O Amor Contado Em Histórias escrita por Vega Sage


Capítulo 5
A Sombrinha e o Vento


Notas iniciais do capítulo

Temendo igual sina, a sombra-homem disse:
- Ai, triste fado este! Mas existe, sim, o êxtase, essa asa vigorosa que eleva o amor acima de qualquer pressentimento. Fala-me de um momento de indescritivel enlevo, pos é dessa forma que quero ter-te pelas mãos, agora e sempre!- pediu à sombra amada.
- Sei de uma história assim- respondeu ela.



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Era uma bela sombrinha, de uma combinação de cores suaves e alegres, com armação automática que se abria com uma expressão faceira, um sorriso que explodia na cara fechada dos dias de chumbo.

Como toda sombrinha, era cheia de cuidados, acreditava em coisas incríveis, como meteorologia, horóscopo e em seu destino previsível. Por isso, acabou se casando com um cabideiro, em que permanecia fechada em suas cores e armação, aguardando dias piores.

No entanto, como toda sombrinha, também tinha sonhos. Sonhava com coisas que lhe pareciam impróprias a uma sombrinha, por isso jamais as revelava. Pensava por exemplo, no destino das nuvens de chuva, nos arabescos das libélulas ornamentando a modorra das tardes e na rota das bolhas de sabão.

– Como são venturosas tais pessoas!- Dizia para si. Certo dia, pela janela aberta, foi despertada por um sujeito de proceder brincalhão, quase um estabanado, que passava pela rua. Era o Vento, que logo se enamorou por aquela beleza desarmada e entristecida.

Tocou-a de leve, com dedos de brisa, mexendo com seus sentidos, como quem espanta borboletas no jardim.

– Tens as mãos mais lindas que já vi- confessou-lhe a sombrinha enamorada.

– Estão alegres. Jamais tocaram tal harmonia de cores. Tornaram-se mais suaves, no temor de ofender a paz de tua beleza- respondeu-lhe o Vento.

Assim, todos os dias, em breves falas, trocavam frases que jamais haviam imaginado possuir dentro de si. Ele, livre e cheio de novidades, falava de grandes montanhas e seus belos vales, de frondosas árvores nidificadas, de noites em que a nave da Lua singrava um mar de aveludado silêncio. Eram palavras mágicas que faziam a sombrinha sonhar cada vez mais intensamente seus sonhos impróprios.

– Como desejaria ter da libélula à sorte, para poder acompanhar-te- lamentava-se.

– Se existe em ti o desejo, é porque tens a alma da libélula. Tomo-te pelas mãos, abraço-te, elevo-te até o alto e terás um sonho realizado.

– Será isso possível? Entregar-me em teus braços, numa impensada aventura tornar-me aquilo que sempre sonhei?

– O amor é mágico.

– Ah, mas se um dia cessar este sopro de amor que me chama e me eleva? Terrível queda! Onde estarei atirada?

– Não percebeste? Agarra-te a teu cabide não por amor, mas por medo.

– Ah, admito. Quase não me contento ao ouvir teu chamado. Tens palavras de poeta que sopram vida de nuvem em meu corpo desarmado. Mas o meu desejo é o meu maior medo! Por isso, vai. Não posso deter-te.

E, com as pontas dos dedos, ele roçou o corpo da amada, mais uma vez, numa despedida de nuvem solitária, de montanha escarpada, de vales estéreis, de copas de ninhos abandonados, de sonhos desfeitos e de cabideiro.

Mas, de súbito, a mão insensata da paixão abre a armação da sombrinha, que se solta do seu lugar seguro e certo, deixando-se agarrar pelas mãos do amado.

E se elevaram num beijo de cores e dança.

As paixões são como as ventanias que enfunam As velas dos navios. Algumas vezes, os submergem. Mas sem elas não se pode navegar.

–Voltaire-


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Notas finais do capítulo

O Amor esta cada vez mais lindo de se ler, serei eu capaz de escreve-lo...O que voces acham



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