Brittle escrita por Isabelle


Capítulo 28
Capítulo 27 - Will


Notas iniciais do capítulo

'Quando a noite vem
E a terra é escura e essa lua é a única luz veremos
Não eu não vou ter medo
Não vou não, derramar uma lágrima
Desde que pessoas como vocês, fiquem ao meu lado.
Oh querida, querida
Fique ao meu lado, oh, fica comigo
Oh fica, fica, fica comigo,
Vamos, fique comigo"



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— Essa ruguinha aqui. — Eu passei o dedão por cima da testa de Cely enquanto ela estava deitada na minha cama me encarando com aqueles olhinhos castanhos.

Sua barriga agora tinha crescido poucos centímetros a mais e estava bem mais firme do que há duas semanas quando havíamos ido visitar a sua mãe. Depois que ela havia saído do apartamento deixei com que ela respirasse um pouco. Ela refletiu, pensou sobre a vida dela e suas escolhas, e depois de algumas horas ela voltou para casa dizendo que não queria conversar sobre o assunto. Apenas ignoraria que ela algum dia teve uma família.

Agora ela estava deitada bem ali com seu corpo nu encostado ao meu que estava coberto apenas pela cueca e pelo fino lençol. Minha mão passava lentamente pelas curvas que seus ossinhos das costas faziam, enquanto a outra estava no topo da sua cabeça, tocando sua testa.

— O que tem essa ruguinha ai? — Ela passou a língua pelos lábios.

— Você fica linda quando ergue o olhar desse jeito e essa ruguinha aparece.

— Você é louco. — Ela disse encostando mais seu corpo ao meu.

Eu passei a mão pela sua barriga e parei para perceber que já deviam fazer quase cinco semanas que Cely carregava aquela criança, se minhas contas estivessem certas.

— Fica em pé ali, eu vou pegar a câmera. — Me levantei pulando da cama, e fui até a cômoda abrindo-a e procurando a minha câmera semiprofissional

— William? — Ela disse colocando sutiã e a calcinha. — É estranho quando você fala para sua namorada que quer fotografá-la pelada. — Ela me olhou como se eu fosse um sem noção.

— Não quero te fotografar pelada, eu quero… — Pensei um pouco no que tinha acabado de dizer. — Se bem que não seria má ideia. — Soltei e acabei levando uma travessada. — Eu estou brincando.

Ela arqueou a sobrancelha.

— Tudo bem, eu não estava. Mas o verdadeiro motivo de eu querer tirar foto sua assim, é por causa de sua barriga. É que se você não percebeu, mamãe, se as contas da medicas estiverem certas, faz um mês e uma semana que você está carregando ele.

— O que? — Ela disse e passou a mão pela sua minúscula barriga.

Celeste que costumava ter uma barriga certinha, e praticamente pranchada, agora já tinha o que parecia uma pequena elevação, aquela elevação durinha que na verdade era meu filho. O maior amor da minha vida.

Não sei se era a gravidez, ou simplesmente os dias que Celeste estava tendo que parecia deixar mais cansada. Haviam mais olheiras pelos seus olhos e uma expressão de desanimo pelo seu rosto. Contudo, ela conseguia disfarçar muito bem já que hoje era sua formatura. Seu grande e esperado dia.

Ela tinha apresentado sua monografia na semana passada e todos os seus professores tinham feito aquela marra que todo professor faz. Mas ela foi aprovada e seu projeto seria posto em prática, que poderia já ser encaminhado para seu mestrado.

— Não acredito que faz um mês que… — Ela sorriu. — Ele está aqui dentro.

— Também daqui alguns dias, eu espero que você se lembre é o nosso aniversário de um ano. — Eu passei a mão pela sua cintura a trazendo para mais perto de mim.

— Eu estou há um ano com você? — Ela disse indignada. — Eu devo ser maluca e surda.

— Ou talvez, eu seja um gostoso e lindo, que você adora…

— E convencido, como eu pude me apaixonar por um garoto convencido assim? — Ela passou a mão pelo meu pescoço e encostou sua boca na minha, trazendo aquela nostalgia aos meus lábios.

— Quero que você fique ai nessa exata parede, — Eu peguei a câmera e foquei em sua barriga, mas logo quando a vi sorrindo, com aquele sorriso encrustado pelos seus dentes. Eu tive que tirar foto dela por inteiro.

— Pronto? — Ela disse depois que eu havia tirado centenas de foto delas.

— Espera aí. — Eu fui até a gaveta novamente e peguei um piloto preto e um azul.

— Você não vai passar isso em mim, vai?

— Você vai tomar banho depois, não vai? — Eu disse me abaixando e riscando uma barra em sua barriga, depois passei a caneta azul só pelo comecinho da barra e escrevi em baixo: LOADING 15 %.

Ela riu e eu tirei foto daquela sua reação.

— Você é realmente maluco. — Ela tentou passar por mim, mas pela primeira vez eu a peguei no colo e a coloquei na cama, ficando por cima dela, há poucos centímetros de meu rosto.

— Casa comigo. — Eu sussurrei e encostei a mão na barriga dela. — Somos uma família, Cely. Eu e ele. Somos sua família.

Ela me olhou com uma expressão assustada, e eu fiquei com medo de ter apressado as coisas e ter destruído tudo. Mas logo sua expressão foi ficando mais calma.

— Will, eu…

Um grito soou no andar de baixo.

— Se nenhum dos dois abrir essa porta, eu prometo que mato ambos.

Celeste e eu sorrimos ao mesmo tempo ao reconhecer aquela voz que fazia bastante tempo que não escutávamos.

Nos vestimos, e descemos as escadas rapidamente, abrindo a porta e encontrando uma morena, dos olhos escuros, quase um cadáver de tão branca, sorrindo para nós.

— Espero que vocês dois estivessem fazendo aquilo para ter demorado tanto para vir me atender. — Ela olhou para Cely e soltou um olhar de indignação. — Celeste, quantos quilos você engordou? Está parecendo uma porca obesa. Jesus, que isso?

— Um bebê. — Cely disse despreocupada. — Admito que eu estou engordando bastante também, mas é porque ele tá com fome toda hora, e essa criatura aqui— Ela apontou para mim, — me enche de comida.

— Meu filho não vai crescer miúdo não. — Passei a mão pelos ombros de Cely, mas a garota foi roubada de mim em poucos minutos, quando sua amiga a puxou e começou a abraçar.

— Sua falsa, você nem ligou para me contar. — Ela passou a mão pela barriga. — Meu Deus, tem um mini Will aqui dentro? Eu vou ser madrinha.

— Tecnicamente… — Eu fui tentar rebater, mas ela apontou um dedo para mim como se não fosse para eu estragar a sua felicidade.

— Quando você chegou? — Cely perguntou tentando afastá-la de sua barriga.

— Ontem a noite, nos instalamos no hotel, fui ver a vó Carla, que aliás não vai poder ir na sua formatura, você sabe como aquele instituto fica cheios de crianças no fim do ano.

— Ah tudo bem, falando em vó Carla tenho que visitar ela, fomo poucas vezes esse ano por causa da minha monografia.

— Claro, se a sua monografia for alta, morena dos olhos azuis, e se chamar Will. — Ela apontou para mim. — Sim, ai podemos dizer que foi por causa da monografia.

— Ei, não foi só por causa do Will.

— Não liga, Cely, se eu tivesse um homem desse em casa. — Ela fez conchinha para mão e sussurrou um “eu tenho”. — Eu também mal viria aqui.

— Você já faz isso. — Celeste olhou para ela como se ela fosse alguma songa.

— Mas enfim, a gente vai ou não pegar esse vestido que não sei se vai servir já que você tá gigante.

— Lissa, minha barriga tá pouquíssimos centímetros maior. —Cely pegou seu casaco por conta do vento que vinha da janela do corredor.

— Para mim está gigante, afinal tem uma criança ai.

— Tem um embrião ai. — Eu disse.

— Por que destrói os meus sonhos, William? — Ela me olhou com dor e eu ri.

— Vamos logo. — Cely disse e foi andando até o elevador.

— Lissa? — Disse que ela pudesse sair. — Posso falar com você por um segundo?

— Claro. — Ela disse entrando no apartamento novamente.

— Você vem? — Cely gritou.

— Preciso conversar com o Will, já vou descer.

— Tudo bem. — Ela gritou de volta e escutamos a porta do elevador se fechar.

— O que? — Ela disse sorridente como se já soubesse do que se tratava.

— Essa manhã eu pedi a Cely em casamento.

Ela não esperou eu terminar de dizer, simplesmente começou a gritar e me abraçar como se a melhor coisa de todas tivesse acontecido.

— E ela? — Os olhos pretos estavam gigantescos olhando para mim.

— Bem, você nos interrompeu. — Eu disse sutilmente.

Ela olhou para mim arrependida com os olhos negros suplicantes.

— Me desculpe, mas qual foi a reação dela? — Ela ainda pulava de alegria.

— Ficou assustada no começo, e depois relaxou, mas quando ela ia responder você gritou a gente. — Eu expliquei.

— Foi por isso que vocês demoraram tanto.

— Isso foi metade do motivo, a outra metade foi porque a gente estava pelado.

Ela olhou para mim com um olhar safado no rosto e depois abriu um sorriso maior do que o anteriormente.

— Mas me conta tudo. — Ela foi indo para o sofá e se sentou lá. — Como você pediu?

— Estávamos tirando foto da barriga dela, eu a peguei no colo, coloquei-a na cama e pedi.

Toda a magia do sorriso de Melissa fora embora. Parecia que eu tinha sugado toda a sua felicidade com meu breve resumo e eu não entendia o que tinha de tão errado. Da última vez, quando a pedi em namoro Cely quase surtou falando que era muito e que eu podia exagerar menos, agora que eu fazia algo simples a melhor amiga odeia a ideia.

— Tem uma grande diferença entre um pedido de namoro, e um pedido de cola em mim a vida inteira. — Ela disse como se eu fosse tonto.

— Will, você não tinha um anel, um buque, uma ocasião propicia, e essa noite você tem tudo isso. — Ela enfatizou. — Pede ela essa noite. Aproveita que nós vamos passar a tarde juntas e compra o anel, e na formatura, a gente põe uma música bem romântica e quando tiver aquela hora brega que os pais vão fazer homenagens, você a pede.

— Você acha? — Perguntei incerto.

— Ela vai amar, isso é o que toda garota sonha.

Só que a Cely não é como toda garota.

— Tudo bem, eu vou comprar uma aliança e tudo mais, só enrola ela, tudo bem?

— O.k, senhor capitão.

— E Lissa, nenhuma palavra sobre isso com ela, entendido?

— O que vocês estão fazendo? — Cely apareceu na porta do apartamento,

Eu e Lissa soltamos um grito abafado levando um tremendo susto.

— Você não pode fazer isso com as pessoas sabia?

Ela sorriu para mim, e eu já sabia exatamente do que ela estava se lembrando.

— Aquilo foi diferente.

— Pensei que ia me enforcar. — Ela rebateu e eu soltei uma risada.

— Tudo bem, tudo bem gracinhas, nós já estamos indo William. — Lissa prendeu o braço no de Cely e a levou.

Meu coração começou a acelerar o ritmo pelas circunstancias, mas eu consegui abrir um sorriso. Eu me casaria com Celeste.

***

A primeira coisa que eu pensei em fazer foi ligar para meus pais. Eu não sei porque mas naquele momento eu precisaria de um voto de coragem, de alguém que me incentivasse que eu deveria seguir com aquela intuição que borbulhava dentro de mim.

— Mãe? — Eu murmurei parando a camionete em frente a joalheria que estampava centenas de joias, relógios e todos os tipos de artefatos que envolvessem serem caros e feito de pedras preciosas.

— William? — A voz de minha mãe soou doce e simpática como sempre. Era exatamente disso que eu precisava naquele instante.

— Preciso de um conselho. — Eu admiti sentindo aquele frio no estômago me invadir.

— Pode perguntar o que quiser meu filho.

— Acho que vou pedir a Cely em casamento.

A linha do outro lado. Eu não sabia se a ligação tinha caído ou se minha mãe estava apavorada com a ideia, começar a duvidar de mim mesmo e da minha capacidade quando a voz dela reapareceu.

— Não brinque com os sentimentos da sua velha mãe, William. — Ela disse dando um sermão, mas como sua voz era calma e constante não parecia.

— Eu não estou brincando. — Senti aquele nó na garganta se desfazer.

— Você está falando de casamento mesmo? — Ela riu, não de deboche, mas sim de alegria. — De pôr um anel na mão da Celeste e nunca mais viver longe dela.

— Mãe, não quero e não vou nunca mais viver sem ela.

Escutei minha mãe gritar pela sala onde ela estava “Meu filho vai se casar” e um alvoroço ao fundo.

— Ei, acalme-se pequeno gafanhoto, ainda preciso pedir, eu não tenho o dinheiro da aliança, pensei que pudessem me emprestar por isso passei no banco e peguei, mas prometo que pago tudo de volta quando tiver o dinheiro.

— Não tem problema nenhum, filho. — Ela parecia radiante do outro lado da linha, por isso preferi deixá-la mais.

— Ah, tem mais uma coisa.

— O que?

— Você também vai ser avó. — A minha voz saiu fanhosa por causa das lágrimas que se juntavam no fundo dos meus olhos a pensar que me poucos meses eu me tornaria pai.

— Casamento e gravidez no mesmo dia, alguém trocou meu filho e colocou esse cyborg no lugar. — Ela gritou isso novamente para as pessoas da sala.

Preferi não contar que fazia um tempinho que já sabíamos sobre Cely, pois sabia como seria sua reação.

— Eu estou com medo mãe, nunca disse isso para a senhora, porque estava poupando para usar em uma situação realmente de emergência, e agora eu te digo, estou com medo.

— Will, meu garoto, se me dissessem a dois anos atrás, “seu filho vai conhecer uma moça que vai roubar seu coração e ele vai ser fiel a ela todos os dias”, eu nunca acreditaria Will. — Ela suspirou. — Mas olhe só o homem que essa menina te formou. Ela te faz bem. Vocês dois fazem bem um para o outro. Vai deixar algo que te faz bem só passar pela sua vida?

Eu parei para analisar todos os meus altos e baixos com Cely. Fechei meus olhos e vi seus olhos castanhos. Vi sua boca em forma de coração se transfigurar e se transformar em um belo sorriso. Vi seus cabelos em diversas etapas. Vi ela magra na nossa primeira vez. Vi ela ontem a noite enquanto eu retirava sua roupa lentamente e passava a mão por todo seu corpo. Eu não podia de jeito algum perder aquela garota.

— Eu amo você, mãe. — Eu disse e desci do carro.

— Amo você mais do que tudo, William. — Ela mandou um beijo e desligou.

Entrei na loja e passei os olhos por todas aquelas pessoas que transitavam em busca de algo que as satisfizessem. Um homem que tinha mais ou menos a minha altura e usava um terno cinza, sorriu para mim e eu me aproximei.

— Posso ajudar, senhor?

— Sim, eu estou procurando… — Olhei para ele meio nervoso, mas ele continuava sorrindo. — Uma aliança, vou pedir minha namorada em namoro, estou meio nervoso.

— Não há necessidade desse nervosismo todo. — Ele foi até uma estante e retirou de lá vários tipos de modelo de anéis — Esses são os de noivado, também temos as alianças se for de sua preferência.

— Não, eu quero ver só os de noivado por hoje.

Ele voltou trazendo umas vinte maletas que haviam diversos tipos de anéis. Meus olhos ficaram perdidos para fazer tudo aquilo sozinho e eu vi que precisava de reforços.

— Um segundo. — Eu me afastei da mesa e disquei o número.

— Eu espero das profundezas do tártaro que você esteja me ligando para falar, vamos para a Bahamas, e voltar só ano que vem? — Ela disse. — Seu filho pode ficar com o pai por esse tempo.

— É bom falar com você também, Emy.

— Cade a Cely? — Ela perguntou enquanto eu ouvia um choro de bebe.

— Está com a Mel, mas preciso da sua ajuda na maior emergência de todas.

— Lá vai. — Ela disse e eu senti o sorriso em sua voz.

Eu e Emily podíamos ter passado por toda aquela desavença, mas com a sua gravidez, ela não se aproximou de Cely. Eu e ela criamos um laço fraternal que eu nunca pensei que poderia ter com alguma menina. Principalmente como a minha ex.

— Vou pedir a Cely em casamento, to na joalheria mais do centro, você podia me encontrar aqui?

— Ai Meu Deus, é claro que sim. — Ela gritou o nome do seu namorado. — Eu já estou indo para aí Will, não se mova.

Esperei uma meia hora para ela aparecer de fato. Matheus, seu filho, estava no carrinho. Ele era loiríssimo igual a mãe e tinha até os mesmos olhos.

— Vamos logo com isso. — Ela chegou ao meu lado e ficou olhando os anéis comigo.

Discutimos por algumas horas qual seria a melhor opção, e no final eu resolvi levar um que Emily tinha me dito que era a cara de Cely. Simples e prático, nada muito chamativo.

Ele tinha a circunferência exata toda prata e simples, contudo chegando em sua parte de cima havia alguns detalhes que pareciam arabescos com algumas pedras de diamantes bem simples.

— É esse Will, a vejo refletida nesse anel. — Ela passou a mão pelas minhas costas e eu resolvi levar o anel.

Depois que saímos da joalheria fomos almoçar em um restaurante bem simples no centro. Todo momento em que eu olhava Matheus, aquele minúsculo bebe, eu ficava imaginando o meu filho ou filha. Eu realmente queria uma família.

— Acha que ela vai aceitar? — Emily disse comendo a sobremesa.

— É a Celeste, é imprevisível.

— Isso é uma coisa que ela é previsível, ela é previsível em ser imprevisível.

— Realmente. — Eu respirei e empurre meu prato pegando o anel que estava em meu bolso em meio aquela caixinha vermelha.

— Ela vai amar, Will. — Emily segurou a minha mão. — Só tenha em mente que você tá pedindo a Cely, e não sei lá, a mim. Você sabe como ela é.

Assenti com a cabeça e nos despedimos.

Voltei para casa e não encontrei Celeste por ali. Subi e resolvi tomar uma ducha que seria a melhor opção já que sua formatura começaria em algumas horas. A água serviu bastante para seu intuito. Ela me ajudou a esclarecer os pensamentos e meio que perceber que eu estava fazendo alguma loucura improvável.

Celeste nunca concordaria com aquilo, e por mais que eu tentasse me convencer do contrário eu sabia que era verdade.

Coloquei o terno e segurei mais uma vez aquela caixinha na mão, olhei para o anel la dentro e me imaginei fazendo o pedindo enquanto Cely olhava para mim e dizia bem baixinho que não podia fazer aquilo.

Respirei fundo e coloquei a caixinha do bolso, caso eu visse algum sinal do oposto.

Cheguei na formatura faltando meia hora para começar. Resolvi procurar por ambas as garotas, mas elas ainda não haviam chegado, então tudo que me restou foi procurar um lugar entre todas aquelas cadeiras e esperar.

A formatura começou e eu consegui ver Melissa e Arth sentados bem na frente com toda a expectativa do mundo. Celeste eu só consegui ver quando anunciaram seu nome e ela caminhou lentamente usando uma sapatilha ao invés do salto que ela havia comprado.

Melissa conseguiu me encontrar justamente na hora em que todos os pais começaram a fazer as homenagens aos seus filhos.

— Não posso fazer isso. — Eu disse.

É tão magnífico como uma pessoa pode expressar tantos sentimentos através dos olhos. Só havia parado para perceber isso, quando Lissa me lançara um olhar de tristeza e depois de compreensão. Sabia que no fundo, mesmo estando toda animada ela acabaria vendo que isso era o melhor.

— Felizes para sempre é o que cada um de vocês poderá ser de agora para frente. É um futuro muito duvidoso eu sei. O feliz para sempre não vem para todos. Ele pode demorar alguns anos. Ele pode nunca chegar. Mas ele existe e eu creio que cada um de vocês formandos. Vocês conseguiriam alcançar facilmente esse feliz para sempre. Se vocês se esforçarem e lutarem por ele.

O professor dela fez esse discurso deixando milhões de pais emocionados, mas em mim não conseguiu fazer efeito algum.

Quando a formatura chegou ao fim, Celeste nem a menos esperou seus professores tirarem uma foto com ela. Cely apenas caminhou de um jeito rápido até mim e me envolveu em um abraço.

— Eu não aguento mais ficar em pé. — Ela se sentou em uma das cadeiras. — Nós podemos ir embora? Não tenho animação com isso na minha barriga.

— Você tinha animação sem isso na sua barriga? — Mel perguntou com seu jeito bem sincero de ser.

— Podíamos ir pelo menos em alguma pizzaria ou alguma coisa do tipo.

— Eu e Arth vamos ficar na festa, se vocês não se importarem é claro.

— Claro que não, vocês podem ficar. — Celeste disse. — E esclarecendo, Mel, é pior que cólica de menstruação. — Ela se apoiou em mim e eu a levei para o carro.

— Você acredita em felizes para sempre? — Ela me perguntou quando estávamos entrando no carro.

— Felizes para sempre? — Perguntei ligando o carro.

— É, como meu professor estava falando quando ele fez o discurso. — Ela cruzou a perna de um jeito que para mim parecia desconfortável, mas para ela estava muito bom.

— Não, acho que nem a felicidade, nem a triste são eternas então, não acredito.

Ela sorriu com a minha resposta e eu não entendi muito bem o que ela estava fazendo.

— Você acredita?

— Não, to com você nessa. — Ela disse e ficou sem silêncio.

Felizes para sempre é uma coisa muito vaga para uma vida tão instável.

Chegamos no apartamento e eu escutei alguma coisa pingando, subi as escadas e percebi que era o chuveiro que eu estava tomando banho. Onde eu decidi que não iria mais fazer aquela loucura. Fechei a torneira certa, mas algo ainda parecia me incomodar.

— Que tal música? — Eu disse e fui até o som.

— Não vou dançar com você. — Ela disse tirando o vestido e ficando só de calcinha e sutiã. — Cansei dessa sua tática para me levar para cama.

— Mas é a melhor. — Eu disse decepcionado enquanto a observava subir as escadas.

The one that got away do The civil wars começou a tocar lentamente e a letra começou a martelar na minha cabeça. Comecei a pensar no que minha mãe havia me dito e percebi que precisava de coragem.

Celeste desceu as escadas e parou a minha frente escutando a música.

Era agora ou nunca.

— Comprei isso para você. — Eu fui até a estante da sala e entreguei meu plano B para ela.

Ela pegou o livro e sorriu me abraçando. Abriu a embalagem. A primeira coisa que ela percebeu era que o livro em todas as folhas estava grifado folheou as páginas que eu tive questão de grifar todas para chamar sua atenção. Ela parou bem na parte em que eu queria do livro Princesa Mecânica, em que estava grifada a fala da Tessa e do Will, dois personagens do livro:

— Case comigo. Case comigo, Tess. Case comigo e seja Tessa Herondale. Ou seja Tessa Gray. Ou o que quiser chamar, mas se case comigo, fique comigo e nunca me deixe, pois não posso suportar viver mais um dia em que você não faça parte da minha vida.

Os olhos de Cely se encheram de lágrimas e eu comecei.

— Dizem que é muito difícil terminar um namoro. — Eu passei a mão pelos cabelos e olhei o olhar dela que parecia ter se assustado. — É difícil transitar dessa fase.

— Will… — Ela limpou a lágrima que correu pelo seu rosto.

— Dizem também, Celeste, que a melhor forma de se terminar um namoro é se casando.

Ela parou de respirar e se forçou a não chorar.

— Nos dias atuais, principalmente nos dois, já tivemos pais com problemas de casamento e separação e tudo mais. Nós Celeste, duas pessoas que não tinham nada para dar certo, encontramos amor em um lugar sem esperança. Eu nunca pensei que estaria aqui fazendo isso. — Eu ri. — Nunca mesmo. O meu maior ideal de romance era sei lá, dar um soquinho no braço da menina que eu gostasse.

Ela mordeu os lábios tentando conter as lágrimas.

— Mas eu conhecia você, e tudo isso se transformou nessa bagunça e eu não consigo seguir sem você. Sem o nosso filho. E se você deixar, eu juro do fundo do meu coração que eu vou lutar todos os dias pelo nosso amor. Mas eu juro de verdade. Nunca vou vacilar com essa promessa.

— Por que, Will? — Ela levantou os olhos com lágrimas ralas. — Por que eu? Por que você me ama se nem meus pais o fizeram?

— Porque ao contrário deles, eu sei o que quer dizer família. — Eu peguei sua mão. — Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer.

— Está recitando Lilo e Stitch para mim?

— Eu estou fazendo o possível para colocar essa aliança no seu dedo. — Eu peguei a caixinha vermelha do meu terno e me ajoelhei.

Ela tampou a boca com a mão, tentando conter as lágrimas que já deslizavam de seu rosto.

— Então o plano é seguinte, eu peço você em casamento, você aceita, e eu faço você e essa criança as pessoas mais felizes desse planeta. — Abri a caixinha e fiquei encarando-a. — Cely meu joelho tá doendo.

— Você estragou todo o romantismo. — Ela me ajudou a levantar e ficou segurando a caixinha.

— Ser romântico não é muito a minha. — Eu dei de ombros. — Mas seria muito bom se você me respondesse.

— O que você acha, seu idiota? — Cely sorriu. — É claro que eu aceito.

Eu peguei o anel da caixinha e coloquei em seu dedo. Eu nunca havia me sentido daquela maneira, era como se uma chama de esperança brilhasse dentro do meu coração e saísse iluminando todo o meu ser. Eu nunca tinha sentido isso por uma menina. E eu pensava que sabia o que era amor. Mas você só sabe o que é amor de verdade, quando seu amor é testado, e por mais que Celeste e eu tenhamos passado por dificuldades. O nosso amor não tinha sido testado.


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