Obsessão escrita por J Reck


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Finalmente postei. Me desculpem pelo atraso, tive algumas coisas para resolver e um bloqueio.
Tenho pedido muitas desculpas ultimamente, eu sei. Deixei os leitores sem capítulo novo por mais de duas semanas. Não posso prometer que não terei problemas novamente, por isso acho que a melhor solução é deixar os capítulos programados, assim vocês já tem um dia e hora exata para lerem.
Os capítulos serão postados duas vezes por semana, um na terça e outro na sexta, às 14h30. Vou pedir muito agora, mas espero que entendam e que não abandonem a fic (embora eu ache que muitos abandonaram, e entendo plenamente).
Obrigada pela atenção e boa leitura!



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Era difícil ir trabalhar e deixar Doralice em casa apenas com os empregados que não tinham nenhuma autoridade sobre ela. Mas o prefeito não podia abandonar o trabalho. Após o episódio da boneca, encontrava uma Doralice sensível e muito calada, sempre trancada no quarto. Conseguiu espiar pela fechadura e a viu escrevendo em um caderno que não conseguiu encontrar. Estava muito preocupada com sua esposa, então tomou uma decisão.

Abigail era irmã de Dora. Eram muito próximas quando pequenas e na adolescência, mas se afastaram um pouco quando se casaram. Há alguns anos, Abigail perdera seu bebê no parto, por isso Maurice achava que ela poderia ajudar a irmã a começar o processo de conformar-se com o que aconteceu e assim ele poderia fazer o mesmo.

Abigail morava em Avignon, fez uma viagem de trem. Não pensou duas vezes antes de concordar em ficar com Dora por algumas semanas, além do mais, não lhe custaria nada. O marido de Abigail era um homem orgulhoso que recusava qualquer ajuda mesmo em uma situação difícil, na qual se encontrava. Só concordou com a viagem de sua mulher porque era uma boa causa.

Chegou em Arles numa segunda feira de manhã, Maurice enviou seu motorista para buscá-la na estação.

Abigail era três anos mais nova que Doralice, que tinha 27, casou-se cedo por causa da gravidez. Um ano após sua perca, Abigail conseguiu engravidar mais uma vez e ter um menino lindo e saudável, parecia ter superado o trauma.

O motorista entrou na casa com o carro pelo portão traseiro que levava a um espaço para os veículos. Ele guiou Abigail até a metade do caminho apenas, pois Maurice a esperava. A recebeu com um abraço.

– Obrigada mais uma vez por vir.

– Ah, ela é minha irmã. - se afastou revelando um rosto cansado e sorridente – Ela sabe que vim?

– Não. Pensei que poderia surpreendê-la…. - ele ergueu os ombros, parecia idiota.

– Claro, claro. Isso a animaria, pelo menos por alguns segundos. - continuou sorrindo.

– Sim…. Abigail, me desculpe, mas estou atrasado. Perdão por recebê-la com tanta pressa. Preciso ir para a Prefeitura. Mas não sabe como me sinto mais aliviado com você estando aqui com Dora. Tem sido difícil.

– Fique cem por cento tranquilo! Eu vou cuidar bem dela. Vá em paz. - ela o abraçou, desta vez em despedida. Ele lhe disse mais algumas coisas e partiu.

Abigail conhecia a casa. Ela entrou pela porta da frente e foi direto para as escadas. Era de se imaginar que Dora estivesse em seu quarto.

Nem mesmo bateu a porta, apenas virou a maçaneta esperando que esta estivesse fechada, mas estava aberta. Ela abriu a porta e viu Doralice sentada à escrivaninha escrevendo em um caderno, mas assim que ela ouviu a porta rangendo, fechou a capa do caderno com um susto e olhou para a porta.

– Abigail – não pareceu feliz de começo, mas surpresa. Logo um vestígio de sorriso surgiu nos cantos de seus lábios.

– Minha irmã. - ela se aproximou e abraçou Dora que já estava de pé. - Que bom te ver. Muito bom. Como você está?

Abigail passava os dedos finos pelos cachos platinados de Dora.

– Muito, muito confusa. Que bom que está aqui, Abigail. Eu só confio em você.

– É para isso que estou aqui. Para te ajudar. - ela se afastou um pouco e sorriu para ela, mas seu sorriso logo desapareceu – Ah meu Deus, Dora! Veja como está branca! Olhe seus braços!

– É, eu…. - Não tenho saído muito…. - pareceu constrangida, abaixou as mangas de sua camisola para esconder-se.

– Que tal você se arrumar para darmos uma volta e você me conta como tem passado?

– Não, não. Eu não quero as pessoas me olhando nem me fazendo perguntas.

– Não precisa respondê-las – sorriu mais uma vez, com ternura – Está um solzinho gostoso de outono. Vai te fazer bem.

Hesitou um pouco, mas assentiu com desconfiança.

Abigail ajudou a escolher uma roupa e a arrumar seu cabelo. Disfarçou as olheiras com maquiagem e estava pronta, a primeira-dama de Arles como sempre fora com um pouco de cansaço nos olhos azuis de tom triste.

Ao chegarem na sala da casa, após descerem a escada, foram seguidas por duas empregadas, as mesmas que contaram para Maurice sobre a boneca de Doralice.

– Senhora Champoudry, está saindo? - uma delas perguntou, a mais velha.

– Vamos dar um passeio. - Abigail respondeu – Sou Abigail Moreau – apesar de casada, Abigail gostava de apresentar-se com o nome de solteira, já Dora honrava o nome do marido, não que Abigail não honrasse o nome do seu. - Sou irmã de Dora.

– Acha isso uma boa ideia? - a mais nova indagou, parecia ser filha da outra.

– Por que não seria? - Abigail ergueu uma sobrancelha para perguntar.

Ficaram em silêncio, olhando uma para a outra.

– Digam. – ordenou Dora, embora não achasse a ideia tão boa assim achava que as empregadas estavam a vendo como uma louca que não podia sair de casa.

– Não é nada, é só que….

– Então não é nada. Vamos. - Abigail pegou no braço da irmã e tratou de prosseguir.

Ela sabia sobre o episódio da boneca, mas tentava evitar o assunto o máximo que podia, sabia como a irmã ainda estava fragilizada por causa disso.

Antes de chegarem a rua ainda foram recebidas no jardim por olhares confusos e desaprovadores do jardineiro e do motorista, mas estes não se manifestaram. Se a jovem moça que acompanhava Doralice para a rua fora chamada por Maurice, devia saber o que estava fazendo.

Elas desciam um beco bonito e histórico de Arles, a rua era de paralelepípedos, dificultando o andar já que estavam de salto.

– Então Dora, quer me contar algo?

– Mil coisas, – respondeu- mas Abigail, por que veio para Arles tão de repente, sem nenhum aviso? - ela olhou para a irmã com os olhos semicerrados – Maurice te chamou? Ele quer que me vigie?

– Maurice só quer seu bem, Dora. Ele tem estado aflito por deixar-te só em casa. E não vim para te vigiar, vim para te ajudar. Ele é homem. Embora seja uma boa pessoa, não conseguiria ajudar-te 100%. Para isso tem sua família, no caso eu. - a mãe das irmãs Moreau morrera há 10 anos devido um câncer e o pai as abandonou quando Doralice tinha 9 anos. Elas viveram com uma tia por um tempo até Abigail se casar e, em seguida, Dora.

– Eu sei que ele tem tentado…. E eu tenho sido horrível com meu marido, agindo como louca, desprezando ele e sua família. Ele perde o controle as vezes, mas talvez eu o enlouqueça junto comigo. - desabafou, precisava muito falar sobre aquilo com alguém, se sentia um pouco mais leve – Não devia ser tão difícil assim, você está tão bem.

– Ora, Dora. Já faz dois anos. O que são dois anos e duas semanas? Não posso mentir, é um fardo muito grande, enorme. Mas você é mais forte do que eu. - ela apertou mais seu braço. - Veja ali, uma feirinha! Quer ir lá?

– Tenho escolha?

Apressaram um pouquinho o passo para alcançarem o que parecia ser uma pequena feira de artesanato. Havia utensílios de barro, cadernetas e outras coisas feitas de papel, madeira, plástico, pedras, tecido e muitas outras coisas.

Poucas pessoas notaram Doralice ali. Estavam animadas. A feirinha fora planejada por muito tempo e precisava ser perfeita. O dinheiro arrecadado certamente iria para caridade, pois faziam muita propaganda de boca para que visitassem barraquinhas. Um homem parou as irmãs para isso.

– A bela primeira-dama de Arles acompanhada de uma linda jovem, é uma honra recebê-las em nossa feirinha. - era um homem de uns 30 anos, roupas simples, mas muito entusiasmo. - Só há um jeito de ficarem mais bonitas, visitando a barraquinha de bijuterias de Dona Anice e sua neta, Laura. É por aqui. - ele apontou para a sua direita com a palma da mão.

– Muito obrigada, senhor. - agradeceu Abigail, certamente aceitando o convite dele.

Doralice não se distrairia tão fácil, mas se sentiu um pouco melhor por sentir um vento bater em seu rosto.

Encontraram a barraquinha com facilidade. Avistaram uma senhora magra e baixa de cabelos bem branquinhos, ao seu lado, uma moça jovem com o rosto abaixado, estava montando o que parecia ser um anel em forma de losango com umas pedrinhas brancas pequenas. Ela tinha cabelo bem preto e liso, foram as únicas coisas que conseguiram identificar.

– Bom dia – disse a senhora de cabelo branco, só poderia ser a Dona Anice. - Podem olhar a vontade. Tudo feito por mim e Laura com muito carinho.

As irmãs sorriram, Abigail mais que Dora. Ela, por sua vez, observava as mãos delicadas de Laura moldando o anel, estava muito concentrada. Não pode deixar de reparar que a moça estava grávida. Os botões do vestido azul que usava quase estouravam. Ficou com um pouco de inveja, ela teria um bebê lindo e saudável, mas tinha pena, pois a vida podia aprontar-lhe como fizera com ela.

– É um anel belíssimo. - Dora disse por mim, estava admirando aquele trabalho.

Então Laura ergueu o rosto e Doralice paralisou.

Encontrou olhos tão grandes e azuis que pareciam lhe fuzilar no peito. Perdeu o ar por um instante, mas tentou disfarçar.

– Isso? Ah não, senhora Champoudry. - era claro que ela conhecia Dora, todos ali conheciam. - Eu ainda estou aprendendo….

– Feito com tanto zelo, pode valer mais que um rubi. - disse Abigail com doçura. - E que belos olhos tem, menina. Esses sim são mais bonitos que qualquer pedra.

Laura sorriu.

– É ótimo receber elogios de mulheres tão bonitas. - continuou sorrindo, mostrando dentes tão brancos quanto os cabelos da avó que observava tudo quieta e com admiração.

– Seu filho…. - perdeu o ar mais uma vez, estava com uma expressão séria e assustada. - Ele terá lindos olhos.

– Oh sim. - a avó passou a mão pela barriga da neta. - Será uma menina lindíssima como a mãe.

– Ah, é uma menina…. - o coração de Dora batia tão rápido que sua respiração não o acompanhava. - Uma menina….

Acabaram percebendo que ela não estava muito bem, ficaram preocupadas, se entreolhando. Toda a conversa sobre a filha de Laura e seus olhos haviam transtornado-a.

Laura sabia que Madeleine era dona de olhos lindos, eram azuis parecidos com os seus. Lembrava-se do dia que Dora passeou com a menina por ali.

– Eu sinto muito, Senhora Champoudry. Sua filha era um anjinho. Eu sempre gostei do nome Madeleine…. É lindo. É o nome de minha mãe.

– Laura está pensando em nomear a filha assim.

– Vó!

Dona Anice logo percebeu o que tinha dito. Era horrível. Um momento tão agradável se tornar algo tão triste.

– Eu ficaria muito feliz por sua filha ter o nome da minha. - ela disse, estava um pouco melhor, ainda assustada, mas tentava sorrir um pouco. Foi uma mudança de estado repentina. Ela focava na barriga de Laura, desviando o olhar poucas vezes para a menina– Eu me emocionei um pouco e peço desculpas por preocupá-las. Laura, não é? - a jovem assentiu, ainda assustada. - Sua filha será tão linda quando a minha foi. Ela é digna desse nome.

Laura sorriu mais aliviada e também a avó, não se sentindo mais tão culpada. Abigail observou tudo aquilo e também sorriu um pouco, mas estava desconfiada da atitude de Dora, da mudança tão rápida de estado. Ela olhou séria para Dora que a olhou de volta com um pequeno sorriso. Em seguida, Abigail olhou as duas mulheres atrás da mesa de bijuterias artesanais e sorriu.

– Tudo está lindo, mas infelizmente esquecemos nossas carteiras em casa.

– Toda a sua gentileza já basta. - disse Dona Anice, pegando uma caixinha que havia em cima da mesa. Ela a abriu e tirou de lá duas pulseiras de linha trançada, era algo muito, muito simples, mas era bonito de se olhar. - Gosto muito dessas apesar de serem o item mais simples de nossa barraquinha, eu as fiz há muito tempo. Fiquem com elas.

Ela estendeu as pulseiras para Abigail e Doralice e elas as pegaram. Olharam por um tempo com admiração.

– Obrigada. - agradeceu Doralice, estava realmente melhor.

– Eu quem agradeço. - sorriu.

– Não é desfeita, mas gostaríamos de visitar outras barraquinhas. - disse Abigail, ela já colocava a pulseira em seu pulso, a ajeitou algumas vezes como se tivesse o ponto perfeito onde deveria ficar.

– A feira está cheia de coisas incríveis, vocês vão gostar muito. - disse Laura.

– Até mais, e obrigada mais uma vez. - despediu-se Anice.

As quatro mulheres se despediram e as irmãs se foram. Doralice também colocou sua pulseira e não falou nada, apenas continuou andando, desta vez com mais vontade.

– Você está bem? - perguntou Abigail, olhando a irmã.

– Mas é claro. - ela a olhou de volta. - Por que me olha assim?

– Não é nada. Estou feliz que esteja melhorando um pouco.

E assim, elas continuaram andando. Visitaram outras barraquinhas e Doralice cumprimentou muitas pessoas e até respondeu a algumas perguntas que há uma hora atrás não queria responder. Respondeu sobre como estava se sentindo, o que realmente aconteceu com Madeleine e sobre o boato da boneca, pouquíssimas pessoas perguntaram sobre aquilo, todas eram senhoras de meia idade, Abigail tinha certeza que eram as fofoqueiras da vila. Sobre isso, Doralice disse que foi apenas um surto e que ela já estava recuperada, o que era estranho, pois ao entrar no quarto de Dora pela manhã, Abigail encontrou sua irmã muito assustada e transtornada e, segundo Maurice, raramente ela saia do quarto desde a visita da psicóloga, a Dona Daphné.

Por volta das duas e meia da tarde, as irmãs voltaram para a casa do prefeito sãs e salvas. Os empregados a receberam desta vez com olhares aliviados.

O prefeito chegou duas horas depois. Doralice estava descansando no quarto e Abigail estava lendo um livro na sala.

– Boa tarde, Maurice. - ela disse ao ver o cunhado entrar pela porta da frente.

– Olá Abigail. - ele se aproximou da moça para sentar-se na cadeira ao lado da que ela estava. - E então, como está minha esposa?

– Muito bem, posso dizer. Demos um passeio por uma feira de artesanatos e ela pareceu animar-se. - ela respondeu, mas não com muito entusiasmo. Ela voltou a olhar o livro com uma expressão séria, talvez pensativa.

Maurice reparou naquilo.

– Aconteceu alguma coisa? - ele perguntou. - Por favor Abigail, me conte qualquer coisa.

– Eu não sei, Maurice…. - ela fechou o livro e o deixou em seu colo, perdeu o olhar no vago. - Encontramos uma menina grávida e Doralice ficou um pouco transtornada quando a viu. Bem, não no começo, só quando…. - ela respirou fundo e olhou para Maurice – quando a menina a olhou e então vimos que ela tinha….

– Tinha o que? - ele a apressou.

– Ela tinha olhos azuis incríveis.

Maurice sentiu-se mal. Lembrou-se na hora da boneca que tinha olhos azuis e grandes. Aqueles olhos mexiam com Doralice, pois sua filha tinha os mais perfeitos que já vira. Podia ser besteira dos dois, mas aquilo o preocupou.

– Talvez tenha sido só surpresa, mas é que ela ficou tão bem de repente, aquilo devia abalá-la. Além do mais, a jovem terá uma menina que certamente puxará os olhos da mãe.

– O que está querendo dizer com tudo isso, Abigail?

– Eu não estou dizendo nada. Quer saber? Isso é tudo besteira, acho que estamos nos preocupando demais. Dora ficou melhor e é isso que importa.

– É…. É besteira. Eu espero. Onde ela está?

– Quando a vi estava se deitando para dormir.

Eles se entreolharam e respiraram fundo. Maurice assentiu e disse que ia tomar um banho e pedir que a cozinheira preparasse o jantar. Abigail voltou a ler seu livro.

No andar de cima, no quarto do prefeito, Doralice estava sentada à escrivaninha mais uma vez, com o mesmo caderninho de capa de couro preta onde escrevia quando a irmã interrompeu seus pensamentos. Tinham folhas amassadas no chão e ela escrevia algo novo.

“Eu sabia que não era o fim. Eu escrevi dezenas de folhas neste maldito diário dizendo que teria que me conformar com a morte eterna de minha filhinha, mas hoje tudo mudou. Tem que ser um sinal. Uma mulher com os olhos de minha filha, mas não tão perfeitos, grávida de uma menina que se chamará Madeleine. Ainda estou muito confusa e assustada, tudo veio a tona muito rápido, mas eu sinto aquela alegria no coração novamente, como quando encontrei aquela boneca. Não sei o que está por vir, mas não deixarei este dia passar.

Abigail tinha razão. Um passeio me fez bem.”


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Notas finais do capítulo

Acho que foi o capítulo mais bem escrito até agora. Como sempre, aceito críticas, sugestões, enfim. Obrigada por ler!