- Amor, temos uma carta.

O rapaz parou de ler o livro quando ouviu as palavras de sua esposa, levantou-se e começou a andar desviando das crianças que corriam pela casa. Mesmo estando somente aos seus vinte e um anos, se sentia um velhaco ao ver aquelas crianças correndo de um lado para o outro. Chegou perto da esposa, e leu o que estava escrito no envelope amarelo.

“De Lílian Marge para Lysandre Winters.”

Ele assustou-se. Nunca havia recebido uma carta dela desde sua formatura em Sweet Amoris, e agora recebia 4 anos depois, sem endereço, selos, somente um envelope estranho, amarelo, escrito com só 6 palavras.

Imediatamente abriu a carta, sentou-se na cadeira e começou a ler para si mesmo o conteúdo escrito nela, com letras miúdas e diferentes, como se fosse escrita dia após dia.

“Querido Lys,

A quanto tempo. Você já deve estar recebendo esta carta a muito, muito tempo depois de nossa formatura. Porém, me lembro como se fosse ontem o que passamos naquela escola. A praia, a excursão, os coelhos, os rapazes, a Debrah, a corrida, a peça. Você sempre esteve lá comigo por todo este tempo, e sou extremamente grata por tudo o que você fez por mim. Mas, não enviei-lhe esta carta para falar sobre isso. Acho que você não sabe, mas eu perdi meu pai muito cedo. Vivi com a minha mãe até meus doze anos, mas chegou uma época que ela não pode mais viver cuidado de mim e dela ao mesmo tempo, então me mudei para a casa da minha tia. Mesmo eu estando triste por estar longe de minha mãe, minha tia começou a se vestir de fada, pintou o cabelo de rosa e começou a aparecer em todo lugar que eu fosse me dando presentes, e isso me alegrava de um modo inexplicável. Logo se passaram três anos, e minha tia decidiu me enviar a uma escola. E assim eu fui para Sweet Amoris, com meus 15 anos. Foi a época mais feliz da minha vida. Todos os meus amigos, inimigos, os meus romances e desvaneios. Comecei a ser mais vaidosa, e tive várias amigas no site da escola. Porém quando eu me formei fui morar com minha mãe, e descobri que ela estava muito doente e não tínhamos dinheiro para ajudá-la. Eu comecei a trabalhar. Trabalhei com todo o tipo de coisa, fazia chuva ou sol. As vezes ficava cansada, chorava por algumas coisas que aconteciam comigo, namorei com um rapaz maravilhoso. Mas, eu comecei a pensar em você. Eu nunca lhe falei, mas eu sempre lhe amei. Nunca consegui expressar isso, e acabei me formando e nunca lhe contei. Continuei a trabalhar dia após dia, até que consegui curar a doença de minha mãe. Porém eu já estava cansada demais, e acabei eu mesma ficando doente. Já faz meses que estou em uma maca, parada, sem forças para fazer nada, escrevendo para ti. Eu só queria lhe ver mais uma vez. Lembrar aqueles tempos antigos. Meu rosto já está magro, meu cabelo está longo, será que você irá me reconhecer? Espero que sim, me reconheça. Mas será que... você quer me ver? As dúvidas ficam em minha cabeça.

Venha me ver, Lysandre.

Com amor, Lílian”