Era mais um dia como todos os outros dias. Eu continuava encarando o vidro embaçado da janela, esperando que as folhas das árvores lá fora chacoalhassem com o vento, mas isso não acontecia. O calor seguia drenando toda e qualquer vontade que eu sentia de existir. Como se o calor fosse o pior dos meus problemas...
As coisas pareciam apagadas e sem graça. Já fazia quanto tempo, agora? A pergunta era retórica, pois eu sabia quanto tempo fazia. Por mais que eu não percebesse o passar dos dias, eu sabia exatamente quanto tempo fazia. Um ano e dois dias. Talvez isso explicasse o motivo de estar me sentindo tão pior do que há uma ou duas semanas atrás.
Meus amigos já tinham desistido de mim. E eu não os culpava por isso. Nem sei dizer há quanto tempo não me encontrava com alguém, ou conversava com alguém sobre minha vida, ou sobre como havia sido meu dia. Tentaram ao máximo me levar para sair, conhecer outras pessoas, ver um pouco da vida lá fora... Mas a verdade mesmo, é que eu nem me esforcei muito.
Um ano. Quem diria. Não sabia dizer se era muito ou pouco tempo. Maldita teoria da relatividade. O que eu sabia é que naquele dia o clima não estava tão quente. Eu me lembraria, tenho certeza, assim como me lembro de cada detalhe do dia que mudaria para sempre a minha vida. Inocente, eu achava que tinha encontrado o amor da minha vida. Mas no final das contas, não passei de uma pagina em sua história.
E para mim, o livro tinha chegado ao final. Sem happy end, nada de felizes para sempre.
Reinava em meu íntimo a mais absoluta certeza de que nenhum homem na face da Terra me faria feliz como aquele infeliz havia feito um dia. Então, tomei a decisão mais sábia e lógica que qualquer pessoa tomaria nesse momento: se eu não podia ser feliz no amor, dedicaria todo o tempo que me restava a estudar. E seria uma profissional brilhante e de sucesso.
Não me entendam mal, não é como se eu vivesse em função de um cara, mesmo que fosse o cara. Tinha meus planos e objetivos, mas equilibrava as coisas. E agora que não havia mais uma contraparte, só me restava uma direção a seguir.
Mas obviamente, isso também não estava dando muito certo.
Pois cá estava eu, prestando mais atenção nas árvores lá fora do que no professor. Como se fosse possível prestar atenção em qualquer coisa com esse calor... Eu ouvia sua voz longe, como numa estação AM no rádio. Às vezes uma ou outra palavra era processada pelo meu cérebro, mas a maioria parecia apenas dançar no ar.
Talvez eu devesse cochilar um pouco. A noite tinha sido dura, perdi o sono e dormi mal, nem sabia de onde tinham tirado forças para me levantar da cama de manhã e vir para a aula.
Pois cá estava eu, prestes a fechar os olhos. Quando ele entrou.