Tenho apenas dois segundos para processar toda a informação que é jogada em minha cabeça nos últimos instantes e acho sinceramente que ela pode explodir. E eu aposto que Damon Salvatore deve achar o mesmo, na verdade, ele parece estar quase com medo de mim.

Eu riria se a situação não fosse tão absurda.

-Você pode me explicar que porra é essa? – Sinto minha própria voz controlada demais enquanto aperto a papelada tão forte que meus dedos estão ficando brancos.

Ouço a respiração exasperada do homem quase duas vezes maior que eu. Ele está mexendo a perna desconfortavelmente enquanto tira os fios de cabelo de sua testa. O fato de não estar sentado atrás de sua enorme mesa de madeira maciça ou dirigindo-se á mim como “senhorita Gilbert” é que esta é uma conversa informal. Amigo para amigo.

-Lena... Olha você sabe que eu adoro você, não é? Somos amigos em todos esses anos e eu juro que não estaria te pedindo isso se não soubesse que você seria capaz de fazer. – ele me diz.

Abro a boca para retrucar, mas minha voz some. Ele é bom em argumentos e persuasão. Você olha em seus grandes olhos azuis mar e não consegue encontrar o caminho de volta a praia.

Sorte a minha que eu nunca, em hipótese alguma, nado em mares desconhecidos.

-É desse jeito que você trata seus amigos, Damon? Jogando-os na cova do leão? Porque se for assim, então preciso te dizer... Você é péssimo nisso.

Ele revira os olhos.

-Porra Lena, você pode ou não fazer isso por mim?

Agora sim estou brava.

O fato de ser secretaria e amiga de Damon há três anos me deixa em uma posição privilegia com ele. Vamos lá, se eu não o conhecesse bem demais, com certeza não estaria gritando com ele agora. E no fundo me sinto triste por isso já que ele não tem culpa alguma do que está acontecendo.

É tudo culpa do outro babaca.

Eu simplesmente não posso acreditar que estou sendo obrigada a fazer isso.

-Damon, vamos lá. Você mesmo disse, trabalhamos tão bem juntos esse tempo todo e você quer mesmo me dispensar assim?

-Não estou te dispensando, Elena. Você é simplesmente a melhor secretaria que eu poderia ter, mas você o conhece... Essa é a sexta garota em menos de um mês, se as coisas continuarem assim vamos acabar não contratando ninguém.

Viro o rosto para não cruzar com seus olhos desesperados por ajuda.

-Então por isso você simplesmente me entrega pra ele?

-Não estou te entregando pra ele, Lena. É só por um tempinho, eu juro. E só estou fazendo isso porque eu sei que se tem alguém nesse mundo que pode colocar meu irmão em seu lugar além da nossa mãe, esse alguém é você.

Faço uma careta.

-Vou acabar matando ele até o final da semana. – murmuro.

O sorriso de Damon cresce quando ele percebe que estou relutando.

-Ei vamos lá, se anime. Você está recebendo a mais por isso.

Dou de ombros.

-Eu não iria querer dinheiro a mais se isso significa que vou precisar trabalhar para seu irmão idiota. Eu gosto de trabalhar pra você e ficar nesse andar e tudo mais.

-Encare isso como uma inovação. Você é grande, Elena. E todos nessa empresa veem o quanto você cresce a cada dia. – ele está sério agora, procurando meus olhos para que eu saiba que não está brincando. –Eu vejo isso. Você não combina com esse emprego e quando você enxergar isso, pode apostar, você vai longe. Então encare meu querido irmão como um dos primeiros obstáculos para esse futuro.

Relutantemente aceno com a cabeça. Talvez ele esteja certo e meu futuro não pertença a isso. Stefan Salvatore pode ser apenas um obstáculo incrivelmente atraente e mal humorado que eu preciso passar.

Não pode ser tão ruim assim, não é?

-Quando eu começo?

O sorriso de Damon aumenta e ele me abraça forte.

-Você acabou de salvar nossas vidas, Elena Gilbert. Vou te pagar uma bebida como agradecimento.

Soco de leve seu braço e caminho para fora da sala.

-Espero que seja um bar muito caro. – digo antes de bater a porta atrás de mim.

Não vejo sua reação, mas aposto que ele revirou os olhos.

Deixo sua sala e sento-me em minha mesa, esfregando as mãos no rosto e tentando, por Deus, não gritar alto de frustração.

Eu adoro Damon. Ele pode ter seus momentos de mau humor repentino e suas crises de gritos quando algo da errado em algum projeto, mas ele nunca me desrespeitou ou foi cruel de alguma forma. Temos uma ótima relação e, por Deus, ele é incrível de se assistir.

Recordo-me do dia em que saímos para jantar e depois de algumas bebidas sua boca estava na minha e céus, eu não queria que ele parasse. Ou talvez eu quisesse um pouco, porque se existe alguém melhor que Damon pegador, esse alguém é Damon como melhor amigo (não que ele vá afirmar isso de alguma forma). Então as coisas espontaneamente caminharam para o rumo da amizade e com ocasionais beijos arrebatadores depois de alguns expedientes, nós nunca fomos além disso.

E eu não acredito que estou perdendo o conforto desse andar e de todos os meus amigos para trabalhar no ultimo setor da empresa ou apropriadamente chamado, O inferno. Aonde ninguém quer ir, em hipótese alguma. Trabalhar para o irmão de Damon é compatível com pedir demissão imediata, mas essa não é uma opção no momento.

Vou fazer o possível por uma relação estritamente profissional e formal, mas se Stefan quiser guerra.

Então teremos guerra.