NARRADOR

“-QUE PORRA VOCÊS ACHAM QUE ESTAM FAZENDO, CACETE? – Jason perguntou, dando inveja a um tomate pelo tom tão vermelho que sua face tinha adquirido”.

O moreno (ou seja, Nico) já abria a boca para responder algo bem estúpido; algo que, ao menos defendesse Thalia e o acusasse, quando Percy entrou correndo no chalé, sem ao menos bater na porta. Obviamente estranhou ao ver a cena, e ainda mais ao tropeçar na camiseta do All American Rejects de Nico e cair de bunda direto no chão. Mas mesmo diante de tal situação, ainda que com o cenho franzido, ele passou o importante aviso que fora designado transmitir:

– Hey! – disse, enquanto Nico pegava sua camiseta, que sabe-se lá como, tinha ido para na cabeça de Percy – Já era para vocês estarem lá no refeitório, o que estavam fazendo, meus deuses?!

Jason, revoltado, nesse mesmo momento saiu batendo o pé, ainda vermelho de raiva, como se, se fosse ficar lá teria de responder a Percy:

“Eu tava no banheiro, e esses dois ai estavam se pegando”

Sua irmã o seguiu, com medo do que ele pudesse fazer enquanto estava bravo, e também para explicar-lhe de seu modo a situação. Então, pela segunda vez em dois dias, deus as costas sem nem olhar para trás à Nico depois de terem se beijado.

De forma que ficaram no chalé só os dois morenos, ambos confusos e desamparados.

– Que porra tá acontecendo aqui, Nico? – o dos olhos verdes perguntou, olhando fundo nos olhos de breu, como poucos tinham coragem de fazer.

–Nada que você precise saber, Perseu – ele já ia saindo pela porta, realmente preocupado com a mensagem a ser passada.

Percy o parou, pondo sua mão de forma firme no ombro de Nico:

–Se eu não precisasse não perguntaria. Agora me responde: que porra tava acontecendo aqui antes de eu entrar?

Nico respirou fundo, analisando suas possibilidades:

Começar uma briga com Percy e parar na enfermaria

Sair correndo feito um maluco sem efeito, já que Percy o seguraria.

Contar uma versão geral e resumida dos fatos a Percy, sem grandes explicações.

– Eu fiquei com a Thalia, e Jason não gostou muito disso – ele disse, depois de um longo suspiro.

–Viu? Você falou e não doeu, cara!

Na verdade, a Nico, tinha doido muito, lhe parecia que tinha levado um soco no meio do esôfago. Veio-lhe a mente: porque ele simplesmente não desencadeava uma briga? Ia doer menos.

Ele assentiu, mais concentrado em não vomitar, enquanto ambos caminhavam em direção ao refeitório.

Lá, uma confusão tomava conta, alguns campistas de Hermes dançavam sobre a mesa, alguns filhos de Hécate manipulavam a Névoa em uma tigela de comida, a fazendo parecer uma vaca que sambava sobre uma filha de Afrodite, e por fim, Jason e Thalia discutiam acaloradamente na mesa de Zeus.

Nico mandou um último olhar a Thalia. Queria que ela estivesse do seu lado, queria a beijar de novo, queria suprir sua necessidade dela. Uma que só crescia cada vez que se viam.Mas não podia, tinha que se sentar sozinho em sua mesa para ouvir sobre uma coisa que o deprimia.

Quíron chegou ao refeitório logo atrás do Sr. D, poucos minutos após do moreno. Ambos os adultos tinham uma expressão brava, cansada e a posse de enormes poços roxos debaixo dos olhos, também conhecidos como olheiras, como se tivessem trabalhado muito em algo que os preocupava a toa. E para Dionísio trabalhar e ficar cansado no ato, era de ser algo realmente preocupante.

Em situações normais, como avisos comuns, quem passaria a mensagem era Quíron, afinal, porque o deus diretor do acampamento desperdiçaria sua saliva sagrada com simples adolescentes? Motivo algum, é claro.

As coisas já começaram a ficar preocupantes quando quem começou a falar depois de o silencio se aglomerar do local foi o Sr. D, e ficaram ainda piores quando ele realmente começou a contar os fatos.

– Estamos aqui reunidos hoje para passarmo-lhesinformações importantes vindas de meu tio, Hades. Ele nos contou, de forma sigilosa, que estava havendo uma rebelião com alguns espíritos do Elísio, e que isso nos afetaria...

Automaticamente, uma mão da mesa de Atena se ergueu:

– Desculpa senhor, mas como espíritos do Elísio podem estar em rebelião? Supostamente, eles são os mortos de maior honra.

– Era exatamente isso que eu ia falar, senhorita Priim, se me permite. – ele fez um aceno estranho com a mão – Como eu estava dizendo, tais espíritos do Elísio são fantasmas de caçadoras de Ártemis que morreram em batalha...

Novamente, Amanda Proom levantou sua mão:

–Senhor, caçadoras de Ártemis são pessoas controladas, não acho que elas começariam uma rebelião...

–Era isso que eu ia explicar, santo Zeus! – ele gritou, novamente fazendo o estranho movimento com a mão, desta vez transformando a garota em uma taça de vinho – Ótimo, melhor assim. Hum, em que parte eu parei mesmo? Ah sim, não estamos, obviamente, falando de todas as caçadoras que morreram em batalha, estamos falando de um pequeno grupo, com não mais de 20 componentes, especifico de caçadoras mortas. Estamos falando do grupo que se alto denomina como Anti-Julieta.

Ele fez uma pausa, como se esperando por uma pergunta.

– Porque fui transformar aquela menina? Ela era a única que perguntava quando eu queria! – com mais um gesto estranho com as mãos, o deus transformou Amanda de novo em uma pessoa.

Como se esperasse tal gesto, a garota levantou a mão e começou a falar:

– O que seriam as Anti-Julieta, senhor?

– Esta é uma pessoa com atitude, minha gente! Respondendo sua pergunta, Preem, as Anti-Julieta, são caçadoras que, mesmo depois da morte, desejam vingança as ex-companheiras que encontraram o amor. Elas são formadas, em grande parte, por caçadoras antigas, que viveram no período de quem originou o nome do grupo: Julieta Capuletto. Atriz principal de uma das histórias de amor mais melosas da humanidade.

Mais uma vez (isso já está ficando entediante...), Proom levantou o braço:

–Me desculpe pela pergunta, mas a Srta. Capuletto não é uma personagem fictícia de um conto de Shakespeare, senhor?

O deus bufou:

–Você é mais interessante como um copo de vinho, sabia? Mas, respondendo sua décima pergunta, na verdade, ambos eram semideuses. Julieta era uma filha de Afrodite que se tornou caçadora aos 14 anos, passando algumas centenas de anos na caçada, para depois se apaixonar por um jovem mortal, Romeu, e sair do pequeno grupo de Ártemis apaixonada. Shakespeare foi outro semideus, filho de Hecáte, (possuía a magia das palavras), que viveu anos depois do casal, e ouviu a bela história em através de seu pai, um jornalista muito honrável para época, se sentiu inspirado e decidiu escrever um roteiro que mortais também pudessem ler.Mas isso não é preciso saber agora, o que vem ao caso é que depois da morte de Julieta, muitas caçadoras ficaram com raiva, e juraram vingança.

–Senhor – Amanda intorrompeu – esta me dizendo que, na verdade, quem matou os personagens da história mais famosa dos séculos, foram na verdade, caçadoras revoltadas?

– Você é de grande inteligência, minha querida. Mas na verdade, estou dizendo-lhe que elas mataram Romeu, resultando no suicídio de Julieta. E que vem fazendo isso com qualquer caçadora que saiu da caçada, já criaram várias vítimas sendo caçadoras foragidas, cada vez resultando em um sofrimento diferente.

–Dionísio – era Amanda, mais uma vez – estou apreciando muito nossa aula de história coletiva, mas ainda não entendi o porquê de a estarmos tendo.

–Acho que essa foi a mais sabia de suas perguntas, Alisha, e eu a respondo com uma simples informação, temos uma caçadora foragida entre nós, e as Anti-Julieta já estão programando-lhe uma vingança apropriada. Em um mês, teremos 15 escolhidos para participar de uma missão que pode salvar ou destruir o grupo da rebelião, todos marcados por uma tatuagem similar a do Sr. Di Ângelo. Será que poderia nos mostrar sua tatuagem, Nicolau?

Nico, mesmo incomodado com o erro de seu nome (já odiava quando o chamavam de Nicolas, imagine então de Nicolau...), levantou-se e puxou a camiseta um pouco para o lado, deixando uma pequena tatuagem de uma flecha quebrada a mostra em sua clavícula.

–Alguma dúvida? – perguntou o diretor do acampamento, depois de, aparentemente, ter terminado seu enorme discurso.

Quase todas as mãos se levantaram nas diversas mesas. Nico era um dos poucos que não havia erguido a mão como se o mundo fosse desmoronar e ele precisasse segurá-lo. Afinal, para que? Seu pai já havia lhe dito todas as mesmas coisas antes, de qualquer forma.

Dionísio estava para escolher um campista para começar a tirar as dúvidas (um de seus filhos, é claro), quando um grito doloroso se espalhou pelo refeitório, qualquer burburinho existente parou, e todos se viraram para encarar a garota que produzira tal som.

Thalia Grace, filha de Zeus, gritava como uma condenada em sua mesa. Ao seu lado, seu irmão a olhava com desespero. Em sua clavícula, alguns traços negros começaram a aparecer, ao mesmo tempo em que a pele ao redor ficava vermelha. Era como se o ar a estivesse tatuando sem prepará-la para tal antes.

O moreno quase correu em sua direção, lembrava quando ele próprio estava sendo marcado, lembrava-se do quanto doía. Parecia que parecia que a tatoo estava sendo feita com uma faca. Mas lembrou-se também do que seu pai disse:

“Você precisa sentir sua própria dor agora, senão depois dói mais”.

Sentiu-se impotente, sentiu-se mal, era mais difícil para ele vê-la sofrendo do que sofrer ele próprio.

Então todos os mínimos traços da tatuagem foram completos, Thalia soltou um suspiro, finalmente parou de gritar, e desmaiou. Aliviado com o fim do sofrimento dela, e ainda mais com o fato de finalmente poder tocá-la, Nico correu e a pegou em seus braços antes que ela caísse no chão. Murmurando em seu ouvido, enquanto todo o acampamento olhava a cena, chocados:

– Vai ficar tudo bem, minha linda, tudo bem.