Acordei sentindo uma mão acariciando meus cabelos, abri os olhos devagar e observei a silhueta de uma mulher:

–Bom dia Emma...-escutei a voz da Valentina

–Bom dia, eu acho...-disse coçando os olhos

–Achei melhor que eu te acordasse...-ela disse me olhando- Hook, não costuma ser gentil...

–Com certeza...-disse me sentando

–Se arrume, se não ele vai ficar bravo-ela disse me dando uma piscadinha e saindo

–Sim senhora, capitã...-disse sozinha e dei uma leve risada

Arrumei meu cabelo e coloquei uma bota,e subi as escadas.Observei o tempo e estava ventando fortemente com as nuvens mais carregadas que já vi. Tremi um pouco ao sentir a corrente fria do mar bater na minha pele.

Avistei o Killian falando com a Valentina, eles riam. O disgraçado tinha um sorriso lindo. Endireitei-me e fui em direção a Valentina.

–Valentina, pode me ajudar a treinar?-disse e ela estranhou

–Por que não treina com o Hook?-ela disse apontando para ele

–Acho que não...-disse um pouco irritada e ele me olhou

–Algum problema entre vocês?-ela disse intercalando o olhar entre mim e ele

–Ela é fresca demais e não sabe com o que brincar!-ele disse a olhando

–E daí?-disse me intrometendo- Eu apenas brinquei com você! E não precisa ser grosso, precisa de senso de humor, isso sim!

–Olha aqui, você não é ninguém para me dizer o que eu tenho de ter ou não!-ele disse furioso

–Sou sim!-disse e ele ficou indignado- Posso não ter visto a vida com os mesmos olhos que os seus, mas sobre polidez!

–Não estou falando de polidez!-ele disse revoltado- Estou falando de saber com o que se brincar!

–Ai ta bom!-disse irritada virando os olhos e ele bufou irritado- Você vai me ajudar, Valentina?

–Está bem...-ela disse com as sobrancelhas e começou a andar

Encarei o Killian pela ultima vez e a segui. Fomos para o outro lado do navio e eu peguei a espada assim como ela.

–Ai o Killian me irrita demais!-disse ajeitando a espada na mão.

–Não esquenta... Ele é assim!-ela disse me atacando e eu defendi

Lutamos por um tempo, até que começou a chover, não muito forte mas o suficiente para se molhar. Paramos de lutar e eu olhei para o céu.

–Não é melhor sairmos daqui?-disse em um tom mais alto por conta do barulho que os pingos faziam ao se chocar com a madeira

–Não me diga que você é fresca com o seu cabelo!-ela disse me atacando

–Claro que não!-disse me defendendo e batendo minha espada na dela

Lutamos por um bom tempo, diria até que horas. Quando eu a empurrei no meio de um treino coloquei as mãos na cintura:

–Podemos descansar mais um pouco?-disse ofegante

–Claro!-ela disse naturalmente

Nos sentamos nas escadas molhadas e eu dei uma ajeitada no cabelo:

–Para você é normal lutar tanto sem se cansar?-disse a olhando

–Depois que se vive duzentos anos a gente acostuma,querida...-ela disse e eu fiquei surpresa

–Duzentos? Como?-disse fascinada a olhando

–Nos seus livros de historia já ouviu falar de um lugar chamado Neverland?-ela disse e eu assenti encanta

–Existe mesmo?-disse animada

–Sim pequena... Existe, e lá você não cresce...-ela disse e eu ri animada

–Como? Como não se cresce? É impossível!-disse curiosa

–Quem sabe um dia desses eu não lhe explico...-ela disse e eu fiquei confusa- Vamos voltar?

Eu fiz um sinal de positivo com a cabeça e ela foi andando para o lugar. Levantei-me e a segui, lutamos por mais um bom tempo. Ela me encarou um tempo e eu dei um leve sorriso:

–Está treinada...-ela disse convicta

–Serio?-disse extremamente animada

–Sim, perfeita!-ela disse sorrindo

Dei um pulinho de alegria e a abracei. Ela se separou depois de um tempo e sorriu.

–Agora vá se secar... Se não vai ficar resfriada, e não queremos isso, certo?-ela disse em um tom carinhoso

–Sim!-disse animada e sai andando.

Desci até o sótão e peguei uma toalha que tinha dentro da cabine. Sequei meu cabelo e um pouco das minhas roupas, precisava de um banho, mas não tinha esse direito e possibilidade.

Deitei-me um pouco na minha rede e encarei a pequena abertura, que funcionava como janela, e observei o Sol se pondo. Fechei os olhos e quando estava entrando em um leve sono escutei alguém entrar no lugar:

–Vai realmente ficar ai?-disse Killian chegando

–Ah é você...-disse me mexendo na rede- E vou sim.

–Não me lembro de ter deixado, maruja.-ele disse seco e eu me voltei a ele

–Eu vou ficar lá fora tomando chuva para nada? Não obrigada...

–Valentina gosta da sua presença, não sei porque, mas gosta...-ele disse me provocando

–Ela é super legal, mas eu estou cansada, por favor...-disse com voz de sono

–Ah que bonitinha!-ele disse se aproximando- Mas aqui não tem isso, maruja!

Eu o olhei e ele fez um sinal para que eu levantasse, que com muita má vontade fiz o ato.

–Vai fazer alguma coisa decente.-ele disse me mandando para fora do sótão.

–Calma! É só pedir, Killian!-disse irritada e ele virou os olhos

–Capitão ou Hook! Você não tem intimidade comigo.-ele disse bravo e eu andei mais rápido para sair de perto dele.

Cheguei na parte superior do navio e ainda estava chovendo. Avistei a Valentina de longe tentando fazer um nó em uma corda, fui até ela e ela me olhou.

–Quer ajuda?-disse em um tom mais alto por causa da chuva.

–Não devia estar lá em baixo?-ela disse me repreendendo e eu fiz uma expressão que dizia “Pois é, deveria”.

–Hook...-disse e ela assentiu entendendo

–Se você não fosse comprometida, diria que formam um casal lindo!-ela disse me olhando animada

–Não mesmo...-disse olhando para ele rapidamente que nos observava, me observava na verdade.

–Ah Emma, vamos lá! Ele é bem bonito... Maravilhoso, para lhe ser bem sincera!-ela disse me olhando e eu assenti

–De nada adiante ele ser lindo e ser grosso como é!-disse a olhando

–Ele precisa ser assim, você vai ver, quando forem amigos vai descobrir o verdadeiro Killian!-ela disse segurando a corda

–Duvido que vamos ser amigos.-disse convicta e ela negou

–De tempo ao tempo...-ela disse e prendeu a corda no navio. – Como era seu relacionamento com o Graham?

–Era ótimo! Ele era super carinhoso e muito amoroso! Eu...Sou extremamente apaixonada por ele, Valentina. Você não tem ideia!-disse suspirando ao lembrar dele.

–Meu anjo, só cuidado com a ilusão, ela pode acabar com tudo em um piscar de olhos...-ela disse e eu a olhei

–Não estou iludida quanto a ele, eu o amo assim como ele me ama, e vamos nos casar!-disse meio brava.

–Está certo... Me chame no casamento, prometo que não saqueio nada!-ela disse e eu ri

–Claro que chamo!-disse e ela sorriu saindo- Posso lhe fazer uma pergunta?

Ela estava meio longe, mas mesmo assim se voltou em minha direção assentindo.

–Se acha o Killian tão bonito e legal, por que não namora com ele?-disse a olhando que ficou meio triste

–Porque meu coração se perdeu em alguém do passado...-ela disse com os olhos marejados e saindo

Fiquei ali parada pensando em quem poderia ser ele. Fiquei encarando o mar um tempo enquanto a brisa gelada batia no meu corpo me causando um arrepio.

–Precisando pensar?-disse Killian parando do meu lado.

–Acho que sim, sempre preciso...-disse e ele soltou uma leve risada.

–É, isso é verdade...-ele disse me olhando

–Acho que tudo vai dar certo, não acha?-disse o olhando desta vez

–Só depende de você...-ele disse desviando o olhar do mar,mas não para mim.

–E de você -disse e ele me olhou novamente- Se não tivesse me deixado subir abordo, estaria muito mais longe de dar certo... Obrigada.

Nossos olhos se encontraram por uns milésimos de segundos, que foram suficientes para me fazer sentir algo que me deixará confusa. Borboletas no estomago.

–Por nada...-ele disse com certa dificuldade depois do olhar.- Acho que ainda temos uma chance de nos darmos bem, Swan.

–Também acho, Jones...-disse e ele deu um leve sorriso me fazendo repetir seu ato.

–Bom,-ele disse respirando fundo- Acho que eu vou voltar ao leme...

Ele tropeçou enquanto falava e segurei no seu braço o segurando. Isso fez com que eu me arrepiasse de uma forma diferente, algo que só sentira com uma pessoa, estava prestes a ter sérios problemas relacionados a isso.

–Cuidado...-disse calmamente soltando seu braço

–Claro, sempre...-ele disse me olhando novamente e saiu lentamente.

Me virei de costas e apoiei minha mão no barco e a outra na cabeça, respirei fundo assustada e apreensiva. O que ele tinha me despertado era algo que me assustava e me fazia bem ao mesmo tempo.Pisquei varias vezes e disse a mim mesma:

–Não foi nada, Emma. Não foi nada!-disse assenti mesmo não tendo me convencido

Desci rapidamente até a cabine da Valentina e bati na porta dela. Ela me atendeu e eu entrei meio rápido demais.

–Eu não sei o que aconteceu comigo!-disse meio desesperada

–Calma... O que houve?-ela disse fechando a porta e me olhando

–Eu tinha certeza absoluta dos meus sentimentos pelo Graham, e acho que ainda tenho, mas o que tem nesse homem?-disse apontando para a porta,me referindo ao Killian.

–Ele te paquerou, ou algo assim?-ela disse meio animada

–Não! Ele só me olhou nos olhos de uma forma diferente falando que ainda podemos nos dar bem! Depois ele ia cair e eu segurei ele e isso me fez arrepiar, ai eu não sei Valentina!-disse passando as mãos pelo cabelo.

–Se deixe sentir isso por ele,Emma!-ela disse eu a olhei indignada negando

–Não posso! Não posso sentir isso por ele, mas parece que ele tem alguma coisa... Que sei la... Mexe comigo de uma forma muito estranha! –disse andando pelo quarto

–Você está atraída...-ela disse naturalmente

–Não! Eu tenho meu noivo...-disse e ela me interrompeu

–Isso não significa nada,Emma!-ela disse me olhando

–Claro que significa! Significa que tenho alguém que se importa comigo e me ama! Não posso me sentir atraída por outra pessoa, não posso!-disse e ela me olhou carinhosamente

–Isso é normal, pequena! Não tenha medo do Killian por causa desse sentimento.-ela disse se sentando na cama

–Não tenho medo dele, tenho medo de mim!-disse estralando os dedos de nervoso

–Por quê? Você iria beija-lo?-ela disse sorrindo e eu parei de andar

–Não! Jamais!-disse e ela me olhou como quem dizia “Por favor Emma, não minta!”- Se eu não tivesse noivo, talvez...

Ela deu uma risada realizada e bateu palmas me fazendo ficar mais confusa ainda.

–Ai eu preciso de ar...-disse saindo do quarto rapidamente.

Fui até a parte de trás do navio,coloquei minhas mãos no navio e respirei fundo.

–É só deixar isso não crescer... Graham te ama e você ama o Graham! Não é uma coisinha boba dessas que vai estragar...-disse a mim mesma com os olhos fechados e respirei fundo.

Voltei a olhar para o navio e vi o Killian de longe andando pelo navio. Ele acenou para mim com um leve sorriso e eu repeti o ato com um sorriso maior. Me repreendi no momento e fui para o sótão. Deitei na rede e tentei dormir, mas um enjoo muito forte me bateu.

Quando consegui pegar no sono,Neal me acordou mexendo a rede.

–Senhorita?-ele chamou e eu o observei

–Sim...-disse sonolenta

–Sua sopa...-ele disse com um prato na mão

–Obrigada...-disse pegando e ele assentiu.

Me sentei e tomei a sopa. Não era como as comidas de casa, mas ainda sim era maravilhosa. Quando acabei me levantei e fui até a cozinha do navio, coloquei meu prato no balcão e fui voltar para o sótão, me deparei com a Valentina sentada lá na frente.

Fui até ela e me sentei ao seu lado.

–Estou atrapalhando alguma coisa?

–Não, não!-ela disse me olhado

–Será que você podia me explicar a historia de Neverland ser real?-disse animada e ela riu

–Curiosa você,não?

–Sempre...-disse e ela respirou profundamente

–Bom, Neverland é um lugar onde a magia parou o tempo, ou seja, ninguém cresce!-ela disse e eu fiquei fascinada- Mas nem tudo é perfeito, tem uma pessoa que impede de ser maravilhoso. Acho que já ouviu falar dele!

–Peter Pan?-disse rindo

–Extamemente!-ela disse surpresa e eu fiquei seria- Ao contraio dos livros, ele é o vilão... Killian que diga!

–Ele já morou lá?-disse meio surpresa

–Nosso amiginho tem trezentos anos, querida...-ela disse eu fiquei de queixo aberto.

–Serio isso?

–Sim! Pan fez ele de escravo por um bom tempo...-ela disse olhando em volta

–Por isso ele odeia todo mundo?-disse tirando minhas conclusões

–Não, mas ele odeia pelo fato das pessoas terem subestimado ele e tirado tudo de bom que tinha...-ela disse me olhando e eu assenti

–Você sabe quem foi uma tal de Milah?-disse a olhando

–Foi a namorada dele...-ela murmurou- O senhor das trevas quem a matou... Não comente por ai!

–Não irei!-sussurrei de volta- Mas por que ela morreu?

–Depois te explico!-ela disse se levantando rapidamente e me deixando sozinha.

Depois de poucos segundos veio Leroy e parou na minha frente.

–Princesa, me perdoe...-ele disse e eu o olhei

–Já perdoei,Leroy. Só preciso de um tempo para voltar ao normal...-disse e olhando que assentiu que por sua vez foi embora

Fiquei sentada pensando na vida e olhando para as estrelas. Comecei a cantarolar uma musica que sempre escutava no castelo e senti alguém sentar ao meu lado.

–Não costumam cantar no navio...-disse Killian apoiando as costas na parede

Respirei fundo e pude sentir seu aroma de mar misturado com algo cítrico, que eram irresistíveis.

–Por isso mesmo não sou daqui...-disse meio seca olhando minha pulseira

–Você jantou?-ele disse meio sem jeito, era a primeira vez que o via de uma forma meio corada.

–Sim, obrigada, estava muito boa!-disse animada e ele sorriu- Por que não me conta mais da sua vida?

Ele respirou fundo e me encarou serio.

–O que quer saber? Quem foi, Milah? Eu não vou responder!-ele disse meio bravo e eu neguei

–Não isso, a sua infância ou adolescência...-disse e ele me olhou desconfiado

–Minha infância foi sem pais e sem qualquer tipo de amigos...-ele disse e eu o olhei com dó

–Eu sinto muito...-disse e ele me olhou- Se puder me dizer como seus pais morreram...

–Eles me abandonaram, Swan. É pior...-ele disse e eu senti uma leve tristeza em seu olhar.

–E você foi criado por quem?

–Por ai, nas ruas e navios que acha...-ele disse naturalmente.

–Ah, sim...-disse e ele olhou para o lado- Mas hoje em dia, vive o que queria?

–Claro, se não quisesse não estava aqui!-ele disse meio ríspido e limpou a garganta.

–Bom, eu vou me recolher...-disse me levantando e ele se levantou também

–Acho que também vou.

–Pode ficar se quiser, eu sei o caminho!-rebati seca

–Sei disso!-ele disse meio bravo.

Seguimos pelo mesmo caminho e quando chegou na entrada do sótão ele me parou segurando meu braço:

–Swan, me desculpe por ter te tratado ríspido...

–É a sua função, Killian!-disse o olhando

–Eu sei, mas descobri que não preciso ser ríspido com você...-ele disse e nossos olhos se encontraram novamente.

Senti um frio na barriga que não sentia a anos, dei um suspiro discreto e me repreendi.

–Ótimo, boa noite Killian...-disse o olhando e descendo as escadas.

Ele ficou parado me olhando e depois foi para a sua cabine. Me deitei na rede e tentei respirar,porem, algo estranho estava acontecendo comigo, era um sentimento antigo que estava voltando a me afetar. Não sei colocar em palavras o que é, mas é bom e isso é ruim, ou não.