Fille du soleil escrita por ReynaSPQR


Capítulo 3
Piper




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Eu estava numa sala escura, minha visão estava turva mas eu conseguia distinguir o que se passava: A minha frente, uma garota loira, mais velha do que eu me encarava, com um sorriso curioso. Ela usava um vestido colorido e segurava uma faca suja de sangue. Atrás dela estava um garoto moreno, cabelos castanhos e lisos grudavam no suor do seu rosto. Seus olhos negros me olhavam cheios de dor. Ele usava uma camiseta laranja encharcada de sangue e segurava um ponto do abdômen. Então ele desabou. Tentei correr para ajudá-lo, mas eu não conseguia me mover. A garota riu e, lentamente, aproximou a lâmina de sua boca e lambeu o sangue com gosto.

***

Acordei assustada, deitada num leito de uma enfermaria. O lugar era novo para mim, mas eu não me apeguei aos detalhes, pois o que mais me chamou a atenção foram as pessoas ao meu redor.

No leito à minha esquerda, estava uma garota ruiva, deitada. Sentada ao seu lado, um garoto mais velho, loiro de olhos verde fazia curativos em seus braços. No leito à minha direita estava o garoto/ciclope que me ajudara mais cedo, chorando feito um bebê, com as mãos escondendo o rosto. Ao seu lado, com a mão direita apoiada em suas costas, estava o mesmo garoto que eu vira em meu sonho. Meu coração acelerou. Como pode alguém sonhar com uma pessoa que nunca viu na vida e em seguida acordar com a mesma pessoa lhe encarando?

Quando sentei, notei que meu tornozelo já não doía. Notei também que havia mais duas pessoas me olhando. Uma delas era o homem que havia me salvado que eu reconheci como o zelador da minha escola, tinha pouco mais de trinta anos, barba malfeita e braços peludos. E tinha um ar divertido no rosto.. E ao seu lado, estava um homem barbudo com uma camisa social branca e um paletó marrom por cima. Ele estava numa cadeira de rodas.

– Onde estão meus pais? Onde eu estou? E, quem são vocês?

– Uma pergunta de cada vez, Piper. Bom, vamos começar com as apresentações. – o homem na cadeira de rodas disse. Sua voz era calma e seus olhos profundos faziam pensar que ele vivera por muito tempo e já vira de tudo um pouco – Eu sou Quíron.

– E eu sou Brad. – o zelador disse - E não, não precisa agradecer por minha incrível performance lá no esgoto. Mas eu não teria conseguido sem o Mylo ali. – ele apontou para o garoto chorando.

– Eu sou Aaron – Disse o garoto ao lado de Mylo – E aqueles são Shawn e Lindsey – apontou para o garoto loiro e a garota ruiva. Percebi que ela estava tão atordoada quanto eu.

– Seria um prazer conhecê-los em outras circunstâncias. – eu disse – Mas cadê meus pais?

– Aaron, leve Mylo para a forja, talvez ele se acalme lá. E depois chame o Tyson. E Shawn, você pode nos dar licença um minutinho, você também, Brad. E chame os pais da Piper, por favor.

Depois de alguns “é claro!”, finalmente estávamos só eu, Lindsey e Quíron na enfermaria.

– Agora queremos respostas – Lindsey disse, com a voz firme.

– Tudo bem. – Quíron começou – Vocês nunca repararam que são diferentes dos outros adolescentes, que por mais que tentem se encaixar, nunca se sentem em casa? Nunca repararam que seus reflexos são mais rápidos e que não conseguem ficar parados muito tempo? Nunca repararam que as letras ocidentais parecem dançar a frente de seus olhos ao passo em que lêem com facilidade o grego antigo? Nunca quiseram saber por que têm tão poucas informações sobre seu verdadeiro pai – ele olhou diretamente em meus olhos e depois encarou Lindsey – ou mãe?

O pior de tudo foi que todas aquelas palavras fizeram sentido para mim. Realmente eu nunca fora popular. Sabe aquela garota esquisita, que não fala com ninguém, mas ainda assim está sempre em confusão? Sou eu. E aquela que é ótima na aula de música e nos esportes, mas ninguém a quer no seu time ou grupo musical? Eu também. E a outra que não para de tamborilar na mesa com os dedos, se mexer na cadeira ou balançar a perna? Pois é. Tem idéia, agora de como é minha vida social?

E a parte sobre o grego antigo... Lembrei-me de um acontecido quando eu tinha onze anos. Estávamos em um museu, eu, meus pais e meus irmãos, que são gêmeos. Já estava acostumada a levar minutos para ler uma frase inteira, mas quando bati o olho naquela peça antiga de pedra, com inscrições em grego, eu compreendi perfeitamente. Eu havia afastado aquela lembrança até o mais fundo da minha mente até ali.

E realmente o assunto “pai” me intrigava desde que eu me entendia por gente. Não, o homem que eu chamo de pai, não é meu pai de verdade. O Malcom e a mamãe se casaram quando eu tinha três anos e ele me criara como filha desde então. Sempre que eu perguntava sobre meu pai biológico, a mamãe se limitava a descrevê-lo como um jovem lindo, gentil e carinhoso, que vivia escrevendo canções para ela, mas quando ela estava grávida de seis meses, ele foi obrigado a voltar para sua terra natal. Nem o nome do meu pai eu sabia.

Lindsey e eu trocamos um olhar de compreensão, pois ambas estávamos igualmente confusas e desesperadas. Porém ela parecia não se surpreender tanto com aquilo.

– E-eu... reparei, mas... – Lindsey disse - como isso responde nossas perguntas, Sr. Quíron?

– Não responde todas, Lindsey, mas algumas. Uma coisa que eu tenho certeza, é que vocês duas, são semideusas. – Antes que nós pudéssemos questionar, ele continuou, como se já tivesse dito aquilo milhares de vezes. – Acontece, garotas, que aqueles deuses mitológicos da Grécia e Roma antigas são reais. Eles regem as forças da natureza e impedem que o caos se instale na nossa civilização. Eles se mudam conforme o centro do mundo muda. Antes era a Grécia, foi para Roma, França, enfim, onde o coração da civilização ocidental está, aí estão os deuses. E é por isso que eles vivem aqui, nos Estados Unidos da América. E, de vez em quando, esses deuses... Humm... Relacionam-se com mortais e têm filhos: Os semideuses ou meios-sangue.

– Está querendo dizer que meu pai é um deus? Isso é loucura! Acho que eu vim parar num hospício. Cadê meus pais? – Eu disse, aumentando o tom da minha voz. – Eu exijo ver meus pais!

– Como quiser senhorita Martín. – Quíron disse, dirigindo sua cadeira para a porta -mas fique na cama – Ele acrescentou, quando fiz menção de me levantar – Seu tornozelo não está totalmente curado.

– Você acredita nisso? – sussurrei para Lindsey

– Acho que sim. – ela disse, com tristeza na voz – explicaria muita coisa que aconteceu comigo ultimamente.

– Eu não acrenito nisso! Você caiu no joguinho desta gen...

Fui interrompida por uma voz chorosa.

– Piper!

Uma fração de segundo depois, minha visão foi coberta por uma cortina de cabelos cacheados e castanhos e fui apertada por braços magros.

– Mamãe! – eu a apertei de volta. Quando ela me soltou, o Malcom me abraçou – Pai! Por favor, me tirem daqui! Essa gente é louca! Me digam, por favor que eles estão mentindo!

– Não podemos, Pipes. – Disse meu pai – O Quíron está certo.

– Esse acampamento é o único lugar seguro para crianças como você. – Completou mamãe.

Droga! Meus pais também haviam caído naquele papo.


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Notas finais do capítulo

Booom... espero que gostem e divulguem, beijos e até o próximo capítulo!!



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