Um enorme e frondoso casarão se erguia diante da babá, que levava duas menininhas de 4 anos e um menininho de 5 para visitar o casarão vizinho, cuja história de seus moradores inspirara uma das mais famosas histórias de Lewis Carroll: Alice no País das Maravilhas.

Diziam que a família que morou ali, a 190 anos atrás, era amiga do escritor Lewis Carroll, e que a menina da família contou a ele sobre um sonho estranho que ela tivera. O escritor resolveu, como um presente de natal à garota, escrever um livro contando seu sonho. A garota, feliz, aceitou o presente, e permitiu que Lewis o publicasse depois de algum tempo.

Porém, a família se mudou para Londres, e o casarão foi abandonado. Depois de algum tempo, a casas foram crescendo em volta, mas ninguém nunca demoliu a propriedade. A casa tinha sido trancada quando a família se mudou, e ninguém nunca conseguiu abri-la. Poderiam ter posto a casa abaixo, mas todos concordaram que ela deveria ser mantida como patrimônio da cidade. Sem objeções, a casa foi mantida em pé, e nenhuma reforma foi feita nela desde então.

Bem, voltando à babá e às crianças: enquanto a babá ria de alguma história contada pelas meninas, o menino ficava observando um gato que dormia preguiçosamente em cima do muro. A sua cauda negra balançava para lá e para cá, e o sol batendo nos pelos criava um reflexo arroxeado no felino. O bichano abriu um olho, sentindo que estava sendo observado, e encarou o menino. O gato levantou-se, espreguiçou-se e, antes de pular para dentro da propriedade, para o outro lado do muro, o menino jurou que o viu sorrir. Um sorriso um tanto quanto medonho, mas que ainda assim reconfortou o garoto, de certa forma.

-O que tanto olha, Allen?- perguntou a babá.

-Um gato, senhora Paloma.- respondeu o menino.

-Que gato? Não vejo nenhum...

-Ele pulou pelo muro, e caiu do outro lado.

-Não se preocupe. Gatos sempre caem de pé.- disse a menininha loira, que sorriu para ele.

-É verdade, Allen. Ele está bem.- disse a outra menina, que tinha cabelos castanhos.

Os quatro saíram andando, mas Allen podia jurar que ouvira uma voz, vinda detrás do muro, que dizia, parecendo ronronar:

"Nos veremos em breve, caro Alice."