Fille du soleil escrita por ReynaSPQR


Capítulo 5
Piper




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/556487/chapter/5

Paramos em frente à varanda da Casa Grande, onde Quíron (na cadeira de rodas) jogava cartas com um homem gorducho, com uma camisa com estampa de leopardo e uma lata de Diet Coke na mão direita. Subimos os três degraus da varanda, mas ele estava concentrado demais para nos notar, até que Quíron quebrou o silêncio.

– Olá de novo, crianças!

– São os novos campistas? – O homem gorducho olhou para nós.

– Sim, esses são Mylo, Piper Martín e Lindsey Stewart – Quíron apontou para cada um, respectivamente. – E esse é o Sr D

–Olá Sr D – Mylo disse, e o Sr D, que voltara a contemplar suas cartas, olhou novamente para Mylo.

–Como um ciclope veio parar aqui?

–Outro ciclope, maior que ele, o obrigou a fazer serviços, como ajudar a capturar Piper, - Quíron explicou – mas Mylo foi muito corajoso ao ajudá-la a escapar quando o Brad apareceu. – Mylo ficou vermelho.

– Umhum.. – Sr D Disse voltando para suas cartas – Como são novatas podem ficar sem fazer nada o resto do dia, mas amanha começarão a participar das obrigações do acampamento.

– Mas amanha é domingo, Sr – Aaron disse

– Que seja! Podem ir se quiserem, mas estejam no pavilhão do refeitório para o jantar.

– Sim, Sr – Lindsey disse.

– Tanto faz – murmurei. Tudo o que eu queria era dormir, tocar meu piano, ou pintar, qualquer coisa que me fizesse esquecer aquela loucura na qual a minha vida se transformara. O Sr D me olhou incrédulo.

– Acho que não sabe com quem está falando, senhorita Poppy Martín.

– O diretor do acampamento? – isso fez com que um brilho sádico perpassasse seus olhos, como se fosse me incinerar. Mas logo sumiu. – E é Piper.

– Sou Dionísio, um deus, minha cara. Mas vou lhe perdoar pela sua ignorância. Agora vão!

Dionísio... Puxei tudo o que eu sabia sobre mitologia até lembrar que ele devia ser o deus do vinho e das festas.

– Claro – eu disse – mas posso fazer uma pergunta antes?

– Claro!

– Já que o senhor é o deus do vinho, porque está bebendo Diet Coke?

– Que garota impertinente! Sumam daqui!

Saímos da varanda rapidinho e caminhamos sem rumo até pararmos em frente a um pinheiro relativamente pequeno. Dois olhos verdes nos espiavam de trás dele, e reconheci como sendo de uma ninfa. Até que vimos um ciclope, muito maior que Mylo se aproximar de nós e abraçar Mylo como se fosse esmagá-lo.

– Irmão!

Mylo pareceu muito confuso, até que o outro ciclope o soltou e se apresentou.

– Eu sou Tyson, você é Mylo?

– Sim. Mylo tem irmão?

– Todos os ciclopes são irmãos.

– Então Ernesto era irmão de Mylo?

– Sim, nem todos os irmãos são bons. – okay, aquele papo esquisito foi interrompido quando o tal de Tyson se virou para nós e acenou animadamente. – Olá!

– Oi, Tyson! – Shawn disse e apontou para mim e para Lindesy – Essas são novas campistas, Lindsey e Piper.

– Olá, Lindsey e Piper! – Tyson disse - Olá, Shawn e Aaron! Vou levar Mylo para as forjas dos ciclopes, no fundo do mar! Não é incrível? Ele vai conhecer o papai! Vamos, irmão!

– Papai? – Mylo perguntou – Vamos logo! Tchau, pessoal!

– Tchau! – dissemos em coro.

Então Tyson conduziu Mylo em direção à praia, conversando sobre o mini pegaso de bronze.

– Então, garotas – Shawn disse – o que vocês vão fazer agora? Tenho treino de arco e flecha daqui a pouco e o Aaron... – Então ele olhou para o amigo pedindo orientação.

– Estou livre esta tarde.

– Ótimo! – Shawn completou se afastando – Então você cuida delas que eu estou indo.

– Espera! – gritei – Quero ver esse treino de arco e flecha, parece interessante! Vocês vêm? – Olhei para Aaron e Lindsey

– Acho que eu gostaria de voltar aos estábulos. – Lindsey respondeu e depois olhou para Aaron – você pode me levar lá?

– Claro... – Ele respondeu claramente desconfortável e depois se dirigiu a mim – talvez eu apareça por lá depois.

– Tudo bem. – respondi e corri para alcançar Shawn.

Andamos por um momento em silêncio até que ele o quebrou:

– Acho que você é minha irmã.

Aquilo me pegou completamente desprevenida. Até ali eu não havia parado para pensar que, qualquer que fosse meu pai divino, eu teria no mínimo alguns irmãos.

– O quê?

– Acho que você é filha de Apolo. Sabe, o seu tornozelo se curou sozinho sem que Quíron fizesse nada, e você é descendente de índios, portanto seria estranho se você fosse loira, a grande maioria dos filhos de Apolo são loiros, mas ainda assim seu cabelo tem um leve tom de dourado.

– Ah... - Meu cérebro quase entrou em curto-circuito com aquela informação: Talvez eu fosse filha do deus do sol, da medicina e da música. - Acho que eu vou pirar.

– Com toda essa reviravolta na sua vida? Totalmente compreensível. Acredite, já passe por isso também.

– Como foi? Quer dizer... Como você chegou aqui?

– Foi há três anos, eu tinha treze anos quando um sátiro apareceu em minha porta me dizendo que meu pai era um deus grego e que se não viéssemos para o acampamento imediatamente eu seria devorado por um monstro. Uma visita super normal, não acha? – nós rimos – Três horas depois o sátiro não tinha convencido minha mãe até que um cão infernal derrubou nossa porta. – depois de ver minha cara de interrogação ele explicou – Um enorme cão negro que vem das profundezas do mundo inferior sedento de sangue. Enfim, minha mãe ficou bem, chegamos ao acampamento a salvo, mas ainda perseguidos pelo monstro até que meus irmãos arqueiros o abateram com flechas flamejantes. Naquela mesma noite fui reclamado.

– Uau! – eu disse. Então ele parou e eu parei em seguida, dois passos à frente. Aquele acampamento era todo incrível, mas aquele lugar era de perder o fôlego. As colinas verdes eram tingidas de dourado pelos raios do sol. Arbustos salpicavam a relva. Na direita estava o lago de canoagem, com alguns campistas no píer com os pés na água extremamente azul, que descia num riacho por centenas de metros, até desaguar no oceano, dali eu via o anfiteatro: Uma grande arquibancada em meia-lua, e logo atrás a imensa parede de escalada. E mais próximo de nós em frente ao anfiteatro estavam alguns campistas, atirando flechas com seus arcos em seis alvos pintados de vermelho e branco. A maioria das flechas acertava exatamente o meio. – Uau!

Uma garota loira e baixinha, de feições pontudas se aproximou carregando dois arcos e dois estojos de flechas nas costas. Entregou um de cada a Shawn e perguntou:

– Você é a nova campista?

– Sou.

– Alice Grier, chalé sete. E você?

– Piper Martín, ahn... ainda não sei de qual chalé eu sou.

– Prazer em te conhecer, Piper.

– Igualmente.

Shawn pegou o arco e uma flecha e, dali mesmo, num ângulo bastante desfavorável, acertou o alvo mais distante. O campista que mirava aquele alvo olhou feio para ele e fez um gesto obsceno com o dedo. Shawn apenas riu.

– Quer tentar? – Ele me ofereceu o arco. Eu aceitei, peguei uma flecha do seu estojo e me posicionei de frente para um alvo, mas ainda distante. Imaginei que eu nem ia saber como usar aquilo, já que nunca havia feito isso antes, mas o arco e a flecha se encaixaram com tanta naturalidade em minhas mãos que eu estranhei. Olhei para Shawn e ele gritou – Manda ver, Piper! – Ao seu lado, a garota baixinha sorria, me encorajando.

Estiquei a corda do arco até não poder mais, e mirei a flecha no centro do alvo e soltei. A cena pareceu se passar em câmera lenta. A flecha girava em torno de si mesma se aproximando do alvo, até que parou exatamente onde eu queria. Qual não foi minha surpresa quando o raio de sol que iluminava a flecha por entre as poucas nuvens começou a se intensificar. A flecha se soltou da madeira com um brilho dourado e flutuou até mim, estiquei meu braço instintivamente para pegá-la e quando seu cabo tocou meus dedos, seu brilho envolveu minha mão e se alastrou pelo meu corpo, até que eu estivesse totalmente envolta numa bola de luz dourada.

O brilho foi diminuindo de intensidade até que voltei ao normal. Percebi que todos os campistas e sátiros haviam parado para ver aquilo, até cabeças de náiades se projetavam da superfície do lago. As pessoas abaixavam as mãos do rosto como se tivessem acabado de tapar os olhos para protegê-los, isto é, menos Shawn e a Alice. Notei que Aaron havia chegado e estava observando. Meu coração estava na garganta, ou ao menos foi o que pareceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fille du soleil" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.