O Amor Contado Em Histórias escrita por Vega Sage


Capítulo 13
A Ostra e o Grão de Areia


Notas iniciais do capítulo

As sombras tremeram, ao final da história.
— Oh, o ciúme! Ouve sobre o que falam! É como provar uma fruta pelo seu lado podre!-lamentou-se a sombra-mulher.
— Mas, pelo menos, agora parecem concordar sobre alguma coisa-consolou a sombra do rapaz.- Depois, estão conversando tão animadamente que não parece ser necessária nossa interferência!
O astronauta aplaudiu a história contada pela sereia e considerou que essa e outras máculas é que levavam tantos amores a fenecer.
— Morrem os amores, mas permanecem os casamentos-disse, em tom grave.- Escuta a minha história, agora.



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Havia um pequenino grão de areia, chamado josé ou joão, nem sei ao certo. Trabalhava numa fábrica de tecidos, onde vias seus dias se perderem nas urdiduras incompreensíveis das Parcas tagarelas da Era Industrial.

Muito embora jamais filosofasse a respeito das coisas insondáveis da existência, resvalava nesse momento de inquietação, ao perguntar "o que será de nós" a seu próprio contracheque, no final do mês. O contracheque, que sempre faz o papel de menino de recados do patrão, fingia-se de surdo. Mas a ostra, que trabalhava de auxiliar de tesouraria, corava, toda vez, com as possibilidades daquela pergunta.

Foi uma dessas tempestades, que resolvem tudo, que jogou o nosso grão de areia e a ostra numa festinha com cuba-libre, biscoitinhos de água e sal e música triste.

Nessa noite, apaixonou-se a ostra pelo grão de areia. Em suas mudas fantasias de moça recatada, prometia-lhe casa, comida, roupa lavada e quentes boleros no seu rádio transistorizado de quatro faixas.

Mas ele, com as vendas da timidez, não emergia os olhos do copo de bebida, em que sondava as possibilidades da carreira de mecânico de tear e da Loteria Esportiva. Coisas de homem.

Chegou à festa, nesse momento nada especial, uma ostra que se dizia bem-casada e feliz. Sentou-se no mesmo sofá que sua colega de escritório, sem soltar as mãos do marido que orbitava, atado a ela, na curta distância de um braço.

Usava ele um terno bege e tinha um sorriso com todos os dentes. Chamava a atenção das moças como quê.

Poucos minutos de conversa entre as duas, e a ostra casada abriu-se à amiga: o sujeito não passava de um zé- ninguém, um cisquinho de gente sem brilho nenhum, que vivia por aí, ao sabor das ondas. Graças a ela, ela sim, ele tornara-se alguém na vida.

– Mas imagina, não é fácil esse casamento. Temos lá nossas diferenças. Para ser sincera, não conta a ninguém, ele chega a ser um incômodo.

– E por que não te livras dele?- perguntou a solteira inocente.

A outra, fazendo cara de ostra que chupou limão, respondeu:

– Ora, querida, nada sabes do casamento. Não reparaste como ele é desejado? Meu marido não passa do produto de meu desdém, mas é o que tenho de maior valor.

Ouvindo isso, a ostra solteira fechou a boca, não querendo saber de pérolas.

Se pudéssemos prorrogar a ventura

do amor no matrimônio,

teríamos o céu na terra.

–Jean-Jacques Rousseau-


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e ja ja sai o proximo



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