A enfermeira me guiou até a sala onde se encontrava reunidas todas as crianças. Ao chegar fui recebido pelos abraços calorosos daquelas pequenas pessoas tão angelicais e sorridentes, mesmo sob as circunstâncias na qual se encontravam. Eu me sentei na mesma cadeira que me sento a 16 anos desde que vim aqui pela primeira vez, já não vemos há muito tempo os rostos de muitos, afinal chega uma hora em que esses pequenos guerreiros desistem de lutar, pois não se pode vencer o câncer. Hoje perdemos pela manhã o pequeno David. As crianças se aglomeraram ao meu redor, ansiosas pela história que eu começarei a ler hoje, talvez alguns ainda estejam aqui quando eu chegar ao fim, mas é muito improvável, todos esses pequeninos já estão no estagio final de suas doenças.

- A história que irei contar é sobre o amor entre dois jovens que se apaixonaram enquanto o sol ressecava as folhas e nos queimava com seu calor, mas foram separados pelo destino e deixaram a marca do seu amor puro e inocente no mundo. A história começa no ano de 2004, quando um garoto chamado Louis, de apenas 8 anos, se mudou para a cidade de Nova York.

“Sua mãe falecera em um acidente de caro quando ele tinha apenas 6 anos de idade e o seu pai acabou se tornando um bêbado moribundo que quase todas as noites levava prostitutas para a sua casa com a intenção de esquecer suas tristezas, cuidou dele somente por dois anos, até se cansar e passar a sua guarda para a sua tia nova yorkina. Tudo naquele ambiente era novo para o pequeno Louis, afinal morara na sua antiga casa desde o seu nascimento e sempre esteve acostumado a ter seus pais por perto. Tinha medo de não conseguir fazer amigos e o pior de não sorrir nunca mais, até que em uma bela tarde de sol, após o comando de sua tia, saiu para brinca na rua, inicialmente permaneceu sentado na varanda até ser surpreendido por uma garotinha ruiva, que tinha seus cabelos presos em duas tranças que caiam perfeitamente sobre seus ombros, seus olhos era de um castanho profundo que se protegiam por traz das lentes de seus óculos de grau, seu vestido estava sujo de lama e ela possuía um sorriso angelical.

-Oi, eu sou a Violet. –A garotinha disse, lhe estendendo a mão.
-Eu sou o Louis. –Ele disse quase que sussurrando e apertando a mão de sua nova amiga.
-Venha, estamos fazendo bolos de lama, é bem divertido. –Ela disse o puxando em direção a uma casa de dois andares, com a pintura laranja já desgastada, mas que possuía uma enorme varanda, com um banco de balanço e uma mesa colonial. A pequena o arrastou até os fundos, onde ele não encontrou nenhuma outra criança, apenas vários pratos de plástico sujos de lama e um cachorro que rolava naquela poça lamacenta como se aquele fosse seu ultimo dia na terra.
-Ele morde? –Perguntou por fim, pois sempre sonhara em ter um cachorro, mas seus pais nunca permitiram.
-Depende, se ele gostar de você, ele não vai te morder. – Violet disse sorrindo. –Venha cá Luna, vou te apresentar meu novo amigo. – A cadela lhe obedeceu de imediato. –Esse é o Louis, diga Olá para ele. –Violet disse, pegando a mão de Louis, que tremia, e a colocando sobre a cabeça do animal, que abriu sua boca, fazendo os olhos verdes de Louis se encher de água ao pensar que a cadela iria lhe morder, mas ela apenas o Lambeu. –Ela gostou de você.
-Ainda bem né.
-Você não é daqui, não é?
-Não, eu sou canadense. –A boca de Violet se abriu em um perfeito O.
-Mas você é perfeito, eu achei que os canadenses fossem diferentes.
-E por que seriamos? –Ele perguntou indignado.
-Não sei, mas a minha mãe sempre diz que os canadenses são diferentes.
-Bom, sua mãe está errada. –A irritação nos olhos de Louis era visível. –Eu tenho que ir embora, minha tia deve estar preocupada.
-Não é porque eu achei que você era diferente não né? -A pequena perguntou um tanto quanto triste. Louis apenas fez que não com a cabeça. A verdade é que ele nunca havia falado com uma garota antes, nunca havia feito uma amiga e estava assustado por dentro. –Você volta amanhã?
-Volto. –Dito isso se virou e foi embora, já estava próximo a entrada de sua casa quando pensou que aquela poderia ter sido a sua única chance de ter uma amiga, pensou que Violet parecia ser uma garota bem legal e que talvez a pudesse ensinar a jogar videogame ou futebol, quando ele se cansasse de fazer bolos de lama, pensou no quanto seria bom ter alguém para brincar todos dias até se cansar e com isso deu meia volta e seguiu novamente para a casa de sua nova e primeira amiga. –Talvez a minha tia possa esperar mais um pouco. –Disse assim que chegou aos fundos da casa alaranjada. A pequena sorriu e o chamou com os dedos.

Naquela tarde, eles fizeram guerra de lama com os bolos que haviam feito, sujaram um ao outros e se divertiram como nunca. Louis sabia que havia feito uma amiga e Violet sabia que havia encontrado o amigo que sempre sonhara. Quando decidiram parar de brincar, foram para as suas casas sorrindo de canto a canto de suas orelhas e contaram afobados aos seus responsáveis sobre como havia sido mágico o seu dia. Naquela noite dormiram ansiando pelo dia seguinte, onde poderiam se encontrar de novo e se divertirem ainda mais, afinal ambos sabiam que encontraram a amizade que estavam acostumados a ver nos filmes, uma amizade para todo o sempre.