Adeus, e Obrigada escrita por Luh Black


Capítulo 1
Adeus,e obrigada




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Adeus,e Obrigada...

 

               Lembro-me como se fosse ontem como nós nos conhecemos. Era um lindo dia de inverno, bem nublado e frio, do jeito que você sabe que eu tanto amo. Naquela época eu era bastante ignorante e egoísta, admito. Eu estava só com um casaco por cima da blusa fina, e uma saia no meio da coxa, estava chovendo forte, e estava morrendo de frio, mas meu orgulho e teimosia não me permitiam admitir isso. Então, você percebendo que não estava tão bem quanto queria, foi ao meu socorro, mesmo não me conhecendo,sabia apenas que estudava na sala mais ignorada e “não desenvolvida” do 3º ano, era revoltada e tudo mais. Você ofereceu dividir o guarda-chuva comigo, mas eu ignorei e virei a cara. Nunca pedi desculpas por aquilo, eu era infantil e já sabia do meu cruel destino. Depois daquilo, eu voltei atrás e me uni a você, na guerra contra a chuva e o frio, e dividimos o guarda-chuva. Por pura coincidência, pegávamos o mesmo trem e descíamos na mesma estação, mas nos separávamos lá. No caminho, conversamos sobre varias coisas, mas ainda não havíamos nos apresentado devidamente. Nunca te disse, mas eu já tinha meio que simpatizado com você aquele dia, e esperava te encontrar novamente.

 

      Pela mais pura coincidência, ou pelo menos eu achava isso, nos encontramos na fila do lanche da escola, no dia seguinte. Você me cumprimentou e eu apenas acenei com a cabeça, e você acabou me salvando outra vez. Meu padrasto havia pegado o dinheiro da minha carteira, e estava faminta. Quando vi que estava sem dinheiro, você falou que me emprestaria. Morta de fome como estava, aceitei. Depois daquele dia, passamos a nos falar mais. Você era um dos únicos, ou melhor, o único cara com quem eu conversava na escola.

 

      Três meses depois que nos conhecemos, você me salvou outra vez. Meu padrasto estava bêbado e me mandou comprar mais cerveja, eu disse que não iria e ele me bateu, me jogou contra a parede e eu bati a testa na quina da mesa. Sai correndo no meio da noite na rua escura, como o rosto sangrando e sentindo frio. Aqueles homens se aproximaram de mim, querendo me convencer a dormir com eles, por bem ou por mal. Eu lembro que havia dado um murro em um dos caras, e os outros dois avançaram sobre mim. Desesperada, por impulso e sem perceber o que eu fazia, gritei seu nome, e o mais surpreendente e que você apareceu. Bateu nos três caras por mim, se machucou por mim, se arriscou por mim, como ninguém nunca tinha feito. Aquilo foi um baque, fiquei em choque. Mesmo machucado, e com os caras ainda de pé, você pegou minha mão e saiu correndo comigo. Corremos muito ate nos livrarmos daqueles caras, depois disso, me perguntou o que havia acontecido. Então te expliquei, te contei algo que eu nunca havia dito a ninguém. Contei-lhe que meu pai havia morrido em um acidente quando tinha três anos, e quando fiz 10 anos minha mãe havia se casado com um homem rude, gordo e fedorento. Três anos após o casamento, ela havia morrido de hemorragia interna. Meu padrasto a batia tanto, que a matou. Então, tive que ficar com ele. Eu o odiava, e depois de ele ter me batido naquele dia, nuca mais voltaria.

 

        Você me ofereceu sua casa, para que eu ficasse lá até arrumar um lugar pra morar, mas eu nunca fui embora. Sua gentileza e carinho, algo que não me lembrava ter a muito tempo, algo que não sei o que é há muito tempo, fizeram com que eu me apaixonasse por você, mesmo tendo jurado a mim mesma que jamais me apaixonaria, após ver o sofrimento de minha mãe. Dois meses depois nós nos envolvemos. Descobri que você também havia visto algo em mim, descobri que me amava. Mesmo tentando resistir, acabei me entregando a você. Entregando-me de corpo e alma. Porém, eu fiquei com medo de lhe ferir quando me lembrei do meu futuro. Na manha seguinte, após dormir com você pela primeira vez, fugi. Fui embora e tentei sair da cidade de trem, mas não encontrei forças para isso. Não conseguia te deixar mais. Você me acorrentara a sete chaves, e não me dissera nem sequer uma pista para que pudesse me libertar.

 

       Quando enfim havia chegado à estação, quando enfim havia encontrado forças para entrar naquele trem e desabar chorando na cadeira, assim que o trem começou a se mexer, você chegou e me impediu. Puxou-me para fora do trem e me abraçou forte, só me soltando quando o trem já estava longe, e eu já me derramava em lagrimas no seu ombro firme. Lembro bem. Quando você me soltou desabei no chão, chorando mais ainda e perguntando por que havia me impedido. Você me perguntou por que eu queria ir embora, perguntou se havia feito algo errado. Não podia pedir muito de você, você não sabia da minha situação naquela época, você não sabia que me restava pouco tempo de vida.

 

       Eu lhe expliquei toda a historia quando chegamos em casa. Disse-lhe que tinha uma doença incurável,cancer, e que na verdade, a culpa da morte de minha mãe não fora toda de meu padrasto. Ela já estava morrendo, e o espancamento de meu padrasto só acelerara sua morte. A doença era hereditária, e eu já havia me contentado com meu futuro inexistente. Disse-lhe meus medos, temores, sonhos... Esperanças. Disse-lhe coisas que nunca havia dito a qualquer outra pessoa... Talvez nem a mim mesma. Eu pensei que você me abandonaria e me esqueceria, como já fizeram comigo, mas você me abraçou e demonstrou seu amor por mim. Disse que sempre estaria ao meu lado, implorou para que eu não fugisse mais, implorou para que tentasse sobreviver o quanto pudesse ao seu lado, e jurou que estaria comigo para sempre, não importando o que acontecesse. Não entendi como conseguia falar aquilo ou se sacrificar tanto  por mim, mas aceitei trilhar o resto do meu caminho ao seu lado, sem desistir ou fraquejar. Naquela noite, dormimos abraçados no chão da sala da sua pequena casa.

 

         Você me convenceu a ir ao médico. Quase me arrastou para lá, é verdade, mas eu fui. Lá, descobrimos que ainda tinha cinco anos de vida, e que a cura aquela altura, era impossível. O médico disse a você que me mantivesse acordada e feliz o quanto pudesse, apenas isso talvez pudesse aumentar um pouco minha curta vida. Eu lembro que você me olhou com aquele olhar triste e penoso, mas eu apenas sorri, lhe dei um beijo e disse que ate lá,deveríamos cumprir nossa promessa.

 

        Aqueles três anos foram mágicos. Aquela garota revoltada, infeliz e sem futuro, que apenas esperava a morte, mudou totalmente. Morreu. Com você, virei uma pessoa feliz e sempre sorridente, por que sabia que se chorasse, você também choraria por mim e comigo. Pude até experimentar o calor de criar uma vida. Fiquei grávida da nossa pequena Catherine, que pretende nascer nesta manha. A verdade e que agora são 3 horas da manha,e mesmo não querendo,sinto que ao dar a vida a Catherine, vou perder a minha vida. Não pense que estou triste ou fraquejando, quebrando minha promessa. Eu estou feliz. Tão feliz quanto jamais estive em minha vida, mas não quero que minha filha tenha o mesmo destino que eu.

 

         Lembra-se que o medico havia dito que a doença deveria ser tratada logo no inicio da vida?Não sei se Catherine terá a mesma doença que eu, mas caso tenha, eu lhe imploro que a impeça de ter o meu destino final, tenho dinheiro na poupança, uma pequena herança de minha mãe que era desconhecida por meu padrasto. Use-a toda com Catherine, por favor. Talvez esteja parecendo que eu não confio em você, que eu não saiba que faria isso mesmo se eu não lhe dissesse, mas sabe que sou muito ansiosa.

 

        E por fim, acho que é hora de me despedir. Apesar das manchas de lagrimas nesta enorme carta, não pense que choro de tristeza por meu fim estar próximo, na verdade eu estou chorando de alegria por lembrar que ainda tenho você, e que não lhe deixarei sozinho. Você e o que tenho de mais precioso em minha vida. Foi você quem me ajudou a levantar com os freqüentes desmaios que tive durante a gravidez, mas ainda sim,nunca nem pensou em me abandonar. Foi com você que eu nasci novamente, graças a você que conheci a felicidade, e que pude também morrer feliz. Eu agradeço por tudo que fez por mim, e juro que fiz o possível para manter minha promessa. A você, não tenho reclamações, apenas gratidão, dividas pendentes por tantos sacrifícios seus, feitos por mim.

 

       Por favor, não chore por mim, não mereço suas lagrimas. Cuide bem de Catherine, e diga a ela que ela foi a única que amei tanto quanto você, quando nem ao menos a conheci. Saiba que estarei olhando e orando por vocês.

 

  Com meu amor eterno para você, meu querido Tiago,

                 Adeus, e obrigada...

                                                     Anna.

 

        A carta estava dentro da roupinha que ela mais havia gostado, a primeira que havíamos comprado para Catherine. Olhei nossa pequena criança, dormindo tranqüila dentro do berço, já em nossa casa. As lagrimas não puderam deixar de cair, mesmo já tendo lido a carta diversas vezes. Queria dizer a Anna que Catherine era a recompensa de todos os “favores” que lhe fiz antes de nos relacionarmos, e depois também.

 

        Catherine é exatamente igual a você, Anna, e cuidarei e a amarei como amei e cuidei de você, com minha vida.

 

 

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E ae?Gostaram?Tomara...o.o Obrigada por lerem a fic,gostando ou não,por favor,deixem um comentario!É isso que da vida ao autor,que o faz escrever....e de cara você ainda ganha 100 pontinhos! ;D

 


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