O Amor Contado Em Histórias escrita por Vega Sage
Notas iniciais do capítulo
- Ah, a espera infindável em enfim, a recompensa do amor eterno!- exultou a sombra-mulher.
— Disseste eterno? Acredito que a eternidade seja a grande quimera do amor, mas a natureza exige que tudo tenha um fim!- tornou a sombra-homem.
— Nao crês na eternidade de nosso amor?
— Sim. Isso é dele o oxigênio. Apenas digo que o tempo dos amantes não é o tempo dos outros mortais.
— Definitivamente, não! Ah, o prazer de um breve instante ao lado de quem se ama justifica o maior dos sacrificios. Sei de uma história que fala dessa entrega impensada, inconsequente e bela- disse a sombra-mulher, principiando sua narrativa.
Apesar de todas as mandingas previdentes, desaconselhos de tias velhucas e as trombetas da razão, a bela Tróia apaixonou-se pelo cavalo grego.
Ao longo de dez anos, resistira a seu cerco. Rechaçara-o com veemência de muralha, com frieza de espada, com argumentos de portas fechadas e a armadura do pudor. Mas, por fim, passou a observar o pretendente por sobre a amurada de sua desconfiança. Ele, antes informe alguém informe, vulto impertinente, tomara o porte majestoso, viril, de descompassar a respiração e causar calores.
Recordou-se Tróia daqueles antigos olhares de flechas incendiadas, que a atingiam com despudora insistência. Lembrou-se de suas obstinadas serenatas que, de tão indesejadas, tinham o timbre de amantes que pranteavam o desprezo e soavam como uma agonia de morte. Aos seus pés.
Desejou-o com ardor exatamente quando a persistência do amante parecia esmaecer. Não lhe atirava mais olhares incendiados, não a cercava com declarações destemperadas. Mas permanecia lá, a distância, um vulto silêncio.
Então, ela foi ao seu encontro, na praia. Encontrou-o estático, incrédulo. Ele tinha um olhar perdido nas sendas de uma longa história sem conquista.
E nessa noite, estendida na areia, a majestosa Tróia tomou seu grego pelas mãos, abriu-se sem comedimentos e puxou-o para dentro de si. Lia as estrelas com olhos úmidos de festa, quando o cavalo derramou dentro dela sua estirpe grega.
Foi assim que Tróia morreu de amor.
Os sentimentos levados ao extremo,
heróicos pelo seu arrebatamento,
sempre conseguem fazer perdoar
o que há neles de condenável.
–Guy de Maupassant-
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Ahhh, que amor tragico este, um começo belo é o que teves e um fim, triste é o que vês.