_Como foram esses dias senhor Volkov?_ Doutora Fisher perguntou-me. Ela parecia mais alegre a cada consulta, parecia ter esperança que fosse naquela consulta que conseguiria minha apresentação oral.

_Bons._ Respondi em tom ameno, tirando um pouco do animo da doutora.

Olhei a vestimenta dela como sempre fazia, mas dessa vez o que chamou minha atenção não foi um brinco, ou as cores, mas sim o que ela tirou da bolsa...

_Trouxe isso aqui hoje..._ Ela disse mostrando-me o Nenúfares.

Eu continuei parado, tentando manter-me sob controle em frente a imagem da obra de Monet.

Como essa vadia tem coragem de trazer um Nenúfares?! gritou Rita fazendo minha cabeça doer.

Não pode ser... Ninguém sabe sobre a minha história com o Nenúfares. A não ser que... Não, não pode ser. Pensei em quanto tentava parecer bem.

_O que acha do Nenúfares?_ Ela perguntou mostrando a imagem e sorrindo.

_É bonito doutora._ Falei alheio a qualquer coisa que estivesse acontecendo fora de minhas lembranças.

_Sim, é muito bonito mas...

_Monet foi um grande artista, mas se o que a senhora quer mesmo saber é o que sinto ao ver essa obra... Sinto muito, mas não sinto absolutamente nada._ Falei ainda olhando a obra._ E a senhora?

Ela olhou-me por alguns segundos e depois olhou o Nenúfares. Ela estava um pouco nervosa, e transparecia isso nos gestos: os lábios levemente comprimidos, os olhos evitando olhar-me.

_Acho o Nenúfares uma obra que mostra delicadeza, simplicidade e algo um pouco obscuro ao mesmo tempo_ Ela disse concentrada na imagem, logo depois sorriu discretamente.

_É uma boa visão Doutora Fisher._ Falei educadamente.

Ela não sabe nada sobre arte, como alguém pode ter uma visão tão simplória sobre o Nenúfares? Rita bradava dentro de minha cabeça.

Conheci alguém que gostava de Nenúfares de Claude Monet...

Eu precisava ser visto, ela precisava olhar para mim, precisava de mim. Mas eu sequer sabia o nome dela... Isso nunca foi um problema para mim, não saber o nome de alguém nunca me incomodou tanto.

A aula estava quase acabando, olhei o relógio na parede e faltavam dez minutos para sermos dispensados.

O professor não parava de falar um só segundo, eu não conseguia entender o porquê de não faltar oxigênio no cérebro dele, já que a respiração dele era superficial e andava de um lado para o outro.

Aquele comportamento era quase tão irritante quanto o barulho da caneta batendo nos dentes daquela garota. Minha cabeça poderia explodir se a aula demorasse mais.