A garota corria o mais rápido que as pernas doloridas permitiam, ela já estava fraca e tremendo, as lágrimas escorriam livremente pela face pálida.

Mas ela definitivamente não ligava, não quando estava sendo perseguida. Com certeza não iria muito longe, afinal deixava suas pequenas pegadas na neve tão branca quanto ela. Tinha que pensar em algo para distrair os guardas, e rápido.

Parou bruscamente no mesmo lugar, e olhou para trás, mas especificamente, para suas pegadas. Se desse errado, estaria morta, mas a quem queria enganar? Morreria de um jeito ou de outro.

Refez seus passos até encontrar um lugar onde a mata fosse densa o bastante para se meter entre as plantas e correr, já ouvia passos apressados dos homens que a perseguiam se aproximarem quando saltou para dentro da mata e correu mais rápido do que nunca, em direção a algum lugar onde poderia refazer sua vida.

Ou ao menos onde seus instintos a levassem.

Já haviam desistido de perseguir a fugitiva a essa altura, era para o sol pálido do inverno aparecer para a criança, mas tudo o que se via no céu eram nuvens escuras indicando uma tempestade, o que piorava sua situação, que era precária. O vestido branco velho e sujo de sangue seco agora estava mais rasgado do que antes, sujo de terra e escapando pelos ombros finos, mancava graças ao machucado que foi feito ao tropeçar na raiz de uma árvore e não sabia aonde estava, tudo ao seu redor era a neve e a pequena trilha que seguia.

E quando menos esperava, a tempestade de neve a atacou, era a mais forte que já havia visto.

A menina tremia de frio, abraçando-se, não aguentaria mais, morreria congelada, e teve certeza disso ao perceber que sua visão escurecia aos poucos, pelo menos havia fugido daquele lugar, pelo menos havia realizado seu último desejo.

A última coisa que viu, foi a silhueta de alguém se aproximando, antes de ver apenas a escuridão.

Mal sabia que aquela silhueta, era a sua salvação.

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- A nova entrega ao mestre é essa garotinha? - perguntou um homem barbudo e forte, apontando para a menina que era segurada por um guarda.

- Sim. - respondeu o que segurava.

- Ela é tão...fraca. O mestre não irá gostar dessa, Jhon.

O outro apenas soltou uma sonora gargalhada, que fez a criança ali presente se encolher.

- Esta menina fazia parte da família Cromwell, Peter.

- A criança que sobreviveu ao acidente de carruagem que matou aos pais?

- Essa mesmo, uma peça valiosa, não acha? A Tia a vendeu para nós por uma mixaria.

O outro sorriu malicioso para a menina, a fazendo se encolher.

- É o chefe vai adorar.

A criança estava alheia sobre tudo o que aconteia, na verdade, sempre esteve, ou ao menos alguns meses atrás, quando supostamente havia sofrido um acidente de carruagem com seus pais dos quais não se recorda. Tudo que se lembra é da enfermeira Pietra do médico Louis, que cuidavam dela, e de sua terrível tia eles lhe disseram que sua idade é oito anos, que seus pais morreram no acidente que lhe fez perder a memória, e seu nome: Amélia Cromwell.

E agora também sabia que sua tia havia lhe vendido para aqueles caras. E ao entrar na mansão Trancy, descobriu por si só, que aquele seria seu inferno.

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Acordou com cochichos de duas pessoas, pareciam estar discutindo. Uma mulher baixa, de cabelos vermelhos curtos, e olhos tão cinzentos quanto o céu la fora e um homem alto, de cabelos loiros e raspados, e olhos negros como carvão brigavam.

- O que deu em você? A Kim que eu conheço não iria trazer uma criança qualquer que achou por ai para dentro da Academia. - o homem ralhava.

- Ben, eu é que pergunto o que deu em você, é só uma criança, a maioria das que estão aqui estavam em condições tão ruins quanto as dela, e em que mundo essa menina poderia fazer mal a agência? - ela respondeu.- e fale baixo, ela está dormindo.

Na mesma hora, a garota se levantou, fazendo os dois a olharem.

- Acho que não está mais.

- Calma calma, você tem que descansar. - Kim correu até ela, a colocando de volta na cama.

Os olhos azuis e frios como gelo analisavam Kim com curiosidade e desconfiados, a moça devolveu o olhar, porém de forma gentil e companheira.

- Ei mocinha, se sente bem? - perguntou.

Em resposta, a criança assentiu.

- Que bom. - Kim sorriu. - posso saber seu nome?

A menina pareceu ponderar se responderia ou não, e resolveu que o faria, já que aquela mulher, pelo que parece, a salvou.

- Amélia Cromwell.

Ben tacou os braços para cima.

- Ótimo, uma menina que aparentemente fugiu de uma casa nobre, ótima ideia Kim, ninguém virá até aqui atrás dela! - ele praticamente berrou.

Kim apenas o ignorou, continuando a observar Amélia e a alisar os cabelos negros como a noite da mesma.

- Esse nome não combina com você...mas daremos um jeito. - murmurou. - pode nos contar sua história, Amélia?

- Não sei se devo confiar em vocês. - respondeu sem pensar.

- Eu acho que o que podemos fazer por alguém que nos salvou, é confiar na pessoa, não é? - Kim disse, levantando uma sobrancelha.

Criança e mulher se encararam por minutos, como uma discussão com o olhar, por fim, a criança se rendeu, sentiu que poderia confiar naquele olhar maternal, e pôs-se a falar sobre tudo que se lembra,até esse momento.

Até Ben acabou se juntando a conversa, parecendo curioso, quando a menina terminou, os adultos se entreolharam.

- Acredita em mim agora? - indagou a moça a Ben, que bufou.

- Certo, se ela for útil em alguma coisa, até podemos treiná-la.

- Treinar? - a menina perguntou, curiosa.

- Antes, vamos dar-lhe um nome. - Kim se virou e analisou bem o rosto da criança. - diga-me, gosta do nome Alaska?

A mais nova assentiu.

- Então, Alaska Snow, seja bem-vinda a Assassin´s Academy.