Um Romance Surreal escrita por Aika


Capítulo 1
XO


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura povinho, se alguém por um acaso conhece os personagens, o que eu acho difícil, saibam que eu tive permissão para escrever isso!



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Três meses. Três meses que não nos falamos, ou seja, desde que eu comecei a namorar. Ele sabia o que eu sentia por ele, eu sabia o que ele sentia por mim. Mas não era o bastante, eu precisava de alguém que me desse confiança, que eu sentisse que dessa vez era pra valer, e ele não podia me dar isso. Ele morava em Brasília, eu em São Paulo. Ele tinha 22 anos, e eu 16. Conversávamos apenas pelo facebook e wpp, nunca nos vimos pessoalmente... Quais as chances de dar certo? Mas a gente se conhecia há quase um ano.

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Your love is bright as ever
Even in the shadows
Baby, kiss me
Before they turn the lights out

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Começou numa terça-feira, agosto, quando minha amiga pediu para eu ver o cover de um cara no youtube. Me interessei e comecei a ver os seus outros vídeos, dentre elas algumas originais. Percebi que ele tinha sotaque e que tinha também o seu facebook na parte inferior do vídeo, adicionei ele e perguntei se era mineiro, ele respondeu que sim.

Normalmente a conversa se encerraria ali, mas aí achamos assuntos em comum, continuamos trocando mensagens e não demorou para trocarmos números de celular. Continuamos conversando, viramos amigos, trocávamos textos.

Um dia ele se declarou, eu me declarei. Mas ele continuava lá e eu aqui. Seria egoísmo pedir que se mudasse para SP apenas por um capricho meu, fora que minha mãe não iria permitir. E então, na mesma época, um amigo meu se declarou e eu aceitei.

Afinal, por que não? Eu não podia ficar me iludindo a vida inteira, e não conseguiria suportar essa coisa de conservar com ele uma madrugada e depois ficar quatro dias, uma semana ou até duas, sem notícias dele pra vida inteira. Eu sou uma adolescente, tenho uma vida pela frente!

Falei com ele como quem termina um namoro. Ele me desejou felicidades, mas que não podia torcer para dar certo, e eu entendi. Prometemos continuar a amizade, mas desde aquela conversa não nos falamos mais. Eu não entendia por que ele sumia do nada, mas naquela mesma conversa ele me contou o motivo. Trabalhava em dobro pra poder conseguir passar um tempo em SP e me ver pessoalmente.

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Your heart is glowing
And I'm crashing into you
Baby, kiss me, kiss me

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Me senti horrível por isso, mas durou pouco. Como eu ia imaginar isso?! Não sou adivinha, por favor.

- Anne, que bom que chegou. Preciso te contar uma coisa. – Ela colocou a mochila sobre a mesa e se virou para conversar comigo.

- O que foi? – Estava curiosa.

- Sábado o Hélio leu as minhas mensagem antigas – Pois eu não falava mais com o ser. – Com o Kel.

Ela ficou surpresa.

- E ai?

- A gente discutiu, como “E ai?”! – Acabei rindo. – Ele fez mó drama e...

- Espera. Como ele pegou o seu celular?

- Ah, bom... Ele perguntou se podia ver o meu celular e, como não vi nada demais e também não me lembrei das mensagens, deixei.

- Aline! Como você esquece um negócio desses?

- Ain para, não briga comigo. – Faz bico.

- Tá, continua.

- Então, ai ele se levantou, porque a gente tava no sofá, e eu segui ele. A gente foi pro meu quarto e ele perguntou quem era Kelvin, eu respondi e tals.

“Depois ele começou a falar que eu não amava ele, e sim o Kelvin. E eu dizia que amava ele sim. Depois ele começou a chorar e começamos tudo de novo.

°°°

-Aline, tá na cara que você ama ele, e não eu. – Falou firme, mesmo que algumas lágrimas ameaçassem cair.

-Hélio, tenha dó! Eu estou com você agora, e quem sabe sobre os meus sentimentos sou eu. – Falei calma. “Tá, talvez eu não tenha tanto conhecimento sobre os meus sentimentos assim, mas.” Pensei comigo.

- Aline, acho melhor a gente terminar. – E ele estava chorando.

- O quê?

Ele não falou nada, simplesmente saiu da minha casa. Eu segui ele até o portão e segurei ele na parede pelos braços.

- Você não pode ir embora assim! – Exclamei. Ele não disse nada, apenas virou o rosto. – Hélio.

- Que foi?

Toquei seu rosto com uma das mãos, o fazendo olhar para mim. Beijei ele, esperando que isso amenizasse um pouco as coisas, mas ele apenas continuou ali. Parado, inerte.

Começou a chover e ele voltou pra casa andando, na chuva, sem guarda-chuva.

°°°

- Espera, quando você disse que não amava o Kelvin, estava querendo enganar ele ou a si mesma?

- Continuando. O Hélio saiu de casa, mas estava chovendo e eu pedi pra ele ficar.

- E...?

- Ele acabou indo embora na chuva mesmo.

Eu contando a história agora parecia engraçada, mas na hora foi bem triste. Terminei os detalhes, que não vejo necessidade em relatar aqui, e depois de algumas interrupções concluí.

- Ele leu a mensagem em que vocês se declaravam? Mas vocês não terminaram e, provavelmente, a confiança se esvaiu.

- Sim...

- E o que você pretende fazer?

- Nada.

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Before they turn the lights out
Before they turn the lights out
Baby, love me lights out

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Embora eu tenha dito aquilo, nós acabamos terminando um mês depois, e logo em seguida recebi uma mensagem no celular. Era do Kelvin.

Na mensagem ele perguntava como eu estava, se tinha novidades e que estava com saudades. Por um instante, apenas um segundo, achei estar sonhando, pois eram 2h46min. Quando vi que era verdade, prontamente respondi a mensagem; apagando e reescrevendo umas três vezes até encontrar algo decente e não muito desesperado para enviar a ele.

Essa foi a primeira troca de mensagens em três meses, colocamos o papo em dia, contei-lhe a novidade sore o meu término e ele me jogou a bomba de que estava vindo para São Paulo.

“Semana que vem estou em São Paulo, se vira e vem me ver.”

E essa foi a frase responsável por virar meu mundo de ponta cabeça, que me fez pular de alegria e depois tudo voltou ao normal, e além de tudo isso consegui uma entrevista de emprego.

Como assim? Ainda não tinha caído a ficha de que aquilo realmente estava acontecendo, tudo bem, ele ia passar só uma temporada, mas mesmo assim!

Respondi: “Quando? Onde? Como assim?”

Ele riu e me explicou que viria com um amigo para fazer não sei o que aqui, não deve ser tão importante pra mim, e que eu iria encontrar ele quinta-feira naquele metrô do qual não lembro o nome, mas que fica na linha vermelha. Ou seria amarela?

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In the darkest night, I'll
I'll search through the crowd
Your face is all that I see
I'll give you everything
Baby, love me lights out
Baby, love me lights out

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Saí do vagão às pressas, não daria tempo de enviar uma mensagem. Subi as escadas e em uma das curvas esbarrei em alguém.

-D-Descul... – Era ele.

Nos abraçamos ali mesmo, abria a boca para falar algo, mas não tinha o que falar e eu não queria estragar o momento, seria a minha cara.

Aquela não era uma situação que se pode falar “Oi, tudo bem?” ou algo do gênero. Eu já o tinha visto nos vídeos, mas agora era diferente. Ele estava ali na minha frente, me abraçando.

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In the darkest night, I'll
I'll search through the crowd
Your face is all that I see
I'll give you everything
Baby, love me lights out
Baby, love me lights out

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-Você é real... – Foi a primeira coisa que eu disse.

-E você é do jeito que eu imaginava. – Nos olhamos por vários segundos.

-Você também.

O amigo dele – do qual não me lembro o nome – passou ali falando tchau e seguiu caminho.

Subimos o último lance de escadas e depois andamos até a escada-rolante.

-Posso te beijar? – Ele perguntou

Estávamos na escada-rolante, se ele me beijasse e a escada acabasse, iriamos cair.

-Não, porque a escada vai acabar.

Acabei rindo do que eu falei, na minha cabeça a lógica tava certa, porque era verdade.

Paramos em uma praça onde tinham vários bancos ao redor de uma fonte, e vários casais apaixonados se beijando. Nos sentamos no degrau de uma escada e ficamos ali conversando.

Falamos sobre amenidades, logo daria o horário de eu voltar pra casa, caso contrário minha mãe poderia descobrir. O quê? Eu não ia contar pra ela que iria me encontrar com um desconhecido. Você faria a mesma coisa no meu lugar, okay?

Em dado momento um silêncio gostoso pairou ali, trocávamos olhares e ele acariciava minha mão com o polegar. Eu devia estar sorrindo feito uma boba apaixonada, que na realidade é o que eu era naquele instante.

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I love you like XO
You love me like XO
You kill me, girl, XO
You love me like XO

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- Agora eu posso te beijar? – Perguntou, um sorriso ameno brincando em seus lábios.

- Pode.

Ele me olhou, contornando meus lábios com o dedo, e me beijou. Fechei os olhos, aproveitando todas as sensações que aquele beijo causava em meu corpo, cada reação. Ele ainda tocava meu rosto com a mão, fazendo um carinho suave com o polegar. Contornei seu pescoço com os braços, puxando-lhe os fios ligeiramente compridos na nuca. Ele segurava minha cintura com a outra mão, meio possessivo, meio protetor.

Apartamos o beijo com selinhos demorados, ambos recuperando o ar. Sentia meu coração aos pulos, minha mente com os pensamentos à mil e o sorriso fraco nos lábios. Encostamos as testas, ele estava me olhando, mas eu permanecia com os olhos fechados.

Depois disso voltamos para o metrô, ele com o braço nos meus ombros e eu encostada a ele. Ri de alguma coisa que ele falou e logo nos despedimos.

Quando cheguei em casa, ela estava vazia. Suspirei aliviada e fui pro meu quarto, que dividia com o meu irmão mais velho, e me deitei na cama.

Na manhã seguinte voltamos a nos falar por mensagens, e na semana seguinte ele já estava voltando para Brasília. Comecei a trabalhar e por isso não conseguimos nos despedir, mas o homem inventou as Promessas.

“Desculpa não consegui te ver antes de você ir.” Mandei para ele.

“Tudo bem, teremos outras oportunidades. Ps: Adorei poder conseguir te conhecer novamente.” Sorri com a sua mensagem.

Continuamos conversando, ele lá e eu aqui. Pensei que, agora que já nos vimos pessoalmente, a saudade bateria bem mais forte, mas me enganei. Não sei exatamente o porquê, mas antes a saudade era bem maior. Agora, bom... Agora eu já não fico com o Kelvin 24h por dia na cabeça.

Ainda fiquei me lembrando daquele nosso encontro por vários dias. Minha vida voltou ao seu curso normal, até porque o quê aquele encontro mudaria nela?! Enfim.

Eu sempre quis poder te tocar, te abraçar... Sentir o teu perfume. Aliás, você é um moço bem cheiroso, sabia? Mas se eu soubesse que depois a coisas mudariam entre nós...

Não sei o que o futuro me reserva, e tampouco sei se quero saber. Um dia ele volta, ou talvez não, e quem sabe quando eu me formar, eu não resolva mudar de Estado? São tantas possibilidades e caminhos diferentes... Mas por enquanto eu quero conseguir viver cada momento, sem ficar me preocupando com problemas que podem nem vir a acontecer ou alimentar esperanças de algo que pode ou não dar certo.


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