A História dos Selvagens - Parte 2 - Raiva escrita por ShiroMachine


Capítulo 17
Fernando: A chuva ácida




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Paramos apenas quando vimos os prédios. Todos em ruínas, mas habitáveis para três fugitivos que estavam mais cansados que fantasmas (não me pergunte se fantasmas se sentem cansados).

Entramos no prédio mais próximo. Não queria dormir nos andares mais acima, então armamos acampamento ali mesmo. Sentia algo perigoso naquela cidade.

_Tem alguma ideia de onde estamos?_ Perguntei a Felipe e Letícia.

Letícia parecia aborrecida. Fitava o chão e estava com a cara tempestuosamente fechada (de novo, não questione). Foi Felipe que me respondeu.

_Não. E sinceramente, não me importo. Enquanto estivermos seguros, eu estou tranquilo.

Eu assenti, e comecei a refletir sobre o que tinha acontecido. Pensava no beijo que Jaqueline me deu mais do que qualquer coisa. A cena passava de novo e de novo na minha cabeça.

_Por que aquele soro existia?_ Perguntou Letícia, me trazendo de volta ao presente.

_Perdão?_ Ela fechou a cara quando eu falei. Parecia ressentida com algo.

_O soro que injetamos no Governante. Era logicamente um soro para esquecimento das memórias. Mas por que algo assim existe?

Felipe olhou pra mim, e soube que esperava que eu respondesse.

_Talvez..._ Eu estreitei os olhos. _Houve muitos desastres naturais na época que tudo isso começou. Muitas pessoas foram levadas a loucura por causa de traumas causados por esses desastres. O soro existe pra apagar as memórias desses desastres, sem que se esqueça dos aprendizados.

Felipe assentiu, e Letícia se limitou a continuar olhando ao chão. Pude ver que estava rígida, como se estivesse com um ferimento que doía ao se mexer.

_O que acabamos de fazer?_ Disse Felipe, como se só naquele momento ele tivesse percebido. _Acabamos com a vida de um homem.

Eu engoli em seco, lembrando do momento em que injetei o soro na veia do Governante.

_Não foi culpa de vocês._ Falei. _Fui eu. Eu injetei o soro. O Governante está certo... sou tão covarde quanto meu pai.

_Ele está errado!_ Exclamou Letícia do nada. _Você é corajoso e leal Fernando. Não é nada igual ao seu pai.

Ela voltou a olhar pro nada. Tinha a sensação de que sabia o porquê de Letícia estar daquele jeito, e me senti mal. A última coisa que queria era magoá-la.

_Durmam._ Disse. _Eu vigio primeiro. Acordo vocês caso algo aconteça.

Eles não discutiram. Logo restou apenas eu acordado, e os pensamentos sobre tudo o que estava acontecendo tomaram conta da minha mente.

Passou-se cerca de 40 minutos antes da tempestade chegar. As gotas caíram, e depois algo caiu junto com elas. Eu dei uma olhada e vi que era um pedaço do prédio.

_Gente!_ Chamei. Felipe e Letícia acordaram na hora. _Venham ver isso.

Eles vieram, agitados. Olharam para os pedaços de prédios caindo e depois sendo derretidos.

_Ácido._ Falou Felipe.

_Temos que sair daqui._ Falou Letícia.

Não esperamos que mais que um segundo pra buscar nossos pertences. Foi então que percebi que seria difícil chegar a alguma lugar com aquela chuva de ácido sem sermos seriamente machucados. Foi quando um carro surgiu da escuridão.

Eu já havia visto carros antes, mas só em fotos. Ver um pessoalmente era bem diferente. Parecia uma carruagem, mas sem os cavalos, o que era de algo naturalmente estranho pra mim.

De qualquer maneira, o carro parou alguns metros na frente do prédio. A porta de trás se abriu.

_Acho que conseguimos uma carona._ Falei.

Felipe e Letícia olhavam pro carro, atônitos, mas quando perceberam o que eu falei, olharam pra mim como se eu fosse louco. De certo modo, eles estavam certos.

_Que escolha temos?_ Indaguei, apesar disso.

Felipe suspirou.

_Ok... no três corremos pra lá. Um... dois... TRÊS!

Disparamos em direção ao carro, Felipe na frente, Letícia logo atrás e eu por último. A chuva ácida toca na minha pele, causando uma dor maior do que ser atingido por uma coluna de chamas. Forcei-me a continuar correndo. Felipe e Letícia já haviam conseguido chegar no carro. Mas, de repente, um pedaço de edifício caiu bem na minha frente e eu acabei tropeçando nele. Letícia quase veio me ajudar, mas eu gritei para impedi-la. Senti mais dor do que nunca senti na minha vida. Eu quase desmaiei. Mas forcei-me a levantar e correr até o carro. Pude sentir a visão escurecendo enquanto corria. Estava tão perto... mas não conseguiria chegar a tempo.

De repente, algo aconteceu. Eu sabia que tinha de pular para dentro do carro, mas era um pulo improvável. Mesmo assim, eu pulei. Senti uma força muito maior do que a força das minhas pernas me impulsionando. Consegui alcançar o carro, e Letícia me puxou pra dentro, fechou a porta do carro, e disse pro motorista pisar fundo.

A última coisa que vi antes de desmaiar foram as lágrimas de Letícia. Ver aquilo doía mais do que ter ácido derramado no corpo...


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