São apenas 30 minutos. Tento convencer à mim mesma. Eu estou olhando para meu caderninho marrom fixamente, então não sei se Austin está me olhando.

–Então, o que você andou fazendo no tempo que ficamos longe? Tem falado com Trish ou Dez?-Pergunta ele, quebrando o silêncio.

Olho para ele. Me lembro do que fiz há quase oito anos e posso sentir que estou corando.

–Eu terminei a faculdade de Jornalismo e comecei a trabalhar para a Sixteen-Acho que é meio óbvio, não, Ally?- E, sim, continuo falando com eles. Trish continua em Miami, é empresária do Dallas...

–Espera, Dallas? Aquele que estudou com a gente?

–Esse mesmo. Ele está fazendo uns shows por lá, mas, por enquanto, ele só é conhecido em Miami. Mas ela também trabalha em um restaurante de comida chinesa, quer dizer, ela trabalhava da última vez que falei com ela.

Ele riu- Ela continua não parando em empregos?

–Pois é-Olho em meu relógio de pulso. 22h02. A entrevista ainda tem mais 28 minutos-. Será que podemos começar?

–Com o quê?-Ele pergunta desentendido.

–A entrevista.

–Ah! Sim, claro.

–Tá. No seu álbum Moon Light, cujo tem uma música, a Don't Look Down, que tem a participação de Kira Starr, sua atual namorada-Tento não fazer uma careta quando digo tais palavras-, isso teve alguma influência do dono da gravadora que você trabalha, Jimmy Starr?

–Não, óbvio que não! A Kira... Ela... Eu a convidei para parceria. Pff! Jimmy me obrigou.-Faz um gesto com a mão indicando nada a ver. É claro que o Jimmy obrigou. Kira canta mal para caramba! Não que eu saiba cantar ou que a minha opinião fizesse muita diferença, mas é verdade.

–E, falando em Kira, como está o relacionamento de vocês? Sabe, com as suas turnês frequentes...

–Kira e eu mantemos um relacionamento à distância-Dá de ombros. Sinto lhe informar, mas relacionamentos à distância nunca funcionam, na minha opinião.–Mas, e você? Está namorando?

Aquela pergunta me pega de surpresa.

Eu tenho um namorado, Elliot- eu não lhe contei?-, mas eu quero terminar com ele. Ele é muito grudento e chato, fora que não é a mesma coisa de antes, quando eu pensava que gostava dele.

Então fico na dúvida: Digo á ele que não tenho namorado e ouço ele falando da Kira a entrevista toda, digo que vou terminar com ele e fico por baixo ouvindo Austin se gabar do seu relacionamento ou digo que tenho o melhor namorado do mundo para ficarmos quites?

Mesmo que talvez não seja a certa, opto pela terceira.

–Oh, sim! Eu estou namorando. Ele é super legal, lindo, inteligente e gosta muito de mim.-Minto. Elliot pode no mínimo lindo e gosta de mim.

–E quem é o sortudo?-Austin pergunta.

–O nome dele é Elliot. Ele mora aqui em Nova York.

–Não conheço nenhum Elliot-Diz.

–Ok, mas voltando à entrevista, quais são seus planos futuros para sua carreira?

–Bem, tem a turnê que começo daqui a duas semanas com shows pelo Canadá, Inglaterra, México, Brasil e Esspanha. Depois disso irei gravar novas músicas para um futuro novo álbum.

–Legal.-Olho mais uma vez no relógio. 22h10-E os seus fãs? Você tem centenas de milhares pelo mundo todo, você sofre com o assédio e o fanatismo de alguns?

–Alguns passam dos limites, sim, como uma vez que fiz um show em Washington que conseguiu invadir meu quarto de hotel. E confesso que é meio chato quando isso acontece. Mas eu adoro meus fãs.

–Certo. Ahn... Você fez uma música para a trilha sonora de O casamento do meu melhor amigo, como se sente sobre isso?

–Feliz, é claro. Foi uma honra.-Ficamos um tempo em silêncio. 22h12. Olho o relógio novamente.

–Alguns tabloides dizem que você foi visto saindo de uma festa com uma garota desconhecida no último fim de semana. Isso seria uma ameaça para Kaustin?

–Não, aquilo foi inventado. Era só uma fã querendo um autógrafo.

~*~

Depois de muitas outras perguntas entediantes sobre sua carreira e outros assuntos sem importância, não consigo nada de diferente que os outros repórteres conseguiram entrevistando Austin

Já são, finalmente, 22h30 e aviso que está na minha hora de ir.

–Espera!-Ele pede- Você pode me dar seu telefone? Sabe, para colocar o papo em dia.

–Que tal você me dar seu telefone?-Sugiro, porque assim posso não ligar.

–Tá-Ele pega um papelzinho e anota seu número-A gente se vê, Ally.

–A gente se vê-Repito e saio de seu camarim.

Vou até meu carro e dirijo até meu pequeno apartamento. Tiro os sapatos e me jogo na cama.

A única coisa que quero é dormir.

~*~

Acordo com o som insistente do despertador. São 6h30. Resmungo e desligo o eletrônico barulhento. Jogo o cobertor para longe e coloco os pés no chão gelado. Ando até o banheiro, tomo um banho, visto uma calça jeans e uma blusa branca de manga longa e coloco um sobretudo. Pego meu carro e sigo caminho até a Sixteen.

Acabo não resistindo quando sinto o cheiro de café fresco vindo de um Starbucks no caminho. Paro e pego um cappucino com canela e chantilly e volto para o carro estacionado. Quando abro a porta, pronta para sentar no meu banco, ouço alguém me chamar:

–Ally!-Me viro e vejo uma cabeça loira conhecida.

O destino quer tirar uma com a minha cara, só pode.