Ela morreu. Essas foram as palavras que mais me magoaram em toda a minha vida. Minha luz havia se apagado. Meu sol decidiu me deixar em trevas. Minha lua deixou de ser branca para se tornar sangue. Minha paz se foi pra me deixar em uma guerra contra mim mesmo.

  Tudo em mim era contraditório. Pois tudo o que eu tinha estava se tornando pó. Não me importa o dinheiro, as fãs, a fama. Tudo o que eu quero é ela de volta.

  A cada vez que eu olho pra nossa cama, a cada vez que eu sinto seu cheiro no travesseiro ao meu lado, tenho vontade de ir embora com ela, por que nada mais me importa.

  Sinto falta do cheiro de chocolate de sua pele misturado com o aroma de morango de seus cabelos escuros, do sorriso que nunca saia de seu rosto perfeito, dos olhos pretos que me davam confiança antes de todos os shows, de como ela sempre acordava bem humorada me enchendo de beijos. Beijos. Eu sinto muita falta dos beijos dela, de seus lábios doces e macios encostando delicadamente nos meus. Sei que nunca mais vou conseguir beijar outra mulher em minha vida. Sinto falta de tudo, até das broncas que ela sempre me dava quando eu assaltava a geladeira.

                                                               ***

 - Gustav! Cadê você?- Ela gritou vindo para a cozinha.

 - Na cozinha amor!- Fechei a geladeira e me escondi atrás da porta.

 - O que...- Ai!- Ela gritou quando passei meus braços por sua cintura e beijei seu pescoço. Ela sempre se arrepiava quando eu fazia isso.

 - Eu já estava ficando com saudades de você, sabia? O que estava fazendo aqui?

 - Eu estava com fome.- Passei as mãos pelo cabelo me preparando para a bronca.

 - De novo? Você tem que parar com isso, Gust! Ta passando de forte pra gordinho!- Ela se virou para mim e revirou os olhos.

 - Quer dizer que você não gosta de mim assim?- Fiz cara de cachorro sem dono, sabia que ela não iria resistir.

 - Você acha mesmo? Ah, vou ficar magoada!Você ta desconfiando de mim, ursinho?

 - Não, Emma! Claro que não! Sabe, eu acho que engordei mais ainda quando você veio morar aqui.

 - Hum, então eu acho melhor eu ir morar com a minha mãe. As suas fãs não querem que você engorde, não é?- Ela se desvencilhou de meus braços e foi em direção ao quarto.

 - Onde pensa que vai? Não terminamos!- Corri atrás dela e parei na porta, onde ela estava parada com uma mão apoiada na parede e outra na barriga.

 - Gustav...

 - O que foi? Está com dor?- Peguei-a no colo e a coloquei na cama.

 - Eu não sei. Só começou a doer. Licença, eu vou vomitar.- Ela se levantou e foi ao banheiro. Passou uns dez minutos lá dentro, eu já estava começando a ficar enjoado com aquilo.

 - O que foi isso?- Ela perguntou fechando a porta e parando em frente à cama pra olhar para mim.

 - Você está bem?

 - Sim. Agora sim. Gustav, eu quero comer chocolate.

 - Chocolate? Pensei que não gostasse de doces!- Sorri e fiz com que ela deitasse.- Vou na cozinha!

                                                                ***

  E agora estou aqui. Sozinho. Sem ela. E ela está aonde tem que estar. Sem mim. Todos os meus sonhos realizados, todos os meus sonhos desmanchados. Não sei nem se vou conseguir viver sem ela aqui, ao meu lado. Minha vida não faz mais sentido pra mim. De que adianta? Levaram tudo o que eu tinha e tudo o que eu iria ganhar.

  É covardia ela ter me deixado e levado meu maior presente junto. O presente que nem tive tempo de abrir, de receber. Todos me dizem que vai ficar tudo bem, que eu vou melhorar, que eles estão em um lugar melhor. Mas eu sei que é mentira. É tudo mentira. Ela pode ficar bem, mas eu não vou ficar. Por que minha vida era ela. Minha vida eram eles.

                                                               ***

 Um barulho de passos batendo na madeira me despertou. Olhei para o lado e Emma não estava dormindo.Ela entrou no quarto com aqueles sapatos de salto que ela adora.Tinha uma expressão preocupada e parecia estar com medo.

 - Emma? Por que acordou cedo?

 - Eu... Só estava sem sono. Não consegui dormir. Quando eu cheguei você já estava dormindo.

 - Você chegou tarde! Vem aqui.- Puxei-a para a cama e ela caiu em cima de mim.- O que está acontecendo? Você anda muito estranha ultimamente.

 - É sobre isso que eu queria falar com você!- Ela me encarou firme e cruzou os braços sobre meu peito apoiando o queixo.

 - Fala. Eu já estou ficando preocupado com você!

 - É que eu não sei se você vai gostar e tem a banda...

 - O que foi, Emma? Fala logo!- Passei a mão por duas lágrimas que caíram de seus olhos.

 - Gustav, eu estou... Eu estou... Euestougrávida.- Ela falou tão rápido que não pude entender nada.

 - Emma repete! Eu não entendi. Fala com calma, devagar!

 - Eu... Eu estou grávida! Pronto, falei!- Ela fechou os olhos esperando por minha reação. Mas eu não tive nenhuma reação. Apenas a encarei estupefato. Ela abriu os olhos devagar e tentou ler minha expressão.- Gustav? Gust? Ai meu Deus! Matei meu noivo! Sabia que não era uma boa ideia!

 - Você.. Eu... Nós... Você está grávida?- Gaguejei. Ela se levantou e pegou um copo de água pra mim.

 - Bebe! Você... Você não... Não gostou?- Ela respirou fundo e se sentou ao meu lado na cama. Bebi a água e a encarei tentando entender se era verdade.- Gustav? Responde por favor!

 - Você está grávida?- Ela assentiu com a cabeça, olhando pra baixo e derramando mais uma lágrima.

 - Você não gostou, não é? Imaginei!- Emma ia se levantando quando a puxei pelo braço e lhe dei um beijo. Eu fiquei feliz! Eu, Gustav Schäfer, pai!  Ninguém vai acreditar nisso!

 - Por que você ficou com medo de que eu não gostasse?

 - Eu não sei! Mas é que... Eu não acho que nós estejamos prontos pra ter um filho. Nosso filho. Mas você gostou?

 - Claro que eu gostei, Emma! Agora nossa família está completa! Eu você e o nosso bebê!- Passei a mão em sua barriga. Ela sorriu e acariciou meu rosto.

 - Mas como a gente vai fazer para... Você tem a banda e vive viajando... E se ele nascer quando você estiver viajando?

 - Nós vamos dar um jeito! E vamos ser muito felizes, meu amor!- Sorri e passei a mão em seu cabelo.

 - Gust...- Ela riu.

 - Emma?

 - Oi!

 - Eu te amo muito, sabia? Você é perfeita pra mim. Eu nunca pensei que fosse encontrar alguém como você... Eu te amo muito Emma.

 - Eu também te amo, Gustav!- Ela começou a chorar e eu a abracei.

 - Minha Emma.

 - Meu Gust. Por que eu estou tão sensível? Eu já engordei dois quilos!- Ela me olha e começamos a rir.