Rony e Hermione na Terra dos Cangurus escrita por FireboltVioleta


Capítulo 14
A Fogueira




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HERMIONE

Darel estava irritantemente surpreso com minhas novas maquiagens.

– Puxa - ele sorriu, de um jeito irônico - ele realmente é um artista... não que esse padrão de desenhos exista em algum canto do mundo, mas...

Acotovelei-o, também rindo.

– Dá um tempo, Darel...

Mas Darek tinha lá sua razão: Rony havia feito tantos padrões circulares e linhas paralelas que eu estava parecendo um mapa das linhas de Nazca. Apesar de confusos, os desenhos formavam tatuagens muito bonitas e peculiares.

Me arrepiei mentalmente ao relembrar o momento em que Rony me pintava. Eu sentia um choque toda vez que ele tocava minha pele, deslizando os dedos ao longo da tinta.

Sacudi a cabeça. Credo, eu estava ficando muito sensível com esse assunto de toque e proximidade física. O que diabos estava acontecendo comigo?

– Então.. - comentei, mais para me distrair do que outra coisa - vai falar com Nyree hoje a noite?

– Puxa, Granger - Darel pôs a mão na nuca, suspirando - nem sei por onde começar. Mas Rony disse que ia me ajudar...

Piquei, surpresa. Rony queria mesmo bancar o cupido australiano? Desde quando ele era especialista em juntar casais?

– Então ele vai mesmo - murmurei.

Eu havia conhecido Nyree algumas horas antes. Era uma moça linda, provavelmente da minha idade, com longos cabelos negros e pele morena. Lembrava muito o desenho de uma índia que eu havia assistido quando criança.

Havíamos conversado um pouco, mas eu nem sequer cheguei a mencionar Darel - ou seu interesse por ela.

– Vai começar daqui à algumas horas - Darel avisou, saindo da cabana - se prepare...

– Pode deixar - suspirei, procurando, enquanto Darel saía porta afora, um lugar para guardar minha varinha naquela roupa minúscula. Quando vi a impossibilidade de guarda-la junto ao corpo, desisti e a enfiei no bolso da mochila enfeitiçada de Rony.

A tarde passou, sendo logo substituída por uma noite escura, com muitas estrelas. Vi o céu escurecer aos poucos, deitada na cama de bambu.

Uma garotinha maori chegou correndo em minha cabana, saltando em seus pezinhos. Devia ter acabado de se destransfigurar, já que ainda saltava como uma canguruzinha.

– Moça... Darel tá chamando a senhorita...

– Estou indo - sorri, acompanhando a menininha.

A fogueira da qual Darel tanto falara já estava acesa no centro da aldeia, flamejando uns três metros acima da madeira que queimava. Tinha uma linda cor amarelada, e, apesar de alcançar uma altura tão grande, não era tão quente quando nos aproximávamos dela.

Quase toda a tribo já estava sentada ao redor da fogueira; as crianças, mães e bebês ficavam na frente dos demais. Porém, havia um ligeiro vácuo na roda das crianças, suficientemente grande para três adultos sentarem. Deduzi que Akahata nos queria na "frota de frente" dos ouvintes.

Rony e Darel apareceram do outro lado e se sentaram no local vazio, perto de Akahata, que estava em pé, gesticulando para que eu me juntasse à eles.

Sentei-me ao lado de Rony, que parecia animado.

– Então... essa é a fogueira de histórias? - ele indagou.

– Parece que sim. Nunca vi uma de perto - comentei, dando de ombros.

– Tokongas! - Akahata chamou, sorrindo - gostaria de dedicar a nossa quinta fogueira do ano aos nossos hóspedes - ele nos indicou - e espero que esta festa possa trazer à eles a mesma alegria que nos trouxeram ao trazerem Darel de volta para casa.

Darel abaixou a cabeça, envergonhado. Ter uma apresentação assim, dada pelo xamã de sua aldeia adotiva, com certeza era uma honra e tanto.

Todos aplaudiram. Para minha surpresa, as crianças fingiram uivar. Rony riu, indicando a menininha que havia me chamado para a festa.

– Bom, quem quer começar a primeira história? - Akahata perguntou.

– Eu, eu, eu! - gritavam as crianças, que, evidentemente, já sabiam como a fogueira funcionava.

Akahata se virou para nós e pôs a mão no ombro de Rony.

– Gostaria de dividir uma história conosco, meu jovem?

Rony arregalou os olhos. Assenti, encorajando-o.

– Bom... pode ser - Rony murmurou, amuado.

– É simples, rapaz - Akahata pegou um punhado de pó do chão e o despejou na mão de Rony - jogue esse punhado de terra na fogueira e imagine o que você quer contar. Pode ser algo que você viveu... uma história que ouviu... a fogueira vai transmiti-la aos demais.

Rony olhou, assombrado, para a terra em sua mão. Em seguida, lançou-a na fogueira.

Recuei um pouco quando a fogueira se expandiu e adquiriu uma cor azulada muito forte. No centro dela, começou à surgir um amontoado de fumaça que ia adquirindo forma aos poucos. Arfei, admirada, quando a forma difusa e tornou a figura de um dragão de longas asas, com três minúsculas figuras em cima dele. A figura batia as asas e rugia, voando ao redor a fogueira. As crianças exclamavam, maravilhadas.

– Gringotes? - sussurrei no ouvido de Rony.

– É... - Rony sorriu, dando de ombros.

Os maori assistiam em silêncio admirado a viagem do dragão de fumaça, até que as três figuras saltaram dele para um mar de fumaça perto das chamas na madeira.

Várias outras figuras deram sequência à história feita de chamas. Reconheci gigantes batendo seus archotes no chão, o castelo de Hogwarts desmoronando aos pouquinhos, uma figura que lembrava um hipogrifo alçando voo ao longo do castelo.

Quando um esqueleto de serpente feito de fumaça surgiu, porém, a história perdeu o rumo e desapareceu, sendo engolida pela fogueira, que voltou à sua cor amarela de antes.

Corei levemente ao pensar no por que Rony perder o fio da meada.

Os maori pareciam confusos, mas aplaudiram outra vez mesmo assim.

– Que incrível! - arfou um menininho - vocês voaram naquele bicho gigante?

– Voamos, sim - Rony parecia bem satisfeito com a atenção dos maoris.

– Quer tentar? - Akahata me inclinou outro punhado de terra. Abarquei o pó em minha mão.

Fiquei muito interessada em ver o como meus pensamentos se transfeririam para a fogueira.

Lancei a terra no fogo, e sorri quando ela azulou-se outra vez, tomando formas distintas no centro da fogueira. Rony arfou; devia ter reconhecido as forminhas que saltavam bestialmente como os vampirizados que haviam lutado contra os Comensais da Morte em Hogwarts. Em seguida, uma forma marinha saía da água, caçando sua presa. Todos os maori exclamaram, parecendo reconhecer o bunyip.

Balancei a cabeça, sem mais nada para pensar, e a fogueira azulada se dissipou novamente.

– Um bunyip? - Akahata murmurou, parecendo pasmado - você foi atacada? Aonde?

– Na costa de Melbourne - respondi.

– Mas o que um bunyip fazia no mar? - perguntou Mere, segurando Aka em seu colo.

– É o que eu queria saber também - Rony disse.

Um silêncio bizarro se estendeu por alguns segundos após nossos comentários. Akahata pareceu notar a tensão reflexiva, pois disse:

– Então... acho que podemos começar as danças de invocação.... depois continuamos as histórias... o que acham?

Darel saltou, ficando em pé imediatamente.

– É uma excelente ideia.

– Não, nada disso - Rony se levantou, mas para recuar vários passos. Todos os maoris riram - eu não danço.

– Agora dança - Akahata gargalhou, puxando Rony outra vez para perto de nós. Todos se levantaram, rindo e dando as mãos.

– Não seja tão frouxo, Rony - ri, estendendo a mão para ele, enquanto os maori faziam uma roda ao redor da fogueira - entre na dança.

– Ah, está bem... - Ron revirou os olhos, mas deu a mão para mim. Darel segurou minha outra mão; quando foi se virar para dar a mão à pessoa ao lado, porém, pareceu chocado quando Nyree a segurou. Nyree também aparentou estar surpresa quando viu quem estava ao seu lado.

– Assim! - gritou Mere, fazendo os colegas rirem quando Aka pulou e bateu os pés no chão. Todos começaram a fazer o mesmo. Em pouco tempo, um tipo de dança de roda começou a ser feita enquanto rodávamos de mãos dadas.

Para nossa surpresa, a animação crescente que se via nos maoris parecia fortalecer a fogueira, que brilhava e aumentava de altura cada vez mais. Várias cores começavam a brilhar no fogo, como um arco-íris ardente.

Rony experimentou um sapateado engraçado ao meu lado, me fazendo rir. O som pareceu se propagar na fogueira, que se expandiu ainda mais. Comecei a dançar também, me sentindo leve e alegre como a tempos não ficava.

A alegria dos maoris com uma simples dança era contagiante. Era quase palpável a aura de magia e felicidade que aquilo provocava ao nosso redor - magia essa que parecia ser ao mesmo tempo poderosa e volátil. A fogueira brilhava multicolor enquanto dançávamos à luz do fogo.

Quando a dança acabou, todos riram e bateram palmas.

Darel e Nyree se entreolharam, mas não disseram nada. Eu e Rony nos olhamos, pensando na mesma coisa.

Akahata sorriu.

– Bom, acho que podemos dar continuidade às histórias.... quer começar a sua, Mere?

– Pode ser - Mere se adiantou e colheu um pouco de pó do chão.

Mas Darel comentou algo para Akahata e pareceu ter sido dispensado da nova rodada de histórias. Nyree parecia ter sumido de vista.

– Podemos andar um pouco, senhor? - perguntei a Akahata - depois nós voltamos...

– Claro que podem, meus jovens - Akahata assentiu - voltem quando quiserem...

Puxei Rony pelo pulso, deixando a reunião ao redor da fogueira para trás.

– O quê? - Rony arfou, parecendo assustado, enquanto corríamos em direção à cabana de Darel.

– O casalzinho feliz sumiu - sussurrei, grudada no braço dele, sorrindo como uma garota que aprontava outra vez - acho que está na hora de ajudarmos um amigo nosso.


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