O último dia de ensaio da peça finalmente havia chegado.

Para a alegria de Edgard e Lucrécia,tudo estava na mais perfeita ordem,se tudo corresse como o previsto,o sucesso seria certo. No entanto,o professor não parecia concordar com a tirana professora e mãe de Jade,e estava a ponto de ter uma síncope se o próximo dia não chegasse logo.

– DEUSES DO TEATRO,POR FAVOR ME AJUDEM! – Ele berrou,sob o olhar assustado dos alunos. Para o azar deles,a professora ainda não tinha chegado a Ribalta,e só ela seria capaz de acalmar os ânimos por ali.

Bianca,que estava com Jade e Joaquina arrumando os figurinos,se afastou por um segundo para procurar por Pedro. Ele faria o Mercutchio na peça,melhor amigo do Romeu,e ainda não estava ali para o ensaio final. Tentou ligar no celular do irmão,mas nada dele atender.

– Ei,Luninha! – Parou a colega de palco que estava tentando fugir de uma das broncas do diretor. – Você viu o Pedro?

– Não vi não Bi,acho que ele ainda não chegou. – A morena assentiu e viu a menina pegar mais materiais para terminar o cenário.

– FERNANDA LUNA,CADÊ VOCÊ? ACHA QUE ESSE CENÁRIO VAI FICAR PRONTO SOZINHO??? – Edgard berrou,fazendo a menina revirar os olhos. Se a carrasca não chegasse logo,todos os alunos iriam tratar de prender o professor em alguma das coxias do teatro.

– Claro que não,a Ruiva tá aí. – Luna zombou.

– Mas é a mesma coisa que nada! Ruiva minha filha,não era pra esse cenário ter ficado pronto ontem? – Ele suplicou. Bárbara tentou argumentar,mas ele impediu. – Não,não fala nada! Só dá um jeito de terminar isso logo,o mais rápido possóvel.

Antes que Edgard pudesse perder as estribeiras de vez,Bianca interviu e disse:

– Pode deixar que eu ajudo ela!

Por conta da doença de Lucrécia,Edgard acabou se afastando para acompanhar a amiga nas sessões de quimioterapia,fazendo com que o processo de ´preparação da peça ficasse um pouco de lado. Nos últimos dias,os alunos estavam trabalhando a todo vapor para que tudo estivesse pronto a tempo.

Bianca ouvia Edgard berrar com Joaquina que havia atrapalhado todo o trabalho de Jade com o figurino quando avistou Pedro chegar abraçado a Karina,riam cúmplices de alguma coisa que ela não sabia do que se tratava.

– Até que enfim vocês chegaram! – Bianca se aproximou e abraçou os dois. – Achei que não iam chegar nunca.

– Eu não sou do elenco principal,então não precisava vir mais cedo Bi. – Pedro se explicou. – Fica calma. – Mas ela ignorou seu pedido.

– Você não,mas a K sim! – Foi a vez de Karina rir.

– Ela tava muito ocupada me dando atenção. – E a beijou.

– Awn,que lindos vocês dois! – Bianca exclamou. – Ok ok,estão perdoados,mas se o Edgard aparecer,inventem uma desculpa convincente.

Bianca ia voltar para o cenário da peça,mas olhou mais para trás e notou que João também estava lá. Não pode evitar agradecer a Duca preferir seus sacos de areia do que fazer teatro,tinha medo que outra briga acontecesse ali,logo quando nada poderia dar errado. E ela não sabia até que ponto poderia aguentar tudo aquilo de novo.

Sorriu fraco para João que retribiuiu,reprimindo sua vontade de ir até ela e abraça-la. Desde o ocorrido não se falavam,colocando aquela briga e principalmente a luta como uma barreira entre os dois. Bianca soube por Fabi alguns depois que Duca e João lutariam no Warriors. Ela não pode evitar sentir um arrepio e um temor por João. Duca já praticava Muay Thai a mais tempo,e pela raiva que estava sentindo do gamer,o que aconteceria no ringue poderia tomar maiores proporções.

Karina seguiu com Bianca para repassar algumas falas,enquanto Pedro e João foram ajudar com o cenário,já que João não participava da peça. Mas ainda que ele não fizesse parte do elenco,ele estava sempre ali para acompanhar Karina,sabendo todas as falas de cor.

– HENRIQUE,QUE ATUAÇÃO HORRÍVEL É ESSA MEU FILHO??? – Edgard gritou para o garoto que usava óculos escuros e tinha uma aparência evidente de ressaca. – VOCÊ QUER ME ENLOUQUECER?

‘’Eu não,mas você sim’’,foi o que ele pensou. O menino tampou um dos ouvidos e estremeceu com a voz estridente e alta do professor. Bianca estava a ponto de jogar Henrique palco abaixo quando o ouviu dizer:

– C-caaalma,profe! Eu tô ótimo,não tá vendo?

– Só se for pra socializar com os mendigos do lixão..... – João sussurrou,mas Karina e Pedro ouviram e gargalharam alto.

– Posso saber o que é tão engraçado,senhor Spinelli?

– Nada não,professor. – Ele sorriu amarelo,e Bianca segurou o riso do palco. - Tamo tudo na paz aqui,né não galera.....? – Se virou para Pedro e Karina,que se beijavama,alheios a conversa.

– PEDRO! KARINA! – Edgard reclamou,e eles se afastaram a contragosto. – Quantas vezes eu tenho que dizer que são proibidos beijos que não sejam técnicos aqui nesse teatro?

– Mas QUEM foi que falou que o nosso beijo não foi técnico? – Pedro questionou na maior cara dura.

– Há,só se for tecnicamente verdadeiro,isso sim...AI! – João gritou ao receber um pedala de Pedro.

– Cala a boca,João! – Karina sussurrou,mas já era tarde.

– Como se eu precisasse do João pra me dizer isso,né guitarrista? Eu bem vi uma língua aí,não nasci ontem.

– Isso a gente também percebeu,né K? – Indagou,e Karina prendeu o riso,escondendo o rosto no peito do namorado. – Mas agora é sério,porque você não coloca uma cena do Mercuthio com a Laylah?

– Ah,não sei,deixa eu ver.....porquê NÃO tem lógica nenhuma uma cena nenhuma do melhor amigo do Romeu com o anjo protetor da Julieta? – Edgard indagou como se fosse algo óbvio.

– Mas bem que podia ter. – Pedro resmungou chateado,ainda não tinha se conformado que não contracenaria com Karina. A loira abraçou o namorado,que retribuiu.

– Sabe o que eu acho que deveria ter aqui? Mia agilidade com o Romeu,Henrique.....HENRIQUE! – Gritou ao perceber que o menino dormia em pé. Bianca a essa altura já tinha desistido e estava sentada com os três,observando a conversa do irmão com o professor.

– Chega,eu desisto! – Edgard choramingou,quase arrancando os poucos cabelos que tinha. – Henrique,sai já desse palco! – O menino obedeceu prontamente,saindo dali aos tropeços e batendo a cabeça na parede ao errar o caminho da porta. – Isso ele ouve direitinho,mas é muito....

– Olha a boca,professor! – Pedro advertiu,e Edgard franziu o cenho.

– Que foi agora,Pedro? Vai me chamar de ‘’Esquentadinho’’ agora também?!

– Tá mais pra ‘’esquentadão’’,isso sim. – João disse,e Bianca riu.

– O QUÊ??? – Ele se irritou.

– Nada não,é só a Bianca....dizendo que...quer comer EMPADÃO,né não Bi? – Assentiu para que ela concordasse,mas ela só abriu a boca,em choque.

– É sim,Ed. – Concordou fuzilando o gamer.

– Cuidado,hein Bianca? Desse jeito aí amanhã você não vai caber no vestido... – Afirmou,e João gargalhou. Bianca se irritou e lhe deu um tapa no braço.

– Isso não,profe! Esquentadinha só a minha K. – Pedro respondeu,beijou a testa da namorada.

– Ah,mas o amor é lindo..... – Fez um coração com as mãos. – Mas eu tô precisando de agilidade aqui! Bianca,já pro palco!

– Mas como,Ed? Você viu o estado que o Henrique saiu daqui....

– É verdade... – Concordou,com os olhos fixos em João. – Eu só espero que ele apareça em condições de fazer o Romeu amanhã.

– Ele vai,pode ter certeza. – Bianca afirmou. – Henrique é um bom ator,tá só passando por uns problemas com o pai.

– Se você diz.... – Ed titubeou.

– Mas o que EU quero saber é quando nós vamos poder ir embora. – Pedro questionou.

Com muito custo e um certo peso na consciência,Ed autorizou que os quatro fossem embora,com a ressalva que estivessem todos ali pela manhã para o acerto dos detalhes finais.

A manhã não denmorou a chegar e logo todos já estavam a postos na Ribalta para se preparar para a peça. Depois de muito escândalos de Ed e tentativas frustradas de Lucrécia de acalmá-lo,tudo estava finalmente pronto para a estreia.

Bianca estava no camarim terminando de fazer o penteado de Julieta. Se levantou da cadeira e se olhou no grande espelho que tinha ali. Não conseguiu evitar pensar que estava realmente bonita,mas não proferiu o pensamento em voz alta. Quem o fez foi seu irmão,que entrou na pequena sala e se deparou com a irmã com um sorriso no rosto.

– Cê tá linda,Bi. – Sorriu zeloso para ela,que se virou ficando de costas para o espelho.

– Obrigada,maninho. – Uniu suas mãos as dele,e o irmão as beijou num gesto de carinho.

– Sabia que eu tô muito orgulhoso de você?

– De mim? – A Julieta se surpreendeu com a fala de Pedro. Até onde sabia,a última coisa que tinha feito nos últimos tempos era dar orgulho a alguém,quanto mais a ele,que ela amava tanto.

– É sim,maninha. Eu tô orgulhoso de ver como você foi forte e conseguiu superar tudo para estar em cima daquele palco novamente,orgulhoso de te ver feliz e fazendo o que tanto ama....

A essa altura,Bianca já chorava. Pedro envolveu o corpo da irmã num abraço que veio em boa hora. Era tudo o que a garota precisava naquele momento.

– Ai,Pê.... – Fungou o choro. – Eu te amo,muito. Promete que nunca vai duvidar disso?

– Prometo.... – Beijou a testa da irmã. – Até porque se eu ousar duvidar um certo lutador vem e arranca o meu bem mais precioso fora...

– PEDRO! – Deu um tapa no braço do irmão.

– Calma Bi,eu tô falando do meu coração! Como cê quer que eu te veja brilhar naquele palco sem ele? – Riu com a irmã,que o olhou desconfiada,num tom brincalhão. – E você também não duvide do quanto eu te amo.

– X –

João estava com Karina no outro camarim. Os dois já estavam prontos,e conversavam com alguns colegas de elenco da loira. Ela se olhou no espelho. Estava linda,mas uma coisa a incomodava....

– Por quê eu tenho que usar essa coisa redonda ridícula? – Indagou mais para si mesma do que para João.

– O nome disso é auréola,K. – Fabi explicou. – Os anjos usam no céu,você não sabia?

Karina sentiu seu coração bater acelerado tamanha era a raiva que sentia. ‘’QUEM USA AURÉOLA É A MÃE!!’’,pensou. João já estava ao lado dela,com medo do que ela poderia fazer. A loira respirou fundo,e num ato de insanidade (ou talvez nem tanta),arrancaou o bendito acessório da roupa.

– VOCÊ FICOU LOUCA???

– FIQUEI!! – Karina afirmou. – Algum problema,Fabi?

– Não,nenhum. Credo. – E saiu de perto.

A essa altura,João não conseguia parar de rir. Realmente,era muito engraçado ver Karina agir por impulso,mas só as vezes. Na maioria delas,quem purava era ele mesmo.

– Tá rindo do quê,seu anjo coxinha???

– COXINHA NÃO!!! – Foi a vez de João gritar,chamando a atenção de todos ali. – Que foi gente? Eu não gosto de coxinha.

– Mas eu gosto,Joãozinho... – Paty se aproximou e disse. – E de você...

– ...Você vai se afastar agora,isso sim! – Karina disse convicta. – Ele já tem dona.

– Ah é? – Paty riu. – E eu posso saber quem é?

– Pode e deve,é a minha cunhada,irmã do Pedro. – João arregalou os olhos. Se aquilo saísse dali,Bianca nunca mais iria querer saber dele.

– Eu não acredito! – Paty reclamou,quase chorando. – Eu não consigo entender porquê ninguém me quer! Poxa,eu já fui até miss....

– Só se foi MiSericórdia,né amor? – João ironizou,fazendo Karina e Fabi chorararem de tanto rir. Paty saiu de lá batendo o pé.

– João,posso te fazer uma pergunta? – Ele assentiu. – O que o Ed queria com você,ontem?

Antes dos quatro saírem da Ribalta,o professor maluco de teatro chamara o gamer para uma conversa em particular. Os três bem que tentaram perguntar o que havia acontecido,mas ele logo desconversou,fazendo alguma piada com o personagem de Pedro,que morreria na peça.

– Nada K,já disse. – Karina insistiu mais uma vez,mas ele estava mais irredutível que o normal naquela noite,e um pouco nervoso também.

Karina já tinha se dado por vencida e,quando ia se juntar aos outros para sair das coxias,João a impediu.

– Quê cê tá fazendo João? Eu tenho que ir...

– Ela já vai! – Gritou para Dandara,professora de canto da Ribalta que estava encarregada de levar os alunos para os seus respectivos lugares. – Eu não podia te deixar ir antes disso. – E apontou para a janela,assoviando.

Quando Karina percebeu o que estava acontecendo ali,seu coração deu vários pulos e um sorriso estampou seu rosto. Netrorn estava bem a sua frente e acompanhado de Beta,uma de suas amigas do céu.

– SURPRESA!! - Os dois anjos gritaram em uníssono.

– EU NÃO ACREDITO! – Abraçou os dois,sem conseguir esconder sua felicidade. Olhou para João,que sorriu pra ela. – Eu não acredito que vocês vieram!

– E você acha que eu ia perder a minha amiga atuando na peça? – Karina pulava e dava gritinhos,assim como Beta. Já Nethorn estava mais quieto,mas tão feliz quanto as duas por estar ali.

Fira,Flygia e Tomtom já estavam nas primeiras fileiras para assistir a peça,acompanhados de Marcelo e Delma.

– Shhh! Querem que nos descubram aqui? – João bradou. – Ai meu santo! Eu sabia que isso não ia dar certo...

– Relaxa estressadinho! Esqueceu que eles não estão na forma humana? Ninguém pode ouvi-los,só a gente.

– É verdade. – Beta concordou.

– É,claro. Todos só vão achar que eu e a Karina somos dois malucos de pedra,só isso. Que mal tem,né gente? – João ironizou.

Beta e Netrorn se despediram,dizendo que iriam arranjar bons lugares para assistir ao teatro. Quando eles saíram,a loira pediu que o amigo fosse na frente,que ela iria depois. Assim que o perdeu de vista,se concentrou no que queria fazer a muito tempo.

– Oi,cara aí de cima....Erm,eu sei que você tem nome,tá? Mas é que o Pê te chama assim,eu acabei acostumando. Será que seria pedir muito para que tudo dê certo essa noite? – Viu uma estrela brilhar solitária pela janela,então soube que seu pedido não seria negado. – Essa peça é muito importante não só pra mim,mas pra Bi,pro Pê.....pra todo mundo,até mesmo pro João. É só o que eu preciso essa noite.

Se virou pro espelho e tirou suas asas,dando lugar aos seus dois bens mais preciosos: suas asas verdadeiras. Comparou as duas. A outra parecia muito artificial,mas com o jogo de luzes do palco,seria muito difícil que alguém percebesse sua troca as escondidas.

Com um sorriso no rosto,se dirigiu para o palco,se posicionando para que a peça pudesse começar.

– X –

Bianca entrou em cena para contracenar com Karina. Naquele ato,Laylah diria a Julieta,em um sonho,para não desistir de Romeu.

– Aonde estou? – Sussurrou Julieta,que antes ressonava num sono profundo,mas agora se encontrava absorta em seus sonhos. Tentou se levantar num sobressalto,mas uma leve tontura a invadiu.

Laylah apareceu ao lado da pequena menina,a ajudando a se levantar.

– Como estás,minha menina?

Julieta a encarou de cima a baixo,ainda sem saber se aquilo era um sonho ou realidade. Aimda apoiada na jovem anjo,disse:

– Quem és tu?

– Sou Laylah,teu anjo protetor. Tu podes não me conhecer,mas eu te conheço desde.....sempre.

Julieta apenas assentiu,absorvendo cada palavra que a anjo dissera.

– Pois bem,Laylah....podes me dizer aonde estou? Porque me sinto tão perdida...

– Isso é um sonho,minha cara protegida. Logo logo irás acordar,e não se lembrará mais de mim.... – Desviou seu olhar por um segundo,encarando a plateia. – Vim te fazer um pedido,e peço que tu acates assim que ouvistes,está bem?

Julieta assentiu,e Laylah continuou.

– Quero que não desistas do Romeu. – A jovem menina negou num meneio de cabeça. Já havia condenado aquele sentimento proibido,sabia que não poderia pertencer a ele jamais. – Ele é o grande amor de tua vida,minha cara Julieta. Podes até tentar passar os dias fugindo desse sentimento,mas em seu coração ele sempre estará. Sabestes disso melhor do que eu.

– Esse sentimento é tão incerto,é tão pagão.... – Julieta se deixou entregar pelas lágrimas.

– Mas é verdadeiro,minha querida. – Secou suas lágrimas. – E no final,é apenas isso o que importa.

A cortina já ia se fechar quando um certo Montecchio aparecera em cena.

Ali,parado a observar Karina,estava Pedro. Encarou a pequena loira de cima a baixo,maravilhado com tanta beleza. Olhou suas asas e soube na hora que eram suas próprias,e riu baixo,e Karina notou que ele havia percebido a diferença.

Sorriu para ele,com uma verdade que lhe tomara ali,em cima do palco. Não tinha mais controle sobre suas ações,muito menos ele,que se dirigia até ela a passos largos.

– Você está linda. – Tocou de leve seu rosto. Nada era mais importante do que se entregar aquele momento. Era loucura,era insano,era errado. Mas era incontrolável o que sentiam.

– É mesmo muito belo o meu anjo,Mercúccio. – Bianca improvisou,fazendo os dois caírem em si. – Mas o que querers aqui em meu sonho?

Bianca quase berrou a ultima parte,para que o irmão desse conta da burrada que estava fazendo e desse um jeito de sair dali. Mas antes que pudesse fazer isso,Karina disse:

– Merccúcio está aqui para te ajudar também,Julieta. – Afirmou de forma pausada,pensando em cada palavra. Ninguém na plateia pareceu desconfiar,mas os três sabiam o que estava se passando ali. – És o melhor amigo do Romeu,sabes mais do que ninguém o quanto aquele homem te amas...

– Eu prometo,Laylah. – Bianca fingiu secar algunas lágrimas. – Eu prometo que não desistirei do meu Romeu. – E dito isso,as cortinas se fecharam.

Edgard,a essa altura já estava tendo uma síncope da primeira fileira. Antes de as cortinas se fecharem,era possível ouvir um ‘’me segura’’,’’ai meu santo,me leva’’ vindos do professor.

– X –

João estava tenso. Na noite anterior,havia acatado o pedido desesperado do professor,mas não sabia que sofreria tanto para entrar em cena.

Tudo começou com o péssimo desempenho de Hnerique. Ainda que ele tivesse passando por problemas,era inadmissível para Ed a sua falta de compromisso,que ele fazia questão de deixar evidente. Edgard o procurou,antes de ir embora,e implorou para que ele fizesse Romeu,caso Henrique não aparecesse.

Ele topou,sabia que não tinha chances de contracenar com Bianca,era certo de Henrique aparecer.

E ele apareceu. Bêbado de sono e de ressaca da noite anterior. João não entendia muito bem de certas coisas do mundo dos humanos,era verdade,mas no fundo sabia que quando ele caísse em si,nenhuma bebedeira seria maior que sua ressaca moral.

Henrique bem que tentou fazer algumas cenas,mas não conseguiu muito êxito. Edgard logo tratou de tirá-lo (lê-se expulsá-lo a pontapés) do palco,entre um faniquito e outro. Mais uma vez implorara a Joçao para que ele salvasse a peça,e lá estava ele. A decisão só dependia de três palavras.

E ele afirmou um sonoro sim,para a alegria de Ed. João poderia ter muitos defeitos,mas para o professor maluco,atuar era sem dúvida uma de suas maiores qualidades.

Quando viu Bianca em cena,sentiu seu corpo inteiro paralisar. Ela estava tão linda! Sempre fora,mas ali era quase uma divindade. Poderia parecer exagero de sua parte,mas nada era demais quando de tratava de Bianca.

– Romeu,juras que me tens amor?

Ela estava de costas para ele,parada na sacada. Se João não a conhecesse tão bem,juraria que sua voz soava triste,talvez por achar que uqm estaria ali era Henrique. Ah,quando ele a visse...

Quando seus olhares se encontaram,Bianca não parecia mais pertencer a esse mundo. Sua alegria não cabia mais em sim,muito menos seu sorriso. Num impulso,desceu as escadas improvisadas,e Joçao estava perto dos últimos degraus para lhe dar a mão.

– Pela santa lua. – Afirmou contra seus olhos castanhos.

– Não jures pela lua,assim como o intante que muda de semblante a cada mês. .. – Bianca,no papel de Julieta baixou o olhar,mas João ergueu seu rosto,mantendo seus olhares a mesma altura.

– Por quê devo jurar?

– Jures por ti,que é o objeto de minha idolatria. – Afirmou,seu coração acelerado. Já sabia muito bem o que vinha a seguir,e com ele não era diferente. – Assim eu acreditaria....

– Pela minha alma. – Pegou sua mão. - Ó minha paixão, juro que é sincero o amor em meu coração.

Sem aviso,João uniu seus lábios aos dela e a beijou. Ele tinha os braços envoltos em sua cintura,para ele poderia passar a vida ali. Ela entrelaçou os dedos em seus cabelos,o puxando mais para si. Ambos sabiam que de técnico aquele beijo não tinha nada,mas não tinham com o que se preocupar. O publico gostaria,Edgard também,com a afirmação que ‘’traria mais verdade a cena’’,e para eles......eram só dois corações se entregando a um mesmo sentimento.

Quando João abriu os olhos,ela ainda tinha os seus fechados,e ele sorriu antes de encostar sua testa a dela.

– Eu te amo,Julieta. – Deixou seu coração falar,se entregando aquela verdade que era seu sentimento por ela. – Me perdoa por não ter percebido isso antes?

E numa questão de segundos,as cortinas se fecharam. João já podia prever que ela iria fugir de seus braços,mas antes de se posicionar para o próximo ato,ele ouviu ela dizer somente pra ele:

– Eu também te amo,Romeu.

– X –

A peça acabou e junto com ela,vieram vários elogios para Edgard,que se vanglotiu e fazendo falsa modéstia. Bianca e João foram escolhidos como os melhores atores da noite,e o grande diretor Fábio Zambroni deixou clara a sua admiração pela cena de Julieta com Mercuccuio e seu anjo da guarda,para o alívio de Ed.

– Foi uma cena muito irreverente,meu amigo. – Afirmou certo de suas palavras. – A maneira como você deu uma nova vida a peça,com aquela cena...

– É,realmente,eu sou muito bom no que faço,tenho que admitir.... – Ouviu uma tosse ao seu lado. – Nós,somos. Não é Lucrécia?

Bianca estava no camarim,ainda com sua roupa de Julieta,relembrando dos últimos acontecimentos. Não podia acreditar que João havia afirmado que a amava. Ela não precisava de muito para entender que ele falava dela e não de Julieta.

Ele a amava tanto quanto Julieta amava Romeu. Poderia ser mais perfeito que isso? A diferença entre eles é que Julieta não pode viver para amar Romeu,mas ela queria viver mil vidas para poder ama-lo. O que ele quis dizer com o pedido de desculpas? Ela pensou,mas não teve tempo de resposta.

Um forte baque de uma porta se fechando a tirou de seus devaneios. Ela se virou para a origem do barulho e deu de cara com quem menos esperava ver naquele momento.

– Duca?!

Ele nada respondeu,apenas fechou suas mãos nos braços da garota,a puxando mais para si num ato desesperado.

– O que você tá querendo,hein? Me enlouquecer?!

– Do que cê tá faalndo,seu doido? Me solta! – Gritou,tentando se mexer,mas era inútil,ele era mais forte que ela. Bianca deveria saber,depois de tantos anos de convivência que se soltar dele nunca fora uma tarefa muito fácil.

Ela nunca protestara enquanto estar em seus braços era para ela uma das melhores coisas no mundo. Mas agora.....as coisas estavam bem diferentes.

– Eu vi Bianca,eu vi aquele beijo! – Sua raiva se misturava as suas lágrimas,que não demoraram a desabar.

– A-aquilo lá era só teatro Du,você sabe disso...

– Não,não era! – E a soltou com uma brutalidade que ele não queria usar. – Eu pude ver que não,assim como todo mundo lá naquela plateia.

Respirou fundo antes de se aproximar dela de novo,dessa vez tocando suas mãos com mais calma do que ele realmente tinha.

– Bi,me responde uma coisa,com sinceridade....cê tá apaixonada pelo João?

Bianca sentiu seu coração apertar com aquela pergunta que nçao precisava de resposta.

– Duca....

– Não foge,Bianca,me responde! Você tá ou não tá apaixonada por ele?

Bianca nada disse,apenas se afastou dele como podia.

– Com que direito você quer me obrigar a falar sobre o que eu sinto ou não? – Gritou,deixando a raiva a dominar. Não tinha medo de Duca. – O que eu sinto pelo João só diz respeito a mim e a ele,você não tem nada a ver com isso.

Ele não se deu por vencido,deixando-se levar pelas palavras que ele não podia dizer.

– É DA MINHA CONTA SIM!! – Gritou. A essa altura,qualquer um que passasse ali poderia ouvi-los. – É sim da minha conta quando EU larguei tudo o que eu sentia por você pra poder te ver assim....feliz,fazendo o que você gosta,em cima desse palco.

– Você....o quê? – Bianca soltou o ar que estava prendendo,soltando as palavras aos poucis. A medida que sua mente podia processar.

Em sua cabeça ela trabalhava com mil ideias e hipóteses que poderiam ou não se encaixar. A verdade é que ela só saberia o que realmente havia se passado quando ele contasse,porém ela já não tinha mais tanta certeza se queria ouvir.

– F-foi a Priscila? – Gaguejou,sem saber como dizer aquilo. – Foi ela que te ameçou tirar o meu lugar na peça?

– Antes fosse. – Riu fraco,puxando uma cadeira para se sentar. A história seria longa,e nada fácil. Tinha medo que Bianca não o compreendesse. A menina fez o mesmo,e logo estavam frente a frente.

– Você lembra dos dias que passou no hospital,depois que eu te encontrei desacordada naquele banheiro?

– Um pouco.... – Ela assentiu,sem entender o que aquele assunto tinha a ver com seu segredo. – Na maior parte do tempo eles me manteram dopada,você sabe. Era remédio pra dormir,acordar,pra dor... – Um arrepio percorreu sua espinha quando ela se lembrou.

– Em uma das vezes em que você tava dormindo,a doutora Luiza,a sua psicóloga me chamou...

Duca estava mais uma vez a velar o sono profundo de Bianca. Um gesto que ele não se cansaria tão cedo. Sabia que a menina não acordaria pelas próximas horas,mas se sentia responsável por ela. Tanto por amá-la,quanto por ter sido ele a encontra-la naquele estado. A ordem certa ele não sabia dizer.

– Carlos Eduardo? – Duca estranhou ouvir seu nome completo ecoar pelo quarto.

Pousou seu olhar sobre a porta e ali encontrou a doutora Luiza,que ele já havia cumprimentado uma vez ou outra em meio aqueles corredores.

– Sim,doutora?

– Pode vir até minha sala para conversarmos?

Duca olhou de imediato para Bianca,ela ainda continuava a dormir. Sentiu um aperto no peito por ter de se separar dela,bem como em todas as vezes em que tinha que se ausentar. A doutora percebera isso e disse:

– Não se preocupe,se ela acordar,nos avisarão.

Ele assentiu e foi em direção a porta. Não demorou muito para chegar até a sala da doutora,que fechou a porta e pediu que ele se sentasse de frente para ela.

– Por que me chamou aqui,doutora? Aconteceu alguma coisa com a Bi? Ela tá bem? Ela... – Duca proferia seus pensamentos sem ordem,visivelmente desesperado.

– Calma,meu rapaz! Ou terei que te interditar também. – Ela disse calmamente.

– Hã? Eu não sou banheiro pra você me interditar,não! - Respondeu sob o olhar incrédulo da mulher.

– Ahn,na verdade eu quis dizer que......Bom,não importa! – Deu um sorriso amarelo. – Eu te chamei aqui pra falar sobre a Bianca. Respondendo as suas perguntas,agora ela está bem sim.

– O que cê quer dizer com agora?

– Quero dizer que,durante algumas consultas com ela,pude perceber de onde vem parte das origens dessas crises de mutilação dela.

– E como isso tudo começou?

– Acredito eu,que baseados nos relatos que tenho dela,que parte desse sofrimento tenha a ver com você.

Um silêncio ensurdecedor se instaurou sobre a pequena sala branca. Duca poderia jurar que era possível ouvir o som de seu coração batendo descompassado dentro de seu peito. Ele fizera Bianca sofrer? Como isso era possível?

– Não foi sua culpa a insegurança dela ter atingido o relacionamento de vocês. – Prosseguiu a doutora,tentando desanuviar o estado de choque do garoto. – Até aonde eu sei,vocês não tinham um relacionamento muito definido,certo? – Ele assentiu. – E aliado as brigas contantes dos pais,com a decepção com o irmão,que estava envolvido com drogas e namorava a tal Priscila.....Ela não se sentia boa o suficiente pra você.

– COMO É QUE É??? – Um Duca exasperado se manifestou. Sua respiração subia e descia freneticamente enquanto tentava se acalmar.

– Escute,meu jovem. Ela não se sentia boa o suficiente para fazer seus pais pararem de brigar,ou quando não conseguia abrir os olhos do irmão para a realidade.....Com relação a você,esse estado de inferioridade aumentava,pois ela te amava e não conseguia ver o mesmo sentimento em você.

Duca voltou no tempo,mais especificamente para o início da relação um tanto torta dos dois. Não eram namorados,mas também já não eam apenas amigos....Flashbacks iam e vinham em sua mente,ele não podia nem queria evitar.

– O que eu posso fazer,doutora? – Duca suplicou,entre lágrimas. – O que eu posso fazer pra tirar essa dor dela,pra provar que eu a amo?

As próximas palavras nunca doeram tanto.

– Pedro se separou da tal menina,mas ainda tem uma longa caminhada para se ver livre das drogas. Marcelo e Delma só precisam ficar mais próximos da filha,agora que as brigas constantes cessaram. Mas você....você deve se afastar dela.

– O quê? – Uma Bianca trêmula e frágil perguntou.

– É isso mesmo,Bi. É a verdade. – Se agachou de frente pra ela,unindo suas mãos. – Eu não terminei com você porque não te amava,ou porque não ia aguentar ver você tão frágil....Foi um pedido dela.

– M-mas por quê,Du? Por quê ela iria te pedir uma coisa dessas? – Ela tentava organizar seus pensamentos,mas só o que conseguia fazer era chorar mais.

– Ela disse que eu precisava deixar o seu caminho livre,para que você pudesse descobrir o quanto você é merecedora da sua felicidade. – Sorriu fraco e swcou algumas de suas lágrimas. – Ela acreditava na época que a única maneira de você voltar a ser como antes era provando pra si mesma que o seu amor próprio estava mais vivo do que nunca,dentro de você. – Tocou seu coração. – Você só precisava encontrar.

– Duca... – ela já soluçava,confusa demais para absorver tantas descobertas de uma só vez.

– E você conseguiu,pequena! Olha só pra você,tão linda,tão Julieta.... – Sorriu abertamente,deixando algumas lágrimas escaparem.

– Mas e se eu precisasse de você pra ser feliz,Duca? – Conseguiu formuçar a frase que martelava sua cabeça. – Ela não tinha esse direito.... – Um tom amargurado tomou conta de sua voz.

– Você não iria conseguir,não sem antes aprender a se amar primeiro. – Ela se levantou e ele seguiu seu movimento. – E você conseguiu,Bianca. Você conseguiu provar pra mim e pra todo mundo o quanto você é forte,guerreira.....Voltou a ser a Bianca independente,dona da sua própria vida....

– Eu sofri tanto,achando que você não me amava.... – Se afastou dele e secou seu rosto molhado,desviando seu olhar.

– Mas eu te amo,Bianquinha. E nunca mais vou deixar você duvidar disso.

Bianca não podia prever o que viria a seguir. Mas,ainda que pudesse,ela não sabia se o queria. Não importava. A sua opinião não importava,porque já estava acontecendo,sem que ela pudesse parar. Duca a beijava com toda a saudade que sentia dela. Se ela correspondia,ela já não sabia dizer.

O beijo acontecia,sem que nenhum dos dois notasse a presença de um certo Romeu,parado no batente da porta,com os olhos fixos na cena.

– X –

– Então quer dizer que o meu namorado é um maluquinho?

Karina e Pedro resolveram fugir depois da peça. Seus parentes queriam lhes parabenizar pelo bom trabalho,mas só o que os dois queriam no momento era aproveitar aquele momento juntos.

– Só se for por você. – Lhe roubou um beijo. – Descobriu isso só agora,é?

– Eu tô falando sério,Pê. – Mais um beijo. – Que ideia louca foi aquela de entrar no meio do ato? Eu tomei um susto!

– Mas você gostou,vai. – Sussurrou e depositou um beijo atrás de sua orelha. – Eu precisava te ver,tão linda em cima daquele palco. Quando dei por mim,já tava lá em cima.

– Sorta a sua que a Bianca soube improvosar,senão o Ed te matava de verdade assim que a peça acabasse. – Brincou e ouviu a gargalhada gostosa do namorado.

– É,eu não duvido disso não,amor. Agora vem cá,você fala de mim,mas a senhorita também é bem maluquinha. – Fez cócegas nela,que riu e se afastou.

– Ah,é? Por quê diz isso? – se fez de desentendida.

– Eu vi que você usou as suas asas em vez das do figurino da peça. – Ele a puxou pela cintura,fingindo um tom autoritário.

– Ah,Pê,não briga comigo! Aquelas asas lá eram horrorosas,nem se comparavam as minhas! Era quase uma ofensa.

– Realmente,as suas são mais lindas do que aquele monte de gliter enpenado. – Concordou com ela.

– E ainda queriam me fazer usar aquela coisa redonda ridícula! – Revirou os olhos.

– Voc~e quer dizer auréola. – Ela assentiu. – Mas porquê não quis usar,linda?

– Porque anjos de verdade não usam esse troço! Somos iluminados por natureza. Sinceramente,alguém precisa dar umas aulas sobre anjos pra vocês....

– Ah é? – Brincou enquanto beijava seu pescoço calmamente.

Ouviram um pigarro acompanhado da presença de dois anjos,então se afastaram.

– Nethorn? Beta? – Karina perguntou,enquanto se recompunha. – O que fazem aqui?

– Bom,EU vim te parabenizar,né sua doida? Como assim você some depois da peça? – Abraçou a amiga.

– Ela tinha coisas mais importantes a fazer. – Pedro respondeu,e Karina lhe deu um tapa no braço. Viu Beta fazer uma careta.

– Que foi,amiga?

– Ué,ele não vai desmaiar não? – Beta fez cara de dúvida.

– E por quê ele desmaiaria? – Demotou um pouco até entender o raciocínio da amiga. – Aaah,entendi! Ele já me viu como um anjo,e desmaiou até. Ver vocês é algo normal pra ele agora.

– Se você diz.... – Deu de ombros.

– Beta,foco! – Reclamou Nethorn. – Ka,me escuta. Fui informado que Lúcifer planeja um ataque,essa noite. Vocês precisam vir comigo.

Um arrepio percorreu a espinha da pequena loira ao ouvir aquelas palavras. Pedro percebeu isso e trouxe a namorada mais pra perto.

– O quê? Mas como?

– Isso nós ainda não sabemos. – Ele respondeu sem rodeios. – Vamos,os outros anjos vão avisar o resto do pessoal. Gael também está vindo,para nos ajudar.

Chegaram em casa e Nethorn começou a contar o pouco que sabia,enquanto os outros não vinham. Tudo o que sabiam era que ele atacaria a Terra naquela noite,e provavelmente tentaria levar Pedro com ele. Explicações dadas,o anjo avisou que deveriam todos continuar dentro de casa,até que soubessem exatamente o que fazer.

Beta e Nethorn estavam tão preocupados com tudo o que vinha acontecendo que muito provavelmente não se ligaram do que estaria acontecendo lá em cima,no segundo andar.

– X –

Subi com Pedro para meu quarto e tranquei a porta,ainda que achasse que uma simples tranca não impediria Lúcifer de vir atrás de nós. Achava não,eu tinha a mais absoluta certeza.

Pedro deitou na minha cama e bateu a mão do lado,me chamando. Ele era tão lindo,tão incrível.....eu não podia deixar que nada acontecesse a ele,preferia a morte a vê-lo sofrer por minha causa. Tudo menos isso.

– Que foi,Ka? – Ele riu,e só então percebi que estava parada olhando pra ele.

– Nada,só tô vendo como meu namorado é um folgado. – Zombei e me aproximei dele,deitando ao seu lado. Encostei a cabeça em seu peito,o abraçando de lado.

– Por deitar na sua cama? Eu não me lembro de você ter feito isso uma outra vez,quando eu bati na sua porta....

– Idiota! – Tentei bater nele,mas ele foi mais rápido e segurou meu braço. Em poucos segundos,ele já estava por cima de mim.

– Esquentadinha. – E me beijou.

– Pê,eu preciso fazer uma coisa. – Ele assentiu,esperando uma resposta. – Eu preciso ir até o céu.

– E sair de perto de mim? Nem pensar. – Afirmou,categórico.

– Eu preciso fazer isso,amor. – Expliquei toda a história que João havia me contado. – Sei que encontrarei respostas lá,e eu estarei segura. Lúcifer nunca conseguiria invadir lá em cima,confia em mim.

– Euero Ka,eu juro que quero,mas eu não consigo. – Afastou algumas mechas loiras do meu rosto. – Fica aqui comigo,por favor.

Eu não podia perdê-lo. Não depois de descobrir que seu amor era único,não depois de saber que a minha vida sem ele não tinha mais nenhum sentido.

Foi por esse motivo que eu descumpri seu pedido.

Eu o vi dormir sereno,e uma lágrima deslizou pelo meu rosto. Um aperto se intalara no meu peito,eu não sabia ao certo o porquê. Tinha medo que algo acontecesse seu eu saísse de lá,mas nenhuma dor seria maior que ter meu amor tirado de mim.

– Eu te amo,muito. – E beijei sua testa.

Sem pensar duas vezes,fui até a varanda e junto as minhas asas,voei para o céu.

– X –

Cheguei até o céu e fui direto para a biblioteca. Sabia que eles tinham um arquivo especial sobre as batalhas que aconteceram no céu,e foi extamente isso pelo o quê procurei. A senhora Haziel me levou até a seção e eu comecei a procurar.

Os livros sobre o século dezoito eram muitos,mas mentalizei as palavras de João e um deles se iluminou a minha frente. Eu o peguei e comecei a folheá-lo. Todas as informaçoes ditas por João estavam ali,mas não era isso o que eu procurava. Queria saber o nome do anjo e do demônio que lutaram pelo amor de sua amada humana.

E eu os encontrei. E perdi meu chão.

Meus olhos podiam ler o que estavam no papel,mas eu jamais iria acreditar se não estivesse lendo. Deveria ter pensado nisso antes,era tão óbvio. Assustador e óbvio,tudo ao mesmo tempo.

Me levantei para fechar o livro e gaurdá-lo no lugar quando ouvi um clarão seguido de um forte estrondo vindo ao meu encontro. Me protegi como podia,fechando os olhos. Mal sabia eu que não deveria ter os fechado.

Porque me impediram de ver quem causara uma forte dor na cabeça,me apagando por completo. A última coisa que me veio a mente antes de braços fortes me levarem para longe dali foi a visão de Pedro,que foi se esvaindo a medida que a escuridão tomou conta de mim.