Brittle escrita por Isabelle


Capítulo 17
Capítulo 16 - Will


Notas iniciais do capítulo

"Simplifique estes sentimentos e te chamarei de gênio
Eles não podem parar isto que temos entre nós dois
Não há ninguém forte o bastante para me abraçar desse jeito
Você é boa demais pra mim garota
Sempre em minha mente
Boa demais pra mim garota"
The Hellacopters




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Meu corpo se petrificou ao escutar aquela frase.

Eu revezava meus olhos entre Celeste, que estava abismada, e entre Emily, que não parava de chorar; ainda não acreditando nas palavras que eu tinha acabado de escutar. Fora como levar um tapa na cara.

Meu sangue gelou, meu coração começou a palpitar mais rápido, e meus músculos tencionaram, calafrios começaram a correr por minha pele e o suor frio escorria pela minha pele. Agora eu sabia exatamente como meu pai havia se sentido.

Cely apertou a minha mão, dando um voto de esperança, mas eu não conseguia processar nenhuma informação; eu nem me lembrava o que a palavra esperança significava.

— Você está gravida? — Eu repeti a pergunta pela milésima vez.

Emily já estava cansada de afirmar aquilo mil vezes, por isso desta vez Celeste pegou sua bagagem e deixou que ela entrasse no apartamento, a encaminhando para a sala onde ela poderia conversar melhor conosco.

Celeste me deixou encarando Emily sozinho na sala, que não conseguia olhar para mim por causa das lágrimas espessas que deslizavam pelo seu rosto.

— Aqui. — Celeste entregou um copo de água com açúcar para Emy.

— Obrigada. — Ela disse entre soluços.

Depois que ela parecia estar mais calma, menos chorosa e menos trêmula, resolvemos que aquela seria a hora exata perguntar os milhões de perguntas que rodeavam as nossas cabeças.

— Então, Emily, — Cely olhou para mim, depois para ela. — O que aconteceu? Conte por favor desde o começo.

— Bem, depois que eu e o Will terminamos, eu fui para um bar, e acabei ficando com um cara. Depois disso voltava todos os dias para aquele bar, e ficava com algum cara, então acredito que em uma dessas vezes eu tenha ficado gravida.

— Espera, o filho não é meu? — Eu disse esperançoso.

— É claro que não é seu. — Ela revirou os olhos avermelhados. — Nós sempre tivemos precaução nesse tipo de coisa.

— Então por que está aqui? — Eu disse sem pensar.

— Will! — Cely disse me chamando atenção. — Você descobriu a quanto tempo?

— Há algumas semanas. Há alguns dias eu fui contar para o meu pai e para a minha mãe, e eles cortaram a renda do meu apartamento, e mandaram eu ir morar com o pai da criança. — Ela olhou suplicante para mim. — Tem que entender, Will, meus pais sempre gostaram de você, e até eu estar pronta para dizer para eles que o filho não é seu, vou ter que ficar aqui.

— Me desculpe, você disse ficar aqui? — Eu perguntei.

— Sim.

— Emily, me desculpe eu não…

— Pode ficar aqui essa noite, Emily, você pode dormir no meu quarto e eu durmo aqui na sala. Amanhã de manhã eu e o Will veremos o que vamos fazer, tudo bem? — Cely disse como se Emily nunca a tivesse insultado. Ela parecia tão compreensiva, tão neutra, que eu senti inveja de ela se sentir assim e eu não.

Emily pegou sua bolsa rosa e começou a subir as escadas se encaminhando para o quarto de Cely.

— Você é a melhor alma desse mundo. — Eu disse depois que escutei a porta do quarto se fechar.

— Will, a vi em sua mãe agora. — Ela disse e repensou. — Tudo bem que sua mãe sabia de quem era o filho, mas do mesmo jeito se ela soubesse, seriam caras de um bar, você sabe que ela acabaria na nossa porta do mesmo jeito.

— Você acha que devemos deixar ela morar aqui?

— Acho que devemos a preparar para conversar com os seus pais. Quando ela conseguir falar com eles, ela vai voltar para o seu mundinho.

— E você não se preocupa da minha ex-namorada estar aqui no nosso apartamento?

— Sinceramente Will, pode ser estranho dizer isso, e talvez nenhuma menina tenha dito isso para você, mas confio em você. E tenho certeza que você tem consciência de seus atos e quais serão as consequências para eles.

Eu sorri levando para o lado malicioso, e ela me empurrou rindo.

—Eu só acho que, mesmo que ela tenha dito todas aquelas coisas para você e para mim. Ela só fez aquilo porque está obvio que ela ainda gosta de você. — Cely disse entrelaçando meus dedos a suas mãos. — E agora ela está assustada, e não sabe o que fazer. Nós precisamos ajudá-la.

Olhei para aquele rosto e senti uma dor no coração ao ouvi-la dizer toda a realidade sobre mim.

— Você é muito boa para mim. — Eu passei a mão pelos seus cabelos. — O que você acha de a gente terminar aquilo que a gente estava começando? — Eu a puxei para o meu colo, deixando que ela ficasse bem próxima ao meu rosto.

Eu comecei beijando sua testa, depois me encaminhei e beijei cada uma de suas bochechas. Percorri um caminho até seu pescoço, onde dei leves mordidas além de beijos. Depois ela fez o mesmo comigo, mas começou pelo pescoço, depois foi para as bochechas e em vez de ir até minha testa, ela encontrou os meus lábios que latejavam pela boca dela.

Nós começamos nos beijamos lentamente, mas logo o beijo foi se aproximando e ficando mais físico. Senti vontade de tê-la para mim aquela noite, mas sabia que ainda estava muito cedo para isso e que eu não deveria forçá-la.

— Você ainda é virgem? — Perguntei em meio aos beijos.

Ela parou me olhou e mordeu o lábio.

— Não. — Ela olhou séria para mim, mas depois soltou uma risada. — Sou, eu ainda sou.

Ela continuou me beijando por um longo tempo, até que nós decidimos que era hora de irmos dormir.

— Você pode dormir na minha cama. — Eu afirmei enquanto ela arrumava o sofá para se deitar.

— Não acho uma boa ideia.

— Pelo amor de Deus, Cely, dormimos juntos em São Paulo, aqui no apartamento não vai ser nada diferente.

— Ah, claro que não. — Ela disse irônica.

Eu a abracei por trás e ela soltou um sorriso.

— Tudo bem, William, tudo bem. — Ela disse seguindo pelas escadas, comigo logo atrás dela.

Primeiro ela foi até seu quarto para ver como Emily estava e também para pegar uma troca de roupa.

Ela entrou no meu quarto e aquela parecia ser a primeira vez que ela reparava nele.

Os olhos dela se locomoveram para a minha cama de casal que ficava no canto direito do quarto. Na parede haviam alguns vinis velhos que estavam mal colados, mas que eu só havia posto ali para dar um ar mais vintage ao quarto. Um guarda-roupa ficava no lado esquerdo, ele era cinza e grande, sendo que eu só tinha algumas poucas peças de roupa.

Ela olhou também a estante de livros que somente abrigava CDs e sorriu ao ver aquilo.

— É bonito.

— Você já entrou aqui várias vezes.

— Mas nunca parei para analisar, onde estão os livros? — Ela perguntou olhando para a estante.

— Não tenho habito de leitura. — Eu disse tirando minha blusa e depois minha calça.

— É triste isso, muito triste. — Ela sorriu e olhou tensa para mim.

— O que foi? — Eu perguntei.

— Quero trocar de roupa, se possível.

— A vontade. — Eu disse e ela me olhou com a cabeça torta. — O que foi? — Eu me virei de costas. — Assim, está melhor?

— Um pouco. — Ela disse.

Eu permaneci olhando para a parede até que ela estivesse pronta.

— Já te vi nua, mas não posso te ver trocando de roupa, vai entender né vida.

— Cala a boca, Will. — Ela abaixou o olhar e eu caminhei até ela.

Passei a mão levemente de sua nuca até seu cabelo, puxando do a pra mim e colando novamente meus lábios aos dela. Aquilo ainda parecia tão surreal.

Nos deitamos abraçados e eu sentia a respiração dela constante com o peito colado ao meu. Ficamos deitados assim por vários minutos, até que eu senti meus olhos pesar, mas antes de me encaminhar para o mundo do sonho tive que perguntar uma coisa.

— Você acha que isso, ter ela aqui, vai afetar em alguma coisa? — Eu sussurrei no ouvido de Cely.

— Não, eu acho que não.

Aquilo me acalmou, fazendo com que eu dormisse sem nenhuma preocupação.

***

Acordei aquela manhã com os braços envolta de Celeste que dormia serenamente.

Aquela sensação era tão boa, porque agora era realmente definitivo. Eu poderia dormir daquele jeito com ela sem ter que me preocupar se caso meus braços fugissem do meu alcance de deslizassem até o corpo dela, a trazendo para mim.

Deixei-a ser consumida pelo sono mais algumas horas. Ela havia acordado cedo todos os dias aquela manhã para organizar a casa e outras coisas que achei que seria justo deixá-la dormir naquele dia.

Desci as escadas levemente e escutei a voz de Emily vir até mim. Eu não me lembrava de que ela estava ali, e sinceramente não queria que ela estivesse. Parecia que agora que tudo estava dando certo com Celeste, as coisas começariam a desandar em alguma outra parte da minha vida.

Eu ainda estava vestido somente com a cueca, mas Emily já tinha me visto nu, então aquilo não era informação nova para ela.

— Bom dia. — Eu disse olhando para ela que mesmo tendo acabado de acordar, estava arrumada e bonita.

Ela apenas sorriu e continuou a sua conversa.

— Sim, esse foi o Will. — Ela disse revirando os olhos. — Não pai, você não pode falar com ele.

— Porque eu disse que não. — Ela disse brava. — Você não tem que perguntar nada pra ele, quem está gravida aqui sou eu.

Eu fui para o banheiro deixando com que ela resolvesse seu drama sozinha.
Sentia pena dela. Não desejaria aquilo para nenhuma pessoa no mundo. Entendia como ela se sentia, era como Celeste disse, ela se sentia desolada como a minha mãe. Sabia que devia ajudá-la, mesmo depois do que ela fizera com ele e com Cely.

Sai do banheiro minutos depois e empurrei esse drama para longe da minha cabeça, e fui até a cozinha para começar a preparar o café.

Fiz ele bem forte para aguentar a confusão que me aguardava naquele dia.

— Ele quer almoçar com nos dois. — Ela disse aparecendo na cozinha com o telefone pressionado em seu corpo para que seu pai não escutasse.

Eu bebi um pouco do café e a encarei com as sobrancelhas erguidas.

— Por favor. — Ela me olhou com olhos de suplica.

— Às uma. — Eu cedi.

Ela voltou para sala conversando com seu pai.

Nesse instante Cely apareceu usando aquele seu pijama que a deixava tão atraente, que eu tive que me segurar para não puxá-la direto para mim e agarrá-la. Ele consistia em uma blusa cinza de frio fina e um leve short roxo. Ela estava com metade da cara amassada ainda dominada pelo sono. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo minúsculo por causa do seu cabelo curto.

— Bom Dia — Eu disse sorrindo.

— O que tem de bom as oito da manhã em um sábado ? — Ela me lançou um olhar de raiva.

— Dormir?

— Se ela não ficasse gritando com o pai dela, talvez eu conseguisse dormir.

— Desculpe. — Eu olhei preocupado. — Não acho que vá demorar muito para que ela volte para a casa dos pais.— Eu dei um selinho nela.

Ela fez uma cara ruim quando sentiu o gosto do café.

— Acho complicada a situação dela. — Ela mordeu o lábio.

— E é, muito complicada. — Eu suspirei. —Por isso vou ajudá-la. Ontem a noite quando você falou sobre a minha mãe, eu percebi que ela precisa de alguém para ajudá-la.

— Isso que você está fazendo Will é muito maduro.

— Eu sou maduro. — Eu sorri. — E como não pode gostar disso? — Eu mostrei a xícara e ela deu de ombros.

— Simplesmente não gosto. — Ela disse. — É amargo e sei lá.

— Ele disse que vai nos encontrar no às uma. — Emily disse se sentando em uma das cadeiras.

— Hoje a gente não ia naquela apresentação do conservatório? — Cely me perguntou.

— Deus, eu esqueci totalmente dessa apresentação.

— Tudo bem, você pode ir para o almoço de boa, eu posso ir sozinha. — Cely disse pegando a caixa de cereal de cima da geladeira.

— Tem certeza?

— Absoluta. — Ela disse e piscou para mim.

— Então vocês estão namorando? — Emy jogou a perguntar no ar.

Eu e Cely nos encaramos sérios.

Ainda não sabíamos o que éramos. Tínhamos decidido toda aquela doidura toda ontem de uma hora para a outra, não tinha como sermos namorados de um dia para o outro. Então apenas nos encaramos e levantamos os ombros.

— Começamos a ficar ontem. — Celeste jogou leite em sua vasilha com o cereal. —Não definimos o que somos.

— Se conhecem a quanto tempo? — Ela passou os olhos azuis por nos.

— Sei lá, três meses? — Eu disse e olhei para Celeste vendo-a acenar com a cabeça.

— Então vocês eram mesmo só amigos quando nós namorávamos.

— Nem isso, éramos conhecidos, e com o tempo viramos amigos

— Melhores amigos. — Ela me concertou.

— Então antes de vocês simplesmente irem lá e ficarem vocês ficaram enrolando esse tempo todo. — Ela riu como se aquilo não existisse.

— Eu não sei se você sabe, mas demora um pouco de tempo para você gostar de uma pessoa Emily. — Cely disse olhando para ela como se ela fosse uma louca.

— É só que eu e você nos conhecemos e ficamos, não parece muito o seu gênero, fazer amizade e depois ficar. — Ela disse cética ao olhar para mim.

— Deve ser por isso que gosto tanto da Cely. — Eu disse e Emily me olhou como se tivesse recebido um tapa na face.

— Obrigada pela parte que me toca. —Ela bufou.

— Você sabe que nós tínhamos aquela atração, mas não era…

— Sim, eu sei. — Ela disse com um pouco de inveja. —Eu vejo como vocês são perto um do lado outro.

— Como nós somos um do lado do outro? — Cely perguntando lavando sua tigela.

— Ah, vocês sabem, conversam normalmente, sem ter medo de ficar sem assunto e ter que ficar se pegando. Ele te olha como se fosse um boco e você olha para ele com esse brilho no olhar, vocês chegam a me enjoar.

— Acho que isso é um fato que se deu por nós termos sido amigos antes. — Eu disse passando os braços envolta dos ombros de Celeste.

Emily nos observou atentamente parecendo perceber agora o porquê eu estava tão apaixonado por Celeste.

— Ainda não compreendendo. — Ela se levantou e foi saindo da cozinha.

— Você vai entender quando sentir isso por alguém. - Celeste disse.

— Hoje a noite eu vou jantar em um lugar, você e Emy podem encomendar comida até nos fazermos compras.

— Em que lugar? — Eu perguntei curioso para ela.

— Ah, você não conhece. — Ela disse saindo da cozinha.

Eu a segui olhando estranho para ela.

— Cely, onde você vai jantar?— Eu perguntei desconfiado. — Ou com quem?

Ela me olhou estranha, com um olhar de suplica para que eu não a forçasse dizer, mas agora ela já tinha me deixado curioso e intrigado.

— Celeste? — Eu disse segurando seu braço antes que ela pudesse fugir de mim.

— Não é nada importante, Will.

— Nada importante? Então por que não quer me contar?

— São só algumas pessoas que eu conheço.

— Da faculdade?

Ela me olhou com dúvida e suspirou profundamente.

— Vou jantar com a minha avó. — Ela disse, e finalmente se livrou das minhas mãos. — E você não pode ir.

Seu corpo se locomoveu para as escadas rapidamente e ela começou a subir as escadas como se precisasse fugir de mim para sobreviver.

— O que? — Eu disse a seguindo. — Como assim eu não posso ir?

— Como eu disse não é nada importante. — Ela disse apoiada no piano.

—Mas eu quero conhecer a sua vó.

—Mas ela nem é a minha avó de verdade, é só consideração.

— Quero conhecer do mesmo jeito. — Eu disse cruzando os braços e me apoiando na parede.

— Não tem necessidade.

— Você conheceu os meus pais e todos os meus parentes.

— Você conheceu a minha mãe.

— Fiquei 3 segundos no mesmo cômodo que ela, ai você me mandou em bora.

— Foi o bastante para perceber que ela é uma alcoólica sem um pingo de responsabilidade.— Ela me fitou séria.

— Cely! — Eu disse indo até ela e pegando suas mãos.— Por favor.

— Não, Will. — Ela disse soltando a minha mão e entrando em seu quarto.

— Por que não?

Ela me encarou com um olhar de raiva, e começou a separar suas peças de roupa.

— É só a sua avó.

— Exatamente, é só ela, não tem necessidade.

— O que sua vó faz de tão ruim para eu não poder conhecê-la? — Perguntei me sentando em sua cama que estava toda bagunçada. — Macumba? Mexe com mandinga? Tem cadáveres na cada dela? — Eu perguntei querendo que ela me contasse logo o motivo. — Porque se for isso, eu não ligo.

— Will, você poderia sair, eu quero me trocar.

Eu fui até a porta do quarto e nos tranquei ali dentro. Encostei na porta e fiquei a encarando.

— Porque não! — Ela disse brava.

— Mas por que não?

— Porque eu te odeio, agora sai daqui. — Ela jogou o travesseiro em mim.

— Um travesseiro, meu Deus, como isso dói, acho que agora eu vou com certeza me render e sair do quarto. — Eu olhei sínico para ela.

— Por que você quer tanto ir?

— Porque quero conhecer sua família, boneca. — Olhei para os olhos dela. —

Eu sei tão pouco sobre você e sua família. Só queria sei lá, ficar mais próximo de você.

—Will, não precisa disse para de aproximar de mim.

— Mas eu quero. —Tentei convencê-la uma última vez.

— Tudo bem, você vai comigo.

— Sério?

— Sério.

— Eu ia desistir nessa se você tivesse falado não, mas já que ta tudo certo.

Ela me olhou indignada e eu sorri antes de sair do quarto e deixá-la trocar de roupa.

Fui até meu quarto e troquei de roupa, colocando uma blusa preta e uma outra xadrez para servir de blusa de frio. Coloquei jeans escuros e um all star.

Fui até a sala e vi Emily sentada lá. Celeste desceu ainda com seu pijama e se sentou no sofá com nós dois; e ficamos sentados na sala conversando e assistindo ao filme clichê que estava passando com Emily e ela até que não estava tão irritante como ela costumava ser.

Ela e Celeste foram lá para cima se arrumar para seus respectivos compromissos, e eu fiquei sentado na sala terminando de assistir ao filme. Elas demoraram muito lá em cima, o que me fez pensar que ambas podiam ter se matado.

Emily desceu as escadas com um vestido bege meio solto no corpo mais que ainda marcava sua barriga, que realmente parecia maior para só dois meses.

Ela sorriu e tirou um mini espelho da bolsa que estava carregando, se sentando no sofá e passando um batom.

—De quantos meses você está, Emy? — Eu disse enquanto ela passava maquiagem em um espelho.

— Três, quase quatro — Ela disse sem perceber a sua resposta.

— Há quatro meses estávamos juntos, Emy. — Eu expliquei para ela.

Ela fechou se mini espelho e olhou para mim com um olhar assustado.

— Emily, tem alguma, mesmo a mais remota chance, desse filho ser meu? — Eu perguntei e vi que Celeste ficou inquieta ao meu lado.

— Tem, — Ela declarou finalmente. — Não é certeza, porque do mesmo jeito que você ficava com outras garotas no nosso relacionamento eu também ficava com outros caras.

— Eu não.. — Ela me fitou antes que eu pudesse terminar.

— Tudo bem então. — Eu disse meio perturbado. — Então esse filho pode ser meu.

Eu olhei para Emily que me encarava tensa e com medo. Eu nunca a tinha visto transparecer essa reação. Na noite passada quando ela chegou chorando, eu tinha a visto com medo, mas agora seus olhos pareciam desolados, como se a vida toda dela tivesse sido arruinada.

— Está tudo bem, Emy. — Eu segurei a sua mão. — Nós vamos dar um jeito nessa criança, mesmo que esse filho não for meu.

— Não pode fazer isso.

— Claro que posso. — Ela deitou-se no meu peito e eu passei as mãos pelo seu cabelo.

— Nós vamos te ajudar, Emy. — Celeste disse.

Ela deu um passo para trás e sorriu para mim, me puxando para irmos logo almoçar.

Me soltei dela, e fui até Celeste dando um beijo rápido nela, antes de sair do apartamento.

Emy pegou minha mão assim que entramos no restaurante e ela viu seu pai a olhando sem um pingo de fé. Eu olhei as nossas mãos juntas e me assustei a ver o contraste apagado que elas davam, tão diferente das minhas mãos juntas a da Celeste.

— Eu juro que assim que ele não ficar me fitando daquele jeito, eu conto para ele. — Ela sorriu e eu também.

— Will Hastings, pai do meu neto. — Ele ergueu a mão para me cumprimentar e eu fiz o mesmo.

— É pai, você não precisa falar assim com ele.

Eu puxei a cadeira para Emy se sentar enquanto ela falava.

— Não disse nada demais. — Ele sorriu e chamou o garçom.

Passamos ao que parecia ser duas horas naquele restaurante conversando sobre a gravidez de Emily. Ela ficou calma toda a conversa o que lhe deu mais confiança para conversar com seu pai abertamente sobre algumas coisas, mas contar que talvez eu poderia não ser o pais de seu filho não foi uma delas.

Eu já tinha começado a aceitar a ideia de poder ser o pai daquela criança. Fiquei imaginando o meu filho ou filha, saindo dali com metade minhas feições e a outra metade Emily. Eu amaria aquela criança mais do que tudo, e iria amá-la mesmo que ela não fosse minha. Emily precisava de alguém para apoiá-la, e eu estava disposto a fazer aquilo por ela, mesmo com toda a vadiagem que ela já tivesse feito comigo.

Entramos no carro e eu coloquei Ainda gosto dela do Skank para tocar.

Emily parecia fitar o vazio toda vez que olhava para o céu acinzentado, que não adquiria uma coloração azul a dias, e aquilo estava me agoniando.

— Emy, você está bem?

Ela assentiu com a cabeça e voltou a vagar entre seus pensamentos.

Eu voltei a me focar na música e cantá-la ao mesmo tempo.

— Olha Will, — A voz dela soou baixa e calma. — Quero te explicar algumas coisas, antes de tudo. — Ela olhou séria para mim.

— Tudo bem. — Eu disse abaixando o volume do som.

— Queria poder mentir para você, e falar que esse filho é seu, e fazer você se conformar e tudo mais. Eu sei que eu teria um futuro perfeito garantido. Eu sei que você faria de tudo para essa criança. Eu sei que você vai fazer tudo de bom para essa criança. — Ela cerrou os dentes. — Mas, eu não posso fazer isso com você. Você tem um futuro perfeito pela frente, e esse futuro não é cuidando de uma criança que não é seu filho.

— Emily, quero te ajudar nisso.

— Eu sei que quer. — Ela disse. — E eu vou deixar você me ajudar com algumas coisas, mas não pode abandonar tudo por causa dela. Você tem um futuro brilhante com a Celeste, e eu não quero que essa criança atrapalhe sua felicidade. — Ela voltou a olhar pela janela. — Eu sei quem é o pai, e essa conversa me fez criar um pouco mais de coragem. Eu vou marcar de conversar com ele, e independente da escolha dele, quero te avisar que você poderá me ajudar.

— Você mudou, Emy. — Eu sorri. — Mudou muito.

— Tive uma conversa com a Celeste quando fomos nos trocar.

— E o que ela disse?

Ela abaixou a cabeça sorrindo.

— Um monte de coisas, mas quando ela me disse que ela e você me dariam total apoio nessa gravidez, e que eu podia contar principalmente com você, porque ela não se importava de deixar você cuidar de mim. — Ela fez uma pausa. — Eu não sei, Will, eu fui tão cruel com ela. A chamei de todas aquelas coisas ruins, e agora ela estava lá falando que me ajudaria nessa gravidez.

— Cely é assim. — Eu disse orgulhoso. — Ela é a pessoa mais altruísta que eu conheço.

— Quando nós terminamos eu fui a pior pessoa o mundo com voce e com a Celeste e eu não consigo compreender o porque estão fazendo isso comigo. Eu só... — Ela soltou o ar preso. — Entende? Sou muito gratos a vocês, e quero pedir desculpas, por todas as coisas horríveis que eu disse.

— Tudo bem, Emy, não tem que se preocupar com isso agora. — Eu puis a mão em sua barriga. — Só com esse bebê.

— O.k, — Ela sorriu. — Ah e a propósito, se você machucar ou trocar aquela menina, você tem que entender que eu mesmo mato você por ser um completo idiota. — Ela disse olhando pela janela.

Eu sorri ao ouvir aquelas palavras.

Há três meses, Emily nunca diria aquelas palavras, mas agora, aquilo parecia natural para ela.


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Notas finais do capítulo

PS: Se você é Welleste, não goste da Emily



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