Imã escrita por Lunathck


Capítulo 1
Os Opostos Se Atraem


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, espero que gostem~



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Essa não é somente uma história de um garoto que protegia sua cidade, com seus magníficos poderes. Mesmo por que, eles não eram assim tão magníficos.

Ele já sabia controlar a esse ponto, mas mesmo assim era difícil, exigia uma incrível força de vontade para não se aproveitar das pessoas, e as vezes ainda fazia isso sem querer. Enith, esse era seu nome, tinha cabelos loiros que sempre se mantinham-se bagunçados e precisando de um corte, olhos castanhos e algumas sardas no rosto pálido, estava na sua sala do nono ano, com a cabeça baixa, enquanto todos brigavam para tê-lo em seu grupo de um trabalho qualquer. Olhou para o lado, cansado, observando certa pessoa sentada em sua carteira, quieta e fazendo alguma anotação. Seu rosto não estava relaxado, e aquilo o instigava. Ela parecia estar com raiva de alguma coisa... Como queria saber do que ela tinha raiva...

- Hey, deixem o Eni decidir então! Quem você escolhe Eni??! Por favor, me escolha! - gritou um dos seus colegas, roubando sua atenção.

Sem ele perceber, Dare, a garota, olhou para o bolo de pessoas no meio da sala, fez uma careta e pegou suas coisas, saindo da lá sem ninguém notar. Ela simplesmente não suportava que o mundo todo girasse em torno dele.

Enquanto isso Enith dizia que não queria fazer o trabalho. O que foi um erro pois todos se ofereceram para fazer pra ele, inclusive o professor. Na verdade seu poder era mais um fardo para carregar do que uma dádiva. Sempre que pedia algo, ou até mesmo insinuava, as pessoas faziam. Mesmo que fosse se jogar de um prédio.

O único momento do dia que aproveitava era o que Enith não era mais ele mesmo, e sim o "Abrander". Já começava a madrugada, ele vestiu o uniforme, no começo se achava idiota naquela roupa, mas depois passou a gostar. Era uma camisa listrada horizontalmente de verde limão e preto, calça e sobretudo pretos, uma bota branca de cadarço e o mais importante, sua máscara, também branca, com contorno preto. Seus cabelos claros, invés de caídos e bagunçados, estavam penteados para trás com gel.

Saiu para as ruas a procura de criminosos, o que não era a melhor maneira de fazer o bem, mas gostava de brincar de super herói convencionalmente. As ruas estavam desertas, até que um carro em alta velocidade virou a esquina. Sem pensar duas vezes gritou a plenos pulmões "PARE".

E o carro parou. Ele foi andando até a porta.

- Agora saia. - Ele ordenou, um homem meio tonto saiu do carro, confuso.

- O que foi garoto? Precisa de algo? Quer dinheiro pra comprar um doce? - Ele disse sacando a carteira, seu hálito álcoolizado deixou Enith enjoado.

- Não.... Só... Tranque o seu carro e chame um táxi para ir pra casa... - Ele disse um pouco triste, e o homem o fez. Ele já estava indo embora, tinha certeza que o homem cumpriria o que disse. Porém escutou um barulho. Se virou de volta e no capô do carro estava ali uma garota, de pernas cruzadas e com um uniforme preto e roxo, que se resumia em uma camiseta justa com símbolo de radioatividade, uma calça colada ressaltando as suas pernas, uma peruca longa de cor roxa, e claro, a máscara. Parecia-se com a dele, inclusive, porém era preta com contorno branco.

Ela desceu do capô enquanto ao longe, a figura de 'Abrander' se aproximava. Falou para o homem abobalhado escorado no carro

- Entra no carro e vai embora. - Ela segurou seu colarinho com violência e ele fez uma careta - Claro, se não quiser um beijo.

O homem se afastou com relutância e nojo, embora a garota fosse incrivelmente bela, com sua descendência asiática: longos cabelos lisos e negros e olhos puxados, um corpo esbelto e a pele clara. Ele entrou rapidamente dentro do carro.

Abrander corria até eles enquanto o homem ia embora, ele gritou, mas o motorista não o ouviu.

- Você está pensando o quê? Aquele homem está bêbado, pode bater o carro, ou atropelar alguém! - gritou o garoto, sem pensar - Espera... Você...

- Olá Enith. - Disse ela com um sorriso cínico estampado no rosto. - Está se achando o super herói, não é? Mas quando você vai embora, eu sempre volto para estragar o seu serviço! - Ela riu malignamente.

- Dare? Por que você está fazendo isso? - Ele perguntou chocado, reconhecendo sua doce voz. Ela contorceu o rosto em uma careta.

- Eu sou a "Radict", não conheço essa tal de... Dare. - Ela bufou e se virou de costas para ele, indo embora enfezada - Pare de controlar as pessoas. Se não, invés de te atrapalhar apenas, vou causar mais casos dos problemas que tenta resolver!

- Espere! Ei, volte! - ele ordenou, mas seu poder não surtia efeito sobre ela.


Nos próximos dois dias Dare faltou as aulas. Enfim, no terceiro, teria avaliação e ela teve que ir. Agiu normalmente, mas ele percebeu que ela o olhava de vez em quando. A aula se arrastou, mas finalmente acabou. Todos foram embora apressados, era sexta feira. Dare também sairia, se Enith não a tivesse segurado pelo braço.

Quando todos se foram ele fechou a porta.

- Você tem que me ouvir. - ele sussurrou, sem necessidade, pois não havia ninguém ali.

Dare puxou o seu braço se libertando dele, e sentou em uma das mesas.

- Eu não estou muito surpresa por você não se sentir repelido por mim, afinal...

- Você não é atraída por mim. - Ele completou.

Ficaram em silêncio por alguns segundos.

- Somos como os dois lados de um imã. - Enith concluiu, maravilhado.

- Não diga isso. Minha vida virou um completo inferno quando você apareceu! - Rebateu ela num tom de voz mais alto.

- O quê??!! Eu? - Ele apontou para si mesmo, incrédulo - O que eu te fiz?

Dare riu sonoramente.

- Bom, desde que você apareceu, as pessoas começaram a se afastar. Apenas isso. E então, agora é como se elas tivessem nojo de mim. Tudo por causa de você, por que todos te amam! - Ela disse amarga - Até meus pais... Me deixaram sozinha em casa.

Baixou o olhar para as próprias mãos.

- Isso é sério...? - Ele disse tristemente. - Eu sinto muito, mas eu não tenho culpa disso. Você é a primeira pessoa que eu converso normalmente desde os 7 anos de idade. Você é a primeira que não quer fazer algo por mim.

- Ora, e todos te idolatrando por aí não é algo bom? - Ela falou irritada.

- O quê? Bom? Não tem coisa pior. Você já imaginou ninguém gostar de você de verdade? Eu vivo rodeado de pessoas, mas nenhuma delas está aqui por quem eu realmente sou...

Ambos ficaram em silêncio, pensando em suas situações.

- Mas então, eu não entendo por que você parece tão feliz, se isso é ruim.

Ele sorriu e foi até Dare, segurou suas mãos, e disse:

- Você acha que vai mudar alguma coisa se eu viver odiando todas essas pessoas, e a mim mesmo? Mesmo não sendo bom para mim, tento tornar isso... Algo bom para os outros. Deve existir um motivo para eu ser assim. E você devia tentar o mesmo.

- Não posso. Meu poder não é como o seu. Eu só consigo atrapalhar.

- É claro que pode. Se pode atrapalhar, também pode ajudar. Você pode pelo menos tentar?

- Bom... Eu... Eu... Vou tentar. - Suas palavras, mesmo hesitantes, causaram um tremendo abalo em seu coração, e lágrimas começaram a correr pelas suas bochechas, insistentemente.

Enith ficou sem saber o que fazer, então levantou o rosto dela e a olhou nos olhos, limpando suas lágrimas. Ele sorriu.

- Agora você não vai precisar mais ficar triste. - Mais uma pausa silenciosa, enquanto eles apenas se olhavam sérios por poucos segundos - afinal não estamos sozinhos nisso, temos uma ao outro - concluiu Enith, então ela sorriu e fechou os olhos, se aproximando. Enith piscou algumas vezes, surpreso, mas admitiu para si mesmo que queria fazer isso desde muito tempo atrás, quando apenas observava Dare. Suavemente selou seus lábios aos dela, num doce beijo.

Algo brilhou na altura do peito dos dois, e eles se afastaram assustados. A luz metálica pairava no ar, não era lá muito visível, pois estava de dia. Ela subiu vagarosamente e eles a seguiram com o olhar, curiosos, e ela explodiu, sem barulho algum, derramando sobre eles um pó da cor de grafite.

- O que será que aconteceu? - Perguntou a garota passando o dedo indicador no pó derramado sobre si. Esfregou um pouco entre dois dedos, e aquilo simplesmente sumiu.

- Bom... Eu não tenho certeza, mas talvez nos tornamos normais agora. - sugeriu Enith já esfregando os braços para se limpar.

- Tomara que sim - ela sorriu - mas se não for isso, eu não ficarei triste também.

Eles foram até a porta, suspirando, e antes de sair, deram as mãos um para o outro. Algum tempo depois daquilo, eles não chegariam a se lembrar, talvez, se realmente tiveram poderes ou se tudo isso foi um exagero, fruto da imaginação.

Mas dali em diante, viveram felizes... Para sempre.



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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, desculpem pelos erros e não economize teclado no seu review ~