— Marcus, sabe qual sabe é o único jeito de medir o quanto você ama uma pessoa?

— Não.

— Perdendo-a!

Nunca vi tanta verdade escrita em apenas duas frases. A verdade sobre o caso de Harry Quebert, um livro qual eu estava lendo, era magnífico. Tanta intriga e descobertas em um só caso, que se interliga em inúmeros outros, mostrando como o ser humano pode ser. Esse livro me faz lembrar muito a minha própria vida.

Um vento bate em meu cabelo, jogando-os para longe. Ele agora estava loiro. Pintei semana passada, faz tanto tempo que nem mais me lembro da cor natural. É uma cor nova à cada mês.

Me levanto do banco da praçinha onde estava sentada. Olho em volta e solto um sorriso ao ver Harry se aproximar.

— Relaxou? Se acalmou?

— Não sei Vic, só sei que eu estava realmente gostando dela, e aquele otário aparece pela segunda vez para estragar o momento! — Diz jogando as mãos ao alto, completamente frustrado. Solto um risada leve, ele me lembra Jesse. Como sinto sua falta!

— Ela só precisa de um tempo, a menina tava mais perdida do que cego em tiroteio. Qualquer podia ver isso na cara de desespero dela, só vocês retardados que não percebem!

Harry lança me um olhar que de dá dó, ele é tão lindo e meigo, que me surpreendeu a Mel não agarrar ele na primeira vez. Dou um beijo em seu rosto e digo que já vou embora. Pelo caminho vejo algumas árvores que acolhem muitos pássaros. Passo a mão em um labrador, acariciando-o. Dou um gentil sorriso ao senhor que segura sua coleira.

Chego em casa e escuto um barulho na cozinha. Pego o canivete que carrego na bolsa e caminhos silenciosamente, adentro a sala e vou chegando perto da porta da cozinha, Vejo um cara sentado na cadeira, e antes que ele se vire seguro o canivete centímetros de sua garganta.

— Quem é você e o que está fazendo na minha casa? — Falo em um tom autoritário, para que ele entenda quem está no comando.

Seus movimentos são tão rápidos que quase não consigo acompanhar. Em segundos meu corpo está preso entre o intruso e a mesa. Um mão imobiliza a minha que está segurando o canivete e a outra tampa a minha boca.

— Já me esqueceu, pirralha? — Não pode ser, essa voz, eu conheço ela. Uma lágrima caí enquanto tenho a certeza de que pertence ao Edgar — Baby, pelo menos posso ver que te ensinei bem!

— Edgar, seu filho da puta, que susto! Céus é realmente você? — Começo a chorar de felicidade, tínhamos combinado sem contatos até que ocorre algum problema extremamente grave. Jessica! Meu coração se aperta e o sangue foge do meu rosto. — Meu deus, alguma coisa aconteceu com a Jesse?

— Ei, olhe pra mim... nada aconteceu com ela. Pelo menos não por enquanto. Vim por sua causa. Está na hora de volta para casa, ele descobriu!!

Como assim ele descobriu? Era perfeito, não tinha como. Abraço o Edgar e olho como ficou incrivelmente sexy com todas essas tatuagens.

— Que saudades... Mas como assim ele descobriu? Pera, como assim por enquanto?

— Acontece que ela está agora tendo uma festa na casa dela com ele lá. Liguei para ela uma hora atrás.

— Como você deixou essa merda acontecer? Ele vai matar ela quando tiver a chance. Eu te pedi para cuidar dela, você sabe o que ela significa para mim e ele também. Vai usá-la.

— Acalme-se porra — E aí está o garoto que conheço. Ele segura minha cabeça e me beija. Sua língua brinca com a minha, me dando uma nostalgia dos seus lábios colados ao meu. — Eu sei, e você sabe o que eu sinto por você. Eu fiz o que deu. E combinamos que o melhor era te manter segura lá, até que ela conseguisse o depoimento dele. Ah! Ela te mandou um beijo.

O engraçado é que apesar de eu beijar ­— e fazer outras coisas com o Edgar, se é que vocês me entendem?! hehe — ele sabe que eu gosto da Jessica, mais do que como amigas. Na verdade sempre gostei, desde a primeira noite quando bati na porta dela, naquela noite. Só que nunca tive coragem de me declarar, a não ser quando fugi, porém ela não entendeu.

Ele me contou um pouco sobre como a Jesse mudou de cidade e que ele foi também. Como até hoje não tinha tido nenhum relacionamento sério, até falou um pouco sobre os novos amigos. Eu sabia que eu estava aqui provisoriamente, afinal estarei sempre fugindo enquanto ele permanecer livre. Arrumo minhas malas e caminho até o cofre e tiro todo o meu dinheiro.

Independente de quanto tempo fiquei aqui, acabei fazendo alguns amigos, especialmente Harry. Vai ser difícil dize-lo que estou partindo. Pego meu celular e disco seu número.

— Oi bebezinho, preciso sair da cidade... Não sei quanto tempo ficarei fora... Estou partindo agora... Sim, sim, te ligo quando chegar ao destino... Beijos e também te amo bebezinho, agora relaxa e dá um tempo para a coitada!

Edgar está me analisando cauteloso. Qualquer garota teria medo se visse ele na rua à noite. Conheço-o tempo suficiente pra saber que elas estão certíssimas.

— Quem seria o “bebezinho”? — Ele me imita, mas usando um tom sarcástico.

— Sinto ciúmes?

— Não começa Victória Narqueira.

— Aí aí, calma senhor esquentadinho, olha como você fala comigo! Não sou as putinhas que você pega por aí. Ele é apenas um amigo meu. Agora podemos ir?

Assim que ele fala saímos de casa, e pra minha surpresa seria de carro, uma Pajero TR4! Coloco minhas malas no porta-mala e me sento na frente passando o sinto por mim. Edgar entra e se senta no banco do motorista, me lançando um sorrisinho de lado. Ele segura minha mão na sua coxa e seguimos viagem, assim de mãos entrelaçadas, como se fossemos um casal de namorados, escutando Red Hot e deixando a brisa da janela entrar.