Motsatt escrita por Monique Góes


Capítulo 19
Capítulo 18 - A Visão do Desespero


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas, desculpa o atraso. Este capítulo foi complicado óò
Minhas aulas também começaram, e nada mais agradável que começar um terceiro ano, descobrir que tem 30 matérias e mudaram as provas para uma prova por bimestre. Adivinhem que vai se ferrar esse ano? -q
E também não sei se mencionei antes, mas eu sou gamer... Er, faz um tempo que chegou o meu Shadow of the Colossus, e eu dizia que não ia jogá-lo antes de terminar o capítulo, mas eis que ele me chamava e fui jogar... i.i Não consigo matar o último colosso, então vim terminar o capítulo, huheuheuehue, sorry D:
Bem, é isso, vamos lá o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/557721/chapter/19

Capítulo 18 – A Visão do Desespero

Os dedos finos rodearam as barras de sua cela enquanto Nezumi começava a procurar quase que desesperadamente pela chave. Sua mãe parecia tão debilitada a ponto de mal se manter de pé, o que era desesperador. Seu rosto estava fundo e quase conseguia ver o formato dos ossos de seus braços e pernas de tão magros.

Cambaleou para trás, que acabou soltando um bufo dolorido ao cair no chão. Bateu contra uma cela, suas pernas finalmente cedendo. Sua cabeça girava e doía como se daquela vez a gata louca estivesse cortando sua mente e jogando ácido encima. Sua visão encontrava-se desfocada, com uma constante sensação de haver algo arenoso sendo encostado a uma ferida.

O instinto dizia que aquilo estava ocorrendo devido ao fato de estar forçando demais o selo que havia posto em suas memórias. Que tentar rompê-lo mais do que já estava fazendo poderia ser extremamente perigoso para sua saúde mental, talvez até mesmo de forma irreversível.

Sentiu uma mão fria tocando seu rosto, o que repentinamente fez sua visão clarear. Sua mãe já estava a sua frente, analisando-o de com uma expressão que Jake não conseguiu decifrar... Havia ali muitas emoções misturadas, mas as lágrimas escorrendo de seus olhos e traçando um caminho pela camada de sujeira sobre seu rosto foi-lhe muito mais expressiva que qualquer palavra ou reação. Ela praticamente jogou seu corpo sobre Jake e Winter, abraçando-lhes com o máximo de força que seu corpo debilitado permitia.

– Meus filhos... – foi tudo que conseguiu ouvir de seu sussurro fundido a um soluço.

Levou uma mão trêmula às suas costas, sendo capaz de sentir os ossos de sua costela sob os farrapos que ela usava. Em sua mente se passou a pergunta de quando fora a última vez que ela se alimentara...

E que se ela estava naquele corredor, aquilo significava que os Bergais tinham a intenção de executá-la logo.

Seriamente, eles já haviam passado dos limites há muito tempo. Seu ressentimento por aqueles que faziam tais barbaridades apenas encontrava motivos para aumentar cada vez mais, somado a imagem dos corpos pregados ao teto, as crianças ali também...

– Não quero ter que interromper nenhuma reunião, mas... – Nezumi começou timidamente, mas o som da porta se abrindo chamou a atenção de todos. Jake sentiu como se lhe dessem um soco no estômago, não era possível que agora iriam prendê-los novamente...

... Mas então viu que era o rapaz de cabelo cor de alga que havia soltado seu braço, portanto, havia o ajudado a fugir.

– Kuuso! – Nezumi exclamou num tom claramente aliviado. – Não me mate do coração!

– Não me mate do coração você! – sibilou. – Quando vi que as armadilhas estavam ativadas, pensei que você havia morrido, e Kogen quase arrancou meu fígado!

–... Kogen? – Jake começou quase timidamente. – Espera, é ele que está...

– Tentando tirar vocês daqui? É.

– Como ele sabe que estamos aqui?!

– De quem vocês estão falando? – Winter questionou num murmúrio.

– Digamos que os homens do alto comandante gostam de cantar vitória muito cedo. É bem capaz desta notícia já ter chegado até em Agnata. – Kuuso bufou. – Foi fácil descobrir onde vocês estavam já que... Bem, trabalho aqui.

– Seu trabalho é bem doentio. – Winter observou.

– Eu não sou torturador, apenas marco os prisioneiros. – fez uma careta. – Mas sim, os gritos não saem da cabeça...

– Nem os corpos lá de trás. Mas temos que sair daqui, Kogen deve estar na ala norte. Se tudo der certo, os soldados pensam que vocês estão indo para a ala sul. – Nezumi completou.

– Mesmo com a armadilha?

– Eu disse “se tudo der certo”. Ativar a armadilha já deu outra significância a esta frase. Agora vamos? Estamos perdendo tempo demais aqui!

Jake tentou se levantar, mas foi como se só então percebesse com suas pernas estavam sem forças e doloridas. Olhou para baixo, temeroso, vendo os imenso cortes verticais abertos em suas pernas, o sangue colando o tecido contra sua pele, misturando-se com o sangue das vítimas em que acabara se banhando e manchando também o chão. Vendo o estado, estava surpreso por ter conseguido andar tudo o que andara carregando Winter em suas costas.

– Essa não... Não consegue mais andar? – Kuuso questionou nervosamente.

–... Consigo. – disse, e com esforço pôs-se de pé. Olhou então tanto para Winter quanto para sua mãe. Ambos estavam muito piores do que ele, e se caísse agora, a situação ficaria complicada para Kuuso e Nezumi. – Pode carregar minha mãe? Eu levo Vannes.

Ela é a sua mãe?! – o de cabelos esverdeados exclamou num tom chocado, porém aproximou-se, pegando a mulher com cuidado como se ela pudesse se quebrar... Bem, ela estava visivelmente frágil. Ela não resistiu, mas pareceu sentir dor. Questionou-se se ela também havia sido torturada, mas logo repreendeu-se pela pergunta idiota. Se sua mãe estava ali claramente para ser executada, certamente sofrera muito antes disso... – Qual o seu nome?

– Nasi. – sua voz soou tão fraca que teve de se esforçar para ouvir a resposta. Jake deu um suspiro, reunindo forças e tentando não se deixar levar pela dor antes de pegar Winter um pouco mais cuidadosamente que antes.

– Tem certeza que vai fazer isso? – seu irmão questionou no momento em que o puxava para suas costas, fazendo com que o olhasse em tom de interrogação. – Você mal parece conseguir se manter de pé. Tem certeza de que vai me carregar? Posso ter perdido bastante peso recentemente, mas ainda sou bastante pesado.

–... Não há condições de carregar eu, você e a nossa mãe. Tenho que aguentar até podermos... Sei lá, chegar a um local seguro. – Torceu os lábios, tentando conter a dor.

–... Acha que aguenta? – Nezumi questionou num tom preocupado.

– Tenho que aguentar. Não podemos perder tempo.

– Certo... Temos que tentar chegar ao norte, e Kogen pode fazer alguma coisa. Vamos!

Kuuso seguiu rapidamente pela porta que deixara aberta, parando por um mísero instante, verificando se não havia nenhum soldado por perto. Estava tenso, tinham de chegar até Kogen antes que as pernas de Jake parassem de responder.

À frente deles havia um imenso corredor de teto baixo, com uma escadaria ao fim novamente. Reprimiu o suspiro exasperado. Teria de aguentar até conseguirem chegar a algum local seguro, apenas isso...

– Não há soldados aí?

– Não havia quando fui atrás de vocês. – Kuuso replicou em um tom de voz baixo, aproximando-se da parede afim de espiar cautelosamente. – E parece não ainda ter.

– Que as Kor desejem que não. – Nezumi murmurou.

Foi um sacrifício a mais descer aquela escada. Winter estava certo: mesmo sendo consideravelmente leve, as pernas de Jake doíam como nunca. A cada degrau que descia sentia os cortes abrindo-se dolorosamente, além do atrito de suas costas com o irmão ter o mesmo efeito. Talvez no momento em que fugira houvesse sido tomado pela adrenalina, e por isso conseguira se movimentar com muito mais facilidade.

Ao fim da escada, por um mísero segundo suas pernas perderam suas forças e quando percebeu o chão já girava à sua frente. Viu quando as mãos congeladas de Winter estenderam-se à sua frente e o seu silvo quando houve o impacto contra o chão. Piscou repetidamente, tentando fazer o mundo parar de girar, mas já havia mãos o erguendo. Sentiu quando seu irmão mais velho se arrastou de sobre si, além de quando o puseram sentado. Por um momento desejou possuir a mordaça de anteriormente, cujo líquido o impedia de perder a consciência.

– Isso é mal... - a voz de Nezumi soou distante, fazendo-o quase bater em sua própria cabeça. – Talvez... Precisamos encontrar um local seguro para ficar aqui dentro – não conseguiu pegar o fim da frase. Respirou fundo. Não, não podia perder a consciência, não naquela situação...

– Encontrar Kogen é a melhor alternativa e trazer ele para cá. Ele sabe magia, certamente poderá curar... – novamente foi incapaz de pegar o resto.

Já conseguia ver as bordas de sua visão escurecendo quando sentiu as mãos magras e frias de sua mãe novamente em seu rosto. Olhou-a, vendo as marcas dos tantos anos de cárcere no rosto cansado e repleto de machucados, que trazia a expressão de quem havia visto e passado coisas inimagináveis por todo aquele tempo. Porém, em seus olhos ainda havia o inconfundível brilho de um amor maternal, que fez com que sentisse como se nunca houvesse se esquecido deles.

– Depois de todos esses anos... Isso é tudo que posso fazer. – ela sussurrou e Jake sentiu um frio agradável espalhando-se por seu corpo, apaziguando toda a dor que sentia lentamente quase numa carícia. Tão logo sua visão retornou ao normal, os olhos azuis de Nasi rolaram e seu corpo inconsciente foi segurado por seu filho.

– Incrível... Mesmo neste estado ela ainda foi capaz de utilizar magia de cura...

– Incrível?! Não pode ter sido demais para ela?! – Jake e Winter exclamaram em uníssono como se unidos por telepatia.

–... Se ela houvesse se sobrecarregado, seu corpo retornaria à sua essência. – Nezumi replicou num tom gentil.

–... Água?

– Sim, ela literalmente se liquefaria sobre você. – Kuuso explicou. – E morreria.

O som de uma pesada porta sendo arrastada fez com que todos erguessem suas cabeças em direção ao som alto. Jake sentiu mais uma vez seu coração batendo loucamente e nervosamente procurou meios de levantar-se carregando sua mãe, porém o homem de cabelos verdes pegou-a de seus braços. Com isso, pôs-se pé e mais uma vez pegou Winter, pondo-o em suas costas. Olhou para baixo, vendo os cortes de suas pernas completamente fechados.

–... Seu cabelo ficou azul. – Winter comentou, chamando sua atenção para as próprias madeixas. Realmente, as via num claríssimo tom de azul.

– Prontos? Temos que tentar chegar lá inteiros! – O olhar de Nezumi foi a Winter. -... Ou quase. Vamos!

Nisso, mais uma vez começaram a se mover, mas desta vez num passo muito mais rápido que anteriormente. Jake sentia-se envergonhado com a própria fraqueza. Winter encontrava-se num estado infinitamente pior, e embora incapaz de andar por conta própria, mantinha-se perfeitamente consciente. Sentia seu sangue escorrendo contra suas mãos enquanto o carregava, mas ele não reclamava.

Chegaram a uma porta que foi rapidamente aberta por Nezumi, mas no momento em que Jake ia transpassa-la, uma flecha foi fincada no batente a poucos milímetros de seu nariz.

– Abaixe-se! – Winter gritou e o corpo do ruivo de cabelos curtos respondeu primeiro que sua mente. Jogou-se contra o chão no momento em que mais três flechas foram atiradas certeiras no local em que encontrava-se segundos antes.

– Para cá! – Kuuso chamou-os, agachado contra uma parede baixa de aproximadamente um metro de altura, que mais assemelhava-se a uma cerca com ocasionais grossas pilastras de madeira. Foi como pôde para lá, suas pernas doendo pelo fato de ter de se manter agachado e carregar seu irmão ao mesmo tempo. – Merda, estavam nos esperando!

– Espere! – Nezumi ergueu rapidamente a cabeça, olhando sobre a parede. Os olhos de Kuuso se esbugalharam tanto que quase saltaram de suas órbitas, puxando o mais baixo imediatamente. Não precisaram contar até dois para que uma saraivada de flechas atingissem a parede.

– Seu cabeça de buggane, o que pensa que está fazendo?!

– Eles estão atacando outra coisa também!

– Outra coisa?! Que outra coisa?!

–... Kogen? – Jake sugeriu, erguendo a cabeça também, tendo de se abaixar rapidamente quando a morte veio zunindo em sua direção.

– Não acredito que ele sairia... – começou, mas antes de Kuuso terminar a frase, o homem de cabelos branco-esverdeados dobrou a esquina do corredor, vindo agachado na direção deles. – ...Certo, não posso usar frases que possuam alguma certeza quando estamos falando de Kogen.

– Você sempre esquece disso... – Nezumi murmurou.

– Aos Sthanom, pensei que vocês haviam sido pegos ou algo pior! – ele sibilou assim que se aproximou o suficiente. Repentinamente, ele levantou-se como um raio com a mão estendida a sua frente, e escutou somente o som de uma explosão alta e os gritos de soldados, antes de voltar a se abaixar, pegando uma flecha antes numa velocidade incrível antes que esta atingisse seu rosto. Ele olhou para Nasi. – Ela é uma prisioneira deles?

– Sim. E nossa mãe. – Jake respondeu, fazendo o outro olhá-lo surpreso. – Ela estava... No “corredor da morte”.

– Eles mantém os corpos amarrados como pedaços de carne! – Nezumi fez uma careta. – Havia crianças também, e um poço de sangue! Sinceramente, essa é a última vez que trabalho para você! Estou falando sério!

Kogen estava espiando, vendo alguma possibilidade de conseguirem escapar sem serem percebidos, então abaixou-se, olhando ao pequeno com uma sobrancelha erguida, e em seguida olhou para o rapaz de cabelos cor de alga.

– E você Kuuso? – este pareceu empalidecer ao ser posto no assunto. Nezumi olhou-o de maneira inquisidora e tanto Jake quanto Winter conseguiram ver o suor frio brotando em sua pele, enquanto ele olhava de Kogen para Nezumi e vice versa.

– Kuuso?

– Er... N-Nezumi, você sabe não é... O que é cer...

– Maldito seja Kogen, você está se aproveitando do fato de só podermos nos apaixonar uma vez na vida, não é?! – Nezumi quase gritou, fazendo só então que Jake percebesse que ele e Kuuso eram um casal.

– Parabéns ratinho, agora eles tem mais uma prova de que estamos aqui... – ele suspirou, ignorando o rapaz raivoso. – Precisamos despista-los, mas como...? – seu olhar seguiu distraidamente para Jake, e então para Winter.

Ou mais precisamente, para os cabelos de Winter.

–... Eu não gosto da maneira que ele está me encarando...

– Você se importa de perder parte de seu cabelo?

– ...Quê? – antes que tivesse qualquer reação válida, ele foi até ele, pegando grande parte do cabelo que chegava ao meio de suas costas e cortou-o com uma adaga. –... Porque ele perguntou se eu me importava, se ele não precisa da minha opinião? – Jake deu de ombros como resposta.

Kogen enrolou os fios rubros na flecha que havia pego, prendendo-os ali, então a fincou discretamente na pilastra na altura aproximada dos rapazes. Aquilo lhe pareceu inicialmente sem sentido, entretanto, quando o vento frio bateu, os cabelos se moveram de modo que davam a ilusão de que havia alguém ali de pé, tentando se esconder.

– Vamos... – Kogen sibilou, praticamente rastejando na direção oposta à que o vento batia. Com algum esforço devido ao irmão em suas costas, fez o mesmo, até chegarem a uma porta esbranquiçada, completamente escondida por uma parede alta. Ela já encontrava-se aberta, então passaram por ela ainda abaixados, antes de fecharem-na, fazendo a escuridão tomar conta do local, se não fosse pelo tenro brilho da pele dos Bergais. – Certo, todos estão bem, tudo no lugar?

– Não tem muita coisa no lugar. - Winter bufou. – Mas isso é desde antes de lá atrás.

– O que houve com você?

– Os torturaram para impedi-los de fugir. – Kuuso informou. – O que está carregando...

– Klodike. – Jake informou-o.

–... Klodike conseguiu fugir antes que fizessem muitos mais estragos nele, mas o que está sendo carregado...

– Vannes. – Corrigiu-o novamente.

– A tortura de Vannes seguiu até o fim. – explicou, fazendo uma careta.

– O que fizeram com você, exatamente?

– A gata louca ficou jogando pesos em mim enquanto estava pendurado, depois ficou fazendo cortes e jogando sal encima... – os gêmeos estremeceram com a lembrança. – Enfim, direto ao ponto que mais incomoda, ela esfolou as minhas mãos e praticamente esmigalhou os ossos das minhas pernas.

O silêncio que se fez a seguir indicava que Kogen absorvia a situação descrita.

– Está calmo demais para alguém neste estado... – constatou.

– O que fizeram com meu corpo não é nem próximo do que fizeram com minha cabeça. – ele murmurou num tom frio, que fez com que Jake se sentisse aterrorizado, sem a mínima vontade de questionar o que houvera.

–... Certo. A situação de suas pernas deve ser a que mais incomoda no momento, mas é a que demandariam mais tempo. – Kogen fez uma careta. - Mas faria com que nos movêssemos mais rápido.

Jake ia pô-lo no chão, mas o homem de cabelos esverdeados simplesmente pegou as mãos de Winter, que brilharam por um momento, e quando as soltou elas estavam em perfeito estado. Ele havia inclusive restaurado as unhas. Depois permitiu que o pusesse, e segurou suas pernas, repetindo o processo. Foi bem mais demorado, durando cerca de um ou dois minutos tensos, com os outros dois verificando tanto a entrada ou a saída. Com sorte porém, conseguiu terminar de regenerar as pernas destruídas de Winter.

–... Nossa...

– Certo vamos indo. Temos de correr.

– Mas eles vão... – Kuuso começou.

– Eles já nos viram, mas podemos simplesmente passar correndo por eles. – retrucou. – Se formos rápidos o suficiente e derrubarmos dois ou três no caminho.

– Isso é loucura!

– Deu certo para eu encontrar vocês, então dará certo de novo.

Nezumi encarou-o de maneira incrédula.

– Você está abusando da sua boa sorte!

Kogen já seguia em frente, mas Jake não se demonstrou surpreso com suas palavras. Eles possuíam apenas opções limitadas: Correr, se esconder ou morrer.

E se esconder poderia acabar levando-os a morrer, considerando o que acontecera lá atrás.

Winter pôs-se de pé, parecendo impressionado diante o modo que suas pernas encontravam-se. Não havia dor; era como se nunca houvessem sido quebradas, e, sobretudo, as costas de Jake agradeciam. Este olhou também para sua mãe, que ainda encontrava-se inconsciente, carregada por Kuuso. Aquilo o preocupava.

Correram atrás de Kogen, que ao menos parecia saber por onde estava indo. Dobrou dois corredores para a direita, e seguiu por uma sala que possuía diversas portas de correr. Ao abrir uma, dava a uma espécie de pequena sala vazia, e ao abrir a seguinte, dava para outra sala igual. Após dez portas como essa, dobraram para a direita, subindo um pequeno tablado de madeira e abrindo mais uma porta.

Nezumi olhou para fora, verificando algo, e o olhar de Jake acabou seguindo para Winter. Este observava algo pregado a parede: Um arco com uma aljava contendo flechas. Ele seguiu até a arma e tirou-a da parede.

– Ei. – sibilou. – Você sabe usar isso?!

– Não estaria pegando se não soubesse. – retrucou.

Nezumi indicou que poderiam sair, e foi o que fizeram. O lado de fora dava para uma espécie de jardim, com uma imensa varanda circundando o prédio. Estava tudo tão quieto que lhe dava calafrios. Ao observar os entornos, mais parecia um palácio do que o circo dos horrores que havia presenciado.

Também acometidos pela confiança, todos acabaram seguindo pé ante pé. Estranhava que nenhum soldado ainda aparecera para lhes congelar ou transformarem-nos em porcos-espinhos ambulantes...

Como se respondendo a tal pensamento, Winter sacou rapidamente uma flecha, e atirou-a sobre o muro, num local bem escondido pelas árvores. Apenas viu quando o soldado despencou do alto.

O som de folhagens se movendo atrás de si o alarmou.

– Corram! – Kuuso gritou.

Jake por pouco livrou-se de uma lâmina assassina que quase atingiu sua cabeça, cortando a madeira que apoiava as paredes até quase a metade. Aproveitou o momento para correr a toda velocidade atrás dos outros. Kogen saltou da varanda, atingindo alguns dos soldados que surgiram ali com magia, abrindo caminho para os que estavam atrás. Winter era um arqueiro assustador: Parava por um mínimo segundo apenas para atirar e acertava os soldados em pontos que os deixavam impossibilitados de ataca-los. Parecia que sequer mirava!

Quando um soldado saltou sobre si, Jake agiu por reflexo: ergueu a mão, e a neve o respondeu, subindo como uma onda em direção ao homem. Ó ironia! Aquele Bergal acabou por morrer congelado, que fez com que os outros parassem um mínimo segundo para encarar aquilo, atônitos, dando abertura para que o grupo fugisse.

Kogen chegou ao que pareceu ser um cemitério, e deslizou para dentro de uma tumba violada. Kuuso entregou-lhe Nasi, e esperou que todos entrassem ali antes de saltar atrás e fechar a entrada.

– Pelo amor de Aiko... – Nezumi praticamente espetou um dedo entre os olhos de Kogen e disse, absolutamente assustador com seus incríveis um metro e meio de altura. – Se eu não vou poder me livrar de você, pelo menos me dê férias!

– Tecnicamente você me ajuda porque quis...

– Quis uma vírgula, me meti nisso porque Kuuso se meteu e não ia ficar em paz com ele fazendo tudo sozinho!

– Nezumi, eu posso me cuidar... – o outro começou, mas logo foi interrompido.

– Ahan, claro, agora eu vou ficar tendo pesadelos com a possibilidade de você terminar como aqueles corpos do poço lá atrás!

– Bem, agora que eles sabem que eu trabalho para Kogen...

– Não disse?! Agora acabou-se, vamos ter que passar o resto das nossas vidas fugindo desses sádicos, enquanto eles vão vir e tentar esmagar as nossas pernas e fazer um assistir o outro sendo torturado e...

– Ele não parece uma mulher paranoica? – Winter sussurrou para Jake enquanto o pequeno continuava.

– Parece, mas ele tem motivos. – sussurrou de volta.

– Certo, certo Nezumi, entendi, é tudo culpa minha, e agora você e Kuuso vão perder sua casinha a beira mar perto do bosque, certo, eu entendo. – Kogen suspirou. – Mas acho que é melhor sairmos daqui primeiro, certo?

Ele ainda esbravejou algumas coisas, mas deu abertura para que Kogen seguisse em frente. O túmulo dava para um túnel escuro e baixo, fazendo com que Jake e Winter, mais altos que os outros, andassem ligeiramente curvados. Entretanto, aquele foi o caminho menos tenso que fizeram desde que saíram da cela de Winter, apesar de demorado e cansativo.

O fim do túnel deu para uma floresta quase cinco quilômetros distante de onde estavam presos, e no momento em que se viram do lado de fora do túnel, todos se permitiram um suspiro de alívio.

– Finalmente... – Kuuso começou.

– Jake!

Antes que pudesse se virar para Winter, sentiu a dor lancinante lhe atravessando, cortando de seus ombros até o meio das costas. O mundo girou e caiu de peito para cima, suas mãos indo por reflexo até o local atingido, antes da lâmina ser cravada em seu peito. Sentia o sangue em seus lábios e o sangue escorrendo com abundância, o desespero por sentir o formigamento, a agonizante sensação de que sua vida estava prestes a se esvair.

O rosto apareceu dentro de sua mente, em um fundo completamente vermelho e congelado. Um homem de olhos sagazes, prateados como duas luas, calvo e de nariz reto. A metade esquerda de seu rosto até a altura da face queimada de forma horrenda. Usava roupas completamente brancas e um capuz.

“Galrdai” disse sem sequer abrir seus lábios. Sua cabeça pendeu ligeiramente para o lado, analisando-o. “Será que luta tão ferozmente por sua vida quanto parece?”.

A dor se intensificou e Jake se engasgou com o próprio sangue.

“Me pergunto... O que farei com isto caso morras...”. Jake congelou quando outra imagem se formou em sua mente. Dentro de uma cela, suas pernas acorrentadas como se fosse um animal, se abraçando enquanto tremia quase convulsivamente. Suas roupas estavam sujas e desalinhadas, os grandes olhos castanhos demonstrando quão aterrorizada estava.

Far.

A risada fechada e cínica do homem reverberou em sua mente quando suas mãos foram contra a lâmina, puxando-a com esforço para cima, sem se importar se cortava-se com aquilo. O ódio estava tão inscrito nos olhos azuis de Jake que causaria medo na grande maioria das pessoas.

– O que estão fazendo com ela?! – gritou com toda sua raiva e desespero pelo que poderia estar acontecendo, mesmo que se engasgando com seu sangue.

“Vejo que é exatamente como pensei... Interessante.” um sorriso grotesco surgiu na face do homem. “Quer tê-la novamente? Venha busca-la. Batalhe com unhas e dentes e talvez seja capaz de conseguir”.

Jake arfou quando a lâmina foi retirada de si.

“Saiba Galrdai, que estarei lhe observando”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ai ai... Como mencionado antes... Amo o Jake. E agora que estava lembrando da história do Winter, vi como amo ele também, kkkkkkkkkk
Querem saber uma curiosidade? O Nero é surpreendentemente popular (de longe, o mais da fic!), e ele nem era um personagem programado! Isso ae, antes ia ser só o Jake, Winter e Dante, mas como eu sempre imaginava o Jake sobrando no bromance do Winter e do Dante, eu decidi criar mais um irmão... Eu e as minhas amigas costumamos dividir os personagens (tipo... Jake é meu, Winter é da Luiza, etc etc etc. Coisa de doida :D), quando eu mostrei meu desenho de criação do Nero e disse que ele tava livre, quase rolou tapa pra ver quem ficava com ele! E pelo que conversei com algumas leitoras, a maioria gosta bastante dele. Isso que é um personagem que deu certo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Motsatt" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.