Rony e Hermione na Terra dos Cangurus escrita por FireboltVioleta


Capítulo 8
Inadequado




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HERMIONE

Tudo aconteceu muito rápido.

Em um momento, eu estava indecentemente feliz, brincando na água com Rony. Ele fez menção de se aproximar, como um tubarão perseguindo uma foca. Lembro-me de ter rido com a ideia, e me afastado ainda mais dele, impulsionando meu corpo com os braços enquanto boiava entre as ondas. Era uma sensação incrível.

Mas quando ele mencionou sobre a profundidade da água, notei que realmente estava num pedaço muito fundo do mar. Quis dizer a ele para não se preocupar - quem sabe mencionando minha medalha de natação do primário - mas resolvi que não ia discutir algo tão banal enquanto estávamos nos divertindo tanto. Resolvi voltar até onde ele estava.

Enquanto eu nadava, senti uma fisgada estranha no pé. Não dei importância... provavelmente havia esbarrado em uma rocha de recife.

Foi quando a fisgada me puxou para baixo.

Só me lembro de um grito obscurecido pelo som das ondas, e de muita água ao meu redor. Minha perna, a que eu pensara ter batido no recife, parecia estar em chamas. A água do mar entrava aos goles na minha garganta. E tudo ficou vermelho em minha visão.

A inconsciência me veio alguns segundos depois, mais do que bem-vinda.

_____________________O____________________

Quando recuperei a consciência, não conseguia forçar meus olhos a se abrirem.

Eu tinha morrido?

Provavelmente não... senão, por que meu corpo inteiro ardia como se tivesse sido arrastado no asfalto?

Ouvi vozes altas e preocupadas ao meu redor. Identifiquei o sotaque australiano de Darel e a voz agoniada de Rony.

– Ele veio do nada, Darel... do nada... eu nem tive... eu não...

– Se acalme, Weasley - Darel respondeu - ela vai ficar bem...

– Mas olhe a perna dela, Darel... - Rony parecia estar à beira das lágrimas. O que aconteceu com a minha perna, afinal?

Abri os olhos, piscando fracamente. me deparei com o céu azul e sem nuvens da costa.

Ah! Eu ainda estava viva. E parecia ter sido tirada da água com uma pressa irracional, já que comecei a sentir os arranhões que a areia provocara em meu corpo.

Mas nada se comparava à dor que eu sentia na perna que Darel citou.

Rony percebeu que eu acordara. e aproximou de mim, e o que vi em seus olhos fez meu estômago dar um nó. Ele parecia estar angustiado e com raiva de si mesmo. Eu só vira aquela expressão uma vez... durante um enterro.

– Hermione... - ele gemeu, apoiando minhas costas em seus braços - você... Hermione, eu sinto muito. Foi tudo culpa minha...

– O que aconteceu? - gemi, sentindo o arrasto desagradável em minha garganta, provocado pela água que quase me afogara.

Darel fez uma careta cheia de pena.

– Você foi atacada por um bunyip.

Ergui a cabeça, chocada. Agora tudo fazia sentido. Bunyip, o demônio aquático que comia carne humana. Nunca ouvira falar de um que estivesse na costa australiana. Normalmente eles só viviam em brejos e lagos. O que aquele que me atacou fazia por ali?

Agora toda a dor na perna também estava explicada. Ele deveria ter me mordido, e o sangue coagulou com o grito subaquático que ele dera quando afundei.

Se todo aquele sangue que surgiu em minha visão era meu, o ferimento com certeza não havia sido superficial.

Desci a cabeça, tentando olhar para baixo. Rony parecia querer me impedir.

– Hermione, é melhor...

– Me levante por favor, Rony...

Ele parecia querer chorar. Santo Deus, por que eles estavam agindo como se estivessem no meu funeral?

Rony me levantou devagar. Quando me deparei com a minha perna, desejei nem ter levantado.

Havia um buraco de pelo menos cinco centímetros quadrados na parte superior da minha perna, abaixo do joelho. Um buraco grande, que aparecia os músculos e um pedaço da tíbia. Darel parecia estar secando o ferimento para sutura-lo com magia, mas devia ter sido interrompido quando acordei.

Olhei para a extensão de areia que ia até o mar. Uma trilha de sangue ia de onde eu estava até a água. E lá na frente, um vulto grande, do tamanho de um boi, estava caído na praia.

Darel recomeçou a limpar a ferida, e tive que me concentrar para não gritar. Não queria deixar Rony ainda mais agoniado.

– Fale o que aconteceu - murmurei entre os dentes.

– Bom, assim que você afundou, Rony foi atrás de você - Darel contou, enquanto começava a sutura - vi vocês lá do hotel, e corri para ajudar. O bunyip apenas te mordeu, já que Rony te puxou para fora da água a tempo. Mas ele veio perseguindo vocês até a costa. Tive que improvisar algum feitiço com a sua varinha para aparta-lo.. e, seja lá o que eu lancei, isso o matou - ele indicou o vulto mais adiante - voltei ao hotel para buscar os primeiros socorros enquanto Rony lançou alguns feitiços para que os trouxas daqui não percebessem nada... nem nós, nem o bunyip.

Ele parecia ter terminado quando acabou de falar, pois já estava cobrindo minha perna com uma atadura.

– Rony... - murmurei, mas ele não se moveu. Apenas apoiava meu corpo, com o olhar perdido - Rony! - exclamei, batendo de leve em seu peito - pare de ficar assim. A culpa não foi sua, entendeu?

Ele olhou para mim, com o rosto contraído.

– Eu quase te perdi agora. Você quase morreu. Você entende isso? - Rony arfou, com uma expressão angustiada - e tudo por que eu não teria sido rápido o bastante...

Sua declaração fez um buraco na minha represa de ternura se abrir, fazendo-a jorrar pelo meu interior. Garoto bobo, sempre arranjando um jeito de se culpar pelo que acontecia no mundo.

Beijei sua bochecha ainda úmida com a água do mar.

– Entendo sim. E entendo também que você não teve culpa coisa nenhuma.

Um sorriso de má vontade surgiu no rosto dele.

– Você é a criaturinha mais teimosa que eu já conheci - Rony me levantou lentamente, apoiando meus braços em seu corpo, até me pegar no colo.

Darel deu uma risadinha ao ver meu espanto com o gesto tão carinhoso. Percebi o como Rony havia ficado razoavelmente forte, já que sustentava meu peso sem sequer cambalear... ou era eu que havia ficado pequena e frágil de repente?

– Eu queria ver... o bunyip - comentei, balançando a cabeça em direção à praia.

Rony revirou os olhos - parecia estar um pouco mais calmo ao me ver petulante outra vez - mas me levou até o enorme cadáver que jazia perto da maré.

O bicho era realmente grande. Tinha um corpo cinza semelhante à de um leopardo troncudo, com orelhas pequenas em forma de triângulo, uma cauda espessa e longa e patas com membranas entre os dedos. Dois caninos como o de um dente de sabre se sobrepujavam na boca grande o suficiente para engolir uma cabeça humana.

Agora era óbvio o por que de tanto estrago na minha pobre perninha. Eu tive sorte de não ter perdido um pé ou coisa pior.

Rony olhou com raiva para o bunyip morto, como se pudesse ainda se vingar do animal.

– Bom, chega de passeio por hoje - Darel foi taxativo ao dizer isso - vamos voltar para o hotel. Você precisa descansar. E eu tenho que me livrar do presunto aqui.

– Mas.. - comecei, sendo interrompida por Rony.

– Nem mais, nem meio mais, Hermione.

Ele me levou em direção ao hotel, enquanto eu bufava em seu colo, meio contrariada, meio risonha. De completo insensível, Rony estava se tornando estupidamente protetor e sentimental.

E eu estava gostando daquilo.

_____________________O______________________

– Engraçado - comente - algum tempo depois de tomar um banho sangrento e agitado com a ajuda de uma camareira do hotel - enquanto estava deitada na cama, observando Rony limpar as mãos ainda sujas de sangue - eu ainda estou curiosa com o fato daquele bunyip estar no mar da costa australiana, e não numa lagoa. É como se... alguém tivesse colocado ele ali.

– Deixa de ser boba, Hermione - Rony respondeu, enxugando as mãos na pia do quarto - por que alguém andaria um bunyip te atacar? Aqui na Austrália? Quem faria isso?

– Não sei - dei de ombros, fazendo uma careta ao sentir o puxão do machucado na atadura - eu também queria saber isso.

– Ele te atacou por que era uma besta nojenta e sebosa que comia mulheres. Só isso.

Dei risada com a tentativa patética de Rony ofender o bunyip. Ele sorriu, parecendo muito mais contente ao me ver bem.

Darel acenou da porta.

– Está melhor, Granger?

– Muito melhor - pisquei para ele, sorrindo - vamos para Adelaide amanhã?

– Assim que essa perninha linda melhorar - brincou Darel, com o sorriso se desmanchando ao ver Rony erguer um olhar do tipo "como é?" para ele; tive que rir outra vez - já está tudo pronto. Assim que você se sentir melhor, vamos partir.

Quando Darel saiu, Rony me deu um olhar inquisitório.

– Qual é, seu ciumento - beijei a ponta do nariz dele - ele está brincando.

– Se ele "brincar" assim com você mais uma vez, eu vou brincar com ele também... de "quem vai morrer primeiro"... ele começa.

Com essa eu caí de volta no travesseiro. Rony também começou a rir, em reação à minha gargalhada.

– Piadista - eu disse - é o que você é.

Ele parecia querer responder com alguma coisa, mas uma batida forte na janela o interrompeu.

Eu reconheceria aquele som em qualquer lugar. Garras afiadas arranhando o vidro, quicando enquanto equilibrava algo no bico.

Era uma coruja. Mas não uma coruja qualquer. Aquela ali eu também reconhecia em qualquer canto do mundo.

Rony pareceu desanimado ao murmurar, enquanto ia abrir o vidro, me olhando enquanto engolia em seco.

– Bom, seja bem vinda, Errol. Hora da verdade.


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