A História dos Selvagens - Parte 2 - Raiva escrita por ShiroMachine


Capítulo 12
Lucas: A conversa com o louco




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Eu estava no Governo, deitado no chão, olhando pro teto. A luz branca que dali vinha quase me cegou. Eu levantei, e senti minha cabeça doer.

“Estou no Governo”, pensei. “Mas ontem mesmo eu falei com o Governante. O que pode ser?”

E então minha pergunta foi respondida. À minha direita estava a porta da prisão do Governo. A mãe-natureza deveria estar lá dentro. Mas, se fosse isso, por que ela não me trouxe direto pra dentro?

Eu abri a porta. O lugar tenebroso apareceu. Mas a mãe-natureza não estava ali. Eu franzi a testa. “O que será, então?”.

Eu comecei a andar pelo corredor. Vi os presos, alguns mortos, outros balbuciando, outros ainda se mexendo feito loucos. Eu andei, vendo cada preso com uma aparência diferente e um nível de sanidade diferente. E então, eu senti um formigamento no meu lado esquerdo. Eu olhei naquela direção e o vi. O pai de Fernando, ajoelhado, suando.

_Ora, o que temos aqui?_ Ele ergueu seus olhos negros, sem brilho, para mim. _O herói que tenta ajudar meu filho a salvar o mundo. Tão patético quanto ele devo dizer.

Eu imediatamente senti repulsa por ele.

_Seu filho é uma grande pessoa. Mil vezes melhor que você.

_Ah, é? Então, me diga. O que você já ouviu ele fazer se não deixar gente lutar e morrer por ele?

_Ele salvou vidas. E não matou ninguém que amava.

O homem riu de um modo tenebroso. Realmente, não havia mais um pingo de sanidade nele.

_Você fala do assassinato que cometi como se eu devesse me arrepender. Bom, garoto, a questão é que foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Pena que não pude matar meu filho. Aquele traidor do Pedro me impediu.

Eu não conseguia acreditar nas palavras que ouvia.

_Você é patético._ Eu falei. _Culpa os outros pelos seus erros. Age como herói, quando na verdade é um covarde. Pedro não é um traidor. Ele era seu amigo.

Ele riu de novo.

_Pedro é um traidor. Ouça o que digo. Ele vai pagar. Vai morrer queimado pela culpa._ Ele usou muito ênfase na palavra “queimado”. _E, quando isso acontecer, eu vou poder finalmente descansar.

_Você nunca vai descansar._ Falei. _Mesmo depois de morto, irá sofrer. Seus últimos minutos serão infelizes, e você vai saborear na pele, como é o inferno.

Aquelas palavras saíram sabe-se lá de onde.

O homem começou a rir loucamente. E então, meu sonho escureceu.

Eu estava numa cama de hospital. Estava deitado sob uma luz, que de novo, quase me cegou. Demorou algum tempo para eu identificar alguns vultos.

_Filho!_ Eu ouvi a voz de minha mãe chamar. _Você está bem?

Eu sentei na cama e olhei pra ela. Assenti, sentindo-me mal por mentir para ela.

_O que aconteceu?_ Perguntou a mãe de Tatiane.

Eu suspirei.

_Bem, a última coisa que me lembro foi...

_Você disse que tínhamos que ir ao farol, e simplesmente desmaiou._ Falou Tatiane.

_Obrigado._ Falei. _Temos mesmo que ir ao farol.

Eu ainda estava com aquela ideia na cabeça. E eu não sei porquê, mas algo me dizia que eu precisava ir lá urgentemente.

_Temos que ir agora.

_Ah, não vai fazer isso._ Uma enfermeira chegou na sala. _Não sabemos o que aconteceu com você rapaz. Vai ter que esperar.

_Eu quero sair agora!_ Gritei.

_Se fizer isso..._ Ela sorriu. _Sua mãe terá que assinar um termo de responsabilidade pra caso algo aconteça a você.

Eu olhei pra minha mãe. Ela parecia preocupada (é lógico que estava, gênio. Ela é sua mãe). Eu dei um dos meus melhores olhares encorajadores. Ela suspirou, e assentiu.

_Traga os papéis, então._ Ela sorriu, confiante, ao dizer essas palavras. Eu não pude deixar de sorrir, também.

Depois de que tudo estava resolvido, eu saí do hospital. E imediatamente, contei meu sonho aos meus amigos.

_Será que ele fez uma profecia?_ Perguntou Vitor.

_Não, é impossível._ Disse Tati. _Lucas mesmo disse, ele tá maluco.

Eu assenti, mas a verdade é que também sentia medo.

_Então, o que espera encontrar no farol, Lucas?

_Respostas. Muitas.

Vitor assentiu.

_Então, não vamos perder tempo. Vamos aproveitar que é o governo que tá bancando essa viagem, e vamos ao trabalho.

Eu sorri. Tatiane fez o mesmo. Vitor se afastou, e Tatiane se aproximou pra falar comigo.

_Eu fiquei preocupada com você, sabe?_ Ela disse, baixinho.

Eu senti meu rosto esquentar, e percebi que ela estava vermelha.

_Ahn..._ Gaguejei. _Obrigado.

Ela sorriu, e me deu um beijo na bochecha. Então, foi se unir a Vitor e às nossas mães.

Naquele momento eu percebi que, mesmo depois de pouco tempo, eu me importava muito com Tatiane.


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