O mendigo escrita por Primata Sociável Jovem


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Único



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Ele estava sentado sobre papelões velhos e sujos enquanto seus pés tinham manchas pretas e unhas grandes. As pessoas andavam pela rua apressadas, algumas olhando sem piscar para seus celulares ou preocupadas demais em seus pensamentos, e nem percebiam o ser humano ali. As vezes, só as vezes, ele sentia um inútil que não merecia nem o olhar das pessoas ou quem sabe um sorriso. Ele não queria esmolas, odiava dinheiro. Alimentava-se da bondade do senhor da padaria.

O único vício que já tinha tido foi o de ler e escrever. Vicio esse que não pretendia abandona-lo tão cedo e nem tão pobre. Sim, ele sabia ler e escrever, na verdade ele sabia fazer isso muito bem. Ao contrario do que possa parecer era jovem, não passava dos 30 anos. Lembrava-se dos dias que passava pelas ruas sem olhar para seus moradores com o celular no ouvido ou apenas perdido em pensamentos e preocupações. Usava roupas caras e tinha sorriso feito.

Aquele pobre mendigo que não sabia mais o que era um banho a algum tempo, engoliu o choro ao lembrar-se de como ele achava que sua vida era cheia de problemas naquela época e como agora ele tinha certeza do bobo que ele tinha sido. Lembrou-se do ultimo dia que esteve em sua casa, tinha chegado de uma cafeteria que como de costume ele sempre ia aos fins de semana para escrever mais. Estava relativamente feliz apesar de já serem 7:48 de um domingo. Quando chegou na cozinha o clima pesado já dizia que descobertas haviam acontecido.

Sua esposa, uma mulher de aparência jovem e olhos castanhos, estava sentada a mesa com uma garrafa de vinho tinto em sua companhia e lavando o rosto com lagrimas que eram derramadas em silencio, um silencio mortal. Mas a dor que ele sentiu ao vê-la daquele jeito não foi nada comparada ao arrependimento que ele sentiu no momento que ela lhe olhou e disse ‘Eu te amava’. Aquilo foi uma faca em suas costas, e ele se arrependeu não só por ter traído seu corpo, mas por ter traído o amor que ela sentia. Já era tarde, muito tarde para falar de arrependimentos. A sequência de gritos e choros só foi interrompida quando ele, cansado de ouvir a razão dela, saiu de sua casa e de sua vida comum. Andou pela rua sem rumo. Ele não queria que a última vez que ele vesse aqueles olhos, seu vermelho fosse por sua causa.

Como aquele escritor que tinha uma filosofia de vida tão ampla, poderia fazer aquilo com sua esposa? Ele não sabia.

O mendigo ouviu sua barriga roncar e lastimou ter feito sua esposa sofrer tanto. O que lhe consolava era saber que toda a fortuna que ele tinha adquirido com suas palavras, agora era só dela. Ela merecia bem mais, merecia um amor maior. Mas teria uma vida confortável e feliz. Enquanto isso, ele, não se sentia digno de ter algo bom, por isso, se tornara mendigo.

Afinal, do que adiantaria ele ter todos os bens do mundo se não tivesse sua metade ao seu lado? Preferiu se tornar um mendigo e ao invés de pedir esmolas, pedia apenas para ler. Pedia para as pessoas ler a historia de um escritor que perdeu tudo por amor.


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