Against The Death escrita por Chisana Rumiko, Koyama Akira


Capítulo 6
Johann Heffman




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Eu limpei o suor da testa com os dedos e finalmente encostei no banco do carona, respirei fundo e se seguiu um suspiro, o vento entrava pela janela da frente e batia no meu rosto, já fazia algum tempo que não sentia uma brisa tão refrescante. Fechei os olhos para aproveitar o tempo, pois eu havia trocado de lugar com a Samantha, mas acabei caindo no sono.

– Pai, você vai voltar pro natal?

– Não querida, vou estar em Boston ainda, mas quando eu retornar, vamos no seu café predileto.

– Você não vai voltar não é papai? Você vai encontrar com a mamãe, não vai?! Eu queria ir com você ver a mamãe! Ela morreu por sua culpa.

A voz começava a se repetir de forma macabra “Não vai papai?!”

Meus olhos se abriram e eu percebi que não estava respirando direito, aspirei rapidamente o ar com força para dentro dos meus pulmões e senti que minhas costas já não estavam mais encostadas no banco. Um pesadelo. Limpei mais uma vez o suor do meu rosto, mas agora, parecia que eu havia corrido uma maratona.

– O que houve Joe? – Eu já havia me esquecido que a Sam estava dirigindo.

– Nada demais garota. Um sonho ruim, continua de olho na pista.

– Não custa nada perguntar. E pra sua informação “senhor general” – senti a ironia em sua voz. – Chegamos na casa do avô da Avery.

– Maravilha... – Abri a porta. – Vamos salvar o velho e sair dessa cidade amaldiçoada.

Desci do carro e a garota me seguiu fazendo o mesmo, estacionados a nossa frente estavam Alex, Adam, Avery e Natasha. Eu estava feliz pela garotinha estar bem, mas talvez não tenha transparecido isso muito. A rua estava vazia, parecia até um dia calmo, como se não houvessem demônios carnívoros querendo nos devorar a cada esquina. Subi os degraus com Adam atrás de mim, como da outra vez, os outros ficaram de fora, especialmente Avery e Natasha, a russa machucou a perna com a explosão, provavelmente eu caí por cima dela, mas tenho quase certeza que vai ficar tudo bem, mesmo não sendo o cara mais positivo do mundo.

Girei a maçaneta e a porta se abriu, acho que o velho não havia se preocupado de trancar da vez que eu arrombei. A casa estava quieta como da ultima vez, mas agora, estava mais assustadora que o normal, um calafrio percorreu a minha espinha, mas mantive a postura. Suspirei de leve.

– Adam... – Nós por mais que tenhamos feito as pazes, estávamos nos sentindo um tanto incômodos com a presença um do outro. – Veja o andar de cima, eu procuro por cá, mas seja cauteloso, se vir “algo”, mate de forma sutil.

Ele assentiu e subiu os degraus para a parte superior, eu segui pelo corredor que dava para uma sala de jantar, o corredor era decorado com uma velha estante de madeira rustica com uns quadros de família e pratos de porcelana. Duas fotos em especial me chamaram atenção, uma antiga, do que parecia ser o avô da Avery e sua esposa, e outra mais recente que parecia o pai – Anthony Wilkens – e a mãe da Avery juntos. Eu limpei a foto mais antiga com o polegar para poder enxergar melhor, mas quando ia focar os olhos na esposa do velho.

– JOE! SOBE AQUI!

Era a voz do Adam... Droga garoto o que eu disse sobre ser sutil?! Subi as escadas correndo, para o Adam gritar desse jeito, só podia ser um problema, e dos grandes. Cheguei um pouco ofegante na porta do quarto onde ele estava.

– O que houve pirralho?! – Falei tentando não parecer exaltado.

Mas não precisei esperar a resposta, o velho Carter Wilkens estava sentado na cadeira de canto do quarto dele, com uma espingarda apontando para sua boca, sua camisa estava empapada de suor, mas graças ao senhor ele estava respirando.

– Por Deus, Carter, solte essa arma. – Meu tom estava mais autoritário do que dócil. O que fez Adam me repreender com o olhar. – Você tem uma neta, e ela precisa do avô dela. – Corrigi o meu tom de voz e o Adam tirou os olhos de mim, focando diretamente em Carter.

– O Joe tem razão, não vale a pena tirar sua própria vida, sua neta precisa de você.

Enquanto o Adam tentava chegar à um acordo com o velhote, eu consegui ver um cadáver atrás da cama de casal que ocupava o quarto, seu corpo estava escondido, mas seu rosto estava virado para mim. Era o rapaz da foto, Anthony.

– Adam... Para. – Adam olhou para mim, como se não estivesse entendendo nada, mas foi só um olhar para apontar o que estava acontecendo. O garoto tinha entendido. – Carter. Eu sei que é difícil perder o filho para um mundo que já não reconhecemos mais. – Lágrimas escorriam de seu rosto, mas o cano de metal continuava em sua boca. – Mas eu sei que muitas vezes a dor é tão grande, que o melhor jeito de suavizá-la é a mais rápida... Posso te garantir, você não vai sentir nada. Mas também, não vai se permitir melhorar o que aconteceu, apenas vai causar a mesma dor para quem te ama.

Eu disse com o tom casualmente frio, mas Adam não me repreendeu, parecia concordar com o que eu dizia. Quando eu estava prestes a continuar, consegui ouvir passos ligeiros subindo as escadas, atrás das minhas pernas estava Avery, olhando para o avô que estava prestes a tirar a própria vida.

– Viva o suficiente para que tenha uma morte gloriosa Carter. – Eu disse empurrando a cabeça de Avery cuidadosamente para frente, para que ela fosse para perto do avô. – Você é o único que faz o coração dessa garota continuar batendo e acredito que ela faz o mesmo por você.

Ele soltou a arma, fazendo esta por sua vez, bater no taco do piso, enquanto estendia os braços para sua neta. Eu e o Adam os deixamos a sós por um tempo e descemos para a cozinha onde todos nos conhecemos naquele dia.

– Foi bonito o que disse lá em cima Joe. – Adam cortou o silencio abrindo os armários em busca de algum alimento que ainda não houvéssemos pego. – Parece ter experiência com suicidas.

– Na verdade não... – Percebi um pouco de surpresa da parte do mais novo. – Eu sou pai também, só isso.

Adam parou de revistar os armários e se virou instantaneamente para mim.

– Você tem uma filha? – Ele tentou controlar o tom, mas mesmo assim parecia incrédulo.

– É garoto, eu acho que é esse o significado de “pai” – Ironizei para ficar menos tenso com a surpresa dele.

– É meio surpreendente pra mim, foi mal, mas, você não parece um cara de muitos amigos, ou sei lá... Família.

Eu talvez tenha me sentido só um pouquinho ofendido com o que o Adam disse, mas mesmo que eu quisesse retrucar, teria sido interrompido pelos passos de Carter e Avery no assoalho.

– Estamos prontos agora general. – O velho de cabelos brancos se dirigiu a mim enquanto dava a mão para sua neta. – Podemos ir.

Adam olhou para mim como se nossa conversa houvesse terminado, ou até como se nunca tivesse existido um diálogo ali. Seguiu na frente e abriu a porta como se fosse sua casa.

– Ótimo, não vamos esperar mais, pode ser que algum errante esteja vindo nessa direção.

Eu dirigi o olhar para ele.

– Errante?

– Eu vi em uma série, mas é só pelo caso desse estar só passeando pela vizinhança e decidir nos cumprimentar.

Eu ri um pouco abafado e segui depois dos três, mas antes, peguei a foto de casal do Carter.

Depois de descer a escada da entrada, cada um entrou em seus respectivos carros, Alex estava com o Adam, Natasha e o que restou da família Wilkens, pois esse era mais espaçoso. Eu estava na viatura com a Samantha, mas era assim que eu me sentia mais confortável, quanto menos pessoas, melhor. Dei a partida no carro e logo o ponteiro do tanque piscou uma fraca luz vermelha, parecia que o combustível estava quase zerado. Andei com o carro para o lado do que estavam os outros.

– Meu tanque está quase vazio, Carter, você tem ideia de onde fica o posto de gasolina mais próximo?

– Umas quatro ou cinco quadras daqui. – Ele respondeu direto do banco de trás. – Eu vou indicar o caminho para o rapaz e vocês nos seguem.

Eu fiz que sim com a cabeça e eles tomaram a frente, pisei de leve no acelerador para acompanha-los.

– Então?! – Ouvi a voz feminina do meu lado, apoiando o cotovelo na janela semiaberta.

– Então o que? – Eu disse com o tom áspero de sempre.

– Não vai me contar sobre o que foi o pesadelo? – Ela disse com uma voz suave e que me prendeu, tão suave quanto o toque dócil em minha mão. – Sei lá, esse tempo a sós pode ser que nem aquele no apartamento no centro de Boston, para conversarmos e tal, nos conhecermos.

Eu olhei para os dedos delicados sobre a minha mão calejada e grande que se mantinha firme sobre a direção, eu precisava me concentrar, olhei para frente tentando manter os pensamentos em ordem, mas quando tirei os olhos de sua mão ela bufou tirando o toque de mim. Mas não foi algo como raiva ou desdém, foi um sentimento mais como angustia.

– Eu tenho que me manter firme. - Ela olhou para mim, consegui enxergar pelo canto do olho. – Firme pelo grupo... Firme por mim mesmo... Firme pelo meu orgulho.... Firme por você. – Ela pareceu estar surpresa, mas eu apressei a dizer a última frase. – Firme pela minha filha.

Dessa vez eu senti o olhar pesar sobre mim como halteres.

– Filha? – Ela não fez questão de esconder o tom de surpresa.

– Por que vocês não acreditam no fato de eu ter uma filha?! – Fiquei indignado. – Não sou tão velho assim.

– Não é isso, só parece que você não é o tipo de cara que constitui uma família.

A mesma frase que o Adam havia me dito alguns momentos atrás.

– O que te faz pensar isso? – Abaixei o tom, deixando-o mais suave, a garota parecia surpresa.

– Ah... Ah – Ela gaguejou um pouco. – Não sei Joe, você parece muito autossuficiente, sempre passa a ideia que pessoas atrapalham mais que ajudam, por que você teria uma filha?! Entende?

Eu suspirei segurando o volante mais forte, o suficiente até os nós dos meus dedos ficarem brancos, mas fechei os olhos e relaxei.

– Entendo sim. – Fui breve.

– Mas, eu posso estar enganada pelo que sei de você... Não é?!

O carro da frente parou, tínhamos chegado ao posto, a pergunta da garota martelou a minha cabeça forte o suficiente para me fazer fechar os olhos. Dirigi o carro e estacionei do lado da bomba de gasolina. Não demorei em descer do automóvel, deixei o tanque enchendo e fui falar com o Adam.

– Estão todos bem aí? – Eu fechei os olhos novamente tentando me acalmar, aquele breve dialogo me deixou mais tenso do que eu imaginava. Baguncei o cabelo com uma das mãos e foquei em Adam. – Tudo em ordem?

– Tudo certo, a Nat deve ter dado um jeito na perna, mas não foi nada sério, o Carter, Avery e Alex parecem até que não estão vivendo em um apocalipse. – Ele olhou para mim nos olhos. – Mas parece que você não está tão bem não é velhote?

O tom de voz do Adam estava mais “preocupado” que irônico.

– Não precisa se preocupar comigo garoto. – Eu olhei em volta para me situar. – Eu sei me cuidar.

– Percebo... – Ele olhou para o curativo que ele mesmo havia feito no meu braço quando fui baleado. Agora sim, o velho tom irônico do pirralho atrevido. – Mas e a Sammy, ela ‘ta’ bem? – o seu tom parecia muito mais preocupado agora.

– Não viu ela quando saiu do carro garoto? Tirando as olheiras e a má alimentação ela está do mesmo jeito que a “deixamos” – Disse me apoiando na janela do carro.

– Não é disso que estou falando. – Ele olhou para mim mais compenetrado e um tanto mais sério. – Samantha é muito doce, doce demais para uma situação como essa, para o que estamos vivendo, você e eu podemos estar pensando em sobreviver, mas ela não esquece dos nossos sentimentos, talvez isso seja bom, ou talvez seja o caminho para a nossa morte... Mas querendo ou não, isso nela, é algo para se ter cuidado, para ser tratado com cuidado... – Ele suspirou para tentar ficar menos sério. – Só brigue comigo, se tiver que descarregar a raiva em alguém, faça isso em mim... Eu entendo você, mas ela pode interpretar de outra forma...

Ele estava prestes a continuar, mas consegui ouvir a voz da garota me chamando atrás do carro.

– Você vai entender

Adam falou, desviando o olhar de mim com o ar de superioridade que ele sempre passa. Eu me dirigi para trás do carro.

– O tanque está cheio. – Ela me alertou.

Eu desliguei a bomba e guardei o cano sem cruzar o olhar com o dela.

– O que você quis dizer com “ficar firme por mim?”

Eu me virei de costas sem dizer uma palavra, para voltar para o grupo. Mas ela me deteve, sua mão segurou a manga da minha camisa e me empurrou contra o carro, não foi tão forte, ela nunca teria força para isso, mas eu realmente não esperava.

– Joe... – Ela olhou fixo para mim e eu senti quase que algumas palavras escapando da minha garganta.

Segurei firme seu pulso, e afastei ela de mim.

– Nunca mais toque em mim de novo. – Seus olhos mostravam o espanto, e os meus pulsavam, como o resto do meu corpo, mas não de uma forma boa.

– General. – Era o velho Carter, o susto que eu tomei me fez soltar o braço da garota imediatamente. – Temos que resolver o que vamos fazer imediatamente.

Eu estava tentando acalmar a voz, mas a minha aparência era como se nada houvesse acontecido, apesar de Sam me olhar como se não me reconhecesse. Eu me retirei dali acompanhando o de cabelos brancos.

– Primeiramente não me chame de general, meu nome é Joe. – Eu fiz a introdução de sempre, enquanto nos aproximávamos dos demais. – Eu pensei um pouco enquanto estávamos no posto policial e cheguei a uma conclusão. – A medida que eu falava, Samantha vinha se aproximando com a cabeça levemente baixa, mais pensativa do que triste. Pelo menos era o que eu gostava de acreditar. – E como um general de operações táticas, se eu comandasse um país e este país estivesse sendo invadido por criaturas endiabradas, eu evacuaria toda a área, visando proteger a maior quantidade de indivíduos, claro que feito isso, não mediria esforços para detonar toda a área infestada por esses filhos da puta.

Os demais me olharam um tanto impressionados com exceção de Adam, porque, bem... É o Adam e a garotinha, que ainda parecia ter uma expressão pesada em seu rosto, mas eu continuei, tentando não perder o foco.

– O que me preocupa, meus companheiros de apocalipse, é que com algumas semanas de infestação que possivelmente tomou conta de todo o estado de Massachusetts, o governo não tenha mais esperanças em procurar por sobreviventes... Sabem como é “Matar alguns, para salvar muitos” e se tudo estiver ocorrendo como eu imagino, temos que sair do estado o mais rápido que nos for possível, e chegar em Washington D.C.

Eu tentei passar uma voz calma para que ninguém levasse aquele plano como um acesso de loucura que eu tive.

– Você tá louco?! – Mas sem sucesso. – Não temos combustível suficiente pra chegar nem em Nova York, quanto mais Washington, fora que nem sabemos como está lá fora.

Os argumentos de Adam eram bons, mas eu duvido que ele pensasse em algo melhor.

– Tem algum plano melhor gênio?

Senti o olhar de escárnio sobre mim, mas ele sabia que esse era o melhor plano até agora, eu sorri de volta um tanto sarcástico.

– Eu tenho. – Ouvi a voz feminina familiar de sempre. – Podemos ir para Hartford.

– Hartford?! Mas isso fica em Connecticut. Se bombardearem Massachusetts pode afetar a cidade, no mínimo vão evacuar o perímetro, por pelo menos alguns dias para evitar problemas.

Eu disse tentando não me alterar.

– É, mas se formos para Hartford, podemos ver como está a situação fora do estado, se a cidade estiver isolada podemos seguir para Washington, se não, posso usar o laboratório da universidade para fazer um estudo sobre a doença, posso ver o que deu errado, e talvez por meio disso... – Ela pensou um pouco antes de prosseguir. – Criar uma cura.

– Todos estão mortos Sam – Natasha levantou a voz. – Não há o que possamos fazer para trazê-los a vida, teríamos que estudar muito os corpos deles para saber que momento poderíamos reverter a situação, não quando tudo já está feito, se está transformado, já era, parta pra outra. – Natasha não estava querendo ser má, só estava sendo realista. – E se Hartford não estiver evacuada, talvez seja um problema maior do que se ela estivesse.

Tudo que Natasha falou era verdade, cada ponto e cada virgula, eu realmente estava impressionado. Mas não posso negar que a ideia da garotinha era boa.

– Façamos o seguinte... – Adam se pronunciou. – Se Hartford não estiver evacuada, podemos tentar pesquisar nos laboratórios da universidade e o general pode ligar para Washington informar a situação para que fiquem cientes, apesar de eu achar muito improvável que eles já não estejam. Mas, por outro lado, se a profecia do Joe se realizar e todos tiverem saído de mala e cuia, é melhor nós corrermos... Rápido o suficiente para conseguirmos ficar longe do raio de explosão.

Todos paramos e nos olhamos um pouco, considerando em nossas mente o que estava acontecendo, era realmente a terceira guerra mundial.

– Não podemos ficar aqui! – Eu ouvi uma voz fina e infantil, mas bem decidida. – Temos que ir pro shopping!

Me segurei para não rir e acho que o Adam fez o mesmo, mas acho que minhas bochechas ficaram vermelhas com o esforço.

– Não é vovô Joe?! – Ela olhou para mim esperando uma resposta.

– Por que você quer ir pra lá? – Tentei falar como se estivesse debatendo com um adulto, não com uma pirralha de seis anos.

– Porque fica do lado de uma loja de departamento, a gente pode pegar o que for preciso na loja e depois tomar banho na fonte do shopping.

A pirralha teve uma excelente ideia, o que realmente me surpreendeu. Finalmente esse grupo está indo pra frente de alguma forma.

– Ok Avery, ótima ideia... – Olhei para o resto do grupo que parecia um pouco mais esperançoso agora. – Mas temos que levar em consideração, que estamos num apocalipse, existem concentrações de infectados em lugares específicos e acredito que no Shopping também tenha, como no posto policial, vamos ter que ter um plano B, para não nos arriscarmos, mas eu cuido disso. Vamos por agora apenas nos preocupar em ir.

Eu terminei a frase e cocei a cabeça, bati no carro onde o Alex estava e pedi que nos guiassem, e então entrei no carro, inesperadamente a garota veio comigo. Muito mais calada que o normal. Dei a partida e os seguimos. Alguns minutos se passaram e o silêncio tão tranquilizante que eu gostava estava se tornando incomodo.

– Por que está calada? – Eu consegui dizer.

– Não. Nada. – Ela foi breve.

– Se não fosse nada, você estaria me enchendo o saco com ironia e tudo que você sabe fazer de melhor pra me fazer rir. – Eu consegui ver um leve sorriso em seus lábios, mas logo voltaram para o lugar.

Eu lembrei das palavras que Adam disse no carro. Para ter cuidado com a Sam, não explodir com ela, sobre ela ser doce e ligar para os nossos sentimentos. Eu tinha que lembrar de mim também, eu precisava tomar cuidado para não me deixar levar por aquelas crianças. Tentava achar sempre alguma desculpa ou justificativa para ter agido daquele jeito com a Sam. Mas não consigo, não falo disso com ninguém. Não importa, eu tenho que me manter firme.

– Você não cansa?! – Eu ouvi a voz aparecer entre os meus pensamentos.

– Canso de que? – Respondi para a garota no banco do carona.

– De ficar firme. Um dia você pode não aguentar segurar tudo sobre os ombros, acho que ver tudo desmoronar de vez é pior. – Ela olhou para mim com um leve pesar, poderia tocar no meu ombro, mas recuou a mão. – Pense mais em você.

Eu suspirei com calma e tirei a mão direita do volante, puxei o braço dela e coloquei sua mão sobre o meu peito esquerdo. Foi então que ela se surpreendeu.

– Se não fosse pela minha preocupação, se não fosse pela minha... – Eu olhei rapidamente para sua mão. – Rigidez – consegui concluir. – eu não estaria mais aqui, do seu lado... Dirigindo esse carro e cuidando de vocês. Ela tirou delicadamente a mão do meu peito, mas os olhos continuavam em mim.

– A resposta é “sim” – Ela se encostou no banco.

– Sim o que? – Ela perguntou calma, ela sabia o que eu queria dizer com “sim” mas ouvir isso na minha voz, parecia ser mais convincente.

– Eu me canso.

Eu fechei aquele diálogo girando a chave do carro, tínhamos chegado numa rua larga e cheia de lojas, mas dois prédios altos chamavam a atenção, o shopping e a loja de departamento da rua principal, a rua seguia reta para a esquerda e para a direita, atravessando a pista estaríamos na loja, mas alguns corpos caminhavam ao longo da rua que virava a esquerda, e outros estavam perigosamente próximos das portas do shopping. Foi então que eu e a garota descemos do carro e fomos para o que os outros estavam.

– Não sei se vocês conseguem ver daí, mas tem alguns... – Eu cocei o nariz de leve e apontei com o mesmo dedo, mantendo o tom de voz calmo. – Infectados, eu vou tentar limpar a entrada para que eles não nos atrapalhem, porque mesmo estando na entrada do shopping, estão perto demais da loja de departamento. Fiquem dentro do carro e fechem os vidros.

Eu estava prestes a dar a s costas e me dirigir aos infectados, quando uma mão me deteve – Eu podia jurar que se mais alguém me segurasse daquele jeito, eu quebrava a mão do infeliz. – era o Adam, segurando minha camisa pela gola.

– Não tá achando que vai sozinho não é velhote?! – Adam sempre com aquele tom insolente que me irritava.

– É perigoso, você vai tomar conta do grupo enquanto eu faço isso. – Tentei me virar novamente, mas senti que suas mãos ainda estavam em mim. – Agora, me solte.

– Não. – Certo, isso me surpreendeu, mas eu o fitei sério como sempre faço. Ele sorriu. – Eu não vou cair nessa novamente Joe, acho bonitinho que você se preocupe comigo – mais uma bomba de ironia – mas, o Alex também é homem, também é esperto, pode tomar conta das nossas garotas e vovô... Eu vou com você.

Eu não gosto de confiar a segurança do grupo à um meio homem pacifista. Mas o Adam tinha razão, o Alex é um rapaz preocupado.

– Sai do carro, - Eu disse tirando a faca que estava guardada no meu ombro. – você cobre meu lado esquerdo e eu o seu direito.

Senti uma pontinha de felicidade no garoto, ele puxou o taco de baseball e me seguiu. Fomos andando silenciosamente pela rua, conseguindo ver a pista que cruzava horizontalmente, do início ao fim.

– Joe – Ele disse com a voz baixa. – A porta da loja de departamento está aberta.

Meu coração quase foi apara a boca, o que o pirralho atrevido queria dizer, era que se tinham infectados tão perto de lá, poderiam haver mais, dentro da loja.

– Não importa – tentei passar um ar de confiança – nada vai passar por nós dois.

Consegui ver de relance um sorriso aparecer no rosto do moreno. Agora tínhamos que ficar quietos e manter a calma, eram apenas quatro dessa vez, não pareciam que iam dar trabalho. Um estava com a cabeça encostada no muro emitindo gemidos fracos, consegui me aproximar e cravar a lâmina em sua têmpora. O garoto formou um quatro com os dedos e desceu um, algo como “um já foi, faltam três”. Eu dei um breve sorriso e ele continuou, levantou o taco sobre o ombro direito e se dirigiu para o que caminhava para a porta aberta, segurou firme o taco e acertou em cheio a parte posterior da cabeça do morto, ele caiu no asfalto quase que instantaneamente. Foi então que devolvi o sinal, fiz um “três” com os dedos e abaixei um “Dois já foram, faltam dois”. Os dois últimos estavam juntos, mas por sorte, de costas para nós. Eu fiz o sinal de avançar, com os dois dedos – indicador e do meio – apontando para a frente. Ele entendeu, agarrou o primeiro por trás com o taco e eu segurei o da frente enfiando o facão de baixo para cima, ele derrubou o infectado, e quando este estava para se levantar, foi pisoteado na nuca por Adam, até parar de se mover, a atitude do garoto mesmo devido às circunstâncias, me assombrou um pouco. Eu o segurei pelo ombro e apontei para a porta aberta com a faca, o moreno assentiu e nós seguimos na direção dela. Enquanto isso, o resto do grupo nos assistia.

– O que diabos aqueles dois estão fazendo? – Natasha disse se inclinando para frente, do banco de trás do carro.

– Provavelmente querendo se matar. – Alex disse num tom sério, chegando a ser quase másculo, talvez devido à preocupação.

– Ou querem limpar o caminho para nós. – Samantha tinha um tom calmo e despreocupado, mas no fundo eu sabia que ela estava temendo por nós... Ou melhor, pelo Adam.

– Eu não estou com medo vovô, - Avery disse para o avô que a abraçava. – O titio Adam e o vovô Joe, vão cuidar de tudo direitinho.

O avô sorriu, mas todos sabiam que o que eu e o garoto estávamos fazendo era mais perigoso do que parecia. Samantha entrou no carro e sentou no banco do carona, onde estava o Adam anteriormente, Natasha se apoiou nos dois bancos da frente e sussurrou de forma que só Alex e Sam ouvissem:

– Eu não sei vocês, - Ela os olhou individualmente. – Mas eu não confio naqueles dois fazendo tudo sozinhos.

Eu e o Adam adentramos o local, que ainda estava iluminado por algumas lâmpadas, apesar de sua maior parte estar queimada. Longas e altas estantes se estendiam pelos corredores, a maioria delas pareciam intocadas, não havia sangue no piso e o lugar realmente parecia estar vazio, até ouvirmos um barulho de lata cair no chão, conseguimos manter a calma e andamos até a última estante da esquerda, a lata ainda rolava no chão quando chegamos, mas quem a derrubou não estava mais lá. Ajeitei o cabo da faca em meus dedos e respirei fundo, sentia o suor sair frio de meus poros e o sangue pulsando em meus ouvidos, olhei rapidamente para o pirralho e percebi que estava suando também, apesar da postura firme e aparentemente destemida. - Estava começando a gostar daquele garoto. – Eu tentei manter os pés leves, mas as botas não ajudavam, fui me escorando pela estante, prestes a virar, mas ao fazê-lo, uma lâmina se virou contra mim, mas antes que eu reagisse ou tivesse minha carne rasgada por ela, consegui ver um vulto prateado voando na minha frente, o Adam com um golpe rápido conseguiu acertar com seu taco de baseball a mão do agressor, que com um urro de dor largou a faca imediatamente. – É, eu realmente estava começando a gostar do garoto – apesar de surpreendido, aquilo só me deixava mais irritado, eu soquei o rosto do homem, ele se desequilibrou, permitindo que eu o derrubasse, sentei sobre seu abdômen e puxei a gola de sua camisa para ver seu rosto.

– Joe... – Adam falou tentando me advertir, mas hesitou.

Voltei meus olhos novamente para o homem loiro.

– Continua com um ótimo direto de esquerda senhor. – Eu reconheceria aquela voz em qualquer maldito lugar na mesma hora.

Eu acabara de socar o rosto do meu subordinado e melhor amigo, Maxwell Greene. Eu o puxei pela jaqueta do exército que só agora havia percebido e nos abraçamos como a muito tempo não fazíamos. Ele soltou um gemido e logo estranhei, afastei seu corpo do meu e consegui enxergar uma mancha do lado esquerdo da barriga que estava escondida sob a roupa, levantei o tecido e a visão era clara, um machucado muito profundo, que não parecia ter sido feito por faca nem bala nem munição alguma que eu conhecesse.

– Max... – Minha voz falhou levemente, mas eu consegui me recompor. – O que foi isso?

Ele sorriu para mim, estávamos ajoelhados na última sessão da esquerda, naquela enorme loja de departamento. Ele segurou meu pescoço bem firme, com a mão tão áspera quanto a minha.

– Eu estava com o resto do grupo, Tob e Victoria ainda estão vivos, pelo menos é no que acredito... – Ele tentou disfarçar a dor com uma leve piscada e um sorriso amigo, como só o próprio Max sabe fazer – E são em minhas humildes palavras que dei a vida por eles...

– Do que você tá falando?! ... – Eu o interrompi com a voz um pouco mais fraca que antes, vamos Joe, se recomponha. – É um corte fundo, mas você já sobreviveu a coisas piores.

Ele sacudiu a cabeça negativamente e o sorriso que eu achava que nunca deixaria seu rosto, finalmente o fez, fez como se sua alma nunca estivesse ali.

– Joe... – Ele fitou o chão um pouco nostálgico. – Eu ia me casar quando voltássemos para Warwick, ia ser uma surpresa. Se conseguir voltar para a Inglaterra, diga a ela o que aconteceu. Ela está na minha casa, cuidando enquanto estou fora.

– Ela deve ser uma mulher incrível. – Eu tentei sorrir, sabia o que aconteceu, mas eu não acreditava, não podia ser aquilo. Tudo menos aquilo. – Vamos, eu vou levar você de volta para sua casa, encontraremos Tob e Vick e assistiremos ao seu casamento.

Ele deu outro sorriso breve e guardou sua faca.

– Joe, acho que ambos sabemos o que aconteceu aqui.

– Não... – Eu neguei bruscamente com a cabeça e minha voz assumiu um tom firme e mais agressivo do que eu gostaria – Esse garoto é médico e....

Ele me interrompeu enquanto apontava para Adam, quebrando meu tom áspero com sua voz calma.

– General... – Ele abaixou meu braço – você vive dizendo que todos tem que morrer de forma gloriosa, ter um motivo bom para morrer... Nunca se deixar abater por qualquer coisa. Eu estou aqui, de joelhos para você, meu melhor amigo e mentor, estou aqui, de joelhos esperando minha morte gloriosa.

Eu me levantei, não podia acreditar no que ele estava pedindo.

– Eu fui infectado por um daqueles filhos da puta, e eu, vou morrer do jeito que eu me conheço Joe.

Ao terminar a frase, ele deixou relutante que uma lágrima escapasse de seus olhos. Seria mais que justo se fosse cumprido o desejo dele, mas eu, eu não seria capaz de matar o meu melhor amigo. Eu posso ter visto pessoas morrerem, muitas delas podem ter sido minhas amigas, e o maior culpado poderia ter sido eu, mas nunca tive o peso tão certo da morte de alguém que eu amasse de verdade sobre os meus ombros.

Mas aquilo havia de ser feito. O olhar de Adam tentava me reconfortar, ele parecia estar tomando minha dor para si, em qualquer momento eu poderia aprecia isso, mas tudo que eu queria, era não ter de fazer aquilo.
Firmei o facão em meu punho e me aproximei ainda de pé. Ele olhou pra cima e sorriu, um sorriso verdadeiro, igual ao que ele deu depois de uma operação bem sucedida que tivemos, estávamos voltando de helicóptero quando ele disse “É a primeira vez que não ‘morro’ em uma missão”, chegamos na base sem complicações, ele não estava feliz por ter voltado vivo, ou por nenhum de nós ter morrido, mas sim, pois salvamos uma idosa, uma idosa, que estava sendo levada por uma enchente, ela disse que sua casa havia sido levada pela correnteza, e que cuidava de sua neta, que estava no colégio localizado a alguns quilômetros dali, a garotinha estava com nove anos na época e sem a avó, não teria ninguém. Nunca vi o Max tão feliz quanto naquele diz. Aquele sorriso era mais uma advertência “Seja firme Joe”. Eu cravei a lâmina em seu coração e empurrei, mas aquele movimento tão simples ao qual já estava tão habituado, ficou mais pesado que qualquer coisa que eu já tenha carregado. Ele soltou todo o ar de dentro dos seus pulmões, ao ouvir aquele som, sem pensar e sem hesitar, um líquido quente tomou conta do meu rosto, eu chorava sem sentir que estava chorando, tirei a lâmina de seu peito e então, o corpo sem vida de Maxwell Greene tombou no chão. Eu não conseguia tirar os olhos dele e as lágrimas pareciam me castigar, descendo incessantemente em meu rosto, meus joelhos falharam e foi quando os senti tocarem o chão, voltando a posição anterior. Adam correu para a minha frente e tentou dizer coisas que me tranquilizassem, mas eu não conseguia ouvir sequer uma palavra. Eu acabara de tirar a vida do meu melhor amigo.

Pés faziam o som de passos no piso liso e branco do ambiente climatizado. Eu não consegui me mover nem raciocinar de imediato, até ouvir a voz do Adam:

– Nat?!

Meu sangue esquentou imediatamente, “Fiquem no carro” por que não conseguiam obedecer uma maldita ordem?! Eu levantava do chão aos poucos ainda de costas para a Russa, as lágrimas em meu rosto já estavam praticamente secas, a faca ainda com sangue assim como as minhas mãos, minha respiração pesava e um nó parecia ter se formado em minha garganta, todos os meus músculos estavam tencionados, eu sabia que aquilo não ia acabar bem.

– EU MANDEI FICAREM NA PORRA DO CARRO! – Eu virei para Natasha, que estava acompanhada de Alex, Samantha, Carter e advinha só: Avery, eu tinha xingado na cara de uma garotinha de seis anos. Mas agora a merda estava feita, todos deram um passo para trás com o susto, especialmente Alex, bem, todos com exceção de Sam, ela me olhou fria, como se já estivesse esperando isso de mim, até perceber o vermelho dos meus olhos, a garota tentou focar a visão para enxergar melhor, mas Adam a interrompeu.

– Vocês ouviram? – Todos nos silenciamos. A princípio, tudo estava na mais perfeita ordem, até um rosnado se multiplicar por dois, por quatro, até oito e começavam a ficar mais altos gradativamente, vindo das escadas até o andar que estávamos. – Joe?!

A vontade que eu tinha naquele momento, era de não fazer nada.

– Joe! – Natasha, Adam, Carter, até mesmo a Avery estava gritando meu nome, tenho quase certeza de ter ouvido a voz da Sam. – Temos que sair, vamos!

Adam chegou a andar, mas não saiu do meu lado, estava tentando me fazer ir, Natasha puxou meu braço e eu não movi um musculo. Algumas cabeças surgiram no final do corredor procurando pelo barulho, por fim nos encontraram, os infectados se viraram e começaram a correr tão rápido quanto podiam para cima de nós, rosnando e grunhindo, emitindo sons macabros para qualquer ser humano, por sorte eles não eram mais rápidos que nós, mas infelizmente, eles nunca se cansam.

– Joe... JOE! É assim que você quer se manter firme pela sua filha?! – Meu coração estava ritmando até ouvir a frase da Sam, minha pupila se contraiu e eu finalmente caí em mim.

Empurrei Natasha e Adam na frente, todos correram para fora e eu fui por último, prestes a sair pela porta, um dos mortos agarrou minha camisa, logo seus companheiros fizeram o mesmo, tentei andar para a frente mas eram mais fortes, estavam em maior quantidade, Adam agarrou meu braço esquerdo, ajudou, mas não era o suficiente para me ver livre daqueles desgraçados, um deles agarrou minha perna, o primeiro a ter me puxado aproveitou para morder meu ombro. Por sorte Adam me puxou antes e o dente do infectado encontrou o tecido da minha roupa que rasgou em parte, puxei a faca do meu ombro e rasguei o resto, os mortos-vivos cambalearam para trás, mas um ainda segurava minha perna e antes que pudesse cravar aqueles dentes imundos em minha carne, pisei com a bota militar bem no meio daquela cara feia. Alex e Adam conseguiram me puxar para fora e fechar a porta de correr da loja. Os malditos ficaram se batendo contra o vidro, um tanto lerdos e sem vitalidade, mas batiam com força, aquele vidro não ia durar, aquelas bestas endiabradas iam tentar nos pegar novamente.

– Uh... Joe... – Alex disse com as bochechas coradas. Enquanto Nat e Sam davam risinhos abafados.

– O que é garoto?

– Acho que o Alex gostou do general – Adam brincou e as duas garotas riram mais ainda, Avery riu, mas não estava entendendo nada. Alex parecia ainda mais corado.

Eu estava sem camisa, no meio da rua. Agora eu tinha entendido qual o motivo do alvoroço.
Olhei para o meu abdômen e tórax.

– Algo errado com o meu corpo senhor Alexander? – Eu disse sério.

– Não senhor, na verdade tudo que o corpo do senhor não é, é errado... – Tudo bem, tudo bem, dessa até eu ri. Consegui ficar distraído até ouvir o som do vidro rachando.

– Certo, chega de brincadeira... Entrem no shopping.

Todos nos dirigimos até o prédio alto com passos rápidos, abrimos a porta manual e entramos. Precisávamos pegar suprimentos e roupas novas, estava frio.
Quando fechei a porta atrás de mim, me deparei com um piso extenso e largo com uma fonte enorme localizada no centro, o andar em que estávamos estava completamente iluminado e as lojas estavam em sua maioria abertas, o andar superior parecia apagado, mas eu não conseguia ver direito o estado das lojas. Quando senti o sangue esfriar, a imagem da morte do Max se repetia em minha mente, coloquei as mãos no rosto, tentando esquecer aquilo.

– Eu quero conversar com você – Samantha se aproximou e ficou na minha frente.

Não sei se era o frio, mas a impressão que eu tive, era que o corpo da garota estava quente, eu sentia o calor vindo dela.

– Não temos nada para conversar. – Eu disse áspero. E continuei andando, mas ela me puxou pela mão, meus dedos estavam congelados se comparado ao toque dela.

– Meu Deus Joe! – Ela apertou firme a minha mão – Você está congelando!

Eu puxei a minha mão de volta.

– Eu queria que me perdoasse por ter gritado com você lá no posto.

Continuei andando, dando as costas para a mais nova. Ela seguiu andando, mas antes soltou um breve urro de chateação.

Eu sabia que a garota queria me ajudar, mas eu posso cuidar de mim sozinho.

– Certo pessoal – falei para que todos conseguissem ouvir, a medida que me aproximava da fonte. – vamos pegar roupas dentro daquela loja que está aberta, seguindo o corredor da direita, o andar que estamos parece estar todo ativo, quando evacuaram o shopping podem não ter tido tempo de desligar tudo, então quando pegarem o que quiserem lá, tirem os alarmes que ficam presos nas peças, para evitar complicações futuras. – tomei folego e cocei a cabeça para continuar falando. – Feito isso, venham para a fonte, a água vai estar fria, mas é o melhor que temos, as garotas vão tomar banho primeiro e....

– Como é?! – A russa me interrompeu. – Vocês vão nos ver tomar banho? – Eu deixei um rosnado escapar, mas a loira continuou. – Quer dizer, não que a Sam tenha algo a esconder.

_ Valeu aí Nat! – Sam disse indignada, cruzando os braços sobre os seios.

– Eu preso pela minha... – A garota não se cansava de falar.

– CHEGA! – Eu a interrompi, não com um grito, mas com uma voz firme. A garota engoliu as palavras não ditas, acredito ter ouvido a Samantha rir. – Eu, Carter, Adam e Alex, vamos para a loja de esportes que está ao lado da loja de roupas, vamos procurar por algo que possa nos servir.

Todos assentiram e seguimos para a loja decorada por manequins, eu estava sentindo a temperatura do meu corpo cair rapidamente, mas disfarcei, ao pegar minha carteira de cigarro no bolso da jaqueta que a Sam estava usando, ela se assustou de leve e me observou levar o cigarro à boca.

– O que é? – Disse vendo o olhar fixo em meus lábios.

– Não deveria fumar... – Ela disse sem esperar que eu reagisse de forma positiva a isso.

– Um dia garota... – Acendi o cigarro e traguei. Estávamos mais afastados dos outros.

A sensação de leveza em minhas extremidades foi quase instantânea, eu fiquei mais tranquilo.

A mais nova se colocou a minha frente me impedindo de andar. Soltando um suspiro quase inaudível, se pôs a falar:

– Eu vi você chorar. – Senti o olhar dela fixo no meu enquanto soltava a fumaça de meus pulmões.

– Eu não sei do que está falando. – Menti.

– Não se faça de idiota Joe, - Ela firmou a voz e tomei quase como uma ofensa, mas deixei que continuasse, puxei a fumaça novamente para dentro de mim. – Eu vi um corpo no chão, eu vi sangue em você e te vi chorar... Ele era importante para você Joe... Quem era ele? – Eu permaneci em silêncio enquanto via o tabaco queimar, não queria me comprometer dizendo palavras soltas. – Joe, você acha que eu não percebo, mas você só fuma quando está preocupado... – Eu me assustei e não pude evitar o olhar automático para a garota, que não por acaso, estava sorrindo. – Mas parece que não é só preocupação que sustenta o seu vício... Senhor general, você não é o único esperto aqui.

Soltei a fumaça com um rosnado de raiva. Joguei o cigarro no chão e o pisei girando a sola do sapato.

– E o que você quer?! Quer que eu admita que você está certa? Que eu sofro como todo mundo? – Eu respirei fundo. – Acho que não precisa porque o que você viu lá atrás, foi só uma amostra grátis do que eu já passei... Eu não preciso que você me diga que eu sou mortal e que eu sinto como todo mundo, sei disso melhor do que muita gente e talvez se você vivesse o que eu vivi, agiria da mesma forma.

Olhei para cima para tentar colocar a cabeça em ordem, aquela garota não ia desistir até ter uma resposta.

– Maxwell Greene, trinta e dois anos, um e setenta e oito de altura, loiro, serve ao exército britânico desde os vinte e cinco, sua comida preferida era espaguete, sua namorada se chama June, ele detestava comida árabe, seu maior defeito era ter fé nas pessoas, sua maior qualidade... Também.

Suspirei e passei a mão no rosto, coçando os olhos. Quando fui olhar para a garota, ela se atirou contra o meu corpo e me abraçou quase tão forte quanto o próprio Max, eu devolvi o ato.

O abraço demorou mais ou menos dois minutos, não sei, não estava contando, queria que durasse o máximo, seu corpo estava quente e mesmo sendo pequena, parecia ter me aquecido por completo.

– Joe – Ela disse se afastando de mim. – você está gelado.

Eu percebi a expressão de espanto, mas eu a empurrei para frente e seguimos para a loja onde os outros já estavam escolhendo suas roupas. Natasha pegou uma calça justa e uma camisa de gola e mangas compridas, Carter pegou uma com flores havaianas extremamente brega, Avery escolheu uma roupa de um desenho animado que eu não conhecia, Adam tirou uma camisa de banda do cabide, com uma calça jeans e um casaco azul, a Sam pegou uma calça nova e uma camisa branca básica, mas continuou com a minha jaqueta, Alex trouxe com ele uma camisa xadrez e um colete extremamente justo e preto, continuou com a mesma calça apertada de antes, eu peguei toalha para todos e uma camisa junto com um casaco grosso e cinza para vestir, puxei a faca para tirar os alarmes de todas as peças, eu e o resto dos rapazes seguimos para a loja de esportes, as garotas foram tomar banho na fonte enquanto procurávamos por qualquer item que viesse a ser útil. Adam aproveitou para limpar seu taco de baseball de metal, Alex se sentou no balcão da loja e ficou conversando com o moreno, eu e Carter fomos olhar a parte de acampamento.

– Senhor Johann – Carter se dirigiu num tom formal sem me olhar diretamente. – Eu fui para o Vietnã, quando tinha sua idade mais ou menos, talvez mais novo... – Eu estava preparando meus ouvidos para ter de aturar mais conselhos de autoajuda. – Foi onde eu conheci Muriel, o amor da minha vida, mas não oi fácil, ela era enfermeira de campo e muitas, na verdade, quase todas as vezes, ficávamos separados, eu ia para uma área e ela para outra completamente diferente. Durante os conflitos tudo que pensávamos era “Viver, viver, viver” nós tínhamos que viver, para nos encontrarmos mais uma vez. – Ele fez uma pausa para mexer em uma garrafa térmica no mostruário. Eu não havia entendido onde ele queria chegar com aquela conversa. – Mas, no meio de nosso desejo de viver, vinha o nosso medo de perder, as vezes ficávamos separados por dias inteiros e a tristeza inevitável nos tomava o coração....

– Onde você quer chegar? – Fui direto, aquela história começava a me incomodar.

– Direto, o senhor, não é senhor Johann?! – Ele sorriu. – Pois então vou me adiantar... Eu me casei com Muriel, vivemos felizes por muito tempo, o fruto daquele tempo ruim foi o nosso amor. Nós tivemos o Anthony e quando ele completou vinte anos, minha mulher teve câncer e veio a falecer dois anos mais tarde. – Consegui ver um pouco de água em seus olhos, mas ele disfarçou bem. – Anthony se casou e teve Avery, e ela, essa garotinha, foi o que me fez relembrar o significado de viver. Agora Anthony está morto e você, senhor Johann, você me fez lembrar porque eu estou vivo.

Eu olhei para o chão e tenho quase certeza que sorri.

– Sempre viva o suficiente, para ver as coisas melhorarem.

Ele tentou devolver o conselho que eu o dera em sua casa naquele mesmo dia. Eu sorri e apertei firme sua mão.

– A gente já acabou lá atrás – Sam disse andando para os meninos com sua nova roupa vestida, acompanhada por Natasha e Avery que segurava sua mão. A garotinha de seis anos correu para seu avô e os dois se abraçaram e ficaram conversando um pouco.

– Certo rapazes, acho que é a vez da gente- Eu já estava sem camisa, o que facilitou um pouco, Adam e Alex me seguiram, mas Carter preferiu tomar banho depois, os mais novos vieram comigo e inesperadamente Samantha e Natasha também.

– O que?! Vocês vão nos ver tomar banho? – Adam falou sarcástico, não parecia estar se importando muito, devo admitir, aquele pirralho é muito seguro.

– Qual o problema?! – Natasha devolveu a ironia. – Eu já te vi pelado milhares de vezes e acho que a Sam não se importaria, afinal, você já olhou para ela nua também.

Eu vi as bochechas da garotinha corarem, o Adam deu de ombros e tirou a camisa.

– Por mim tanto faz... – Ele olhou para mim. – E você Joe? - Eu não respondi nada, apenas desamarrei minhas botas para tirá-las. – É eu acho que o velhote não se importa também – O garoto riu.

A primeira vista, Adam não era um rapaz muito musculoso, mas seus traços eram bem definidos e acredito que qualquer garota ficaria louca... Pra falar a verdade, não acho que o Adam precise tirar a camisa pra isso.

Nós dois tiramos as calças e ficamos de roupa intima na frente das garotas, que estavam sentadas no banco da fonte. Só agora eu percebi o quanto aquilo era incomodo.

– Certo, acho que eu vou entrar. – Eu tentei não parecer desconfortável.

– ESPERA... Espera Joe! – Adam me puxou e aproximou o rosto do meu ouvido. – Olha só pro Alex.

O garoto sussurrou e eu consegui ver o Alex, ainda estava com toda a roupa, vermelho da ponta da orelha até os pés, parecia ter congelado.

– Alex você está passando bem?! – Eu poderia ser chamado de idiota em todas as linguas, mas não fazia ideia do motivo para aquele garoto estar daquele jeito.

– Sim! – Ele disse mas continuou no mesmo lugar.

As garotas estavam rindo, mas Sam parecia ser mais discreta. Fui na direção do de roupas justas e toquei em sua testa – Vale lembrar que eu estava apenas de roupa intima – e a pele do pobre Alex estava em chamas. Certo, até ali eu não estava entendendo nada. Eu olhei para Adam que cobria a boca com uma das mãos para disfarçar o riso e com a outra mandava eu seguir em diante... A situação estava estranha, eu não fazia ideia do “porque” de tanta graça.

– Certo Alex... – Eu disse pigarreando. – Você está quente demais e eu acho que devesse entrar na fonte comigo e com o Adam. - Eu medi cada palavra, para não haver mais motivo de riso, mas parecia que qualquer coisa que eu dissesse só piorava. Cocei a cabeça. – Consegue tirar a camisa? – Ele não tirava os olhos de mim, o garoto estava mesmo petrificado, apenas conseguiu fazer um sinal de negativo com a cabeça. Certo, aquela palhaçada já tinha chegado nos limites... Eu suspirei e com um pouco de agressividade tirei a camisa do Alex, como era de botão, talvez tenha arrancado alguns, abri o cinto e puxei sua calça que saiu junto com os sapatos. Ele não parava de olhar pra Samantha que estava de boca aberta, Adam e Natasha não conseguiam parar de rir. Eu carreguei o garoto agora apenas com a cueca e joguei dentro da fonte fria. Adam estava com o rosto extremamente vermelho de tanto rir, Sam apesar de impressionada com a atitude que eu tomei, voltou a rir no mesmo instante. Eu balancei a cabeça e entrei na água também.

Nós todos tomamos banho, Adam depois de aproximadamente cinco minutos conseguiu ficar “sério”, Alex não conseguia olhar no meu rosto direito de tão envergonhado e Natasha não parava de fazer piadinhas internas com o Alex, quais eu não fazia questão de saber, vesti minha roupa e por último, coloquei o colar.

– Qual é o caso do colar velhote?! – Adam disse passando a mão em seu cabelo escuro e molhado.

– Presente da minha filha. – Eu disse tocando no pingente de anel.

– Qual o nome dela? – Adam realmente parecia interessado em saber, não tinha nem um pouco de sarcasmo nem ironia em sua voz, aquilo me deixava mais confortável.

– É Laureen. – Eu disse terminando de pôr o casaco.

– Nome bonito... Você que escolheu?

Eu fiz que não com a cabeça e continuei andando, não queria que a conversa se aprofundasse.

Peguei uma mochila de acampamento na loja de esportes e transferi as coisas da mochila antiga, peguei garrafas térmicas e colchões de dormir para que cada um levasse. Adam estava olhando a parte superior do shopping, as garotas estavam olhando o mercado para pegar comida e qualquer coisa que nos fosse útil.

Momentos se passaram e eu consegui ver os cabelos negros de Adam se balançando freneticamente escada abaixo, o garoto corria segurando uma lanterna que possivelmente encontrou na parte superior. Eu percebi uma expressão de horror no rapaz.

– O que houve Adam? – Eu disse me apressando em sua direção.

– Eu... – Ele tentava tomar fôlego. – Eu estava olhando a parte superior em busca da sala de controle do shopping, foi então que eu vi um corpo despedaçado no chão lá em cima, a porta estava entreaberta e os órgãos da pessoa seguiam pelo corredor inteiro, eu fui vendo até onde ia dar, foi então que eu vi, um grupo de pelo menos... – O garoto estava falando rápido enquanto ofegava. – pelo menos doze infectados devorando o cadáver, acho que eles não me viram porque estavam “ocupados” demais.

– Certo... – Eu apertei o dorso do nariz e fechei os olhos para tentar pensar em algo rápido, aquela situação me deixava tenso, ter infectados tão perto de nós sem sabermos. – Temos que buscar o resto do grupo e sair daqui o quanto antes.

Adam assentiu e nós pegamos Carter e Avery. Logo depois fomos correndo para o mercado, não demorou muito para encontrarmos as garotas... E o Alex, eles vinham andando rápido em nossa direção.

– Infectados... – A Sam conseguiu dizer e a russa assentiu com a cabeça. – Muitos infectados, A Nat matou um e eu matei outro, mas quando continuamos seguindo pelos corredores do mercado, a quantidade foi aumentando.

– Algum deles viu vocês? – Adam tirou as palavras da minha boca.

– Os únicos que viram nós matamos. – Natasha concluiu quase perdendo a pose séria.

– Vamos ter que sair daqui... – Eu disse, mas acho que isso era obvio, o que fez Samantha me olhar com cara de “Sério Joe?!” – Peguem suas coisas e vamos para os carros.

Quando chegamos na porta de entrada do shopping, conseguimos ver a rua do lado de fora, que estava tomada pelos infectados da loja de conveniência.

– E agora Joe?! – Natasha pela primeira vez parecia esperar algo de mim.

– Vamos para o estacionamento, pegar as portas do fundo e vamos ver se tem algum carro que possamos usar. – Eu disse e Adam foi empurrando todo mundo.

Corremos até o estacionamento, deviam haver por sorte, pelo menos sete carros estacionados. Passamos pelas portas automáticas. Merda, eu tinha esquecido das portas automáticas, aqueles desgraçados podem vir pra cá a qualquer momento.

– Certo, Adam, temos que achar modelos antigos. – Eu disse olhando para os carros ao nosso redor, tentando não parecer nervoso.

– Por que antigo?

– Porque os antigos não tem alarme instalado.

Eu encontrei um Mach 01 de 75 e o Adam um Maverick bem acabadinho, mas de uma coisa podíamos ter certeza, eles não tinham alarme.

– E agora? – O garoto falou enquanto esperava ao lado do carro.

– Faz como eu! – Eu peguei o cabo do revolver e bati no vidro fazendo ele quebrar. – Tenta arrancar o painel da chave e faz ligação direta... Fio verde com fio azul.

Alex, Carter e Avery esperavam o Adam enquanto fazia o carro pegar e Natasha protegia suas costas. Eu fazia o mesmo, não demorou muito até conseguir ouvir o motor roncar. Sam sorriu para mim, parecia que tudo estava indo bem até ouvir a buzina estrondosa do Maverick preto.

– EU DISSE FIO VERDE COM FIO AZUL! – Gritei para o Adam.

– POIS PARECE QUE O AZUL É A BUZINA! – Ele devolveu.

O garoto tentou o fio preto e o carro ligou.

– Certo velhote, vamos dar o fora desse lugar! – O moreno entrou no carro com o resto do grupo, assim também fizemos eu e a Sam, foi em tempo, conseguíamos ver os infectados se aproximando das portas de vidro.

– Essa foi por pouco. – Ela disse aliviada, do banco do carona.

Adam dirigia o outro carro, ele conseguiu sair do estacionamento e eu ia logo atrás dele. Até o pior acontecer.

– O que houve?! – Sam parecia nervosa.

O carro tinha desligado, não conseguia dar a partida.

– A porra do carro morreu! – Eu gritei batendo no volante enquanto apertava os fios da ligação direta... Nada. – A bateria deve estar fraca.

– Ou o carro deve ser velho demais – A de cabelos castanhos dizia enquanto os doentes se aproximavam de nós. – Não importa, precisamos sair daqui Joe!

– Não a pé! – Eu disse abrindo a porta do carro.

– O que diabos você vai fazer?! – Ela disse segurando-me pelo casaco.

– Vou empurrar essa lata-velha, e você vai tentar acelerar enquanto aperta os fios, até o carro pegar. Sacou? – Ela fez que sim com a cabeça mas parecia muito nervosa. Não tínhamos tempo para isso, era tentar ou morrer, não haviam muitas opções, ela sentou no banco do motorista e fez o que pedi, corri para o fundo do carro e comecei a empurrá-lo para a rampa, que parecia estar mais distante do que antes... Os infectados apenas se aproximavam. Eu coloquei toda a força do meu corpo naquele pedaço de metal com rodas, apenas para tentar movê-lo, ele era mais pesado que os carros normais. Ele se movia lentamente, mas a velocidade ia aumentando a medida que o empurrava, conseguia ouvir o som do motor roncar e apagar, repetidas vezes, não tínhamos tempo, o cheiro podre de carne se aproximava de mim, na verdade, os infectados estavam na minha cola, poucos metros de distância e cada vez mais perto.

– VAI SAM! – Eu estava desesperado, mas consegui esconder com o tom autoritário.

– EU TO TENTANDO! – Ela disse e finalmente ouvi o som do motor ligar, ela acelerou e eu ainda segurava o fundo do carro quando fui arrastado... Pelo menos era melhor morrer com o crânio espatifado no asfalto que virar comida de morto-vivo, consegui subir no fundo do carro e sentar em seu porta malas. Recuperamos a distância e vimos os desgraçados se afastando cada vez mais, mesmo que corressem, era inútil.

– ADEUS OTÁRIOS! – Eu gritei, levantando o dedo do meio das duas mãos para eles.

Sam estava rindo de dentro do carro enquanto o vento batia em nossos cabelos, o riso dela era mais de alivio do que qualquer outra coisa, mais uma vez nossas vidas estavam por um fio.

Seguíamos rumo à Connecticut, eu havia conseguido entrar no carro, estávamos prontos para ver se o que eu falava era verdade e dar continuidade ao nosso suposto “plano” que para mim era mais uma rota de fuga.

Algumas horas se passaram, pegamos a saída nove para a L-84 com sentido à Hartford/New York City, como eu esperava, os pedágios estavam vazios, pegamos o desvio e seguimos a rota inteira, até chegarmos em Vernon, uma cidadezinha com poucos habitantes, mas mesmo que fossem poucos, não justificava que estivesse fazia em cada esquina, a Sam não estava gostando daquilo nem um pouco, conseguia ver em seus olhos. Demorou mais um pouco até chegarmos em Hartford, era quase noite, o carro do Adam estava indo em nossa frente.

Não foi muito satisfatório o que vimos, descendo a estrada encontramos a rua principal interditada e uma placa mandando que virássemos à esquerda, foi o que fizemos. Chegando na Lily Pond – Centro da cidade de Hartford. – Respirei fundo. O centro da cidade estava tomado por toldos, macas e caminhões de suprimento, soldados guardavam a entrada principal e médicos perambulavam de um lado para o outro. Hartford havia se tornado um enorme posto de triagem.


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