– Você sente falta da sua espada?

– Pra começar, ela nem era minha. eu a achei logo no começo disso tudo.

– E como ficou tão boa com ela?

– Era só eu contra eles aqui o dia todo, todos os dias. Eu não sei o que era aquilo, mas não era vida. Não como agora. Entrando na lama pra pegar unas cenouras e ervilhas. Isso sim é vida.

Michonne e Rick riram enquanto empurravam os carrinhos com enlatados para toda a família se alimentar na igreja. Sim, ela estava suja de um líquido horrível do depósito de alimentos, mas estava indo encontrar sua família, estava ao lado de Rick. Antes era ela e a espada, podia ser fácil sobreviver, não tinha ninguém com quem se preocupar, ninguém para proteger, mas não era vida. Agora seu coração começava a sentir-se aquecido, pessoas a quem cuidar, conversar. Michonne ponderou se não estava se abrindo demais, era bom fazer piadas da vida deles, ver o rosto de Rick se iluminando em um sorriso. Ela daria tudo para ver aquelas pessoas felizes, mas não pôde proteger Andrea, não pôde impedir o Governador de matar Hershel com sua espada.

– Eu sinto falta da Andrea. Sinto falta do Hershel. Não sinto falta de como era antes. Não sinto falta daquela espada.

Rick deu-lhe um olhar compreensivo e ficou um instante processando a informação. Era claro que Michonne sentia falta dessas pessoas, mas ele não imaginava que ela estava pronta para falar com ele sobre isso. Ele queria tanto saber mais sobre a vida dessa mulher, desde que ela chegou à prisão, ele ficou intrigado com sua figura. Todas as mulheres que ele conhecia se tornaram fortes com o tempo, mas Michonne parecia pronta para esse mundo. Agora ele sabia que não, ela não sabia usar a espada antes, nem era dela, ela tem muita história e deve ter passado por coisas horríveis sozinha. Agora ele entende que ela se tornou tão forte porque não tinha ninguém para protegê-la. Mesmo quando ela sorria, ele podia ver uma nuvem pesada passando pelo brilho dos seus olhos. Ele queria conhecê-la cada vez mais, mas não quis pressionar, havia tempo e ele não queria mexer em algum trauma dela.

Todos sentaram no banco e no chão da igreja para comer, estavam rindo, felizes por mais um dia de sobrevivência, por mais um dia juntos. Rick sentou-se com Judith, ele não cansava de olhar para a filha e certificar-se de que ela realmente estava ali sã e salva em seus braços e logo a frente estava Carl. Ele também não cansava de olhar para Michonne, ela se aproximou dele e colocou duas taças de vinho ao seu lado. Michonne estava reivindicando um lugar ao seu lado? Ele lembrou que desde que eles se reencontraram, não se desgrudaram mais, era natural ela estar sempre ao seu lado, no perigo e na alegria. Ela voltou para sentar-se com o prato e ele deu-lhe mais um olhar na hora de fazer o brinde. Esses pensamentos não deveriam passar por sua cabeça, mas ela ficou bem melhor com mais pele à mostra, desde que tirou a enorme camisa branca. Agora ela também tinha um perfume doce e agradável que a leve brisa levava até ele.

Michonne fez um carinho nos cabelos de Judith, ela estava tão feliz por Rick e Carl terem encontrado Judith, ela estava feliz que ele estava lhe dando um olhar meio quente. Oh, Michonne, não seja idiota, não temos tempo pra isso.

Ela ajudou Maggie e Sasha e lavar e organizar os objetos usados e quando elas voltaram todos já estavam dormindo cansados e sob o efeito do vinho. Sasha fez seu caminho para perto de Tyreese, ela não viu Bob, mas achou que ele tinha saído rapidamente para ir ao banheiro, Maggie abraçou-se com Glenn.

Michonne viu Rick acalentando Judith ao lado de Carl já adormecido. Ela estava feliz por eles, mas sentia-se sozinha, todos tinham o seu grupo de amigos, namorados, seus amigos mais próximos eram Rick e Carl, mas ela não queria intrometer-se em um momento familiar e afastou-se procurando o ar fresco fora da igreja.

– Você não está mais atenta, Michonne. Ficar com pessoas, é perigoso, você perdeu sua espada por isso, se estivesse sozinha ainda estaria com ela.

– Você não está falando e eu não preciso daquela droga de espada, eu posso me cuidar.

Era ela imaginando que ouvia a voz do namorado Mike.

– Você está com eles, mas está sozinha, nós éramos sua família.

Suas lágrimas escorriam sentindo o vazio em seus braços, ela não podia ter essa alegria de encontrar seu filho, seus parentes, mesmo se Eugene encontrasse a cura, ela não tinha mais nada nesse mundo. Ela se assustou ao ouvir um barulho, mas era alguém saindo da igreja. Rick.

– Michonne? Você está chorando?

Ela enxugou rapidamente as lágrimas.

– Não. eu só vim tomar um ar.

– Você tava chorando. Aconteceu alguma coisa? Você se machucou?

Rick ficou alarmado, ela forçou um sorriso, mas não conseguia fingir para ele.

– Eu só estava pensando em algumas pessoas que ficaram pra trás.

– Andrea? Hershel?

–Também. Mas antes deles. Minha família. Eu tinha um bebê. Eu perdi todo mundo logo no começo.

Rick finalmente entendeu o quanto Michonne estava machucada e o quanto tinha sofrido, perder alguém pe sempre doloroso, mas um filho, ele sabia é a pior das dores humanas. Seu coração ficou apertado, querendo fazer ou dizer alguma coisa e sem saber o quê.

– Eu não estou mais como eu era antes, quando não tinha vocês, é bom rir, conversar. Mas no fim do dia, eu lembro que não tenho mais ninguém, não me entenda mal, vocês são meus amigos. Se a gente chega em um lugar seguro, se existe uma cura, eu não tenho mais pra onde ir, pra quem ir.

Rick não sabia o quanto podia se aproximar sem assustá-la, um dia ela lhe disse para nunca toca-la, mas foi em outras circunstâncias e ele precisava abraça-la. Ele suavemente a abraçou e beijou sua testa.

– Você não está só, você acha que em um lugar seguro ou em qualquer lugar, nós vamos te deixar longe de nós? Nem pense nisso, você está conosco. Comigo, com a Judith, com o Carl.

Michonne nem podia lembrar a última vez que alguém a abraçou, ou tocou sem a intenção de machucar, era uma sensação quase nova sua pele entrando em contato com a de outra pessoa, o calor humano. Rick a levou para dentro da igreja, e eles se deitaram lado a lado e com as crianças perto dele.

– Você pode chorar, isso não é fraqueza. Além do mais, eu não vou contar pra ninguém.

ele ofereceu seu ombro pra ela deitar a cabeça e eles adormeceram abraçados.