já fiz isso outra noite, quando você se ajoelhou e me pediu perdão por algo que não tinha feito... – ela declarou, emocionada engolindo a seco – eu não te mereço Alexandre, não mesmo... você é o melhor homem que existe nesse mundo, não digo isso porque desejo seu perdão, mas sim, porque não sei como expressar o que estou sentindo nesse momento. Apenas sei que não te mereço, não existe ninguém além das nossas crianças que sejam dignas da sua forma pura de amar, do seu dom de perdoar, da sua abnegação... – Sonia tentou, mas não conseguia estancar as lágrimas, uma mistura de alegria e pesar. 

 Alexandre se inclinou sobre ela, beijando sua testa, gentilmente trilhando o caminho das lágrimas e as enxugando com beijos demasiadamente delicados, tocando sua pele com uma suavidade que ela sabia que era reservada apenas para ela. 

— Nunca mais diga isso! – ele buscou seus olhos avermelhados, ela fungou o encarando – eu a proíbo de dizer que não me merece – ela negou com a cabeça – Sonia! – chamando sua atenção, ele pegou uma das mãos dela e pôs sobre o coração dele e repousou a sua sobre o dela, ambos sentiram a conexão imediata, as batidas entrando em sincronia – Nossos corações são feitos do mesmo material, da mesma essência, nós fomos feitos um para o outro, se não, não tenho outra forma de explicar isso que sinto por você, é quase como se não coubesse dentro de mim, você está sentindo junto comigo?! – Sonia concordou com um aceno – Sob a palma de nossas mãos estão batidas eufóricas, denunciando abertamente que o que sentimos vai muito além do que podemos compreender.  

Enquanto se inclinava sobre ela, o ar se tornava rarefeito, a necessidade de contato era quase que eminente, então enfim ele a beijou. O contato invadiu cada poro seu de puro êxtase, as sinapses conectando-se e levando as tão saborosas sensações que ela sentia ao beijá-lo. Deitando sobre a cama, ela o trouxe junto, deixando peso dele envolvê-la, desejava tanto a sensação do corpo dele sobre o dela, tinha perdido isso, a suavidade ímpar de seu marido. Sonia sempre se questionou como um homem alto e bastante forte como ele possuía o toque tão doce, tão cativante e envolvente. 

Alexandre se levantou um pouco, pressionando seu peso sobre os joelhos, ela permanecia deitada, sorrindo para ele, enfeitiçando-o como uma ninfa poderosa.  

— Parece que ainda sabemos beijar não é mesmo?! – ele sorriu do comentário de sua mulher – mas eu não me importaria que nos aperfeiçoássemos. 

Alexandre se inclinou novamente, sua esposa fechou os olhos esperando por outro beijo arrebatador, entretanto, apenas o sentiu pairando sobre ela, ao mesmo tempo em que prendia suas mãos acima da cabeça. Abrindo os olhos, ela lhe perguntou com uma expressão divertida o porquê da tortura. 

— Eu só vou beijá-la de novo se me prometer que nunca mais vai duvidar da minha palavra e que nunca mais vai embora. 

— Então o doutor tem um lado vingativo afinal – ela forçou contra a mão que prendia seus punhos, mas foi em vão. 

— Me prometa querida e eu a soltarei – ele sorriu e piscou para ela. 

— Eu quero ver por quanto tempo você aguentará, sei que me quer tanto quanto eu o quero... – “esperta” pensou, mas antes que ele a soltasse, se apressou em continuar – porém, eu errei com você meu bem, prometo que nunca mais duvidarei da sua palavra – Alexandre se inclinou e beijou a curva do pescoço de sua amada – hmm... – ele subiu até encontrar o ponto sensível que a levava as alturas – Prometo confi... – ela suspirou e o doutor continuava conduzindo beijos sensuais por seu pescoço – confiar em você, mesmo que tudo lhe indique culpa – os beijos agora chegaram ao maxilar, passando pelo queixo e alcançando a boca novamente – hmm... – ela gemeu outra vez – prometo nunca mais deixar mancharem o que temos. 

— Nem eu – ele sorriu, sussurrando sobre os seus lábios e os unindo em seguida. 

— Prometo também nunca mais sair do seu lado – as mãos dela subiram pelo pescoço dele e acharam passagem por seu cabelo, acariciando. 

— Eu nunca mais a deixaria partir de qualquer forma – Alexandre a beijou mais uma vez, abrindo o laço do robe enquanto ela tirava sua camiseta, expondo seu peito tonificado, tocando-o, quando chegou a cicatriz do tiro, ele percebeu a intensidade do toque mudando. 

— Eu quase perdi você de verdade... Quando Helena me disse eu tive tanto medo – eles se fitaram demoradamente, enquanto ela acariciava sua cicatriz com toda delicadeza que podia. 

— Eu estou aqui, vivo, aliás, nós estamos e é só o que importa meu amor.  

— Você tem razão – eles mantiveram o olhar, envolvidos demais em tudo o que viam – agora – ela desceu a mão, enfiando-a dentro de sua calça, tocando-o intimamente, suas bochechas ruborizaram um pouco e ele se controlou para não xingar um palavrão com o prazer que sentiu – faça amor comigo, eu quero sentir você, o seu amor, tudo. 

O desejo, a saudade e a necessidade era tanto que eles nem se livraram das roupas direito, quando Alexandre a fez sua, suas calças estavam pela metade das pernas e ela ainda vestia camisola, sua calcinha tinha sido destruída, e ela não saberia dizer se por ele ou por ela, mas a sensação de tê-lo dentro dela novamente era incrível. A conexão foi imediata, era um terreno conhecido para eles, as peles suadas agarrando-se ao tecido das roupas, o desespero de desvendar alguns pedaços do corpo ainda coberto para sentir o toque mais intensamente.  

Perdidos, ou melhor, rendidos na perfeição desajeitada que estava sendo aquele encontro, eles se moviam conforme seus corpos exigiam. Arqueando-se para prolongar o prazer, tocando os pontos sensíveis para intensificá-lo, tudo parecia perfeito demais, e quando Sonia pensou que morreria de prazer, Alexandre abriu os olhos e eles se encaram por um milésimo de segundo que parecia uma eternidade, ofegantes, ele se movimentou mais uma vez enquanto sussurrava sobre os lábios dela: 

— Eu te amo – e ela se desfez, cruzando as pernas para mantê-lo no lugar enquanto fincava as unhas na bunda dele, gemendo que o amava também e enfim ele a seguiu, enfiando uma mão pela nuca, segurando seus cabelos, beijando-a. 

Eles continuaram abraçados por um momento, até a temperatura corporal diminuir e ele escorregar dela. Entretanto, não demorou muito para eles se livrarem do resto de suas roupas e quando se sentiram acessos, se amaram outra vez, mas agora, vagarosamente, com palavras sussurradas sobre a pele, toques enlouquecedores e movimentos fluidos. Quando estavam gastos demais, Sonia deitou sobre o peito dele, acariciando-o e ele fazia o mesmo com seus cabelos, eles não falaram mais, estavam cansados até para isso. Não sentindo mais o toque dele, percebeu que Ale tinha adormecido, sorrindo, beijou seu peito e sussurrou “eu te amo meu doutor”, antes de se acomodar o mais próximo que conseguiu e dormir sentindo as batidas do coração do homem que amava embalando seu sono.   

* * * 

Era manhã, ela sabia porque podia sentir ainda que com os olhos fechados que estava claro. Laura sentiu também passos leves arrastando-se pelo quarto, tinha certeza que era sua filha, porém, quando passou a mão pela cama por debaixo das cobertas para se certificar de que Orlando estava vestido, ela tocou o vazio. Abriu os olhos vagarosamente por causa da claridade que entrava pela janela, parado em pé ao seu lado, ela reconheceu seu namorado e viu que ele carregava uma bandeja com café da manhã. 

— Você vai me estragar assim Orlie – ela sorriu enquanto sentava com as costas apoiadas na cabeceira. 

— Feliz aniversário meu amor – ele se inclinou e a beijou, depois apoiou a bandeja que carregava no colo dela. 

— Obrigada... Lou Lou ainda está dormindo? – perguntou pegando uma uva e a colocava na boca. 

— Sim, ainda é cedo para nossos padrões de fim de semana, eu queria um momento a sós contigo antes da nossa menina se levantar. 

— Essas rosas na cestinha são um charme, eu amei. 

— Fico feliz que tenhas gostado. Mas eu tenho mais um presente para você. 

Mordendo os lábios inferiores, ela respondeu: 

— Está explicado por que você queria um momento antes de Lou Lou acordar... 

— Eu não estava me referindo a isso, porém, não rejeitaria se é o que você quer. Hoje é o seu dia e tenho o dever de realizar todas as suas vontades. 

Apoiando a bandeja sobre a mesinha de cabeceira, Laura engatinhou até Orlando, montando em seu colo em seguida. Ele amou o conjunto a sua frente, os olhos ambar cheios de travessura, os cabelos ruivos bagunçados, a camisola de seda lilás com uma alça fina caindo, ela podia ser mais perfeita? Envolvendo os braços ao redor do seu pescoço, beijou de leve seus lábios e o moreno passou a acariciar a parte baixa de suas costas. Antes que as coisas se aprofundassem, ele enfiou a mão no bolso da calça moletom que usava e tirou uma caixinha de veludo com um anel solitário dentro, o estendendo na sua direção. 

 Sem palavras, Laura o encarava de boca aberta, com os olhos cheios de antecipação, medo e euforia. 

— O que é isso Orlie? – ele sentiu em cada palavra daquela frase o quanto ela estava assustada. 

— O que você quiser que seja – a ruiva o fitou intrigada – pode ser uma proposta de casamento, se assim você desejar, ou um simples anel de compromisso, um símbolo do meu amor por você e de que eu estarei aqui, com você e Louise, toda minha vida. 

— Eu...  – Orlando começou a ficar preocupado, foi quando ela finalmente sorriu “era um bom sinal, certo?” — você me pegou de surpresa, eu não esperava por isso de forma alguma! 

  - A intenção era essa, que fosse uma surpresa de aniversário, espero que uma boa pelo menos – ele sorriu nervoso, enquanto coçava a nuca pensando se aquela realmente tinha sido uma boa ideia. 

A advogada percebeu que seu namorado começou a ficar sem graça e tudo o que ela menos queria era fazê-lo pensar que aquela linda surpresa tinha sido um erro. Unindo suas mãos, ela beijou sua bochecha.   

— Foi uma boa surpresa sim, eu só não sei se estou preparada para isso, tenho medo de machucar você e me machucar no caminho, nós estamos indo tão rápido... 

— Eu sei que você tem muitos receios, nós não precisamos casar amanhã, minha intenção era justamente que esse anel fosse uma prova de constância, de que eu ficarei ao seu lado por toda vida. 

Olhando para suas mãos unidas, ela viu o diamante da outra joia brilhando, a última vez que um homem lhe havia feito aquela promessa também tinha quebrado seu coração e o deixado aos cacos. A pergunta era, ela passaria o resto da vida olhando para aquele anel no dedo e revivendo um passado doloroso? Ou seguiria em frente, aceitando o desconhecido, porém envolvente, caminho de felicidade que aparecia diante dela? 

Ela o encarou, Orlando a fitava com um misto de expectativa e adoração, esperando por uma resposta, eles já estavam juntos quase um ano, nesse tempo ele não tinha sido nada além de um companheiro incrível, para ela e também para sua Lou Lou. Por que continuar hesitando? Ela sabia a resposta, mas também sabia que não iria acontecer. Victor precisava sair de uma vez da sua vida. Se ela aceitasse aquele anel, era definitivo. 

Suspirando, ela separou suas mãos, ele continuava calado, apenas atento aos seus movimentos, foi quando ele a viu tirar o anel em seu dedo, segurando-o, os olhos focados na joia, ela permaneceu assim por alguns segundos, se inclinando em seguida, repousando-o sobre o móvel ao lado da cama.  

— Eu não poderia aceitar um anel tendo outro no dedo – sorrindo, ela se inclinou e o beijou – eu quero, quero uma vida leve e feliz ao seu lado. 

Orlando abriu um belo sorriso, ela podia sentir toda felicidade que ele sentia nas suas expressões, a ponto de contagiá-la. Eles se inclinaram juntos para o beijo, quando se separaram o advogado deslizou o anel no lugar que o antigo repousava.  

— Você gostou? 

— É lindo! 

Eles não tiveram muito tempo para celebrarem, pois o telefone de Laura tocou, e ela teve que se afastar para pegá-lo. Era o chefe deles. 

— Bom dia Laura, em primeiro lugar quero lhe desejar parabéns. 

— Obrigada senhor Monte Carlo. 

— Segundo, preciso de um favor seu. Eu preciso que vá a audiência do casal Del Rio com o juiz em meu lugar. Aconteceu um acidente, meu pai estava pendurando as luzes de natal na casa e caiu da escada, quebrou alguns ossos e está passando por uma cirurgia, peguei o voo para o interior essa madrugada, minha mãe estava desesperada. 

— Eu sinto muito senhor, claro que vou. 

— Não queria fazê-la trabalhar no recesso, muito menos na manhã do seu aniversário, mas você é a única bem informada sobre o caso —  ele parecia aflito e ela se compadeceu – com certeza será rápido, eles só vão assinar os papeis, até a hora do almoço você estará livre. 

— Não se preocupe, eu vou sim, sem problemas, sei que foi um imprevisto, fique tranquilo. 

— Obrigada querida, vou te dar um bônus especial por isso. Feliz aniversário mais uma vez e feliz natal. 

— Feliz natal para o senhor e sua família, melhoras para seu pai. 

— Obrigada, obrigada mesmo. 

Sentando-se perto dela, Orlando lhe questionou o que tinha acontecido, ela lhe explicou e começou a procurar uma roupa em seu armário, pois tinha pouco tempo. Depois de separá-las, entrou no banheiro para tomar um banho, quando saiu uma Louise sonolenta se encontrava no colo de Orlando, coçando os olhos, ela tinha um desenho em uma das mãos. 

— Feliz aniversário mamãe – ela se inclinou e beijou o rosto de Laura. 

— Obrigada meu amorzinho. Eu preciso ir no trabalho resolver um assunto, mamãe volta logo, mas antes, quero te dar algo. 

Pegando-a em seu colo, ela foi até seu quarto e trouxe uma corrente de ouro branco que ela tinha guardada, assim como seu antigo anel de noivado. Enfiando-o dentro do cordão como um pingente, o colocou no pescoço da filha, era um pouco grande, parecia um pequeno medalhão. Louise a olhava um pouco confusa. 

— Você se lembra quem me deu esse anel? —  a menina acenou – É seu agora. 

— Por que você não o quer mais mamãe? 

— Porque agora eu uso esse que tio Orlie me deu. 

— E o que isso significa?  

— Significa que nós seremos uma família — Louise sorriu tão empolgada quanto conseguia devido ao resto de sono em seu pequeno corpinho. Elas voltaram para a sala e Orlando voltou a pegar Lou Lou em seu colo.  

— A gente vai pegar você para almoçarmos fora – Orlando falou. 

— Ok, agora seja uma boa menina para tio Orlie, tá bom? 

— Sim mami, eu serei — ela falou bocejando.    

* * * 

Victor chegou no prédio onde se localizava o escritório do doutor Monte Carlo, um pouco atrasado e contente porque eles falavam sua língua, afinal, seu espanhol estava bastante enferrujado e explicar o que tinha acontecido para eles seria mais fácil. Estava feliz por sua amiga, Sonia e Alexandre mereciam viver essa segunda chance, principalmente depois de toda mentira para separá-los. 

Não tinha ninguém no prédio, fora o porteiro que lhe indicou que rumo seguir, rapidamente ele pegou o elevador para o andar correspondente e entrou no hall de entrada, seguindo para a sala de reunião, olhando no celular para ter certeza de que estava tomando o rumo certo. 

No fim do corredor avistou uma porta aberta e imaginou que aquele era seu destino. Caminhando até ali, ele viu rapidamente duas notificações que apareceram na tela e entrou na sala. 

— Desculpe o atraso eu... – ele finalmente levantou os olhos do celular e quando olhou ao redor sentiu seu coração perder algumas batidas. A frase ficou perdida no ar, ele estava tendo algum tipo de alucinação ou sonho? “Não podia ser ela ali não é?” Piscando algumas vezes, percebeu que não estava sonhando, enquanto tudo ao seu redor parecia passar em slowmotion e suas belas írises azuis estagnaram naqueles tão conhecidos olhos cor de âmbar. 

Gaguejando monossílabas, a única coisa que saiu de sua boca foi: 

— La... Laura?   

* * * 

 

Laura estava sentada na lateral direita, enquanto o juiz estava no meio, mais 3 lugares estavam prontos esperando, seu cliente Alexandre, Sonia e seu advogado. Ela revisava alguns pontos no processo e o representante da lei ao seu lado fazia o mesmo.  

Quando ela ouviu passos se aproximando, terminava de ler um último parágrafo, mas antes que ela pudesse olhar para quem chegava, ouviu a voz a qual tinha certeza que jamais ouviria outra vez em sua vida. 

Girando sua cabeça, não podia acreditar no que seus olhos contemplavam. Dentre tantas pessoas, era ele ali. “Mas como era possível?”. A ruiva permaneceu alguns segundos encarando-o, como se, se mantivesse em silêncio, Victor sumiria tão inesperado quanto surgiu.  

— O que você faz aqui? – ela indagou sem entender como ele tinha aparecido ali. Desespero tomando conta dela. 

— Holy crap! É você mesmo – afirmou com um sorriso incrédulo, ele não tinha dúvidas de que era Laura assim que a viu. Reconheceria aqueles olhos, aquele rosto, aqueles cabelos, em qualquer tempo e lugar. Um misto de felicidade e incertezas o invadiu. Porém, antes mesmo que ele pudesse perguntar todas as coisas que ele sempre teve vontade desde que ela desapareceu. O juiz interveio: 

— Desculpe senhores, não quero atrapalhá-los, entretanto, temos um divórcio para finalizar, onde estão os clientes de vocês? 

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Notas finais do capítulo

11 mil palavras, sorry?! hauaha Esse cap tava imenso mas vai ter a parte 2 ainda. Eu nao consegui revisar muito, se nao eu nunca postaria, entao, mais uma vez, desculpem os erros.



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