P.O.V. Nicholas Ellionder

Eu estava cansado mentalmente e fisicamente. Os últimos três dias foram mais corridos do que tudo. Eu e Christian revisávamos com Derick e Louise na pesquisa sobre a profecia. Tentativas falhas. E agora tudo o que eu queria era um jeito de relaxar, entretanto deitar não estava funcionando. Minha mente pensava em todas as possibilidades e perigos da profecia. Então decidi chamar uma das garotas para um encontro. Julieta foi a escolhida, ela me transmitia a descontração necessária e também me fazia ter as ideias mais claras.

Coloquei uma jaqueta de couro, pois a noite estava fria, e sai para bater em sua porta. Já tínhamos jantando, então minha ideia era apenas dar um passeio pelo pátio. Ela atendeu na segunda batida. Estava com os cabelos soltos e rosto sem nenhuma maquiagem, o que de certa forma a deixava mais bela. Seu pijama verde-água ressaltava a cor de seus olhos, que não demonstravam cansaço nem sono.

– Oh, alteza? – ela parecia surpresa.

– Já disse que pode me chamar de Nicholas. – falei com um sorriso.

– Sim, me desculpe. – percebi uma ponta de sorriso no canto de sua boca. – Mas, o que você faz acordado esta hora?

– Não consigo dormir, apesar de estar cansado. Então resolvi perguntar se quer dar um passeio pelo pátio. Sei que o horário é inconveniente mas...

– É claro. – ela respondeu sorrindo.

Ela levou um minuto para pegar um casaco dentro de seu quarto, e fomos em direção aos portões. A princípio os guardas estavam relutantes em abrir, mas garanti que o passeio seria apenas dentro dos limites e não iriamos demorar.

– Então, o que tira o sono do príncipe de Roma? – ela começou, em tom de brincadeira.

– A profecia. – respondi. – Vocês já devem estar sabendo dela, com certeza.

– Sim, as notícias correm rápido por aqui.

– É inevitável. Um dia uma de vocês terá que conviver com isso pra sempre. – pensei alto.

– É... mas vale a pena, se quer saber. – ela sorriu. Fiquei surpreso, ainda não havia ouvido realmente uma selecionada falar isso. Que valia a pena enfrentar os problemas por mim... ou por Derick. De qualquer forma, essa revelação me fez sorrir.

Quando voltei para meu quarto, após deixar Julieta nos aposentos dela, eu me senti muito melhor, e o sono veio sem problemas.

P.O.V. Derek Barllon

Eu ainda estava na biblioteca, pesquisando algo que ajudasse a desvendar a profecia. Ainda nem havia jantado e começava a sentir o quanto ruim foi essa decisão. Entretanto eu precisava pesquisar mais e mais...

A biblioteca estava tão silenciosa, por eu ser o único lá, que eu tomei um susto quando ouviu o familiar rangido da porta se abrindo. Olhei na direção do barulho e soltei o ar quando reconheci a cabeleira roxa.

– O que a senhorita faz acordada a esta hora, e fora dos aposentos? – tentei brincar e Jessica abriu um sorriso divertido. Ela estava de calça jeans escura e um moletom de algodão cinza com a imagem de um hot dog surfando, mas sem onda. A imagem de comida fez meu estomago roncar.

– Tentando encontrar um príncipe suicida que quer morrer de fome. – ela respondeu, se pondo ao meu lado de braços cruzados. – Posso saber por que o senhor está sem comer até essa hora?

Eu mordi meu lábio para segurar o riso. A cena de Jessica Albuquerque preocupada e irritada era altamente cômica. E ela estava preocupada comigo. A ponto de vim atrás de mim nos confins da biblioteca. Eu não resisti e sorri abertamente.

– Pesquisando. – respondi. – E como você sabia que eu estava sem comer?

– Tenho meus contatos. – ela disse e eu arqueei a sobrancelha. Ela suspirou. – Perguntei da Louise por você e ela disse que estava que nem um zumbi no meio desses livros.

– Louise e suas maluquices... eu estou bem, não se preocupe.

– Você está pálido. Olhos fundos e sei que está com fome.

– E como você sabe? – desafiei.

– Eu reconheço alguém faminto. Quando o assunto é comida, Jessica Albuquerque é expert. – ela sorriu orgulhosa.

Ela acabou por conseguir me arrastar para cozinha, onde uma criada aqueceu dois pratos do que restou do jantar e nos serviu. Sentamos na bancada da cozinha, e comemos no meio de risos. Era sempre assim com Jessica, eu conseguia ser engraçado e leve.

– Tem molho no seu nariz. – ela disse rindo.

– Aonde? – perguntei tentando limpar.

– Aqui. – ela passou seu dedo, que estava cheio de molho, no meu nariz.

Começamos uma briga de molho e no final estávamos sujos dos pés à cabeça.

– Como a gente conseguiu isso? – eu me perguntei e Jessica riu em resposta. A risada dela era contagiante e eu acabei rindo.

– Precisamos nos limpar. – ela disse entre risos.

– Tipo aqui. – sujei ainda mais sua bochecha.

Ela ia sujar a minha também, mas acabou tropeçando e iria cair, se eu não a tivesse segurado. Não sei se foi a proximidade, ou a maneira como o seu olhar tinha um brilho hipnotizante, ou ainda a liberdade que eu sentia ao seu lado, mas eu a beijei.