Save me‏ escrita por Rosi Rosa


Capítulo 1
Confronto.


Notas iniciais do capítulo

De luto, Felicity enxerga apenas frieza em Oliver. Sem ver realmente seu real sofrimento.



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Oliver estava sentado, as mãos cruzadas, Felicity apoiava o corpo nas costas de uma cadeira, o olhar vago, as mãos unidas, o coração inquieto, discutiam a demora em localizar os dados e cruzar com as informações das vitimas do arqueiro assassino.

Oliver queria mais agilidade. Felicity queria mais sentimentos.


— Está demorando muito. — Oliver se levantou em sua fria impaciência, ainda vestido no traje de Arqueiro, o olhar gélido e penetrante. — O assassino está por aí. A cada segundo gasto aqui... — Sua voz ficou mais alta, mais estridente, mais furiosa, ainda mais mortal. Felicity o interrompeu exasperada.


— Eu sei. Não precisa me dizer como se eu não soubesse. — Os olhares se cruzaram, a voz ressentida e nervosa de Felicity reverberava por todo o covil.


— Você tem razão. — Oliver respirou mais profundamente. — Eu peço desculpas. Preciso do seu melhor agora, Felicity. — Falou ameaçador, desviando o olhar, dando as costas pra ela, não queria ver o reflexo de seu amor em seus olhos azuis, não queria tocá-la, abraçá-la e reviver a doçura do beijo, a lembrança do toque e a união de seus lábios. Não queria consolar e se perder em sua dor.

A dor dela. A dor dele.


— Não estou no meu melhor. — Felicity disse num tom mais alto, tirou os óculos, as lágrimas ameaçando cair, olhou para ele bruscamente. — Minha amiga, nossa amiga, foi atingida por flechas e caiu de um telhado. O corpo dela está lá em cima em um freezer, — A voz tremeu, os olhos turvaram-se de lágrimas não derramadas, os dentes ficaram cerrados com violência. — porque não sabemos o que fazer com ele... Com ela. — Sentiu o coração ainda mais apertado, num ímpeto de ódio, o corpo enrijeceu ao lembrar do corpo frio e sem vida da amiga.


Oliver apertava os olhos impedindo-se de chorar, de correr para os braços dela e pedir colo, força, amor... Salvação!

Ele não precisava ser consolado. Não agora. Talvez, nunca.

Renunciava a dor. Renunciava o sofrimento.

Mas era impossível renunciar seus sentimentos... por Felicity!


— Eu sinto muito, Oliver, se tenho sentimentos, mas, talvez, se você também tivesse, a gente... — Ela pausou o que iria dizer, engolindo as palavras em seguida, Oliver encarou o sofrimento dela, a boca aberta, o peito doendo a cada batida de seu coração, aproximou a passos lentos, indecisos.


— Desculpe. Isso não foi legal. — Ela suspirou rudemente. — Mas é da Sara que estamos falando. Sua Sara. — Oliver sentiu a dor apertar sua garganta violentamente, os olhos perderam o foco. — Como pode ficar tão frio e racional? — Felicity completou com sinceridade, Oliver fechou os olhos fortemente, impotente, afundando em sua solidão tristemente.


— Porque não tenho o luxo de desmoronar. — Ele olhou diretamente pra ela, atormentado e sombrio, o coração disparado no peito, errante, desnorteado. — Todo mundo está esperando que eu resolva as coisas, que eu tome as decisões certas. — Mais uma vez ele engolia a dor, as lágrimas, o sofrimento. — Todo mundo está esperando... Que eu lidere. — Felicity fungou, abaixando o olhar triste, não querendo ver o herói em sua frente quase derrotado, insuportavelmente amargo. — Se eu chorar, ninguém mais consegue fazer. — Novamente estava de costas pra ela. Novamente impedia seu corpo de afagar o corpo dela, de procurar por calor, ele estava frio e solitário, seu coração endurecido. Novamente impedia-se de sofrer.


— Você ainda é um humano, Oliver. — Zangada, Felicity andou até ele, o coração partido, doído. — Você pode ter sentimentos. — Balbuciou. Oliver fitava o chão, escondendo a vulnerabilidade em seu olhar. Como ela o acusava de não ter sentimentos? Como? Ele havia se declarado pra ela, havia aberto seu coração intempestivamente, exposto sua alma, declarado os seus medos. E ela o acusava injustamente de ser frio e insensível? — Sei que, às vezes, é mais fácil viver sob aquele capuz. — Um choque percorreu Oliver ao ouvir aquelas palavras, ele piscou em confusão. Fácil? O quão errada ela estava, Oliver suspirou levemente.


— Não é. — As palavras de Oliver saíram dolorosas, cruelmente ressentidas. Pra ele. Pra ela. Menou a cabeça em silêncio, olhou em volta, o coração aos pulos, desgovernado no peito. — Hoje mais cedo, eu estava olhando para a Sara e percebi algo. — Virou o corpo e ficou frente a frente com Felicity, as palavras machucando-a com a sombria verdade do seu destino desconhecido. — Algum dia desses, será eu. E essa... — Ao ouvi-lo, Felicity deixou as insistentes lágrimas deslizar por seus olhos, molhar seu rosto, manchar sua dor. Oliver suspirou fracamente. Os olhos profundos e suplicantes. — Essa vida que escolhi... — Balançou a cabeça tentando negar suas palavras, não conseguiu evitar a crueza da verdade. — Só acaba de um jeito. — Completou rigidamente, lamentando o seu destino num tom rasgante e abafado.


— Então é isso? — Felicity respirou fundo e perguntou num resmungo furioso. — Vai apenas passar a vida se escondendo nessa caverna, esperando morrer? Sinto muito. Não vou esperar com você, — Oliver sentiu-se fraquejar com a frieza das palavras dela. Felicity andou mais alguns passos, parando perto dele. Perto demais. Perigosamente perto. — pois aprendi hoje que a vida é preciosa. — Oliver fechou os olhos, derrotado, o perfume dela invadiu suas narinas com impetuosidade, atormentando-o, enlouquecendo-o. — Eu quero muito mais do que isso. — Felicity completou num sussurro, a aspereza de sua voz deixando marcas profundas no coração cheio de cicatrizes de Oliver, ele olhou fixamente pra ela, tão perto, tão triste, tão desamparado. Suas mãos agiram por conta própria, seu coração batia incerto, sua respiração estava irregular. Puxou-a para seus braços gentilmente, apertando-a junto ao peito com suavidade, hesitante, Felicity se retesou em seu abraço, em seguida, rendeu-se, os braços em volta do corpo musculoso de Oliver, a cabeça em seu peito, as lágrimas descendo numa confusão por seus olhos, molhando o traje dele numa enxurrada de novas lágrimas. Oliver beijou o topo de sua cabeça, afagando o seu corpo trêmulo e sensível.


— Shh. — Oliver tentava acalmar Felicity, mas seus olhos ficaram inesperadamente úmidos, turvos por lágrimas verdadeiras, lágrimas que ele não derramava há um longo tempo. Felicity ergueu a cabeça para olhar pra ele. Uma lágrimas trilhou a face de Oliver sorrateiramente devagar, caindo no rosto de Felicity, misturando-se com as lágrimas dela. Agora era ele que precisava se consolado. Era ele que precisava ser abraçado. O choro começou baixo, tímido, tornando-se num choro agudo e desesperado, o corpo poderoso convulsionava nos braços dela. Felicity guiou a cabeça dele mais pra baixo, num encaixe desajeitado na junção de seu pescoço, envolvendo-o em seu calor, deixou que ele chorasse em seu ombro, reconfortando-o com ternura e paixão.


Como ela se atreveu a dizer que aquele homem não tinha sentimentos? Culpada, os olhos fixamente fechados, Felicity chorava junto com ele. Acalentando sua dor, acariciou delicadamente suas costas. Soluçando o seu nome numa mistura de dor e prazer.

O choro ainda não havia parado, mas Oliver levantou a cabeça ainda entorpecido em lágrimas e sofrimento, ele segurou com delicadeza o rosto dela com suas mãos grande, olhando para ela de um jeito desesperado, os olhos marejados, a boca semiaberta. Felicity engasgou em sua emoção ao fitá-lo com o rosto transtornado de sofrimento e dor. Oliver inclinou a cabeça lentamente, unindo sua bocas num beijo molhado de desejos e lágrimas.

Ela fechou os olhos e suspirou, beijando-o com os lábios e com o coração. O corpo forte e masculino cobriu o frágil corpo feminino de modo sensual e protetor, a língua dele se moveu em sua boca em um movimento suave e lento.

Oliver soltou um suspiro quase sufocado, beijando-a agora com pressa. Com desejo. Com loucura. Com sofreguidão.

Oliver queria mais.
Mais beijos. Mais toques. Mais pele. Mais intimidade.

O beijo tornou-se intenso, proibido. Os corpos pulsavam excitados. O bater dos corações, acelerados. Ele a queria desesperadamente. A mão dele deslizou até suas nádegas com sutileza e sedução.

Felicity arfou. Oliver grunhiu.

Os sons de seus gemidos aumentando o desejo dos dois.


— Não. — Felicity disse em advertência, a voz vibrando de incertezas. Ela afastou a boca, as respirações de ambos se misturando com ímpeto. Abaixou a cabeça, a respiração entrecortada. Oliver olhou para ela por um longo momento, os lábios latejando, o corpo estremecendo de desejos e tensão. Ele queria esquecer tudo, queria perder-se no corpo e no amor dela. Queria perder-se nas sensações que Felicity lhe provocava.


— Felicity... — Ela o interrompeu, falando apressadamente.


— Não é certo. Nós... Você... Eu... Aqui? — Corada, Felicity mordeu os lábios enquanto gaguejava, as palavras desconexas, as mãos agitando no ar. — É mórbido. — Completou furiosamente.


— Não me rejeite novamente. Você não percebe que me mata aos poucos ficar longe de você? Não consigo suportar sozinho, sem você! — Oliver suplicou tristemente. — Salve-me. — Ele pediu num suspiro angustiado. — Salve-me. — Exigente, Oliver repetiu com lágrimas nos olhos. O rosto sombriamente bonito distorcido em dor, súplicas e lágrimas.


Felicity jogou os braços ao redor do pescoço dele, ficando nas pontas dos pés, secando as lágrimas dele com sua boca, com seus beijos, trilhando o seu rosto levemente com beijinhos. Oliver a beijou urgentemente.


Você é minha. — Ele falou num rugido. — MINHA. — Repetiu num engasgo alto. Seus lábios suaves roçaram em sua boca com sutileza. Foi um beijo sublime, apaixonado, doce.


Ela sorriu com a respiração pesada, Oliver tinha os olhos ainda mais sombrios, os lábios estavam crispados, selvagens e sensuais.

Ele deu um passo para trás tentando conter a paixão, tentando ser racional num momento triste, onde seus corpos ansiavam por união e cura para suas dores.


Com um lento sorriso sensual, Oliver deixou subentendido que aquele momento entre os dois não acabaria ali.


"Amar talvez seja isso... Descobrir o que o outro fala... mesmo quando ele não diz...

(Padre Fábio de Melo)


Relutante, Felicity sorriu, um riso curto, molhado e entristecido. Eles tinham um assassino para capturar e um corpo para sepultar.


Se olharam de modo intenso e aflito, em silêncio e tremendo Felicity se afastou, caminhando devagar para a porta. Oliver a chamou baixinho, a voz tremida de emoção.


— Felicity? — Ele sussurrou seu nome tremulamente como se quisesse confidenciar um segredo.


Ela parou, olhando por sobre os ombros caídos de tristeza, com os lábios crispados ela fez uma careta ao ouvi-lo dizer cautelosamente:


— Não quero morrer aqui. — O tom emocionando de sua voz levou uma dor angustiante ao coração e a alma de Felicity.


— Então não morra, Oliver. — Felicity falou em meio as lágrimas, desafiando-o suavemente. — Não morra. — Repetiu pausadamente. Os olhos de Oliver se estreitaram numa promessa sem palavras, assentindo silenciosamente.


Antes de sair, ela murmurou baixinho, o som das palavras quase ináudivel.


— Eu te amo. — E saiu. Deixando-o sozinho com uma estranha sensação de felicidade em seu peito machucado de dor.

O amor dela lhe dava forças pra continuar.

Levantar. Lutar. Vencer.


Oliver estava com coração mais tranquilo ao saber que não estava mais perdido na solidão. Ela estaria com ele, não o abandonaria.

Munido de forças, confiança e amor, Oliver iria atrás de quem matou Sara, vingaria a sua morte e depois...


Depois seria feliz ao lado de Felicity.

Seu futuro. Sua salvação.



Felicity parecia mais leve em sua dor, ainda sofria pela morte de Sara, mas saber que Oliver ficaria ao seu lado, deixando com que ela o amasse inteiramente, unindo suas vidas completamente, aquietava o seu coração, deixando a dor da perda mais suportável e o sofrimento quase emudecido.


O segredo do amor é maior do que o segredo da morte.

Oscar Wilde




*Fim.


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Notas finais do capítulo

Olá. Mais uma fic postada e finalizada.
Espero que gostem.
Estou esperando por comentários, críticas, novas sugestões para futuras fics.
Beijos. Até. ;D



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