Rony e Hermione na Terra dos Cangurus escrita por FireboltVioleta


Capítulo 22
Obturação




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HERMIONE

Entrei na clínica, sentindo minhas entranhas latejarem de tensão.

Passei por papai, que me recebeu com um sorriso amigável. Meu coração só doía enquanto eu via sua expressão simpática.

"Ah, papai", solucei mentalmente. "Não sabe como eu queria que você já se lembrasse de mim..."

A clínica por dentro era aconchegante, de uma cor bege clara. Na sala de espera, havia crianças brincando com o que parecia ser uma dentadura muito grande de pelúcia. Os pais se sentavam ao redor da mesinha colorida, em poltronas de cor ocre. As cadeirinhas das crianças tinham formato de dentes. Um grande cartaz afixado na parede indicava os serviços prestados pela clínica.

Rony apertou de leve minha mão, tentando me tranquilizar. Eu estava me sentindo levemente enjoada.

– Senhorita Williams - papai gesticulou a cabeça para o consultório, que havia à esquerda - pode entrar. Já vou atendê-la. Os senhores podem aguardar na sala de espera?

Darel concordou, mas Rony olhou assustado para papai.

– Doutor Wilkins, eu... gostaria de acompanhar o procedimento da Hermione, se não fosse incômodo...

Olhei para meu pai, que pareceu um bocado surpreso, mas deu de ombros.

– Claro, senhor..?

– Weasley, Doutor Wilkins. Rony Weasley...

Papai franziu a testa.

– Esse nome não me é estranho...

Ele levou a mão à cabeça, contraindo o rosto. Sacudiu a cabeça, piscando, e tentou disfarçar sua momentânea reflexão se virando para o consultório.

– Desculpem.. podem vir... é por aqui.

Engoli em seco, pensando no como papai parecia ter se incomodado com o sobrenome de Rony. Será que ele sentia uma ligação com esse nome também, como um vestígio de sua antiga memória? Lembro de sempre ter falado de Rony durante as férias para os meus pais. Papai parecia ter um vago resquício disso.

O que me fazia ficar intrigada, já que, ao menos na teoria, o Feitiço da Memória eliminava qualquer vestígio das memórias anteriores. Mesmo depois que eu implantei novas memórias em meus pais, parecia haver, por trás delas, algumas lembranças soltas.

Meu Deus... e se eu não conseguisse reverter o processo?

O consultório, que contrastava com o resto da clínica, tinha as paredes de um branco gelo, A cadeira odontológica era de um azul-claro, e tudo ao redor era limpo e organizado.

Me deu um nó na garganta pensar no como se assemelhava ao consultório que papai me levava quando era pequena.

"Se controle, Hermione", disse a mim mesma, enquanto deitava na cadeira. "Você precisa focar em reverter o feitiço, não em ficar se lamuriando."

A varinha em meu bolso parecia pesar dez quilos. Mesmo ela parecia estar ansiosa para canalizar o feitiço que, eu esperava, traria a memória de meus pais de volta.

Rony me observava, de frente para mim, sentado numa banquetinha no canto do consultório. Ele assentiu, dando um sorriso tenso que não chegava aos seus olhos.

– Muito bem - ouvi papai mexer nas ferramentas ao lado da cadeira - vamos dar uma primeira analisada na sua boca, está bem?

Fiz que sim com a cabeça.

– A senhorita parece ansiosa... - papai riu baixinho, fazendo meu coração pular com sua risada.

– Hum... - murmurei, tentando dar uma desculpa - tenho medo... daquele motorzinho ali - indiquei a caneta de rotação na bandeja.

Até Rony riu com minha desculpa esfarrapada.

– Não se preocupe, senhorita Williams. Isso não causa dor nenhuma... só é extremamente barulhento, devo concordar. Mas só será necessário se for preciso fazer uma assepsia em seus dentes... então não fique aflita ainda por hora.

A porta do consultório se abriu até a parede. De lá, entrou uma mulher de jaleco, com cabelos pretos enrolados num coque, e olhos castanhos extremamente amorosos.

Minha garganta, traidora, fechou-se outra vez.

"Mamãe!", gritei mentalmente. "Você está aqui!"

– Ah, sim - papai deu um sorriso para ela que, como sempre, era absurdamente contente - garotos, essa é minha mulher e auxiliar, Monica.

– Prazer - cumprimentamos mamãe. Rony acenou para ela, que deu um sorriso simpático de resposta, e se aproximou de mim.

– E o que temos para essa moça bonita hoje, Wendell? - mamãe tocou meu queixo com a luva de látex - abra um pouquinho a boca, querida...

Abri a boca, enquanto minha mãe passou os dedos pelos meus dentes, analisando-os.

– Hum... olhe, Wendell. - ela indicou algo. Papai se inclinou, olhando para minha boca - faltam dois dentes do siso no fundo. Os inferiores...

Papai anotou algo numa caderneta de prontuário, enquanto mamãe continuou olhando.

Eu estava tão absorta em vê-los - outra vez - trabalhando como dentistas, que nem conseguia escolher em qual momento tentaria reverter o Feitiço de Memória. Eu deveria esperar que virassem de costas? Ou deveria tentar fazê-lo ao fim da consulta? Eu invocaria o feitiço mais forte que eu já conjurara em minha vida... reverter um Feitiço de Memória com certeza exigia um Feitiço de Anulação poderoso. Como eu conseguiria?

– Wendell, olhe aqui! - mamãe arfou. Senti a luva passar por meu segundo molar inferior.

Congelei quando me lembrei do que provavelmente a assustara.

Três anos antes, quando eu voltara do quinto ano em Hogwarts para casa, um fragmento de vidro do Departamento de Mistérios havia perfurado uma parte da minha boca, enquanto nós corríamos para fugir dos Comensais da Morte. Absorta em lutar e fugir, não percebi os estilhaços, e, mesmo após uma temporada na Ala Hospitalar, não conseguiram retirar todos os fragmentos. Um deles infeccionou a gengiva naquele dente, e, infelizmente, a solução foi retira-lo.

Depois de tudo explicado, mamãe havia feito um implante com um esmalte artificial de ouro, o único registrado no mundo em cirurgia odontológica, e o assunto foi esquecido.

Pelo menos, até aquele momento.

Bater de frente com algo que só a clínica cirúrgica dos dentistas Granger poderia fazer em qualquer parte do mundo - reconhecer algo que ela mesma havia feito, indiscutivelmente - pareceu chocar mamãe.

Papai parecia tão surpreso quanto mamãe.

– A senhorita... - ela balançou a cabeça, confusa - já passou em nossa clínica cirúrgica? Me parece... algo de nossa... patente...

– Já - murmurei, tentando forçar ainda mais a barreira frágil que parecia latejar em sua memória.

– Eu não vejo algo assim desde... - papai colocou a mão na cabeça - desde...

– Nunca fizemos... - mamãe encarou papai - nunca fizemos esse tipo de procedimento, Wendell...

– Então por que me lembro de você ter feito algo assim? - papai perguntou, franzindo a testa - fizemos uma vez, Monica, não foi? Registramos no Conselho Internacional de Odontologia, eu... tenho certeza...

Rony arregalou os olhos, observando o muro do Feitiço da Memória fraquejar sozinho diante de nós.

– Foi com uma menina, não foi? Uma jovenzinha... na Inglaterra... - mamãe olhava de papai para mim, abalada - ela se chamava...

– Hermione?

Me levantei na hora da cadeira. Se eu ia fazer aquilo, seria agora que a memória deles estava tão vulnerável.

Apontei a varinha para eles, arfando.

– Finite Incantatem!!

Um áurea latejante circulou meus pais, que perderam o foco e ficaram com um olhar vago e inexpressivo. A minha varinha tremeu, protestando contra o feitiço potente que passava por ela, mas mantive o braço firme, olhando ansiosa para meus pais.

Rony se ergueu imediatamente da cadeira.

– Hermione!

Abaixei a varinha quando a leve névoa desapareceu. Meus pais abarcavam a testa com a mão, confusos. Rony olhava deles para mim, com uma expressão de expectativa e temor.

– O que a-aconteceu? - gaguejou minha mãe - Wendell?

– Não sei.. o que... - ele sacudiu a cabeça. Quando a ergueu para mim, porém, papai recuou, olhando para a varinha que ainda pendia em minha mão.

– Papai? - arrisquei, engolindo em seco - sou eu...

Mamãe também recuou, contraindo o rosto, abalada.

Meu estômago caiu em algum lugar perto da cadeira que eu acabara de abandonar.

"Não funcionou", lamentou meu inconsciente. "Não funcionou. Eles não se lembraram. Estão com medo..."

– O que... - mamãe franziu as sobrancelhas. Olhava confusa para Rony, que se aproximou de mim e tocou meu ombro.

– Hermione... - cochichou ele baixinho - eles...

Balancei a cabeça, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

– Não consegui - solucei - não consegui...

Papai finalmente parecia ter se recuperado do efeito estonteante do feitiço. Olhava com uma leve antagonismo para Rony, que ergueu as mãos para meu pai.

– Senhor Wilkins... podemos explicar...

Papai fechou a cara para Rony.

Foi aí que ouvi algo que fez minhas pernas tremerem. Foi a última coisa que eu ouvi antes de me descontrolar.

– Por favor... do que você está falando, rapaz?? Meu sobrenome é Granger!


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