A História dos Selvagens - Parte 2 - Raiva escrita por ShiroMachine
Eu estava no Governo, deitado no chão, olhando pro teto. A luz branca que dali vinha quase me cegou. Eu levantei, e senti minha cabeça doer.
“Estou no Governo”, pensei. “Mas ontem mesmo eu falei com o Governante. O que pode ser?”
E então minha pergunta foi respondida. À minha direita estava a porta da prisão do Governo. A mãe-natureza deveria estar lá dentro. Mas, se fosse isso, por que ela não me trouxe direto pra dentro?
Eu abri a porta. O lugar tenebroso apareceu. Mas a mãe-natureza não estava ali. Eu franzi a testa. “O que será, então?”.
Eu comecei a andar pelo corredor. Vi os presos, alguns mortos, outros balbuciando, outros ainda se mexendo feito loucos. Eu andei, vendo cada preso com uma aparência diferente e um nível de sanidade diferente. E então, eu senti um formigamento no meu lado esquerdo. Eu olhei naquela direção e o vi. O pai de Fernando, ajoelhado, suando.
_Ora, o que temos aqui?_ Ele ergueu seus olhos negros, sem brilho, para mim. _O herói que tenta ajudar meu filho a salvar o mundo. Tão patético quanto ele devo dizer.
Eu imediatamente senti repulsa por ele.
_Seu filho é uma grande pessoa. Mil vezes melhor que você.
_Ah, é? Então, me diga. O que você já ouviu ele fazer se não deixar gente lutar e morrer por ele?
_Ele salvou vidas. E não matou ninguém que amava.
O homem riu de um modo tenebroso. Realmente, não havia mais um pingo de sanidade nele.
_Você fala do assassinato que cometi como se eu devesse me arrepender. Bom, garoto, a questão é que foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Pena que não pude matar meu filho. Aquele traidor do Pedro me impediu.
Eu não conseguia acreditar nas palavras que ouvia.
_Você é patético._ Eu falei. _Culpa os outros pelos seus erros. Age como herói, quando na verdade é um covarde. Pedro não é um traidor. Ele era seu amigo.
Ele riu de novo.
_Pedro é um traidor. Ouça o que digo. Ele vai pagar. Vai morrer queimado pela culpa._ Ele usou muito ênfase na palavra “queimado”. _E, quando isso acontecer, eu vou poder finalmente descansar.
_Você nunca vai descansar._ Falei. _Mesmo depois de morto, irá sofrer. Seus últimos minutos serão infelizes, e você vai saborear na pele, como é o inferno.
Aquelas palavras saíram sabe-se lá de onde.
O homem começou a rir loucamente. E então, meu sonho escureceu.
Eu estava numa cama de hospital. Estava deitado sob uma luz, que de novo, quase me cegou. Demorou algum tempo para eu identificar alguns vultos.
_Filho!_ Eu ouvi a voz de minha mãe chamar. _Você está bem?
Eu sentei na cama e olhei pra ela. Assenti, sentindo-me mal por mentir para ela.
_O que aconteceu?_ Perguntou a mãe de Tatiane.
Eu suspirei.
_Bem, a última coisa que me lembro foi...
_Você disse que tínhamos que ir ao farol, e simplesmente desmaiou._ Falou Tatiane.
_Obrigado._ Falei. _Temos mesmo que ir ao farol.
Eu ainda estava com aquela ideia na cabeça. E eu não sei porquê, mas algo me dizia que eu precisava ir lá urgentemente.
_Temos que ir agora.
_Ah, não vai fazer isso._ Uma enfermeira chegou na sala. _Não sabemos o que aconteceu com você rapaz. Vai ter que esperar.
_Eu quero sair agora!_ Gritei.
_Se fizer isso..._ Ela sorriu. _Sua mãe terá que assinar um termo de responsabilidade pra caso algo aconteça a você.
Eu olhei pra minha mãe. Ela parecia preocupada (é lógico que estava, gênio. Ela é sua mãe). Eu dei um dos meus melhores olhares encorajadores. Ela suspirou, e assentiu.
_Traga os papéis, então._ Ela sorriu, confiante, ao dizer essas palavras. Eu não pude deixar de sorrir, também.
Depois de que tudo estava resolvido, eu saí do hospital. E imediatamente, contei meu sonho aos meus amigos.
_Será que ele fez uma profecia?_ Perguntou Vitor.
_Não, é impossível._ Disse Tati. _Lucas mesmo disse, ele tá maluco.
Eu assenti, mas a verdade é que também sentia medo.
_Então, o que espera encontrar no farol, Lucas?
_Respostas. Muitas.
Vitor assentiu.
_Então, não vamos perder tempo. Vamos aproveitar que é o governo que tá bancando essa viagem, e vamos ao trabalho.
Eu sorri. Tatiane fez o mesmo. Vitor se afastou, e Tatiane se aproximou pra falar comigo.
_Eu fiquei preocupada com você, sabe?_ Ela disse, baixinho.
Eu senti meu rosto esquentar, e percebi que ela estava vermelha.
_Ahn..._ Gaguejei. _Obrigado.
Ela sorriu, e me deu um beijo na bochecha. Então, foi se unir a Vitor e às nossas mães.
Naquele momento eu percebi que, mesmo depois de pouco tempo, eu me importava muito com Tatiane.
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