Motsatt escrita por Monique Góes


Capítulo 23
Capítulo 22 - Zia


Notas iniciais do capítulo

GENTE, DESCULPEM, SÉRIO!
O terceiro ano tá me matando, mas agora eu entrei de férias, acho que consigo escrever pelo menos alguma coisa aqui @.@ Bem, fiz esse capítulo, procrastinei muito pq... Vocês me conhecem. Espero que gostem!



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Capítulo 22 - Zia

Fogo. Fogo por toda parte.

Dante sentia como se houvesse levado a surra de sua vida. Doía como o inferno, mas entre tudo aquilo, seu olho doía ainda mais. Gemeu arrastado, sua cabeça pesando uma tonelada e estando especialmente pesada no lado direito do rosto.

Piscou algumas vezes até perceber o local em que estava. O chão parecia ser feito de material semelhante a vidro, tão polida como um espelho e de cor alaranjada. Não havia nada mais ali além das chamas, embora estas não possuíssem qualquer material combustível para mantê-las queimando.

Ainda ao chão olhou envolta, mas não viu nada além do que havia constatado. Como, quando chegara e o que fazia ali eram um mistério para si. Recordava-se das... Alucinações, mas de resto...

Só lembrar-se delas o fazia ser tomado pelo asqueroso desejo de vomitar. O porque exatamente não sabia dizer.

– Estou impressionado. É raro que vocês mortais adentrem estes reinos sem que nós os invoquemos.

Quase deu um pulo, sobressaltado ao ouvir a voz provinda do nada. Ao girar, viu um homem atrás de si. Alto, de pele cor de bronze, seus cabelos ondulados misturavam-se com as próprias chamas. Usava uma couraça de diversos metais que Dante considerou familiares, porém não reconheceu, mas era impossível não ver suas grandes asas flamejantes. Asas de fênix.

Ao seu lado, havia uma garota tão linda ao ponto de parecer o ser mais perfeito que já vira. Não daria mais de 13 anos a ela. Possuía a pele rosada e brilhante, com cabelos de um tom vivo, ainda assim suave, de cor de rosa, caindo em grossas ondas até seus joelhos, e trajava um vestido azul céu ricamente bordado do mesmo comprimento que seus cabelos. Por seus rosto, braços e pernas expostas via os intricados desenhos de henna. Conseguia distinguir a metade de uma flor em sua testa, semelhante ao sol, e sob um de seus olhos uma fina e sinuosa linha semelhante a uma corrente. Assim como o homem possuía um elegante par de asas flamejantes.

... O quê?! Onde eu estou?! Quem são vocês?! O que estou fazendo aqui?!

A garota franziu o cenho e entreabriu os lábios em forma de coração, pronta para lhe responder algo, parecendo ultrajada. O homem entretanto a interrompeu antes sequer de começar.

– Acalme-se Lyb. – ele inclinou ligeiramente a cabeça para o lado. – Sou Yangin, deus do fogo. Agora eu que lhe pergunto, Esben, o que você está fazendo aqui?

“Yangin, deus do fogo?” a frase voltou à mente de Dante com um grande toque de incredulidade. Recordava-se de Phaeron falar sobre ele, durante a explicação sobre seus amuletos e tudo, mas... Vê-lo...? Deveria ainda estar alucinando depois de pegar aquele maldito dragão.

– Aquilo que você viu, “Dante”, não foi uma ilusão. – Yangin disse-o, fazendo que o olhasse abobalhado novamente. – Foi uma visão. Uma profecia, na realidade. Estou ainda mais impressionado pelo fato de tanto você quanto seu irmão mais velho serem capazes de fazê-la. – Ele cruzou os braços num tintilar metálico. – Mas que ao contrário de seu irmão, eu não tive um mísero dedo em suas visões. E elas foram surpreendentes.

A vontade de Dante era responder apenas “O quê?” eternamente. Visões, profecias?! Do que ele estava falando?!

– Mas respondendo a outra de suas perguntas, olhe para baixo.

Ainda sem reação, Dante apenas abaixou o olhar. Viu seu reflexo e sua expressão ainda em choque, além do reflexo das chamas ao seu redor. Demorou cerca de um minuto até que visse o que Yangin provavelmente queria que ele visse.

Um ser apareceu como se do outro lado do vidro, seu reflexo misturando-se com o reflexo do Galrdai. Era escuro, com uma cabeçorra larga e achatada, de superfície escamosa cujas depressões entre as escamas pareciam fios elétricos. Sua boca era um mero rasgo sangrento que expunha pelo menos duas dúzias de dentes compridos e afiados, tais quais agulhas do tamanho do antebraço de Dante. Possuía olhos esbugalhados, cuja esclera era negra, as íris eram de um roxo elétrico e as pupilas eram meras fendas negras.

O ser abriu a bocarra e soltou um rugido que deveria ser ensurdecedor – já que o “vidro” o fez soar extremamente abafado - a qual juntamente veio uma energia da mesma cor de seus olhos. Dante se assustou, tentando se afastar num ímpeto, porém seu equilíbrio lhe faltou e acabou caindo sentado. Ficou remotamente feliz por não ter gritado, mas arfava como se houvesse corrido uma maratona.

– Estes são os Campos do Exílio. Não há a necessidade de que entenda o que significam verdadeiramente agora, porém você não é estúpido o suficiente para não perceber que este lugar serve para prender algo, certo? – Dante assentiu. – Por isto me surpreendi por ter chegado aqui sozinho.

– A menos que... – a garota, Lyb, disse em voz baixa. – O dragão tenha despertado.

Yangin olhou-a, e para variar, Dante encontrava-se mais perdido ainda.

– Mas creio que já seja hora dele retornar. – a voz de Lyb tornou-se milhares de vezes mais autoritária, o que assustou-o. – Não sabemos o momento do retorno dos Proibidos, porém sei que neste momento, minha Fada precisa de seu auxílio. Dragão, se você partir aquela menina, eu juro que poderá começar a se despedir daqueles que ama.

– Fada, Dragão? Mas do que você está... – Yangin parecia achar graça da garota, mas ela ergueu um dedo, apontando para Dante. E naquele exato momento, ele foi engolfado num redemoinho escuro em que as chamas desapareceram num segundo enquanto tudo girava assustadoramente.

Quando deu por si, viu o rosto de Phaeron à sua frente. Estava sujo de sangue, molhado, mas ainda assim via-se marcas de queimadura em sua pele. Ele não olhava para si, mas sim para algo dentre as árvores.

Com um gemido de dor, sentou-se, fazendo com que o Denor voltasse-se quase que imediatamente para ele. Levou as mãos até o olho direito que ainda parecia pesar e respirou fundo para manter-se calmo. Suas costas ardiam. Ardiam muito e parecia que seus músculos serpenteavam sob a pele.

Apenas após um bom tempo percebeu a quantidade de corpos ao seu redor. Não precisou olhar uma segunda vez para perceber que eram Bergais.

–... O que aconteceu?

– Depende do que está perguntando. O que aconteceu com você ou o que aconteceu aqui?

Calou-se por um instante. Sabia mais ou menos o que acontecera consigo. Mais para menos do que para mais, porém sabia. Ainda assim custava-lhe acreditar que havia visto aquelas visões e aqueles... Deuses.

– Ambos, talvez?

Phaeron explicou-o rapidamente o que havia acontecido no armazém, como fora parar ali e que mais Bergais haviam aparecido logo após Piero haver saído. Dante bufou.

– Eles são como pragas.

– Algo deve ter acontecido. Eles parecem estar desesperados para pôr as mãos em você.

– Algo a ver com meus irmãos?

Phaeron encarou-o, analisando. Dante quase pode ler o que se passava em sua cabeça: Nunca demonstrara qualquer tipo de preocupação com seus gêmeos, portanto perguntar algo sobre eles sem ostentar um tom ofensivo era surpreendente. Mas depois de tudo... Aquela conversa sobre dragões, visões...

Havia muita coisa que não cheirava bem.

Levantou-se com dificuldade, tentando ignorar os repuxões em suas costas. Só então percebia que as ataduras em seu olho haviam se ido, certamente quando pegara fogo. Fechou-o de modo que a visão não o incomodasse.

– Para onde acha que Piero pode ter ido?

Phaeron hesitou, o que pegou Dante desprevenido. Nunca vira o Denor hesitar, e se o vira, nunca com aquela expressão incerta. A dúvida nos olhos sangrentos acendeu a inquietude no ruivo quanto ao outro Galrdai. Era óbvio que se importava mais com Piero do que jamais seria considerado sensato.

Dirigiu-se até as árvores. Sua vontade era de correr entre elas e procurar pelo outro num frenesi desesperado, dada a situação, mas a dor o impedia. Suas costas rugiam, parecendo desejar que os músculos soltassem-se a modo de penderem e de lá brotassem asas.

“O dragão despertou.” Travou quando a voz sussurrou em sua mente. Respirou fundo. Sempre se considerara ligeiramente louco, porém agora certamente deveria estar se tornando.

Tentando pôr o fato de lado, revisou mentalmente qualquer lugar onde Piero poderia ter ido e consequentemente se envolvido com os Bergais, e acabou decidindo retornar ao celeiro. Verificaria se o outro estaria ali, e caso estivesse, trocaria aquelas roupas de cinzas e falaria – desculparia? – com ele. Se o próprio Dante não sabia o que ocorrera com ele, quanto mais Piero.

O rufar de asas indicou que Phaeron o seguia. Não se importou.

– Dante! Dante! – a vozinha de Heidi o recebeu quando aproximou-se da espelunca que chamava de lar. O alívio tomou conta de si quando a viu nas costas de Piero, que também se aproximava. Mas o alívio durou pouco, esvaindo-se assim que viu o rosto sombrio de Piero.

–... Ciao Heidi. – o cumprimento saiu quase ininteligível.

– O que aconteceu?! Por que a loja pegou fogo? Por que...

Apenas balançou a cabeça, entrando para pegar roupas e deixando Heidi com suas perguntas para trás. Era ruim quando queimava suas vestes, pois com pouco mais de 1,90 de altura, era o mais alto do lugar, impossibilitando-o de pegar as roupas de outro alguém. Piero era o segundo mais alto com seu 1,80 e pouco, porém era bem mais franzino que Dante, além de possuir ombros estreitos. Como vinha utilizando fogo com mais frequência, chegara ao ponto crítico de suas roupas estarem se tornando escassas.

Já havia vestido já havia vestido suas calças e enfaixado seu olho, estando prestes a vestir a evolução de saco de batatas que chamava de camisa quando ouviu uma exclamação surpresa atrás de si. Olhou por cima dos ombros, vendo Piero encarando suas costas com um ar surpreso.

– O que foi?

– Suas costas... Desde quando você tem uma tatuagem?

– O quê?! – Exclamou, sua mão direita indo automaticamente até o ombro esquerdo, tocando o topo de suas costas. Naquele momento desejou ser capaz de vê-las.

– Um... Dragão... – Piero foi até ele em passos largos. Uma de suas mãos foi até um dos ombros do mais alto, fazendo-o se virar e expor suas costas, com a outra roçou a marca utilizando a ponta de seus dedos.

Dante se esforçou para não estremecer ao sentir o toque das bandagens em sua pele nua, entretanto, o local onde o de cabelos prateados tocara parecia mais sensível... De uma maneira bem desagradável. Sua respiração falhou quando o toque fora como gelo numa queimadura, ou como se fosse ferro quente contra sua pele.

Os olhos de Piero analisaram o local. A tatuagem cobria toda a extensão das costas do mais velho, desde quase a altura do quadril até quase sua nuca. Era um dragão grande, de aparência musculosa, perfeitamente gravado ali nos mínimos detalhes, desde as presas negras que se encontravam visíveis em diversas extensões, como uma crista ao longo de sua coluna e em seu maxilar, até as escamas vermelho-sangue, cada uma com um ponto iridescente em si. O ser jazia majestoso, como se deitado numa pedra ao topo de uma montanha, fitando os que passavam por baixo, porém as imensas asas estavam abertas, o couro que as formava completamente negro.

Não era nenhum idiota para saber que um desenho daqueles era fruto de um trabalho que se passaria no mínimo dias para fazê-lo. Mas se entendera bem, simplesmente aparecera de uma hora para a outra.

Aquilo sequer se parecia com outra coisa, mas ainda assim muito diferente.

Ambos se sobressaltaram quando ouviram vozes do lado de fora. Estava anoitecendo, era claro que os garotos estavam retornando.

– Ponha sua camisa! – Piero sibilou.

Passou o tecido grosseiro pela cabeça, embora tenha se enrolado nas mangas por algum motivo. Quando finalmente conseguiu vestir-se apropriadamente foi no exato momento em que Callisto abriu a porta. Ele carregava um grande saco às costas e Niniano praticamente dançava à volta do mais velho. Atrás dele vinham Gianluca, Enea e Nereo que pareciam parabenizar Narciso.

–... O que aconteceu? – Dante questionou.

– Pancazzio! – Narciso simplesmente exclamou, fazendo com que tanto Dante e Piero o encarassem sem entender. – Pancazzio me contratou!

– Oh... Oh! Parabéns! – Piero exclamou, sua reação sendo realmente atrasada, indo também cumprimenta-lo.

Pancazzio... Bem, já estava chegando a hora, não era? Narciso, Dante, Callisto e Piero eram os meninos mais velhos do celeiro, e já faziam alguns trabalhos para os grandes proprietários da região – eles se encaixavam como uma máfia? -. Era quase uma escola, porém, ao invés de se formarem, eles eram contratados e saíam do celeiro – e consequentemente fariam trabalhos mais... Perigosos. -, porém a vida nem se comparava à que levavam.

Era o que aconteceria com eles, o que acontecia naquele momento e fora o que acontecera com os que vieram antes deles... Não sabia há quanto tempo estavam naquilo, mas era simplesmente o que acontecia.

E era sempre uma festa.

Haviam roubado muita coisa... Tortas, massas, frangos... Bom, pelo menos um dia estava garantido que todos se alimentariam bem. Como conseguiam roubar tudo isso num dia e não nos outros, não fazia ideia.

E bebida. Muita bebida, apesar da maioria dos garotos ali ter entre nove e doze anos. Não era como se importasse, aliás.

Após algum tempo, porém, Dante sentiu como se já bastasse de estar ali. Depois do que ocorrera naquele dia, simplesmente não estava animado o suficiente para qualquer tipo de comemoração embora se sentisse feliz por Narciso. Correu os olhos pelo lugar, ignorando os meninos já bêbados, e percebeu que Piero não estava em lugar algum.

Pegou uma garrafa de vinho forte que ainda se encontrava fechada, e saiu do celeiro, deparando-se com o céu noturno e o vento frio contra sua pele. Parou um instante, aproveitando a sensação mais o som das risadas. Sabia onde o de cabelos prateados gostava de se enfurnar.

Afastando-se ligeiramente, conseguiu localizá-lo rapidamente. Ele estava sentado sobre o telhado, as pernas penduradas em direção ao vazio, sozinho.

Foi até lá. Havia alguns caixotes e tábuas soltas que tornavam a escalada consideravelmente fácil para quem possuísse um bom equilíbrio.

As tábuas do teto rangeram diante o peso de Dante, dando também a ilusão de que poderiam ceder a qualquer momento, porém não se alarmou. Conseguia ver claramente Piero, que mantinha-se de costas para si, e via também as duas garrafas de vinho ao seu lado, uma caída, revelando-se já vazia, a outra estava nas mãos enfaixadas do rapaz.

– Olá. – disse enquanto se sentava ao seu lado, mas o outro continuou calado. – Piero?

– Hm? – a resposta veio num gemido quase inaudível.

– Eu... Acho que devo pedir desculpas por mais cedo. – Dante começou. – Não sei o que houve comigo, e ... Bem, tudo foi por água abaixo, não foi?

Ouviu Piero dando uma risada contida.

– Eu diria que tudo pegou fogo, - a sua voz soava arrastada, dando indícios de sua embriaguez. – não que se alagou.

– Bem... – pegou a garrafa que estava nas mãos de Piero. Mais da metade já havia sido consumido. – Eu sei que você está se afogando. – deu uma golada, sentindo a bebida descer queimando por sua garganta. – O que houve? Você não é do tipo que enche a cara.

– Nada. - Seu tom de voz evasivo deu-lhe a certeza que havia algo errado. O de cabelos prateados roubou a garrafa de volta das mãos de Dante e lhe deu uma golada ainda maior do que a que o ruivo havia dado, enquanto encarava-o com seu único olho visível. – Argh, não me olha assim! Parece que você consegue ver a minha alma!

– É por isso que estou te olhando assim.

– Eu vou ter que fazer você perder seu outro olho?! – exclamou e então deu um soluço bêbado, seguido de uma risadinha. – Mas como eu faria isso...? Você tem praticamente o dobro do meu tamanho...

– Isso é um exagero se estiver se referindo à minha altura. – retrucou. – Mas eu não sou tão magrelo quanto você.

Piero olhou-o de maneira divertida, apoiando seu peso nos braços dispostos atrás de seu corpo, mantendo-se meio deitado sobre o telhado que rangeu perigosamente. Dante abriu a sua garrafa, bebendo quase que preguiçosamente. Era absurdamente forte para álcool, portanto não preocupava-se com a possibilidade de ficar bêbado.

– Você nem imagina o porquê de eu ser tão franzino...

Não sabia se fora sua cabeça, ou aquela frase soara absurdamente provocativa... Ou talvez não. Não quando viu o olhar que Piero dirigia para si, o que fez com que seu coração falhasse várias batidas.

–... Se você diz. – retrucou com o mesmo tom de voz. Não sabia como mantivera a compostura. Piero deu uma risada e se virou para ele, mantendo-se meio deitado de bruços, os braços apoiando seu tronco e as pernas ainda dependuradas, fazendo com que Dante temesse que ele caísse.

– Sabe... Eu tive problemas com Bergais hoje. – estendeu a mão, tocando as de Dante e fazendo-o estender sua garrafa em sua direção. – Nada que eu não pudesse resolver, mas – sua voz tremeu. – os desgraçados mexeram em lugares que não deviam.

–... Como assim?

Piero riu novamente, e mais uma vez se moveu, levantando-se. Não via nada demais no fato dele não parar quieto, porém...

A última coisa que esperava era que ele fosse sentar em seu colo.

– P... Piero? – Um calafrio percorreu sua espinha, enquanto a pulsação de Dante acelerou tão rapidamente que ela parecia retumbar em seus ouvidos e fez seu peito doer, além de sua respiração se desregular totalmente. Piero estava próximo... Próximo demais...!

– O que foi? – ele riu. Suas pernas estavam uma de cada lado do corpo de Dante, e o de cabelos prateados passou seus braços ao redor do pescoço do ruivo, impedindo-o de se afastar. As respirações de ambos se misturavam e sentia o cheiro da bebida, mas tudo o que conseguia fazer era ficar travado no lugar: Piero sempre fora tão contido, e agora... Certo, ele estava bêbado, porém...

Não era também como se não o quisesse.

– Certo, acho que você bebeu demais! – suas mãos foram até seus quadris, tentando empurrá-lo, fazendo-o rir novamente. Seu coração agitou-se ainda mais novamente quando Piero chegou ainda mais perto, tão perto que sabia que se movesse apenas um pouco, seus narizes se encostariam; porém Piero não estava com vontade de manter distância. Ele simplesmente foi em direção aos lábios do ruivo, mordiscando o lábio inferior para depois suga-lo, arrancando-lhe um ofego.

– O que foi? – questionou, mas pressionou seus lábios contra os dele antes de dar ao outro a chance de responder.

Dante mais sentiu do que o ouviu gemer quando aprofundou o beijo; os lábios e os corpos perfeitamente encaixados. Simplesmente jogou tudo para o alto, ignorando o fato que Piero estava bêbado, ignorando o fato de estarem no telhado e que os meninos estavam alguns metros abaixo de ambos. Apenas... Apenas passou seus braços envolta do corpo do outro pressionando-o com força contra si, enquanto o sentia pressionar seu pescoço, os dedos se enroscando em seu cabelo.

E foi assim que sentiu algo.

–... Hm? – acabou soltando, e sentiu Piero afastando-se ligeiramente.

– Sabe o que eu quis dizer quando falei que os Bergais mexeram onde não deviam? – Piero murmurou de modo rouco e fervoroso, antes de beija-lo novamente, porém de modo menos intenso e envolvendo seu pescoço com apenas um braço. Pegou uma das mãos de Dante, guiando-a para dentro do tecido de sua camisa, pressionando-o contra seu quadril e o fazendo subir em contato com sua pele.

Dante percebeu então a curvatura de sua cintura, o que o fez se separar apenas para olhá-lo, surpreso.

Ou melhor dizendo... Olhá-la.

– Você é uma garota?!

Não soube dizer o que se passou por sua cabeça. Talvez tenha pensado em como jamais percebera. Talvez pensara em como tal fato jamais passaria por sua cabeça, pois... Piero era simplesmente um rapaz como qualquer outro que conhecia... Ou pelo menos parecia ser.

Ela apenas o olhou com olhos que pareciam ser ao mesmo tempo fervorosos e despreocupados.

– Isso te incomoda?

– Não, é que... – ela o beijou mais uma vez, e não soube dizer se fora apenas porque sentira que deveria fazê-lo ou se havia algum tipo de alívio ali. – É que... Não dá... Nem para suspeitar...

– É, eu sei. Minha voz e minha altura ajudam, mas de resto... – Ela pegou novamente sua mão, guiando-a dessa vez para suas costas e subindo-a, fazendo com que ele sentisse o toque das bandagens. – Digamos que tenho um certo problema muito mais chamativo.

–... Problema... Mas por que... – começou, mas ela pôs um dedo sobre seus lábios.

– Shh... Agora não...

Queria fazer muitas perguntas, porém entendia que aquele não era o momento, que naquele momento, deveria pensar em outras coisas... Como os toques praticamente impudicos que ambos trocavam, como os lábios pareciam queimar um contra o outro com muito mais intensidade do que qualquer chama que tenha gerado ou qualquer amuleto que poderia possuir.

Ainda assim fez apenas uma pergunta.

– Qual o seu nome, então?

Ela segurou seu rosto com ambas as mãos, ambos extremamente próximos. A essa altura ela já estava deitada sobre o telhado e Dante estava sobre ela.

– Me chame de Zia.


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Notas finais do capítulo

... Alguém tinha alguma suspeita? :v
Bem, é isso por agora! Até o próximo capítulo!



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