Bound to You escrita por Mimiya


Capítulo 1
Sweet love, sweet love, trapped in your love.




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You're all I need when I'm holding you tight

If you walk away I will suffer tonight

Você é tudo que eu preciso quando te abraço forte,

Se você for embora, eu vou sofrer essa noite.

—Christina Aguillera, Bound to You-

Não importa o quanto eu pense nisso, a conclusão é sempre a mesma: eu estou sozinha.

A brisa fria arrepiava minha pele e me fazia inconscientemente fechar os olhos, pois quando eu os abrisse, deveria sorrir.

Sorrir para que a escuridão não dominasse meu corpo e destruísse tudo o que há em volta.

Suspirei profundamente e deixei que meus ouvidos captassem qualquer som.

Ouvi passos. Era ele.

Um dos dez bravos de Yukimura Sanada, Saizou Kirigakure. O homem que me salvou e que eu amo com todo o meu coração impuro.

Seus passos eram tão difíceis de ouvir que até mesmo franzi o cenho, ele realmente era um ninja poderoso, cuja presença eu só sentia por meio de meu peito descompassado.

Um passo, dois, três. Ele parou.

Eu não quis abrir os olhos, queria imaginar o seu cabelo negro azulado, suas órbitas escuras e sua voz rouca. Não queria abrir os olhos antes disso e descobrir que tudo o que Saizou via, na verdade, era uma presilha presa em meu cabelo que precisava ser protegida para que o mundo ficasse à salvo.

Suspirei mais uma vez e finalmente criei coragem para encará-lo.

Não. Não pude.

Desviei o contato e uni as mãos próximas ao peito, cruzando-as e torcendo os dedos de forma nervosa. Mordi o lábio inferior. Eu sentia meu estômago dançar conforme o vento, completamente tonta e era difícil respirar. Pude sentir seu olhar gélido sobre mim e tive de me segurar para não sair correndo no mesmo instante.

Isa-na-mi. – Sua voz preencheu o ar, roubando o meu. Impedindo-me de respirar. Seu tom era de censura e eu já preparava o meu maior sorriso.

Um falso sorriso.

— Saaizou! – Gritei abrindo os braços e correndo até ele, quando na verdade, meu desejo era fugir para o meio da floresta.

— O que está fazendo, sua mulher pervertida? – Ele me afastou com um dos braços enquanto eu pulava com toda a minha força.

— Por que você não me abraça? – A pergunta saiu mais alta do que eu previa e isso fez com que Saizou me encarasse de forma curiosa.

— Eu pensei que já estivesse cansada de ser ignorada. – Ele fechou os olhos rapidamente, suspirando e cruzando os braços. – De qualquer forma, eu vim atrás de você porque o macaco me disse que parecia triste e que era a minha obrigação. Ou uma merda desse tipo.

Ouvi o que Saizou dizia com atenção. Por um segundo, pensei que ele tivesse cuspido sua função em meu rosto, e, no momento seguinte, dei meia volta em direção à mansão Sanada. Ao menos Sasuke se importava comigo.

— Sim, sim, estou cansada... – Murmurei apressando o passo, sem virar meu rosto e saber se ele ainda me seguia ou não.

O caminho até a Mansão foi feito em quase silêncio, cujo só era quebrado pelos meus murmúrios, que acompanhavam uma canção em minha mente. Não me atrevi a olhar para trás, pois sabia que Saizou me analisava friamente.

Era apenas natural, já que eu podia desabar tudo em questão de segundos, não é?

Esse era o único motivo pelo qual ele me seguia e eu me esforçava para não ver nada além disso.

Porém, em minha pele, ainda sentia o calor dele quando nos encontramos pela primeira vez na floresta enquanto eu fugia de bandidos. A forma como ele me levantou sobre seu ombro e me protegeu, o fogo que emanava de seu corpo e a sua alma furiosa, brilhante. Impossível de resistir e destrutivo, Saizou sabia o efeito que causava em mim e não fazia o mínimo esforço de empurrar-me definitivamente para longe.

Talvez por piedade, ou por compromisso com a Kushimitama, ele não me abandonaria. Ou ao menos era o que eu pensava.

Encarei algumas pedrinhas no caminho e abaixei-me lentamente para recolher algumas para brincar mais tarde, procurei as mais redondas e lisas, pois eram as melhores.

Saizou me encarava curiosamente pelo canto dos olhos.

— É melhor nos apressarmos. O macaco provavelmente vai ficar enchendo meu saco depois. – Ele coçou os cabelos e colocou a outra mão na cintura, como sempre fazia.

Eu não precisava olhar para saber, já que nos últimos tempos eu até mesmo decorei o timbre de sua voz.

Avistei o portão da Mansão Sanada e apressei os passos, cantarolando uma canção que aprendi com as sacerdotisas do Templo de Izumo, e sorri ao avistar Sasuke que se aproximava sorrateiramente, com uma expressão preocupada.

— Como você desapareceu assim, Isanami? – Seu tom sem jeito não condizia em nada com seus olhos que lembravam um leão selvagem.

— Me desculpe, Sasuke. – Bati com um dos pés sobre o chão levemente, unindo as mãos e fazendo uma careta. – Eu me distraí enquanto caminhava.

Ele apenas suspirou e fechou os olhos, como se um peso estivesse saído de seus ombros. Era aquela reação que eu esperava de Saizou, que nos observava sem interesse, sentado no telhado da Casa Principal.

— Hey, Sasuke. – Chamei sua atenção e percebi que seus olhos me encontraram de forma intensa.

O ninja era realmente tímido, enquanto seus globos oculares demonstravam o contrário, ele parecia furioso. Eternamente furioso.

Aquela era uma visão que me agradava. Talvez porque houvesse dentro de mim uma Deusa indomável que se abastecia dos sofrimentos terrenos, enquanto sorria ao ver a amargura e a maldade exposta em quaisquer lugares.

— Diga, Isanami.

— Você pode me deixar segurar uma coruja? – Ergui os braços, excitada com a lembrança de outros momentos me que pude segurá-la e me animei ainda mais ao perceber que ele já assobiava para chamar o animal.

Chuko, como eu a havia apelidado, era uma coruja de penas cinzentas que contrastavam com seus olhos azuis e enormes. Ela era, com toda certeza, a coisa mais fofa que eu já vira em meus anos de vida, e Sasuke sabia disso, pois sempre que possível me ensinava como chama-la e domá-la. Algo que eu nunca consegui realmente aprender, mas que me fascinava.

Em poucos segundos Chuko já estava em minhas mãos e Sasuke sorria ao ver a minha empolgação com a coruja.

— Chuko-chan~ - Era impossível não sorrir ao vê-la girar a cabeça de um lado para o outro enquanto seus olhos pareciam conversar comigo. – Eu senti tanto a sua falta.

Não me contive e abracei-a, sentindo seu corpo pequeno e quente contra o meu, era de fato uma obra divina.

Girei a cabeça de relance e pensei ter visto Saizou sorrir, mas não pude manter contato o suficiente para saber que se o que vi era real, então me contive em apenas devolver Chuko para Sasuke, agradecê-lo e dar meia volta em direção ao meu quarto.

Tirei os calçados e, descalça, caminhei pelo chão de madeira, passando pelos corredores silenciosos que direcionavam ao meu quarto. Deslizei a porta e adentrei o cômodo de paredes escuras e gélidas.

Eu, do fundo do meu coração, agradecia a bondade de Yukimura-san em deixar-me morar na Mansão. Mas aquele quarto tão frio, solitário e sem vida me lembrava das cinzas que se espalhavam por Izumo, levando vidas consigo e calando gritos desesperados.

Era como o ventre sem luz de uma mãe, que insistentemente tenta empurrar para fora seu filho indesejado. Eu me sentia dessa forma dentro do quarto a mim designado.

Como um bebê sendo empurrado pelas paredes cruéis daquele espaço.

Suspirei e deslizei novamente a porta atrás de mim, fechando-a. Desfiz a trança em meu cabelo com cuidado para que a presilha não caísse.

Fechei meus olhos e deixei que meus pés me guiassem por todo aquele espaço. Antes que eu percebesse, meu corpo seguia uma canção e meus braços acompanhavam.

Tirei o leque de minha cintura e o estiquei, girando meu corpo e sentindo meus cabelos se esvoaçarem pelo vento que se formava em torno de mim. Era uma sensação agradável, eu sentia a pequena brisa que antes parecia inerte naquele ambiente.

A pulsação da terra, o cheiro das árvores lá fora. Eu era capaz de visualizar tudo sem ao menos abrir os olhos. Meus pés participavam de uma dança harmônica com todas aquelas essências que eu sentia transparecer em meu corpo. O cheiro, o gosto, o toque, eu sentia cada pedaço do mundo que existia naquele pedaço de universo.

Ouvi o som de um baque contra o chão e abri os olhos, assustada. Evitei que meu corpo caísse pela reação, e parei subitamente.

Do outro lado do quarto, Saizou estava sentado com as pernas cruzadas e uma expressão de curiosidade em seu rosto. Ao seu lado, a espada que antes estava amparada pela parede, agora estava caída ao chão. Foi dela que eu pude ouvir o som de algo cair e me assustar.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando compreender o porquê de Saizou entrar em meu quarto sem pronunciar uma palavra e agora me exibir um olhar tão diferente do que eu conhecia.

Era um misto de surpresa e curiosidade. Como se ele quisesse me tocar para saber se sou real. Ele emitia uma vibração incomum.

Dei um passo para trás inconscientemente e senti um tremor em minha mão esquerda. Suspirei e sorri.

— Saizou! – Por mais que eu desejasse parecer animada naquele momento, minha voz soou estranha e forçada.

Ele não me respondeu. Continuou com seu olhar fixo em mim, trazendo um arrepio gélido ao meu corpo.

— Continue dançando. – Proferiu após alguns momentos do que pareceu ser uma reflexão.

Sem compreender o que ele queria dizer de verdade, peguei o leque que caíra no chão e retomei meus movimentos, dessa vez, mais consciente do que acontecia ao meu redor.

Era difícil manter meus movimentos leves e relaxados como eu fazia antes, pois já não sentia mais a brisa ao meu redor, não sentia os sons que viajavam do exterior até os meus ouvidos.

Tudo o que eu podia miseravelmente notar, era o peso da atenção que Saizou empregava sobre mim.

Eu já não era mais a animada, tranquila e desligada Isanami. E sim, um espírito livre enjaulado sob o olhar dele. E, infelizmente, Saizou tinha noção disso.

Senti meu corpo se desequilibrar e dessa vez não pude me conter, deixei que meu corpo fosse de encontro ao chão frio.

Saizou não se movera. Levantei minha cabeça e sentei-me no chão.

Meu vestido branco e suas fitas azuis pendiam suas alças finas sobre meu ombro, e a presilha de esmeralda que estava até alguns momentos presa em meu cabelo, agora brilhava no chão escuro. Senti meu corpo ficar pesado de repente e movi uma das mãos em direção ao objeto.

Eu precisava daquilo para que o mundo ficasse à salvo. Não poderia jamais deixar tal objeto longe de meu corpo, mas esse não era o meu desejo.

Eu queria que a Kushimitama ficasse distante de mim. Que Saizou desaparecesse junto com ela. Que não precisasse de dez bravos para proteger o mundo da escuridão que jazia dentro do meu coração maldoso.

Suspirei ao sentir minha visão ficar afetada por alguns instantes. Eu piscava para tentar focalizar a presilha no chão, porém meu corpo começou a ficar dormente e a minha voz não saia.

Minha visão ficava cada vez mais turva, até que senti uma das mãos de Saizou me apoiarem, deixando que minha cabeça encostasse sobre seu ombro direito.

— Saizou... Eu estou com tanto sono... – Murmurei, tentando apertar sua roupa, para me manter acordada.

— Não, Isanami. – Sua voz firme e rouca dava instruções próximas ao meu ouvido. – Você não sente sono. Abra seus olhos.

— Kushimitama... – Pedi com voz fraca, sentindo a consciência se esvair.

— Você não precisa dela. – Dessa vez, Saizou moveu minha cabeça, fazendo-me encará-lo confusa.

Sobre o que ele estava falando? Sem a Kushimitama, eu era apenas uma casca que se quebrava, para dar lugar a Deusa da Destruição, Izanami. Que puniria o mundo com sua maldade.

Senti as mãos fortes de Saizou moverem meu corpo, empurrando-me para o chão.

Eu já não tinha forças para reagir. E nem mesmo imaginava o que se passava além daqueles olhos negros e intensos que pareciam forjados para me amedrontar.

O toque de sua mão livre sobre meu pescoço causou uma reação instantânea. Minha pele inteira se arrepiou e eu sentia meu estômago revirar-se e contrair-se.

Saizou não tinha nenhum pouco de piedade em relação a mim. Sua mão explorava cada parte do meu corpo enquanto seus olhos acompanhavam cada reação que eu esboçava com um meio sorriso em seus lábios.

Tentei me esquivar de seus toques e me levantar, mas sentia-me fraca por algum motivo e Saizou apertou ainda mais sua mão em torno do meu pulso, tirando com a mão livre alguns fios de cabelo que tapavam meu rosto.

Ele desceu seu toque até meu pescoço e seus lábios acompanharam, tocando a região e fazendo que eu me encolhesse, retraída.

Aquele momento era o que eu tanto sonhara, e, no entanto, eu estava paralisada por aqueles olhos negros que desvendavam-me sem hesitar. Eu estava com medo que Saizou pudesse ver novamente um lado terrível meu.

— Saizou, já chega... – Empurrei seu corpo para tentar desvencilhar, mas foi inútil. Havia uma diferença de força enorme e ele parecia obstinado a me punir por algo.

— Isanami. – Sua voz próxima ao meu ouvido trouxe uma sensação cálida ao meu corpo, em contraste com o tremor gélido que eu sentira sob ele. – Você se lembra sobre o que Yukimura disse para nós dois?

— Sobre o quê? – Perguntei, mesmo sabendo o que era o assunto.

— Sobre eu ser a sua luz, e você a escuridão. – Ele disse tais palavras de forma direta, como se compusessem uma sentença.

— Você ainda pensa dessa forma? Hahaha! – Forcei um sorriso – Não há coisas como essas nesse mundo, Saizou não tem obrigações comigo!

Ele me encarou friamente e suspirou logo em seguida.

— Isso não é o que seu corpo diz. – Senti meus lábios tremerem e falharem por um instante.

Eu não sabia como responder.

E a resposta veio nitidamente após os lábios furiosos de Saizou encontrarem os meus, forçando-me a dar espaço para que ele me beijasse com ímpeto.

Porque eu sabia que a única coisa no mundo que poderia para a escuridão em meu coração era a luz ofuscante de Saizou. E não havia nada que pudesse deixar-me à beira da loucura senão ele.

Era uma deliciosa contradição, na qual o meu salvador era também um agente que causava-me pânico, medo, saudade e até mesmo felicidade.

A Deusa que dormia dentro do meu coração, parecia aceitar a luz de Saizou como uma salvação para si própria também. Não o rejeitava e não interferia, como se soubesse que no fim, a luz mantinha o equilíbrio eterno no YinYang e que, até o fim dos tempos, nós nos completaríamos.

Pelo amor ou pelo sofrimento, estávamos fadados a viver entrelaçados pelas mãos do destino traiçoeiro. E algo me dizia, do fundo da minha alma, que Saizou estava trabalhando arduamente para que a primeira opção fosse válida.

Deixei que meu corpo e meus lábios fossem tomados por aquele homem.

Porque eu pertencia a ele. E em nada podia contra a sua luz.

A minha luz. Meu ponto de paz e de tormenta.

Meu Saizou.


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