Recriador de Almas escrita por otomriddle


Capítulo 1
Capítulo 1




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Era uma vez duas jovens que se conheceram na Estrada da Lua, e logo se tornaram amigas.

Idália era muito alta, loira e com olhos marrons que se transformavam em vermelho quando a luz batia da forma correta. Juruna era considerada baixa mesmo quando andava com pessoas de estatura mediana, e seus olhos eram de um negro profundo assim como seus cabelos; além disso, não falava.

Devido a sua condição, Juruna sempre andava com uma pequena pedra de escrituração de pensamentos, com a qual se comunicava.

Foi assim que Idália descobriu que a outra garota, assim como ela própria, estava a procura do Recriador de Almas – então, unidas por uma finalidade em comum, resolveram ir atrás do senhor mítico juntas.

Andavam sempre a noite, já que a Estrada da Lua só aparecia quando iluminada pela luz do luar. Se alimentavam de frutas que encontrassem pelo caminho, e da bondade de moradores das cidades que encontravam.

Ninguém sabia ao certo como chegar até o Palácio do Renascer, lugar onde acreditava-se viver o Recriador de Almas. Alguns diziam que era ao Norte, outros ao Sul, outros ainda juravam que tal ficava na Grande Queda do Fim do Mundo. O certo é que todos concordavam que, onde quer que fosse, era preciso seguir a Estrada da Lua. E por isso, elas continuavam.

Idália tentou diversas vezes perguntar para Juruna a razão de ela nunca falar – nascera assim? Houvera um acidente? – mas sempre sem sucesso algum. Por isso, quando outras pessoas às encontravam e faziam as mesmas perguntas, Idália sempre inventava algo novo.

“Ela fez um voto de silêncio até encontrar o Palácio do Renascer.”

“Uma bruxa má levou suas cordas vocais em troca de sua beleza.”

“Quando ela nasceu, cantava sem parar e mal conseguia respirar, e seu pai fez um pacto com uma hag para que a filha parasse; só que isso a fez ficar muda.”

Ao fim de cada uma das histórias, os ouvintes olhavam surpresos para Juruna, com olhos arregalados. Ao invés de esboçar aborrecimento ou mesmo desmentir a amiga, a jovem sempre lhes dava um sorriso benevolente e um sacudir de cabeça. E assim elas continuavam

Passaram por diversas cidades – das pequenas até as mais gigantescas. Conheceram os senhores das trevas da Cidade de Atreu, as criaturas iluminadas da Cidade de Helvina, e até mesmos um dos moradores reclusos e misteriosos da Capital Alethea. Todos sempre muito gentis, ainda que céticos quanto à missão das jovens. Ninguém nunca voltava de uma visita com o Recriador de Almas, eles diziam. Era perigoso. Claro, era apenas perigoso pois desconhecido. Ninguém confiava naquilo que nenhuma outra pessoa podia atestar confiar. Era assim desde que o mundo era mundo.

Mas nem Idália nem Juruna pareciam se importar. A primeira achava extremamente divertido perseguir algo que todos tinham tanto temor – a fazia se sentir corajosa, esperta. A segunda nada comentava, sempre dando aquele seu sorriso benevolente quando lhe aconselhavam a parar de procurar. E assim as jovens caminhavam.

Seguiram até o limite da Estrada Oeste, mas o Palácio do Renascer não era lá. Ao invés encontraram Byakko, que vivia na Floresta Dourada.

Byakko era um grande tigre branco de olhos vermelhos e servia como protetor do Oeste. Dizia ele nada saber sobre o Recriador de Almas, além de que o mesmo não se encontravam em seus domínios – ele conhecia todos aqueles que lá habitavam. Byakko aconselhou as jovens à seguirem pela Estrada da Lua, em direção ao Sul, e falarem com seu irmão, pois ele era muito bem informado. O tigre ainda entregou um ramo de flor para cada uma das jovens, para que elas pudessem alcançar a moradia do outro. E então elas partiram.

Andaram durante muito tempo, até que finalmente alcançaram a Montanha Perdida. Juruna tentou escalar, mas as pedras eram escorregadias e a jovem mal alcançou alguns metros acima do chão antes de cair novamente. Idália tentou encontrar uma forma de contornarem a montanha, mas viu seu caminho obstruído por pedras gigantescas. As duas garotas sentaram-se sob a sombra de uma árvore, preocupadas com seu destino. Eventualmente, Juruna se lembrou dos ramos de flores dados por Byakko. Idália plantou cada um na borda da montanha e, em alguns momentos, duas grandes escadas feitas de gravetos entrelaçados brotou do chão, até se perder de vista.

Ambas subiram e lá encontraram Suzaku, um grande pássaro vermelho que já as esperava. O irmão de Byakko era muito menos gentil em suas palavras, mas não deixou de responder todas as perguntas das jovens. Disse que o Recriador de Almas não morava ao sul, ainda que tivesse passado por ali a algum tempo atrás se encaminhando para o Norte. Suzaku aconselhou as jovens a falarem com sua irmã que morava naquela direção, mas a não pedirem favores, além de formularem todas as perguntas que desejavam respondidas em formato de afirmação.

Mais uma vez, as jovens desceram as escadas e se encontram pegando a Estrada da Lua, agora em direção ao Norte. Andaram durante muitas noites, e chegaram até o Oceano Rosa, tão imenso que se perdia de vista contra o horizonte.

Juruna e Idália sentaram-se a beira da praia, pensando em como fazer para atravessar o mar em sua frente. O sol já ia saindo e a Estrada da Lua desaparecendo quando Juruna avistou um grande casco saindo das águas rosas. Aos poucos, uma enorme tartaruga com cabeça e cauda de serpente veio na direção das garotas. Se apresentou como sendo Genbu, protetora do Norte, e inquiriu o que elas desejavam em suas terras. Idália explicou sobre suas intenções, seguindo as instruções dadas pelo Protetor do Oeste, e Genbu balançou sua cabeça. Falou que conhecera o Recriador de Almas, pois ele estivera ali lhe pedindo um favor a questão de duas luas atrás. Porém, como Genbu negara, o mesmo voltou para seu Palácio do Renascer, localizado ao Leste logo após a Caverna Cristalina que seu irmão usava de moradia. As garotas agradeceram, e já estavam voltando pelo caminho anterior, quando a tartaruga chamou-lhes outra vez. Disse que por sua educação, cada uma teria direito à um favor. Idália, animada, pediu por um mapa que mostrasse a localização de todas as pessoas do mundo, ao que Genbu lhe entregou. Juruna, por sua vez, pediu por uma forma de passar pelo irmão da tartaruga de forma que ambas as jovens saíssem ilesas. Genbu sorriu, e deu-lhe uma carta que deveria ser entregue nas mãos do irmão. E com isso, elas se foram.

Depois de andar por um tempo, encontraram uma grande caverna feita de cristal e que brilhava intensamente sob a luz da lua. Mal haviam se aproximado alguns metros quando um enorme dragão azul saiu, esticando suas asas e impedindo que as garotas continuassem. Rugindo, falou que seu nome era Seiryuu, guardião do Leste, e que ninguém poderia passar por aquelas estradas. Idália abriu seu mapa, e constatou que o Recriador de Almas estava em seu Palácio do Renascer mais a frente e que a única forma de alcançar o mesmo era continuar pela estrada principal. Juruna, então, entregou a carta selada dada por Genbu ao dragão. Ele leu e, com um último rugido, saiu do caminho, deixando que as jovens passassem.

Seguiram por mais algumas horas pela Estrada da Lua. Subiram um pequeno morro e, ao alcançarem o topo, puderam ver um grande vale a sua frente, coberto com pequenas flores brancas dançantes e fadas que faziam a polinização calmamente. Ao centro do grande vale, na parte mais funda, estava uma pequena casa de madeira com uma chaminé em funcionamento e, na frente, uma sacada estreita. Juruna e Idália se entreolharam, surpresas com a aparência pouco suntuosa do Palácio do Renascer.

As jovens desceram o vale e bateram na porta. Foram recebidas por um senhor baixo e corcunda, com um sorriso desdentado e cabelos tão brancos quanto a neve. Ele as convidou a entrar e sentar, servindo-lhes de chá.

“Ouvi que vocês duas tem me procurado com muito afinco.” o Recriador de Almas disse.

“Sim, desejamos uma conferência com o senhor.” Idália respondeu, arrancando uma risada do outo.

“Me chame de Zoé!” Ele instruiu, e elas anuíram. “Uma conferência, você diz... O que querem é que eu molde suas almas novamente, não? Ora, não é preciso acanhamento. Todos que desejam me ver tem essa finalidade em mente.”

Com isso, o senhor se levantou, cantarolando baixinho enquanto puxava uma grande cadeira vermelha com relevos em ouro até o centro da casa. A peça digna de reis deixava o lugar com aparência ainda mais humilde do que anteriormente. Ele apontou para a cadeira, chamando Idália com uma das mãos. Ela se sentou.

“O que deseja mudar, minha jovem?” Zoé perguntou.

Idália então contou a história sobre como o jovem que amava a abandonara pois a achava egoísta em demasiado para ser sua esposa Ela então desejava que ele sensibilizasse sua alma, a fazendo a criatura mais bondosa e gentil que poderia existir. Com um aceno, o Recriador de Alma começou a trabalhar. Quando terminou, Idália se levantou.

Na aparência, a jovem não mudara, porém em seu olhar era possível ver que uma grande mudança se operara. Já não tinha mais a vivacidade e alegria anteriores. Agora, sua expressão era de profunda tristeza e pesar.

Juruna então perguntou o porque dessa diferença, já que a amiga pedira por gentileza e não tristeza.

“É impossível se mudar algumas coisas sem afetar outras. A única forma de transformar egoísmo em bondade é através do sofrimento e da tristeza.” Zoé respondeu, coçando o queixo enquanto admirava seu trabalho.

Idália deixou a casa sem nenhuma palavra, e desapareceu de vista morro acima. O Recriador voltou-se então para Juruna.

“Agora que sabe o que pode realmente acontecer com você, deseja mesmo que eu modifique sua alma? É um trabalho muito delicado, e cheio de contra-indicações, como pode ver. Se pede gentileza, ganha tristeza. Se pede coragem, ganha temor... Então?”

Juruna olhou para o chão longamente, refletindo sobre a escolha que deveria fazer. Eventualmente, ela se sentou na cadeira, à exemplo de sua amiga.

Zoé suspirou mas virou-se para a jovem, repetindo a pergunta que fizera momentos antes para Idália.

Juruna então confidenciou que nascera muda, e sua mãe a abandonara na beira de um rio pois acreditava que ela era fora possuída por espíritos malignos. Mais tarde, foi encontrada por ninfas aquáticas que a criaram desde então.

Porém, pelas leis dos Povos Ninfos, Juruna deveria ser expulsa de casa ao completar 18 anos – idade que deixaria de ser criança e não mais precisaria da proteção da família. Ela, porém, não queria viver entre os humanos. Por isso, desejava que sua alma fosse transformada para a alma de uma ninfa.

Zoé franziu o cenho e permaneceu quieto por um longo momento mas, com um suspiro, ele se aproximou de Juruna e começou a trabalhar.


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