Um Coração Feito de Automail escrita por Bueno


Capítulo 1
Metal Transformado em Carne


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic foi fruto de meu recesso da faculdade. Espero que tenha ficado boa, caso contrrio, prometo que melhorarei nas futuras.
:3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/556085/chapter/1

Foi uma quinta-feira de inverno em que não choveu, porém nuvens cinza passeavam no céu, ameaçando derramar um temporal. O sol tentava sair entre as densas nuvens. Vovó Pinako estava sentada em uma cadeira de balanço na varanda, segurava uma caneca com chá em uma das mãos, na outra erguia o jornal do dia. Ela trajava um casaco grosso e de cor bege. Vovó nunca se deu bem com o inverno. Uma gata gorda e cinza estava deitada em seu colo, dormindo.

Vovó Pinako e Edward sempre foram duas pessoas com personalidades contrastantes. Enquanto um funcionava bem no inverno o outro funcionava melhor no verão. Ed estava se preparando para ir à praia, vestiu sua sunga vermelha e passou uma fina camada de protetor solar. Seu cabelo estava preso na trança que ele sempre fazia quando acordava.

— Vovó, estou indo à praia — Avisou.

— Não acha que tomar banho no mar frio irá reduzir seu tamanho? — Brincou ela.

— ESTÁ QUERENDO DIZER QUE SOU MINÚSCULO, SUA BRUXA ANCIÃ? — Ele mostrou o punho cerrado. — Al, acho melhor você acender a lareira ou a bruxa Pinako irá morrer congelada. — Disse ele para seu irmão, por fim.

— Bom passeio, Edward. — Desejou vovó.

— Obrigado!

O alquimista de aço cortou caminho por uma estradinha aberta entre o capim alto. Carregava uma toalha em seu ombro e um protetor em uma das mãos. Andou lentamente pelo caminho falando com as pessoas que encontrava. O dia estava frio, e era desses dias que ele mais gostava. Queria aproveitar ao máximo à beira d’água. Aquele era o primeiro inverno em que as juntas entre as próteses e os ossos não doíam. Aquela inclusive, era a primeira vez em que ele tomava banho de mar desde a cirurgia.

O mar estava agitado mais que nunca, sua cor era tão intensa quanto as nuvens lá em cima. O barulho das ondas quebrando era audível antes mesmo da praia, metros antes.

Quando pisou na areia fria e esbranquiçada da praia esperou um pouco antes de seguir em frente, a nova metade de seu corpo estava fazendo reconhecimento do local que ele visitou inúmeras vezes com seu pai e sua mãe. Antes mesmo de sua mãe ficar doente ou dos pais de Winry irem à guerra. A areia fina e fria injetou inúmeras lembranças na mente de Ed, que por um momento se viu uma criança correndo pela praia com seu irmão menor.

Dobrou a toalha em quatro partes, colocando-a no chão para servir de travesseiro. Desfez sua trança habitual. Deitou-se na areia, se banhando pelos poucos raios de sol. Seu longo cabelo loiro misturou-se a areia. Ele estava com os olhos fechados, apenas absorvendo as energias vinda do mar. O som oriundo do quebrar das ondas ecoava profundamente em sua cabeça. Sentia a areia abaixo de seu corpo mover-se, certamente que os crustáceos ali embaixo estavam inquietos. Um bando de gaivotas planava suavemente sobre a praia, de lá, elas observavam Edward em um tamanho reduzido.

O cão do exercito sentiu a areia afundando próximo de si, alguém estava se aproximando e ele podia imaginar quem era.

— Achei que fosse me esperar.

— Eu poderia, mas sabe que odeio esperar você se arrumar — Disse, sem nem mesmo abrir os olhos.

Winry sentou ao lado dele, ela usava um vestido branco-transparente rendado; sua pele estava coberta por uma grossa camada de protetor solar que cheirava a uva. A mecânica de Edward Elric tirou seu vestido branco pela cabeça com apenas um puxão, dobrou-o em quatro partes e colocou-o no chão. Deitou-se, ficando na mesma posição em que Ed. Ela pôs os fones do MP3 player que estava preso em seu braço. Ouvia uma música melancólica que combinava perfeitamente com aquele céu triste de inverno. Quando ela estava prestes a cair no sono sentiu o braço mecânico do Edward lhe envolver.

— Senti sua falta, Winry Rockbell.

— Também senti sua falta, Edward Elric. — Sentiu seu rosto enrubescer.

— O que aconteceu por aqui enquanto estive fora?

— Nada interessante.

Edward puxou-a para ainda mais perto de seu corpo. De forma que ela agora usava o peito dele como almofada.

— E como foi sua viagem? — Questionou ela.

— Bem interessante. Conheci pessoas novas...

— Eu queria ter coragem para enfrentar o mundo como você tem.

— Minha coragem nasceu através da necessidade de devolver o corpo de meu irmão.

— Eu entendo. Mas, de qualquer modo, eu nunca teria coragem de deixar a vovó sozinha.

— Se algum dia mudar de ideia sobre conhecer o mundo poderá vir conosco. — Disse ele. — Enquanto resolvemos nossas coisas você pode estudar um pouco mais sobre automail.

— Uma proposta tentadora.

Durante horas ficaram ali conversando sobre as aventuras dele ao redor do país. Aproveitando ao máximo o tempo juntos antes do retorno dele à Capital.

O sol ainda estava escondido nas intensas nuvens cinza. A temperatura estava agradavelmente fria, do jeito que ambos gostavam então ficar ali não era nenhum sacrifício.

Edward fazia questão apenas de se mexer na areia para que os crustáceos abaixo dele não fizessem de suas costas um novo lar.

O maior desejo dele era que essa busca pela Pedra acabasse o mais rápido possível. O alquimista de aço queria apenas voltar para casa, para vovó e para Winry e ter uma vida tranquila. Passara pela sua cabeça, remotamente, a ideia de viajar ao redor do mundo com Winry depois que tudo estivesse em seu devido lugar. Queria mostrar-lhe Londres e a França, assim como inúmeras outras cidades. Ver com seus próprios olhos tudo que lera sobre o mundo e suas belas cidades.

— Um dia, não muito distante, espero, te levarei para conhecer o mundo. — Prometeu Ed. Dizendo para si mesmo que não podia quebrar aquela promessa.

— Esperarei por esse dia.

Ele recordou de sua mãe, que descansava em paz, e de como ela falava que seu marido havia lhe abandonado para conhecer o mundo. Edward não queria esse fim para Winry, abandonada por ele revivendo as promessas que haviam sido lhe prometidas.

Era exatamente isso que o mais velho dos Elric gostava na praia, essa possibilidade de reviver inúmeras sensações e lembranças apenas ouvindo o quebrar das ondas. O cheiro da água salgada jogava-o direto aos braços de sua mãe.

Levantaram-se prontos para irem embora. Edward precisaria voltar à Capital, o trabalho o chamava. Winry ajudou-o a tirar areia de suas costas. Fizeram o caminho de volta, abraçados, conversando sobre as melhorias que ela faria no seu automail quando ele as visitasse novamente.

A velha Pinako estava na varanda acompanhada do jovem Alphonse que estava sendo lustrado por ela.

— Desculpe-me, Al, por nunca ter te lustrado tão bem quanto à vovó.

— Não se preocupe com isso, Ed.

Ed tomava banho enquanto Winry dobrava e colocava a roupa dele dentro da mala. Ele nunca aprendeu arrumar uma mala direito, embora tenha feito aquilo inúmeras vezes em anos.

— WINRY! — Gritou o pequeno Elric. — Você pode me ajudar com meu sapato?

Ele tinha um pequeno problema em calçar o sapato na prótese. Alegava que o sapato era um pouco pequeno para prótese, mesmo embora a Winry tendo feito uma réplica perfeita da outra perna.

— Estamos indo, vovó. — Anunciou Ed. Ele vestia seu sobretudo vermelho com o símbolo dos alquimistas federais bordado nas costas. Carregava na mão, de verdade, uma mala. — Sentirei saudades.

— Venha nos visitar o mais rápido que puder. É muito entediante aqui e vocês são as alegrias aqui.

— Voltaremos o mais rápido que pudermos, pode deixar. — Disse Alphonse, por fim. Deu um longo abraço em todos, inclusive no cachorro.

Winry acompanhou-os até a estação de trem, em silêncio. Balançava apenas a cabeça em concordância com o que Al contava. Seu coração estava apertado, seu amado a deixaria mais uma vez. O trem já aguardava na pequena estação, eles se apressaram para mostrar os bilhetes ao cobrador magricela que estava na porta do vagão.

— Prometa que escreverá mais vezes — Pediu Winry, enquanto dava um último abraço em Ed.

— Prometo! — Disse ele, e deu um beijo na bochecha dela. Correu para dentro do vagão antes que o trem saísse e o deixasse.

Edward sentou-se de frente para Alphonse e acenou para Winry enquanto o trem deslizava bruscamente pelos trilhos. Ele ficou com o braço para fora até quando a estação sumiu atrás do último vagão.

Winry ficou ali, em pé, até que o trem sumiu no horizonte onde não era possível nem ver mais sua fumaça escura que era cuspida para o céu azul. “Se cuida!”, pensou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado a cada um pela leitura *3*
É um prazer escrever e um prazer ainda maior saber que as pessoas, por mínimas que sejam, leem meu trabalho.
Não deixe de comentar e compartilhar.

/õ/