Rony e Hermione na Terra dos Cangurus escrita por FireboltVioleta


Capítulo 12
Em Família




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HERMIONE

Tudo o que eu me lembrava antes de desmaiar era de Rony desesperado para me desentalar daquela maldito buraco que quebrara minha pata - ou braço, que seja.

De repente, a escuridão me engoliu, como a água que me engolfara no dia que o buniyp me atacou.

Quando recuperei a consciência, já não estava fritando na areia do deserto.

Estava deitada de barriga para cima, me sentindo realmente péssima e dolorida.

Abri os olhos, e me deparei com um estranho teto feito de folhas e madeira. Tentei me erguer, como havia feito nos últimos dois dias - primeiro as "pernas", depois o "braço" - mas cambaleei e caí de volta ao chão.

Mas eu estava no chão? Olhei em volta, e me vi deitada num tipo de cama forrada com folhas e feita de bambu. Ergui o que deveria ser minha pata quebrada, mas me assustei ao ver uma mão humana de frente para os meus olhos. Parecia que o efeito da poção já havia acabado.

Meu braço estava enrolado em ataduras, também feitas de folhas de planta, Ainda doía um pouco, mas estava surpreendentemente firme e curado.

Comecei a analisar o estranho ambiente. Aonde eu estava? Onde estavam Rony e Darel?

Saí da cama e arrisquei alguns passos, cambaleando um pouquinho outra vez. Já havia me acostumado a galopar e trotar... andar outra vez parecia muito esquisito. Pisquei, tentando enxergar dentro do que parecia ser uma cabana bem rústica.

– Rony? Darel? - chamei-os, olhando ao meu redor. Tudo estava escuro, exceto pela luz que vinha da entrada à frente.

Foi por ali que entrou, dentro da cabana, para minha surpresa, um canguruzinho minúsculo, que provavelmente acabara de deixar o conforto da bolsa da mãe. Era magricelo e muito fofo, e se aproximou de mim com uma curiosidade infantil no olhar.

– OI, pequenininho - sorri, estendendo a mão para ele - está perdido? O que faz aqui?

Para meu choque, ele não só chegou perto o suficiente para que eu acariciasse sua cabecinha, como começou a pular e bater as patinhas em minhas pernas, como se pedisse colo.

– Ora essa - tentei aninha-lo em meu colo com o braço que não quebrara. O canguruzinho era tão leve quanto um bebê recém-nascido - parece que nós dois não sabemos onde estamos, não é?

Ele farejou meu pescoço, me fazendo rir.

Comecei a andar em direção à saída, equilibrando o filhote brincalhão em meu colo. Pisquei quando a luz do lado de fora engolfou meus olhos.

Recuei vários passos quando dei de cara com uma mulher morena, com tatuagens bonitas no rosto, que vestia uma roupa de peles e algodão. Parecia assustada ao me ver com o pequeno canguru nos braços. Ela pôs as mãos na boca, parecendo não saber como reagir.

– Tama ... he aha kei te mahi koutou i roto i te uma o te kotiro? Whakaara e koe??

Eu era uma completa estúpida em outras línguas, mas reconheci a primeira palavra que ela dissera. Segundo Darel, era a palavra maori para "filho".

Filho? Será que ali era a tribo dos maoris?

Abaixei o olhar para o canguruzinho, que encarava a mulher com uma expressão quase humana de travessura.

Ele saltou dos meus braços, indo em direção à ela aos pulos. Quando faltava apenas alguns centímetros entre eles, porém, o canguruzinho desapareceu, dando lugar à um garotinho moreno que não devia ter mais de um ano e meio. O bebê agarrou as pernas da mulher, gargalhando.

– Mama ... kotiro pai - o menininho arrulhou, me indicando com a mãozinha gorducha.

Para meu alívio, a mulher sorriu quando o filho voltou até mim, puxando minha mão.

Tive uma ideia para conseguir me comunicar com ela. Apanhei a varinha que estava em minha braçadeira e gesticulei ao redor.

– Sciant legere! - pronunciei o Feitiço de Tradução. A mulher arregalou os olhos - era óbvio que nunca havia visto uma varinha antes, mesmo que, dada a transformação chocante no menininho, fosse claro que também era bruxa.

– Mamã... -resmungou o menininho, ainda me puxando.

– Calma, baixinho - brinquei, experimentando ver se eles já me compreendiam.

A maori arfou.

– Você fala a nossa língua agora? - ela indagou. Tinha uma voz bonita e intensa, como o vento batendo nas folhas de uma árvore.

– Mais ou menos... lancei um feitiço para que nós nos entendamos. Onde estou?

O bebê pareceu desistir de me puxar e voltou para a mãe, que acolheu-o no colo.

– Tribo maori do Norte. Tokonga - ela olhou ao redor, onde, comecei a perceber, saíam vários maoris de suas casas, parecendo curiosos para me ver - meu nome é Mere. Este aqui é o Aka.

– Eu me chamo Hermione... vim viajando com outras duas pessoas... mas aconteceu alguma coisa... - murmurei, confusa - e eu acordei aqui...

– Akahata no contou - ela parecia bem mais à vontade agora - achamos vocês no deserto... Miryu nos contou que viu cavalos estranhos caminhando perto da aldeia... então mandaram que eu, Aka, Nyree e seus dois irmãos fossemos investigar se eram bruxos das Trevas. Lançamos um feitiço para adormecerem e esperamos a transfiguração de vocês terminar. Bom, calhou que não foi exatamente o que Akahata pensou - Mere riu - então vimos que você havia quebrado o braço... Nyree usou a magia dela para cura-lo e atou-o com algumas plantas para ficar firme.

Nyree? Será que era a mesma garota que Darel havia citado em Sidney? Fiquei curiosa, mas decidi melhor perguntar sobre isso mais tarde.

– Onde estão Rony e Darel? - perguntei, preocupada. Mere piscou.

– Já acordaram e estão bem - ela me tranquilizou - estão esperando você junto com Akahata na cabana do xamã.

– Posso ir até lá? Você me levaria?

– Claro - ela desceu Aka para o chão. O menininho resmungou e bateu o pé, mas começou a caminhar tropegamente outra vez.

Segui Mere, aliviada até a alma por não termos caído em um covil de bruxos das Trevas australianos.

Agora podia ver com mais clareza as belas cabanas de choupo, madeira e palha que circulavam o local, os vários bruxos e bruxas maoris que nos observavam - todos vestidos e tatuados com uma beleza incomum - e os mascotes curiosos que cada casa parecia ter - eu jurava ter visto um filhotinho de dragão olho-de-opala de dentro da janela de uma das cabanas.

– E qual foi aquele lance dos cangurus?

Mere riu.

– Faz parte da magia dos Maori Tokonga. Todos somos animagos de nascença. A maioria é canguru, mas também tem o Datel, que é um coala, e a Myria, que conseguiu ser um diabo-da-tasmânia.

Enquanto caminhávamos, eu assistia, maravilhada, Aka virar canguru e voltar a ser garoto continuamente. Ele parecia adorar brincar com a transformação. Mere sorriu para o filho, e deu uma linda e gostosa risada quando viu minha expressão apalermada.

– Você vai gostar daqui. Não viu nem metade da magia maori ainda - ela pousou a mão em meu braço enquanto andava, com uma expressão simpática - já pode relaxar... você está em família agora.

____________________________O__________________________

A cabana do xamã era a maior de todas que eu havia visto até o momento. Lá dentro, se reuniam vários maoris, incluindo um bruxo, sentado num tipo de trono de bambus, com vestes luxuosas de peles e penas, segurando o que eu acreditava ser um tipo rústico de varinha em forma de cajado. Tinha, como os outros, várias tatuagens negras no rosto. O conjunto todo inspirava respeito, mas também simpatia.

– Akahata... - Mere meneou a cabeça - eu trouxe a garota. Ela está preocupada com os amigos.

Akahata sorriu, e se levantou, vindo até mim e pousando a mão em meu ombro. Sorri para ele, me sentindo envergonhada e minúscula. A mão dele cobria sem problemas todo o meu antebraço.

– E eles também estão preocupados com você - ele olhou para a segunda entrada da cabana, aonde Darel nos olhava com uma expressão curiosa e indecisa - por que não se junta a nós, Darel?

Ele se aproximou, trazendo uma sombra trêmula e surpresa atrás de si... sombra essa que me agarrou antes mesmo que eu sequer visse quem era.

– Hermione! - reconheci os braços ansiosos de Rony ao redor de mim - você está viva!

Alguns maoris deram risadinhas ao verem a cena peculiar - não de um modo zombeteiro, e sim apreciativo.

– Estou, bobão - ri, batendo em seu ombro para que me devolvesse ao chão - parece que Darel tinha razão - brinquei, olhando para a expressão cuspida de culpa de Darel.

– Foi mal, gente - Darel se desculpou, com a mão na nuca - não queria que nossa chegada aqui fosse tão tensa...

– Bota tensa nisso - Rony resmungou, bufando quando o acotovelei - o quê?

Akahata deu uma risada contagiante. Não pudemos deixar de sorrir em resposta.

– Acho que nossos jovens hóspedes precisam de um descanso merecido, não é, Darel? - Akahata disse, se dirigindo à pequena multidão dentro da cabana - andem, podem se arrumar e aproveitar tudo que a tribo puder lhes dar... pernoitem aqui o quanto precisarem.

– Obrigada, senhor - agradeci, cutucando Rony.

– Ahn, é, obrigado...

Akahata meneou a cabeça.

– Bom, é só isso por enquanto. Estão dispensados...

O grupo de maoris ao nosso redor começou a se desmanchar e sair da cabana. Saímos por último, ainda falando sobre nosso bizarro "acolhimento" na tribo.

– Darel... você viu Nyree por aqui? - perguntou Rony, dizendo exatamente o que eu queria indagar.

Darel ficou avermelhado, o que era um milagre da melanina quando se tratava de um cara moreno como ele.

– Vi sim... - ele arfou baixinho - ainda não nos encontramos, mas eu a vi.

– Ela ainda está namorando o carinha bonitão de antes? Para de me cutucar, Hermione - Rony resmungou - tipo, ainda está com ele?

– Não - um fiapinho frágil de esperança apareceu nos olhos de Darel - não está mais com ele.

– Caramba, então é a sua chance - Rony parecia não ter papas na língua; desisti até de cutucar seu estômago - vai lá e fala pra ela o que você sente!

– Como se você fosse um especialista no assunto, não é, Rony? - ironizei, com os braços cruzados.

Rony fechou a cara para mim. Darel riu, parecendo descontrair um pouco.

– Rony tem razão. É uma boa ideia - ele suspirou - mas faz tanto tempo... e se ela não me quiser? E se não nos vermos mais outra vez? Não quero segura-la nem ver Nyree sofrendo...

– Se você não tentar - segurei seu braço - então aí sim poderá estar causando sofrimento.

– É verdade, cara - Rony se adiantou - mesmo se não for eterno... aproveite cada momento que puder com ela... não faça como eu... - Rony olhou para mim, e meu estômago tremeu quando ele acrescentou - eu só comecei a dar valor ao que eu tinha... - ele fechou os olhos, suspirando - quando quase perdi. Por culpa minha.

Darel olhou de Rony para mim, parecendo entender o sentido da frase.

– Quer saber? - ele ergueu a cabeça, decidido - vocês tem toda a razão. Vou falar com Nyree essa noite... o máximo que pode acontecer é ela dizer "não", não é?

– Ahn, é, tipo isso - murmurei, ainda abalada com o que Rony dissera.

– Obrigado... vocês são demais! - Darel se despediu, indo em direção a uma cabaninha perto do rio que corria ali perto. Ficamos só eu e Rony, parados na frente da cabana do xamã.

– Acho que... bom, vou me arrumar - Rony pareceu muito sem graça - Darel contou que vai haver uma fogueira de história hoje à noite...

– Acho que vou também - sussurrei, voltando na direção da cabana aonde eu acordara - beom... até mais.

– Até mais... - Rony olhou uma última vez para mim, quase assustado, antes de ir para a própria cabaninha.

Enquanto andava, abraçando meu próprio corpo, comecei a pensar no quanto nós dois havíamos mudado em tão pouco tempo.

Comecei a achar que o que quer que estivéssemos provocando um no outro, fosse o que fosse, seria tão irremediável e irreversível no futuro quanto uma Maldição da Morte.


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