Steve Rogers se levantou às pressas. Passava das 8:30 e tinha uma reunião agendada. Detestava este tipo de burocracia, mas precisava ir, pois se tratava de algo relativo ao desmembramento da SHIELD.

Rogers sabia que Fury estava vivo, porém nem todos os Vingadores tinham ciência do acontecimento, principalmente Stark que ainda estava em recuperação desde o incidente com Mandarim.

Por sinal, Steve também estava abalado. Dias antes, havia enfrentado o melhor amigo que deveria estar em uma cama revivendo os tempos de ouro, mas que estava jovem e lutando como um monstro. O Soldado Invernal, eles diziam.

O Capitão América, como ainda era chamado atualmente, era nacionalmente reconhecido pelas pessoas, tinha até uma exposição sobre ele! Não gostava de se gabar de tal coisa, não tinha privacidade para fazer suas corridas matinais e uma simples ida à Torre Stark, gerava uma dor de cabeça incrível; ele contemplava se mudar definitivamente para o lugar e abandonar o prédio ao qual costumava dividir a vizinhança com Sharon Carter.

Agente 13. Após o fim da SHIELD, soube apenas que havia sido aceita pelo FBI ou Interpol, não sabia direito qual organização; provavelmente faria um bom trabalho.

O soldado vestiu a melhor jaqueta de couro que tinha e saiu caminhando pelas ruas de Nova Iorque, não estava muito longe de seu destino e nem tinha como se perder naquela multidão. A Torre era vista até mesmo fora da cidade, arranha-céus de primeira classe, ostentando o brilho das janelas cuidadosamente limpas todos os dias por centenas de funcionários.

Usava um boné para encobrir os cabelos louros, tentou permanecer de cabeça baixa o máximo do tempo para não se reconhecido. Ao entrar na rua onde estava localizado o prédio, não conseguiu evitar e acabou por esbarrar em alguém.

– Ai! – Steve se virou para trás e viu a figura feminina caída. Se culpou mentalmente pela força excessiva que tinha e que provavelmente repeliu o corpo da jovem. – Está tudo bem, senhorita? Se machucou?

A garota ergueu o rosto para encarar o dono da voz. Os olhos rubis se fixaram nos dele, claros e cheios de pigmentos ao redor da iris, dando um tom exótico; os cabelos negros estavam colados no rosto suado e com marcas secas de sangue, aparentavam ser lisos e completamente repicados, com uma franja colada e próxima às sobrancelhas da jovem.

Não parecia ser muito velha, com a pele clara como a de Steve e corpo tão esguio quanto o de Natasha. Raios, Natasha? Por que a imagem da russa havia surgido em sua mente? Steve ainda não conseguia esquecer-se da intimidade forçada com a mulher e pior, via traços dela e todas as outras e não da maneira boa, intimidadora até.

– Ah... – A moça tentou dizer algo, mas não conseguia falar com congruência. O corpo trêmulo indicava o estado de nervosismo maior que o normal, ela estava visivelmente abalada com algo.

– Eu bati forte, não? Me-e-e desculpe. – Steve tocou em seu braço e no mesmo instante, a jovem o repeliu com força. A recusa fez o Capitão se sentir ainda pior pelo ocorrido, ele sinalizou o prédio das Indústrias Stark logo atrás de si. – Veja, ali tem um local para limpar esses ferimentos.

Ele apontou para um corte, já seco, próximo da região da sobrancelha esquerda da moça, parecia ser profundo já que muitas manchas saíam dali.

– Pode andar? – Steve perguntou. A cada segundo tinha mais certeza que o esbarrão não havia causado tais ferimentos, essa garota podia ter sido assaltada ou até mesmo, santo Deus, sofrido algum tipo de abuso. Rogers estendeu sua mão e a jovem aceitou, ainda que hesitante. – Vamos.

Caminharam lentamente até a suntuosa entrada do arranha-céu. A jovem emudeceu quando atravessaram as portas automáticas e se encolheu atrás do herói quando notou que o local estava repleto de funcionários e visitantes.

– Calma, vou te proteger, não irá acontecer nad-

A jovem se voltou depressa para o lado direito de Steve e soltou um guincho baixo ao ver dois seguranças se aproximando. O soldado estranhou a movimentação e deixou que a jovem se escondesse atrás dele.

– Capitão Rogers. – Um dos seguranças acenou com a cabeça.

– Bom dia, mas podem me chamar apenas de Rogers, não sou Capitão mais. – Steve repetiu o mantra de sempre. – O que aconteceu?

– O Senhor está em companhia de... hm... uma jovem. – O outro murmurou aos engasgos.

Só o que faltava. Estavam estranhando o fato de ele ter trazido uma mulher ali?

– O que tem demais, ela está ferida.

– Não, senhor... é que... a senhora Po—

Atrás dos dois surgiu uma mulher de cabeleira loira e roupas sociais justas ao corpo. Pepper Potts sorria com tranquilidade para o grupo.

– O Senhor Stark pediu para que eu cuidasse disso, não se preocupem. – A responsável por toda a empresa os dispensou com um sorriso meigo. Os homens saíram ainda incertos das palavras, olhando para trás antes de desaparecerem pelos corredores.

Steve Rogers observou desconfiado a atitude de Pepper. Manteve a garota desconhecida protegida, enquanto estendia a mão por pura cautela, impedindo a passagem da namorada de Tony Stark.

– Senhorita Potts.

– Olá Steve, bom te ver. Tony pediu para que eu acompanhasse esta senhorita até uma das enfermarias da instituição, ele a estava esperando há alguns dias. – A simpatia da mulher o impedia de encontrar qualquer mentira.

– Neste estado?

– Não. – Pepper respondeu. – Por isso estou encaminhando-a para a enfermaria. Ela está aqui para... ahn, falar com ele.

Steve pensou em repetir a última pergunta, mas viu que receberia a mesma resposta de Pepper. Olhou para a garota com preocupação, as mãos trêmulas seguravam sua jaqueta.

– Escuta, ela vai te levar para um lugar e limpar esses ferimentos, tudo bem? – Ele dizia calmamente. Sentia-se conversando com uma criança, dada a fragilidade da jovem.

Ela assentiu com a cabeça. Pepper tocou nos ombros da jovem e caminhou ao seu lado, evitando que caísse ou trombasse em alguém.

– A propósito, Tony quer vê-lo. – Pepper disse.

– Eu sei. – Ainda sem saber o que pensar, Steve caminhou para o elevador para ir ao encontro do Homem de Ferro.

Não era todo dia que esbarrava em alguém ferido e de olhos rubis. Aliás, Steve se lembrava de uma atriz famosa por ter uma coloração tão diferente quanto a da moça, mas estava em dúvida se ela era do seus tempos de guerra ou da atualidade, andava muito perdido.

Subiu até um dos últimos andares da torre, o que parecia ter levado uma eternidade. Ao chegar, deu de cara com uma sala clean, recheada de poltronas confortáveis e algumas estantes com livros, nada muito tecnológico, muito aquém do esperado de Stark.

Tony Stark estava deitada em uma das poltronas, falando sem parar sobre algo que lembrava Extremis e ao seu lado, Bruce Banner dormia discretamente com uma mão apoiando o queixo.

– Olá? – Steve disse.

Bruce perdeu o equilíbrio do corpo e quase caiu para frente, olhou assustado para o Capitão e fez um breve aceno. Tony se virou com um sorriso torto.

– Hey, Cap. Bom tê-lo aqui conosco, minha sessão já estava no fim. – O Homem de Ferro disse.

Steve não entendeu que tipo de sessão ocorria ali, pensou em perguntar, mas já imaginava que se tratava de algo mirabolante. Não precisou perder o tempo ao ver a porta atrás de si abrir e revelar Natasha ao lado de Clint.

– Pelo visto, chamou a turma toda. – Clint Barton, vestido formalmente, observava o grupo com um sorriso.

Natasha estava com os cabelos presos em um descuidado rabo de cavalo, enquanto vestia uma roupa esportiva com tênis.

– Sabe como é, gosto de estar rodeado por amigos. – Tony sorriu.

– Não somos seus amigos. – Natasha retrucou friamente. – E então?

Stark suspirou e se ajeitou na poltrona, sinalizou para que todos se sentassem, mas ninguém o fez.

– Se isso se trata da S.H.I.E.LD... – Natasha começou impacientemente. – Já sabe o que aconteceu, Rogers pode te informar melhor.

– Não. – Tony interveio. – Estive pensando em montarmos um centro de operações aqui, na torre, para coordenarmos melhor nossas ações enquanto estivermos nessa de Vingadores. Após o incidente aqui em Nova Iorque com o irmão adotado daquele loirão lá, imaginei que fosse mais cômodo.

Steve concordou com a cabeça. Já havia pensado em se mudar para lá, após os pedidos insistentes do herói.

– Estou utilizando meus recursos para localizar as últimas amostras do Extremis, como devem saber e acabei por descobrir outra coisa curiosa.

Houve silêncio.

– Qual é? Nenhuma dúvida? – Ele protestou. Tony revirou os olhos e bateu as mãos, esperando que algo acontecesse. – J.A.R.V.I.S?

– Sim, senhor Stark? – A voz ecoou por todo o salão.

– Mostre nossa convidada, sim?

– Imediatamente, senhor. Devo dizer que a senhorita Maats está um pouco alterada, portanto, pode apresentar algum comportamento inapropriado.

A sala ficou completamente escura, um telão foi projetado na parede e imagem de uma pessoa sentada em uma cama surgiu; uma jovem de cabelos escuros, ainda sujos, conversando com alguém fora da vista da câmera. O quarto era branco e sem qualquer decoração, a garota estava usando um vestido branco mediano, provavelmente cedido por Stark.

Steve Rogers congelou, era a mesma garota que havia esbarrado antes de encontrar Tony. Ela havia sido levada por Pepper para lá? Estava presa?

– O que fez com ela, Stark? – Steve perguntou surpreso.

– Cuidei dos ferimentos, obviamente. – Tony respondeu ofendido. – Agora veja.

A jovem discutia com mais empolgação, se ergueu da cama e aos tropeços, gesticulou irritada para a pessoa fora da câmera.

– J.A.R.V.I.S, o áudio.

Sem responder, o assistente liberou o som e os gritos da garota ecoaram por todo o salão. Seus olhos rubis ficaram mais evidentes quando a câmera aproximou-se para focar melhor.

– Vocês não entendem! Eu preciso falar com ele!

– Senhorita, acalma-se. Acabamos de colocar o tradutor, a senhorita está fraca e precisa de repouso. – A voz masculina dizia.

– Eu sei, mas... não consigo lembrar bem – ela massageava cuidadosamente as têmporas, evitando a área do corte profundo. – Mas preciso falar com ele.

– Do que se lembra?

– De que eu não deveria estar aqui. – Ela respondeu.

A voz da jovem era bonita. Delicada e cantada, Steve ouviu admirado para a menina muda que encontrou e se tornou alguém tão desesperado por algo.

– Quem é essa? – Natasha questionou.

– Ela parece ter sofrido algum tipo de acidente. – Bruce observou.

– Acreditem, nem em seus maiores sonhos isso poderia acontecer. Era o que eu estava falando, grandão. – Tony explicou animadamente. Ele tocou em sua orelha e um comunicador iluminou-se em tonalidade azul. – Pergunte a ela o nome e de onde veio, sim?

A jovem ficou muda e escutou a mesma pergunta vinda do homem que estava com ela na sala.

– Eu já respondi. Eu acho. – Parecia confusa.

– Pode responder novamente? Estamos tentando avaliar suas condições psicológicas antes de se encontrar com o senhor Stark.

– Estellise Maats. – Respondeu calmamente. – Não sou daqui.

– Pode ser mais específica?

– Estamos na Terra, não é?

– S-Sim... ?

– Eu não sou daqui.

Bruce engasgou com a saliva e desviou a atenção de todos no telão.

– O que foi isso? – Ele tentou se recompor.

Tony Stark estendeu as mãos para os lados, dando de ombros.

– Recebi um comunicado do setor espacial da Stark, avisaram que algo ou algum tipo de espaçonave havia adentrado o espaço aéreo americano e depois, canadense. Imaginei que fosse um simples asteroide, mas resolvi prosseguir com uma investigação e descobri que a aeronave caiu nos arredores do Canadá. – Ele respondeu. – Então, fui tentar encontrar os ocupantes, mas tudo o que descobri foi que a aeronave estava abandonada e bem avariada.

Steve continuava a encarar Estellise no telão, ainda não acreditava que a jovem que havia esbarrado se tratava de algum tipo de alien. Aliás, ele nunca havia encontrado um alien antes, exceto aqueles enviados por Loki, mas mesmo assim; sua mente não permitia que ele pensasse nela como algum inimigo.

– Ela está contra nós? – Steve murmurou com os olhos fixos em Estelle.

– Não sei. Esperava que a Natasha pudesse ajudar nisso, é ótima para fazer algumas perguntas. – Tony riu. – Assim que entrou na empresa, o J.A.R.V.I.S fez um scan de seu DNA e dos demais dados necessários, os resultados devem sair em breve.

– Correção, senhor. Os resultados já estão disponíveis para consulta – A voz mecanizada invadiu o local. – Gostaria de saber?

– Imediatamente.

– Pois bem.

A imagem de Estelle desapareceu, dando lugar a um esquema computadorizado simulando a imagem da silhueta de uma mulher; dados foram surgindo em volta, com caracteres difíceis para Steve entender.

Um ponto vermelho se iluminava no peito da silhueta e se direcionava aos extremos do corpo, Rogers notou a expressão preocupante de Tony e Bruce quando viram a informação.

– A avaliação constatou que se trata de uma humana, em torno dos 25 anos, de sangue tipo O- e sem predisposição a desenvolver algum tipo de deficiência ou doença.

– Pule para a parte do ‘porém’. – Tony interveio de maneira impaciente.

– Porém os resultados, Senhor Stark, deram positivo para o soro Extremis dentro do corpo da Senhorita Maats. Os testes confirmam que o soro está em circulação no corpo dela há pelo menos duas semanas, tempo analisado para as feridas infeccionadas em seu corpo e pela disposição de locomoção após a aplicação do sérum.

– Mas se ela está com o Extremis, por que continua ferida? – Banner questionou, a mão apoiada no queixo. – Ele acelera o processo de cura.

– Receio que as feridas não são de origem terrestre, Senhor Banner. Apenas isto pode interferir no funcionamento do Extremis, pois não há dados precisos do efeito deste soro em interações alienígenas.

Tony ficou boquiaberto.

– Hey, Grandão. – Ele murmurou. – Diz que deu um jeito na Pepper e a livrou do Extremis.

– Ainda não. – Banner respondeu cabisbaixo.

– Estamos então com um problema.

Extremis. Steve se lembrava desse nome, devia ter ouvido em alguma reunião com os Vingadores ou em relatórios enviados por Maria Hill. Apesar do fim da S.H.I.E.L.D, ainda mantinha contato com alguns agentes que enviavam relatórios sobre o estado de Fury e o andamento de algumas missões.

Ele sabia que o soro era perigoso, principalmente por causa da instabilidade. Algo criado para imitar o que Steve era, mas apenas uma pessoa havia feito corretamente a fórmula e ali ela não estava, mesmo se tivesse sobrevivido à guerra.

Mas Rogers sabia de uma coisa, o soro gerava uma dor inimaginável para aqueles que se sujeitavam a ele e isso não deveria ter mudado com o Extremis. A garota deveria estar no ápice das dores ou pelo menos, deveria tê-las tido.

– Ela deve ter passado por um bocado. – Steve disse quase que para si mesmo.

– Por quê? – Clint indagou.

– O soro causa uma dor inimaginável. Acredite.

– Experiência própria?

– Podemos dizer que sim.

Toda a sala ganhou tonalidade avermelhada. Sirenes começaram a soar pelo local e Tony imediatamente começou a conversar com alguém pelo comunicador auricular.

– O que foi? – Natasha estava com sua mão apoiada e uma arma na cintura.

– Nossa pequena Extremis fugiu, veja só. – Tony respondeu. – Pelo visto, o soro destrói até mesmo o Vibranium.

A agente olhou de soslaio para Tony e deu-lhe as costas, correndo para o elevador, atrás da fugitiva.

Longe dali

– Putz, 37 chamadas?! Ela está louca!

– O que foi, Quill? – Gamora o encarou.

– Uma garota andou me ligando, mas estava meio ocupado sabe... salvando o universo e tal. – Peter sorriu, mas assumiu uma postura mais séria ao notar a falta de interesse da amiga. – Mas não é feitio dela me ligar assim, desesperadamente.

– Mais uma que caiu em sua teia maliciosa?

– Qual é. – A olhou de esguelha. – Ela é minha amiga.

– Caiu totalmente na rede maliciosa do Quill. – Gamora, Drax e Rocket falaram em uníssono.

– Eu estou falando a verdade, gente! Não é normal a filha de um dos Generais da Nova Corps vir atrás de alguém como eu.

Gamora o encarou surpresa.

– Você andou roubando alguém da Nova Corps? – A mulher questionou.

– Pff, claro que não. Eu acho. – Ele deu uma risada sarcástica. – Enfim, vou ligar de volta.