HERMIONE

DOIS MESES E MEIO DEPOIS...

Eu estava organizando todos os materiais que acabara de comprar no Beco Diagonal para o sétimo ano. Ainda faltavam duas semanas para embarcar novamente no Expresso de Hogwarts, mas eu queria estar precavida.

Após toda a reinstalação de meus pais de volta à Londres, eu havia sido chamada para uma conversa em particular com Kingsley, o que fez meu esêmago querer sair pela boca - será que eles haviam descoberto nossa pequena peripécia fora do país?

E o pior foi que descobriram mesmo.

Mas Kingsley, depois de uma apuração entre o Conselho e o Tribunal Superior do Ministério, considerando todas as condições e motivos que havíamos tido, conseguiu me dar ficha branca com relação às leis que eu e Rony havíamos quebrado nos últimos meses. Ele não fazia ideia do quanto me deixou aliviada ao dizer que conseguira apagar nossa travessura dos arquivos oficiais.

Eu estava agora empoleirada no meu malão, relendo pela terceira vez a carta que recebera minutos antes através de uma corujinha mínima que já me era familiar. Passei os dedos pela escrita garranchosa, sentindo os canais que a pena havia feito no pergaminho, imaginando-o escrevendo freneticamente, escolhendo as palavras que transcreveria no papel.

Quanta saudade...

Querida, cara, fantástica Hermione.

Respondendo à sua última carta - por que não vai dar para eu botar em dia todas as vinte e cinco anteriores - estamos ótimos por aqui.

Bom... minha família e Harry, quer dizer. Eu estou péssimo só de pensar que ainda faltam duas semanas para o começo das aulas.

E não, não é por que estou sentindo falta de estudar - credo. Estou sentindo falta de algo tão irritante e mais interessante do que estudar. Adivinha só o que é...

Você recebeu a carta de anulação do processo do Ministério contra nós dois? Misericórdia... eu andei quase tento um treco só de imaginar um bando de aurores arrombando a porta de casa e me arrastando para fora, que nem aquele filme esquisito que passou na televisão no hotel de Alice Springs. Qual era o nome mesmo? "Bater ou Correr?"

Fomos ao Beco Diagonal a semana passada. Comprei algo que com certeza você vai adorar... eu espero.

Tenho uma novidade gigantesca. Papai disse que vão realizar uma nova edição do Torneio Tribruxo nesse ano que vai começar! Acredita só nisso? Uma comissão dos alunos de Hogwarts que escolherem participar ou assistir vai para Beauxbatons mais ou menos no meio do ano... eles vão sediar o novo Torneio. Seria o máximo se eu ou o Harry entrássemos, não é? Se bem que Harry com certeza vai é passar bem longe do Cálice de Fogo, depois do fiasco no quarto ano.

Andei mandando cartas para Darel.. sabe como é, gostei daquele cara maluco. Recebi uma ave-do-paraíso com a carta mais chocante que eu já li: ele disse que pediu Nyree em casamento! Pode isso? O moleque volta cinco anos depois para casa, namora a menina uns dois meses e já vai juntar os trapos! O cara é corajoso... imagine só se Nyree disse não.. aquela menina bobinha...

Espero que esteja tudo bem com vocês. Aguardo ansiosamente que nos encontremos na plataforma para conversarmos mais pessoalmente... e intimamente (aham, andei aprendendo uns truques de sedução com aquele livro bizarro que ganhei no sexto ano... tá legal, parei.)

Me conte qualquer novidade. Te espero na estação daqui a duas semanas.

Morrendo de saudade de encrenca e de uma certa pessoa de olhos castanhos,

Seu amigo / namorado / serviçal / legume insensível com emocional de uma colher de chá,

Ronald Weasley

Dobrei a carta ao meio, apertando-a nas mãos e, num impulso bobo, beijando a assinatura terrivelmente escrita de Rony.

Céus... cada segundo dos últimos meses parecia ter sido mil anos de minha vida. Aquelas duas semanas restantes provavelmente seriam a pior tortura do mundo.

Eu não aguentava mais esperar para encontra-lo outra vez. A saudade boba era tanta que chegava à doer. Era como se, ao ir embora semanas atrás, eu tivesse deixado minha alma no quarto de Rony.

Engoli o nó que queria se formar em minha garganta, puxei um pergaminho novo e comecei à escrever a resposta à carta de Rony.

Caro legume insensível - mais conhecido por Ronald Weasley,

Não faço a menor ideia do que te faz tanta falta.

Imagina só... eu é que não sou... ou sou?

Recebi a carta de anulação sim. Quase dei uma festa aqui em casa. Papai me esganaria se eu tivesse ido presa, então, se estou lhe escrevendo, subentende-se que não estou em Azkaban nem enterrada em algum canto por aí, correto?

Sério? Torneio Tribuxo? Nossa, vai ser bem interessante... tipo, um Torneio normal, sem bruxos das Trevas querendo te assassinar na última tarefa. E eu sempre quis conhecer Beauxbatons, então acho que seria legal se nós três fôssemos ao menos para assistir...

Quanto ao que disse sobre Darel, nenhuma surpresa. Os dois praticamente fazem amor com os olhos, Rony... se não casassem, acho que morriam em uns cinco meses...

Ah... e quando você fala de "conversa íntima", é o tipo de conversa que tivemos na tribo Tokonga? Por que se for, volto pra Hogwarts de hipogrifo, mas não embarco na sua cabine. Safado aproveitador.

E sim... estou te xingando por um motivo. Você que se vire para descobrir por quê.

Lá vai uma dica: não é por que eu te ODEIO COMPLETAMENTE. Outra coisa...

Também estou louca para me aventurar outra vez... desde que eu possa estudar em paz nesse ano, seu mala encrenqueiro.

Nos vemos no trem, então.

Saudosa de um cafuné.

De sua sabe-tudo irritante,

Hermione Granger

Fiz questão de passar um batom qua havia na minha mesa e manchar a beira do papel com um beijo cor-de-rosa. Ri ao pensar na reação de Rony quando visse aquilo.

Dobrei a carta, enrolei-a e prendi na patinha minúscula de Pichitiho, que esperava empoleirado na minha janela.

– Já sabe para quem é - eu disse à coruja, sorrindo - belisque a orelha dele por mim.

Pichitinho piscou alegremente para mim e alçou voo, saindo janela afora com minha carta pendurada nas pequenas garras.

Voltei à sentar em meu malão, deixando a organização do material inacabada por algum tempo, olhando para o teto e imaginando, finalmente, que Harry, Rony e eu teríamos, pela primeira vez em sete anos, um ano escolar tranquilo e sem imprevistos.

Ai de mim... eu não tinha nenhuma ideia de que estava errada...

Já que, quando eu menos esperasse, a sombra de uma certa e já esquecida profecia viria para me assombrar...

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"Viver é enfrentar desafios. Quem nunca enfrentou desafios, apenas passou pela vida, não viveu"

Augusto Branco