A Suspensão. escrita por Heuristic


Capítulo 1
Capítulo 1 - Primeiro dia de suspensão


Notas iniciais do capítulo

"... Jace tem um pouco disso.- soava perdida em seus pensamentos.- Ou talvez seja o fato de coisas belas serem facilmente quebradas pelo mundo,..."
Cidades dos anjos caídos - Cassandra Clare.



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– Pai, tô indo.

– Já?

– Todo dia as oito. – Afirmei como se fosse algo repetido várias vezes, mesmo não sendo eu que falasse todos os dias isso.

Respirei fundo. Sai pela porta, vi o olhar de julgamento de meus irmãos ao me olharem quando parti. Se parecia muito mais uma caminhada para fora de uma penitenciária procurando liberdade, do que uma caminha rotineira até o portão da frente.

– A partir de hoje. – falei sussurrando, para ninguém em especial.

A cada passo que eu dava na rua úmida de concreto me fazia imaginar várias formas para me tirar desta enrascada. Cada uma tinha uma falha. Quando percebi uma sem falhas ouvi uma voz, depois muitas. Não olhava para quem havia falado, podiam esperar.

Depois de um tempo percebi que havia andado mais de quatro quadras, o tempo todo pensava sobre como estava minha vida agora, pensava mais naquilo sobre qual faculdade escolher.

Um vento forte passou por mim e tive de fechar a jaqueta do meu casaco. Olhei para frente. Um grupo de jovens, com uma idade maior ou mesma que a minha se encontrada embolorado na frente de um prédio, podia ver garotos com barbas mal feitas e garotas um pouco masculinizadas com corpos robustos, bem maiores que eu.

Olhei acima da multidão, acima do prédio com letras grandes: “Centro Comunitário” em preto desgastado, mas sabia que podia estar escrito com letras menores abaixo: “Para delinquentes juvenis com nada para fazer” como legenda. Depois de um tempo analisando as rachaduras do prédio vermelho escuro, quase laranja. Olhei no celular, era a hora. Oito horas e 10 minutos. E lá fui eu.

O “Centro Comunitário”, não era mais que algumas salas com assistentes sociais e salas de aeróbica, era um lugar diferente das outras cidades. Aquele era o “Centro Comunitário Adolescente”, o único do estado, pois era exclusivamente para delitos leves, que por nenhuma surpresa era sempre consultada pelo público juvenil. Fui junto com a multidão e consegui alcançar a recepção.

– Olá – disse eu – Como funciona... Aonde eu vou... Desculpe, não sei como te perguntar isso.

A secretária me olhou pegou um papel e leu a folha por alguns segundos.

– Qual seu nome, senhorita?

– Sara... Hans.

– Espera. Você nasceu na Argentina.

– Por aí. – Achei o fato de ter dito aquilo um desrespeito, porém a secretária me olhou sem mostrar qualquer mudança de humor, deixei a resposta pairando no ar.

– Tem nacionalidade brasileira... Mostre-me sua identidade – Esperou eu pegar do bolso e sem nenhuma vontade falou – Obrigada.

Senti o plástico desgastado de anos de uso em viagens para vários lugares com minha família, não teria surpresa se alguém dissese que a identidade tinha um cheiro diferente. Não era algo ruim, algumas vezes vendo ou sentindo seu cheiro, lembranças dos dias felizes me criavam sorrisos.

– Pronto – A secretária olhou para mim depois de um tempo digitando no computador – Sua ala é no terceiro andar, haverá um grupo de principiantes dentro da sala, seu instrutor começará dando a instrução e você deve vir aqui todo o dia para buscar seu uniforme e no fim do seu trabalho venha se registra, se não se registrar será mais trabalhoso pra ti.

A secretária me olhou e deu um sorriso de poucos segundos, seus olhos rígidos esverdeados pareciam um pouco mais calmos naquele momento. Se fosse há algum tempo, riria da sua maneira de falar, junto com meus pais que ririam comigo, mas sabia que ela não era melhor que eu.

– Não mesmo.

Ouvi um grupo de jovens, pensei “Não acredito que falei isso alto”, porém era um grupo de garotos rindo e dando socos uns nos outros.

Respirei aliviada, não queria ser notada naquele lugar, nem por aqueles caras.

Caminhei mais rápido, consegui chegar a tempo no elevador, onde os mesmo garotos estavam rindo, me encolhi no canto e peguei meu celular, a tela estava rachada, mas não podia trocar até conseguir dinheiro. Paramos no segundo andar, um grupo de idosos sorridentes passou pelos garotos e uma mãe com seu filho fez todos no elevador sorrirem também.

– Que lindo. – Disse uma voz.

Discretamente, concentrada em não encará-los rapidamente passei a entrar no mundo dos compartilhamentos e fotos de cachorros até que olhei, tinha passado para o terceiro e segui em frente.

A ala, era apenas um palco com cadeiras em volta, havia vários jovens sentados ouvindo a chamada. A introdução já deveria ter passado e todos estavam indo para buscar os uniformes, segui em frente no meio de algumas garotas frustradas como eu. Todos seguiam “O Guia”, era um homem com aspecto bondoso de óculos clean escuro.

– Aqui estão seus uniformes – O homem apontada com a mão macacões cinzas – Tamanho único, vocês seguiram para os derivados lugares fornecidos pelo seu agente social, o trabalho começa às 9 horas da manhã e termina as 15 da tarde, eu abrirei os armários para vocês todos os dias.

Meia hora depois, estava eu, no ônibus com “Meu grupo de Serviço”, ou seja, três garotas e quatro garotos, com macacões do mesmo tamanho e com caras de desânimo.

Percebi que alguns estavam começando uma amizade, para não tiverem que fazer o serviço sozinho, mas como disposição por estar em companhia.

Interessei-me por aquilo, e comecei a observar todos em volta.

Na minha frente havia dois garotos conversando, pensei “Uns 17 anos, cabelos pretos, os dois, olhos escuros. Um tinha um brinco e o outro um sorriso de aparelho.”

No meu lado, três garotas sentadas perto de pessoas desconhecidas que tiveram a infeliz sorte de andarem no ônibus enquanto o grupo de serviço está lá. Olhei devagar cada uma, “A do banco ao meu lado, depois do corredor do ônibus, parece ter menos de 15 anos, as outras parecem iguais, um pouco obesas de olhos fechados ouvindo música e pele clara” pensei.

Longe de alguns estava um garoto no seu celular, jogando alguma coisa, despreocupado, acho que era pelo mesmo motivo que eu estava. De ter que passar por aquilo sem ser preso.

Comecei a me lembrar da noite que segurei aquele taco de beisebol e como o sangue se despejava no chão quando “O guia Matheus”, sentou no meu lado.

– Olá. Você chegou atrasada e isso pode te causar mais tempo de trabalho, sabia?

–Não, e você?

Ele riu um pouco.

Olhei para ele, seu olhar era apenas desinteresse, naquele momento eu não era mais que uma garota idiota. O pior, eu me senti assim quando ele me encarou com seus olhos azuis claros, limpou a boca como se percebesse que tinha guspido ao falar e continuou:

– Vou me divertir mandando você tirar cocô.

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Notas finais do capítulo

Sou a única autora perdida em meus pensamentos e esqueço que sou eu mesma que estou escrevendo essa chatice?



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