Carta de Uma Suicida escrita por Taty Pandinha


Capítulo 1
Único Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Fiz essa história hoje, e gostei do meu primeiro drama :)



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Olhou para o relógio e só faltava meia hora, para sua mãe chegar do trabalho. Trêmula, levantou da cama, e foi em direção a sua mochila meio aberta, jogada aos pés da cama.

Com uma coragem, que surpreenderia a todos, pegou seu caderno e abriu quase no final, rasgando uma folha dali mesmo. Uma pequena lágrima rolou e parou sobre os lábios ressecados da garota, que apertou firmemente os olhos, em busca de mais lágrimas, mas seus olhos pareciam secos.

Procurou uma caneta, que achou ali, em cima da escrivaninha. Respirou fundo e sentou no chão. Em sua pele, se destacavam as marcas de cortes e queimaduras. Tentou não olhar para suas marcas, pois ainda tinha uma coisa a fazer.

A caneta insistia em escorregar de suas mãos suadas. Apertou a firmemente e então, começou a escrever.

“Mãe, sei que não sou a melhor filha, que você pediu a Deus. Mas, saiba que eu tentei. Eu tentei ser aquela garota, que tira boas notas. Aquela garota que, nos finais de semana, curte um filme engraçado com a família. Aquela garota que sonha com um Príncipe Encantado. Aquela garota que ri de qualquer bobagem. Aquela garota que gosta de sair, e de se divertir. Mas, não conseguir ser... Porque essa “Garota” não poderia existir. Não, com todas as coisas que já me aconteceu. Aos 8 anos, comecei a sofrer bullying na escola. Começaram com apelidos de gordinha, mas com o passar dos anos, foi piorando: baleia assassina, botijão de gás, orca etc. Você não via, quando eu chegava chorando e deitava sobre a cama, tentando emagrecer, porque você estava ocupada com trabalho. Não reparou quando eu deixava de almoçar e jantar, porque estava ocupada com seu trabalho. Não reparou quando, você me fazia comer uma fruta, no café da manhã, e depois eu colocava tudo pra fora, porque estava ocupada com seu mais novo trabalho. E também, não reparou, quando eu comecei a me cortar, ou até mesmo, me queimar, para a dor física, não ser maior, que a emocional, porque tinha outras coisas pra se preocupar, pra olhar pela sua filha, que já estava virando garota problemática. Aos 15 anos, naquela festa que você armou pra mim, algo de ruim aconteceu. Aquele seu convidado, que passou a noite inteira falando ao seu ouvido, abusou de mim. Sim, aquele mesmo que depois vocês assumiram um namoro. Francamente mamãe, como você não via? Na hora do jantar, ele ficava passando a mão em mim, e eu não podia falar, porque fui ameaçada de morte, e tinha medo, que a senhora achasse que eu estava mentindo, porque você estava apaixonada por ele. Aos 16, comecei a usar drogas. E você nem percebia, quando eu chegava em casa com os olhos vermelhos, e fedendo a bebida, drogas e sexo, porque a senhora não estava em casa. E no outro dia, eu faltava á escola, e a senhora não estava, porque já tinha ido trabalhar. Aos 17, meu mundo desmoronou, quando a senhora, trouxe aquele canalha pra morar aqui. Os abusos foram ficando piores, e a senhora um dia, veio falar comigo, que achava que ele estava te traindo, e eu com lágrimas nos olhos, por ser meio culpada, pelo seu sofrimento, te abracei e falei que tudo ia ficar bem. Até que descobrimos, como aquele homem, era um horror. Traia-te com suas “amigas” e até mesmo com a mulher que arrumava nossa casa. Você o mandou embora, e eu achei que estava livre dos seus abusos, engano meu. Ele começou a me “buscar” na escola, e os abusos pioraram. Até que veio uma notícia: Homem é encontrado morto, sem seu membro sexual. Mamãe me perdoe, mas, eu o matei. Não agüentava mais viver, sofrendo na mão daquele animal. Por isso te peço perdão, por não ser aquela garotinha doce, que você criou, para eu ser. Mãe, to te escrevendo essa carta, para me despedir. Quero te dizer que... Por mais que a senhora tenha sido ausente em minha vida, por esses anos, eu a amo demais. E que Deus possa te confortar seu coração. Desejo que a senhora construa a sua vida de novo. Encontre alguém, que realmente te faça feliz, e que a senhora, não repita o mesmo erro, com seus futuros filhos. Sinto muito, mamãe. Perdoa-me.

Com um grande suspiro, ela olhou pro relógio e viu que faltava apenas 5 minutos. Deixou a carta que tinha manchas de lágrimas na cama, e pegou a arma que estava escondida debaixo do travesseiro. Como sua mãe explicaria a arma para os policiais? Isso já não era problema dela. Queria se livrar dessa alma horrorosa, e dessa dor e vergonha. Encostou o cano da arma na boca, e com um último olhar, sobre a foto dela e sua mãe, quando ela tinha 3 aninhos, ela apertou o gatilho.

Sra. Archibald estava a uns passos de sua casa, quando ouviu um barulho de tiro. Ela colocou a mão no coração, onde a dor foi muito forte. Pensou ser o seu fim. Correu para dentro de casa.

Depois de alguns segundos, olhando para o quarto da sua filha, entendeu. Ela se fora. Seu bem mais precioso. Era a sua bebê. Aquela que ela mais amava no mundo. Estava ali, deitada no chão, com uma poça de sangue inundando cada vez mais, o chão do quarto, que agora, se encontrava frio.

Sra. Archibald deitou ali no chão, e não se importou se iria se sujar. Agarrou o corpo já mole e frio de sua filha, e então chorou.


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