Acordei 11:30, de novo, perdi o horário do colégio, Pietra deve estar surtando uma horas dessas, não aguento mais ela no meu pé, ultimamente está ficando pior, aquela garota está mais grudenta do que nunca.

— Levanta seu vagabundo! Já matou aula hoje! Vai fazer algo mais produtivo do que se fingir de bicho preguiça! — Toni, meu amigo passa na minha casa antes de sua faculdade, para verificar se fui ou não na aula, isso desde a morte dos meus pais.

— Ah, Toni, perdi a hora e não queria ver a Pietra.

— Caramba, ta mesmo afim de você, em cara.

Toni puxou minha coberta e saiu rindo do quarto.

Tomei meu café e me arrumei para escalar, afinal, amanhã não vai dar já que vou viajar com minha tia. Todo 1º fim de semana é assim, ela viaja para reuniões da empresa, ela é a representante da marca Iodice Brasil/Argentina. Ela é igual ao Toni, têm medo de me deixar sozinho e eu tentar me matar ou algo assim, quando meus pais morreram ela pegou minha custódia e cuidou de mim como se fosse seu filho, então só tenho o que agradecer. Ela e Toni foram muito importantes para mim.

***

A academia está cheia como sempre, passo pela catraca cumprimentando a Dani — Uma linda garota só que muito velha para mim, como ela gosta de lembrar-me sempre, gosto de pensar nela como uma irmã mais velha, bem gata.

— Boa tarde Dani, tem muita gente nova hoje?

— Hoje não é seu dia de sorte, apesar de você saber que as pessoas sempre vêm hoje, afinal sexta é dia de farra. O que me estranha é ver você aqui, geral mente você só vem amanha — E ela está certa, odeio vir hoje, as pessoas chegam achando que escalar é fácil e vão conseguir de primeira, ignoram os avisos dos monitores como se soubessem o que estão fazendo, e o pior começam subir as vías de qualquer jeito, sem seguir o caminho e acham que apenas porque conseguiram chegar no topo já estão escalando como profissionais.

— Fala ai guri, tudo na paz? — Grita Leo assim que me avista subindo a escada.

— Tudo sim e você? Fiquei sabendo que andou tirando algumas fotos da Janine para alguma revista.

— Ah foi coisa básica, só algumas fotos com ela na pedra mesmo. Falando na nossa Rainha — Janine veio me cumprimentar, ela é campeã brasileira de escalada e a minha professora ou melhor minha segunda mãe (ela me ensinou tudo o que sei desse esporte).

— Boa tarde Jani! Ocorreu tudo bem com a secessão de fotos de ontem?

— Nem me venha com essa mocinho, não foi na aula hoje por que ? —Eu literalmente vou matar o Toni ( Ele apesar de ser um dos meus melhores amigos é filho dela ). —Tenho certeza que sua mãe não gostaria de te ver agindo assim em relação à escola, ela sempre se orgulhou das suas notas antes e olha agora como está, você mal se sustenta na média.

Sei que a Jani disse isso sem intenção de me machucar, mas acontece que eu tenho consciência disso tudo, de que minha mãe em qualquer lugar em que esteja deve estar me reprovando por minhas notas, eu somente não entendo o porque de ficar se matandando de estudar se pode morrer a qualquer momento, deixando para trás tudo, como os meus pais. Pensar neles me dá vontade de chorar, faz dois anos e meio que eles se foram, mesmo assim parece que a dor só piora com o tempo, ela não passa nunca. Mesmo agora sinto que abriram um buraca do tamanho do mundo, ele piora quando penso que estou magoando minha mãe.

Eu balanço a cabeça para Janine em concordancia e falo que vou me trocar e por o equipamento, mas na verdade estou querendo correr pro vestiário para me trancar no banheiro e chorar. Meu pai sempre disse que um Homem não pode demonstrar suas fraquezas, pois é a obrigação de todo homem de cuidar de sua família.

Depois de conseguir me recompor, comecei a escalar . Sempre me sinto bem quando estou no alto, parece que nada pode me atingir é o único monto em que não penso na morte deles, o pelo menos não me causa tristeza em lembrar, porque lembro do sorriso que minha mãe tinha quando escalva, era magnifico um dos sorrisos mais belos e cheio de felicidade que já observei em minha vida. Sem perceber cheguei no topo, então me sinto forte, cheio de vidade. Jani que está fazendo minha segurança, me deixa mais um tempo no alto antes de começar a soltar a corda, ela sabe que gosto.

Cheguei em casa um pouco depois das oito, notei a luz acesa, estranhei por que a Tia disse que voltaria as nove. Entrei silenciosamente e peguei a minha raquete — me desculpem, mais é melhor prevenir do que remediar — , tranquilizei na hora que vi que era apenas Carina correndo de um lado para o outro tentando fechar a mala.

— Gabriel por onde você andou? Tentei te ligar diversas vezes. A empresa mudou a reunião de domingo para amanhã, e vou ter que pegar um voo as dez. Eu já liguei pro Toni e ele disse que ficaria com você esse fim de semana. — O negócio como eu tinha falado é que minha tia detesta me deixar sozinho com medo de eu tentar me matar como eu já tinha dito (Descobrir que a morte não é tão legal quanto se pensa), e é por esse motivo que não reclamo quando ela me trata como uma criança.

— Eu te amo, tenha juízo e não me apronte uma festa aqui.

Minha tia me deu um beijo na testa e saiu, uma hora depois Toni chegou com pizza. Uma coisa boa em eu ter ficado é que amanhã eu vou poder ir para a escalada, sábado é o melhor dia .