Uma Lição Espiritual escrita por Lilithli


Capítulo 1
Uma Lição Espiritual




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Nota: Eu tomei a liberdade de mudar alguns fatos no universo de DBZ (como a transformação em super sayajin de Trunks e Goten.) Espero que não se incomodem.

Bom, vamos ao fic!

Uma Lição Espiritual

Passaram-se seis anos desde que Cell havia ameaçado a terra e fora derrotado por Gohan e seu pai. O mundo estava em paz, e aclamava aquele que acreditava ser seu salvador: Mister Satan. Atualmente, nada ameaçava o equilíbrio do planeta e todos levavam suas vidas sossegadamente.

No mundo dos espíritos, tudo também corria bem, algumas almas chegando, outras partindo. Tudo era muito bem controlado, para que nenhum espírito se perdesse ou fosse enviado ao lugar errado. Porém, um de seus habitantes sentia-se inquieto...

- Olá, Goku. Como está?

- Ah, vovó Uranai. Veio nos visitar de novo aqui no planeta do Grande Senhor Kayo, né? Há quanto tempo. - Goku parecia distante, e falou com a velha Uranai quase num sussurro. Ele havia treinado por horas, e agora tinha parado para descansar, deitando-se sob uma árvore.

- Você está bem mesmo, Goku? Parece distraído... mais que o de costume.

- Bom, é que... bem, já estou aqui no outro mundo há muito tempo, você sabe, e... hã... ah, deixa pra lá.

- Ah, já entendi. Saudades de casa, certo?

- Puxa, como a senhora adivinhou? - Indagou ele, realmente surpreso.

- Como não poderia ver a mão na frente da cara, jovem?

- Ué, mas a sua mão não está na frente da cara... o que tem a ver?

- Ai, ai, deixa pra lá... a família às vezes faz falta, não?

- É... eu queria muito rever a Chi Chi, o Gohan... e também conhecer o meu filho mais novo, Goten.

- Isso é fácil de conseguir. Quer voltar à terra por um dia?

Goku piscou os olhos.

- Será que eu posso mesmo?!

- Claro... é só eu conversar com Enma Dayo...

- Legal!! Iuhhhhhuuu!!! - Gritou o sayajin, dando seus habituais pulos de alegria, que quase derrubaram a velhinha de sua bola de cristal. Ela ficou furiosa, mas se controlou. Quando o rapaz finalmente se acalmou, os dois se afastaram rapidamente, para encontrar o Sr. Enma.

Na terra, o dia estava quente. O vento soprava fracamente, um sopro aquecido. O céu estava brilhante e límpido, sem uma nuvem sequer que prometesse chuva. Na calma que o calor proporcionava, as pessoas andavam despreocupadas pelas ruas de Satan City. Algumas senhoras usavam leques e guarda-chuvas, para se protegeram do sol escaldante. Outros caminhavam apressados, mas seus passos eram tolhidos pelo calor sufocante. Em uma casa, algumas crianças se divertiam numa piscina.

Afastando-se da cidade, encontravam-se diversas casas de campo. Numa planície cercada pelo verde da grama e de plantas silvestres, encontrava-se a casa de Gohan. Era uma construção pequena, arredondada. Gohan sempre viveu nesse lugar com sua família, e depois que seu pai morreu, sempre ajudou a mãe Chi Chi como pôde. O nascimento do irmãozinho há seis anos atrás foi mais uma responsabilidade nos ombros da mãe, e nos seus também. Mas nem por isso desistiu de seus objetivos. Gohan continuou estudando muito, raízes que Chi Chi lhe impregnara. Ele agora dava duro para poder entrar, no ano que vem, numa escola chamada Orange High School, que localizava-se em Satan City. Como sempre precisava estudar e ainda cuidar de Goten, o jovem sayajin descuidou-se dos treinamentos. Agora que o mundo estava em paz, ele não via muito sentido nisso. Além do mais, estava satisfeito com os poderes que já possuía, provavelmente ele era o ser mais forte do universo.

Neste momento, ele estava em sua casa, estudando. Mas resolveu dar uma pausa, pois já estava em seu quarto há 3 horas. Dirigiu-se à cozinha para procurar algo para comer. Deparou-se com a mãe, que cozinhava um bolo.

- Oi, mãe! Tem algo pra comer?

- Gohan, você por aqui? - Disse Chi Chi, voltando-se para encarar o filho. - Querido, sei que você quer entrar nessa escola, mas não precisa exagerar nos estudos. Vá fazer outra coisa, saia para passear.

- Você dizendo isso, mãe? Eu não posso sair, ainda não terminei d...

- GOHAN!!! Largue de frescura e vá fazer alguma outra coisa!! Não quero um filho bitolado!! Você também merece descanso de vez em quando! - Chi Chi estava gritando, mas em seus olhos havia um brilho de carinho e afeição pelo filho. Gohan notou isso.

- Obrigado, mãe. Você sabe onde tá o Goten?

- Ele foi pescar no riacho de sempre.

- Então acho que vou lá pentelhá-lo. Posso comer esse chocolate?

- Não, Gohan, esse chocolate é pro bolo que eu...

Já era tarde demais. Gohan já tinha enfiado o chocolate inteiro na boca, e suas bochechas estavam infladas como bexigas.

- AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH!!! OLHA O QUE VOCÊ FEZ, GOHAN!!! ESSE ERA O ÚNICO CHOCOLATE QUE EU TINHA PRA PÔR NO BOLO!! VOCÊ ESTÁ FICANDO IGUAL AO SEU PAI!!! FOOOOOOOOOORA!!!!

- Desculpa, mããããããããããeeeeee....!!

Em meio à uma chuva de panelas, rolos de macarrão e frigideiras, o jovem saiu literalmente voando de sua casa, para tentar escapar da fúria de uma gentil dona-de-casa.

- Que bom que o Sr. Enma Dayo permitiu que eu passasse um dia na terra, não é, vovó Uranai?

Conseguindo a autorização do mandante do outro mundo, vovó Uranai conduziu Goku até o mundo dos vivos. Como Goku era um morto especial, pois já tinha salvado a terra várias vezes, ela obteve a permissão mais rápido que o esperado. Porém, o lugar onde tinham se materializado na terra era um tanto distante da casa do sayajin.

- Mas vovó... aqui é muito longe da minha casa!

- Ora, use seu teletransporte! Está pensando que eu sou sua empregada? - Explodiu a velha, zangando-se.

- Ah, tudo bem, eu vou a pé mesmo. Faz muito tempo que deixei este lugar. Quero relembrar de tudo.

Assim dizendo, Goku despediu-se da velhinha e começou a caminhada. Às suas costas, o sayajin pôde ouvir a voz dela advertindo-o que ele só possuía 24 horas para permanecer ali. Então, a presença dela desapareceu.

Andou por algum tempo, observando tudo ao seu redor: as árvores que com suas folhas emitiam uma suave melodia, quando o vento lhes tocava; os pássaros que passavam sobre sua cabeça, tentando escapar do calor; as flores multicoloridas... exatamente como ele se lembrava, há seis anos.

Depois de andar por 40 minutos, divisou um riacho. Lembrou-se então que poderia sentir sede novamente, como qualquer humano. No outro mundo, não importa aos desencarnados se eles se alimentam ou não.

Enquanto caminhava para saciar-se, avistou um pequeno vulto sentado perto da margem. Talvez fosse uma criança, não tinha certeza. A pessoa estava de costas para o sol, e Goku não podia enxergá-la com clareza. Aproximando-se, o sayajin finalmente pôde identificar um garotinho com uma vara de pescar nas mãos, dormindo na margem oposta. Apesar de adormecido, o menininho segurava a vara firmemente. Era como se os peixes não estivessem de bom humor para serem fisgados sem demora. Goku não sabia por que, mas alguma coisa lhe despertara a atenção no garoto. Decidiu acordá-lo para conversar.

- Garoto!! Ei, menino, não pescou nada ainda?

O pequeno teve um sobressalto. Ainda com sono, olhou para todas as direções, para descobrir de onde viera aquela voz. Enfim seus olhos pousaram no homem à sua frente, do outro lado do riacho. "O cabelo é parecido com o meu..." Pensou, num primeiro momento.

- D-desculpa, moço, eu estava dormindo... o que o senhor disse?

- Perguntei se não pescou nada ainda.

- Não, os peixes não colaboram... estou aqui há tanto tempo que dormi.

- Que será que houve com eles? Será que não estão com fome? - Ponderou Goku despreocupadamente, perscrutando a água.

- Não sei... mas vou ter que voltar pra casa sem a surpresa que eu queria dar pra minha mãe... - Choramingou o pequeno, lágrimas se formando nos olhos.

- Não se preocupe, eu vou te ajudar!

- Como?

- Te ajudando a pescar.

- Sério?!

- Claro! Mas antes de tudo, vou passar pra esse lado.

- O senhor vai entrar na água? Mas aí é que os peixes vão fugir mesmo!

- Não, eu vou saltar por cima do rio.

O pequeno pareceu ficar surpreso com aquelas palavras. Arregalou os olhos e ficou de pé num salto. Ele não acreditava que aquele senhor conseguisse pular os 15 metros que os separavam sem cair dentro d'água. Ele ia acabar se machucando. "Só eu e o meu irmão conseguimos saltar isso! Ele vai cair!"

Antes que as palavras de advertência surgissem da boca do menino, Goku saltou. Foi como se flutuasse. Aterrisou são e salvo na margem do garoto, que ficou boquiaberto.

- Nossa, o senhor foi demais!! Só o meu irmão conseguia fazer isso! - disse o pequeno, realmente maravilhado.

- Seu irmão deve ser bem forte. - Comentou o sayajin, aproximando-se do menino, tão pequeno que mal alcançava sua cintura.

- Se é!! Mas o senhor parece ser muito forte também!

- Só um pouquinho. Então, vamos pescar? Tenho um ótimo método pra pegar peixes!

- Como é?

- Entrando na água e pegando os peixes com as próprias mãos.

- Mas senhor, é perigoso... esse rio é muito fundo e... além disso, os peixes iam fugir de você...

- Não se preocupe, eu nado bem. E se os peixes fugirem, é só disparar atrás deles!

O jovenzinho não foi convencido pela explicação de Goku. Decididamente aquele método não podia funcionar. O riacho era realmente profundo e suas correntes eram fortes e agitadas. E se aquele senhor fosse arrastado?

- Errr, senhor não vá. Como eu vou saber se vai voltar?

- Se eu estiver demorando muito, você usa a vara de pescar pra me tirar de lá. - Respondeu Goku, com a maior inocência do mundo.

- Mas eu não vou te agüentar!

- Tem razão... ah, mas não precisa se preocupar, porque eu vou voltar com certeza!

- Promete?

- Claro!

Goku tirou sua típica roupa laranja, até ficar só de calção. Dobrou as peças e colocou-as num lugar seguro próximo à margem. Então aproximou-se do garoto. "Eu nunca te encontrei antes, mas você me parece tão próximo..."

- Vou pegar um do seu tamanho, você vai ver!

- Tá, mas toma cuidado.

Passou a mão na pequena cabeça, para assegurar-lhe que tudo estaria bem. O garoto sorriu para ele, como se lhe desejando boa sorte. Então o sayajin reclinou-se sobre a margem e atirou-se.

Goku mergulhara perfeitamente, como se fosse um nadador. Que sensação boa a água lhe trazia... estar novamente neste mundo era bom. Não via a hora de encontrar Gohan, Chi Chi... Mas antes de tudo, ajudaria este garotinho. Era como se Goku devesse isso a ele, como se devesse um gesto de afeição. Estava decidido: não sairia dali enquanto não ajudasse o menino! Ou então ele não seria Son Goku!

- Goten, com quem você estava falando?

Gohan finalmente chegara ao ponto onde seu irmãozinho estivera pescando, a tempo de ver um homem atirando-se na água. Porém não o identificara. Aproximou-se da borda para tentar encontrá-lo, mas ele já havia sido envolvido pela semi-escuridão do riacho.

- Ah, eu não sei o nome dele, onii-chan. Ele apareceu do outro lado da margem. E você tinha que ver! Ele conseguiu saltar de uma margem pra outra! Só nós conseguíamos fazer isso!

- A mamãe já não disse que não é pra você conversar com estranhos?

- Ah, onii-chan, ele tem umas idéias estranhas sim, mas ele é legal!

- Não foi isso que eu quis dizer. Há quanto tempo ele está lá? Vai morrer afogado.

- Ah, não se preocupe, ele volta! - Afirmou Goten com toda segurança. Sem perceber, simpatizara com o misterioso homem. Ele sempre ficava encabulado na frente de desconhecidos, mas estranhamente, isso não acontecera com aquele senhor.

- Ah é? Então quando ele voltar, não estaremos mais aqui.

- Por que?? Eu quero esperá-lo!!

- Você tá doido?! E se for algum tarado? - "Eu não quero mandar o cara pro hospital só porque eu assoprei nele." Pensou Gohan, rindo-se interiormente.

Quando Gohan já ia agarrando a mãozinha de Goten para irem embora, o homem voltou abruptamente à tona. Trazia um peixe enorme, que mesmo para um adulto como ele, exigia o amparo das duas mãos. Erguia o animal sobre sua cabeça, para quem quisesse ver.

- Olha só, garoto!! Consegui um peixe enorme!!

Gohan virou-se instantaneamente para encarar o homem logo atrás de si, no rio. E quando fez isso, ficou boquiaberto. Aquela pessoa estava realmente ali ou ele estava tendo alucinações? Estaria estudando demais?

"P-papai, é você...?" Não conseguiu traduzir seus pensamentos em palavras.

Goku sentia a mesma emoção que o filho. Atirou o enorme peixe em segurança na grama, e flutuou elevando-se das águas, até o chão.

- Gohan, é você, filho?

Por instantes, pai e filho se admiraram. Então Gohan atirou-se nos braços do pai, sem notar que ele estava todo encharcado. Abraçou-o fortemente, como se tivesse medo que ele fosse embora novamente. Enterrou o rosto no peito dele, tentando ocultar as lágrimas.

- Você cresceu bastante, filho. Com quantos anos está?

- Dezesseis. - disse, a voz abafada.

- Sua mãe cuidou bem de você... Estou muito contente por ver que está forte... Desculpe por ter sumido...

- Esquece isso, pai! Estou muito feliz por encontrar você! Foi uma surpresa! Quer dizer que você já conheceu o Goten?

"Finalmente alguém lembrou que eu estava aqui. Não estou entendendo nada." Goten estava confuso. Então aquele era seu pai? Mas seu pai não tinha morrido numa batalha contra um andróide chamado Cell? Não tinha morrido antes dele nascer? Como ele podia estar...?

- Como é que é?? Então esse é o Goten?!

- É sim, pai.

Goku aproximou-se do pequeno. Agachou-se para olhar nos olhos do filho. Goten olhou para ele assustado, parecia confuso.

- Goten, eu sou aquele que morreu na batalha contra Cell. Morri antes de você nascer, por isso não pude conhecê-lo. Eles me concederam a vontade de estar neste mundo novamente. Pra rever a Chi Chi, o Gohan... e conhecer você.

Goten estava um pouco inseguro, mas sabia que não precisava temer o homem à sua frente. De certa forma, sabia que o que ele dizia era verdade. Ele sempre ouvira falar muito do pai, da força e bondade que circundavam aquela imagem. Subconscientemente, sempre quis conhecer essa imagem. E agora ela aparecia como por encanto diante de seus olhos, e ele podia confirmar a bondade daquele mito por si mesmo.

- Ah, e eu consegui pegar um peixão! Olha, ele tem o seu tamanho! Agora já pode fazer surpresa pra Chi Chi! Mas diga que foi você quem pescou, viu?

- Obrigado, papai!

Finalmente, Goten abraçou o pai. Sentiu-se meio desajeitado ao fazer isso, mas sabia que podia confiar naquele homem. Agora que seu pai estava por perto, faria de tudo para conhecê-lo melhor.

Na pacata casa da planície, a alegria se fez ouvir à distância. Ao notar que seus filhos haviam voltado na companhia do marido, Chi Chi primeiramente desmaiou de susto. Quando voltou a si e se deu conta de que Goku estava realmente presente, em carne e osso, abraçou-o desesperadamente, aos prantos. Mas chorava de alegria, e não fazia questão de ocultar. Há muito tempo não o via, e apesar disso, não pôde esquecê-lo.

Conversaram por horas, os quatro membros da família. Goku explicou como e porque estava ali; Goten simpatizava cada vez mais com o pai, a cada história que este contava. Ao entardecer, já brincavam despreocupadamente, como se conhecessem-se há muito tempo.

Goku naturalmente assemelhava-se a uma criança, tamanha sua inocência e despreocupação. Aí estava a razão de Chi Chi enfurecer-se tanto com ele de vez em quando. Mas talvez por isso Goten tenha se afeiçoado ao pai tão rapidamente. Os dois eram muito parecidos, tanto física quanto psicologicamente.

Chi Chi pediu licença aos garotos, pois iria fazer um jantar super caprichado, com os pratos favoritos de Goku. O sayajin soltou um frenético "OBA!!", erguendo os braços como em sinal de vitória, e Goten o acompanhou com a mesma euforia. Gohan sacudiu a cabeça em desaprovação, o rosto vermelho. "São mesmo parecidos." Concluiu.

- Ah, agora eu me lembrei, como estão o Vegeta e a Bulma, Gohan?

- Ah, eles estão bem, e o Trunks também. Lembra dele, né, pai?

- É claro! Deixa eu ver... Ele é um ano mais velho que o Goten, não é? Deve estar bem grande agora.

- É! Nós sempre lutamos juntos quando nos encontramos! - Respondeu Goten, entrando na conversa.

- É mesmo, Goten? Então você também luta?

- Luto sim, mas... nunca consegui ganhar do Trunks, ele é muito forte!

- Isso porque ele é mais velho... Mas não se preocupe, você também será bem forte!

O pequenino parou por um instante, mirando o vazio. Estava pensando em algo. O pai e o irmão olharam para ele curiosos, pois parara de falar de repente. Finalmente, externou seus pensamentos.

- Huuum, pai, já que você vai passar só um dia aqui, será que eu não posso ir para o outro mundo com você? Assim, eu podia treinar com o senhor, e ficar mais forte. E podia também passar mais tempo com você.

Ao ouvir essas palavras, Chi Chi veio voando da cozinha. Segurava uma panela na mão direita, ofegante. Sua imagem era ameaçadora, o que assustou os homens da família. Os três sabiam que aquela panela poderia voar na cabeça de um deles a qualquer momento...

- O que você disse, Goten?? Ficou maluco?! É claro que você não vai pro outro mundo, isso é impossível!! Pra ir pra lá, você teria que morrer, e isso eu não vou permitir!! Buááááá, meu próprio filhinho querendo morrer... - Fociferou Chi Chi, lágrimas saltando dos olhos.

- E-espera aí, Chi Chi, isso não é tão impossível assim... E o Goten não precisa morrer pra ir comigo ao outro mundo... - Disse Goku cuidadosamente, escolhendo bem as palavras, aproximando-se de Chi Chi bem devagar, olhos fixos na panela na mão da esposa.

- Não precisa?

- Não! Já que eu sou um morto especial por lá, acho que ninguém iria reclamar se eu levasse uma pessoa da terra. Eu teria que falar com o Sr. Enma antes, mas... Não tem problema, eu levo o Goten depois peço permissão.

- Oba, então eu posso ir mesmo? Deixa, mãe, deixa!!!

- Se o Goku diz que não tem problema... Mas você pode mesmo conseguir a permissão do Sr. Enma?

- Posso, sem problema!

- Legal, pai!! Será que eu posso chamar o Trunks?

- Claro que pode, filho. - Respondeu Goku prontamente.

- O Trunks? A única questão é saber se o Vegeta vai deixar... - Murmurou Gohan, já prevendo o encontro do príncipe dos sayajins com seu pai.

Assim decidido, Chi Chi retornou à cozinha para continuar sua tarefa. Depois de meia hora, os rapazes foram convocados para se servirem.

Pilhas e pilhas de tigelas e pratos amontoavam-se sobre a mesa. Goku ainda petiscava algumas frutas, enquanto seus filhos já estavam satisfeitos. A raça sayajin possui o singular costume de comer demais... A única pessoa da casa que comera uma quantia normal foi Chi Chi. Afinal, ela era humana e não poderia concorrer com o estômago de um sayajin faminto. Que se dirá de três deles.

A esguia e pequena mulher olhou desconsolada para a montanha de utensílios diante de si. De repente estourou a falar, como sempre acontecia quando ficava brava.

- Escutem aqui, garotos, vocês não estão achando que eu vou lavar tudo isso, né?

- Ué, qual o problema, Chi Chi?

- TODOS, Goku!! Eu já me matei fazendo comida pro batalhão que são vocês, e ainda querem que eu limpe tudo?! Nada disso, quem vai fazer isso hoje serão vocês!

- Ah não... eu também mãe? - Perguntou Goten, já se levantando da cadeira de fininho.

- Você também. Você vai guardar os pratos. O Gohan vai secar e o Goku lavar.

- Bem, já que não tem outro jeito... Vamos lá, meninos! - Conformou-se o sayajin jovialmente, já se erguendo da cadeira em direção à pia.

- Espera, Goku, você vai precisar de uma coisa pra lavar os pratos...

Sem que Goku esperasse, Chi Chi envolveu seu ventre com alguma coisa. Ele não notou de imediato o que era. Quando terminou de amarrar o marido, Chi Chi caminhou para fora da cozinha e acenou da soleira da porta, com um ar de troça.

- Hehehe, você ficou uma gracinha com o avental cor de rosa da mamãe, pai... - Brincou Gohan, com uma risadinha.

- Você achou mesmo, Gohan? Obrigado.

Os três iniciaram a operação, mas em dois minutos começou a bagunça; Goku atirava água nos filhos, Gohan tentava acertar os dois com um pano de prato e Goten corria de um lado para o outro, rindo alto. Chi Chi retornou como um raio à cozinha e pôs ordem no pandemônio. Ficou aguardando como um carrasco até que o trio terminasse o serviço.

Enfim eles ficaram livres para fazer o que quisessem. Saíram então para a planície que cercava a casa, para lutarem um pouco. O sayajin mais velho notou que Gohan estava mais lento, e lhe recomendou que se exercitasse mais. Mas o jovem possuía um talento nato, e mesmo estando muito tempo sem treinar, acompanhava o pai sem muitos problemas.

Goten também possuía aptidão para as lutas e Goku ficou satisfeito pelo esforço do pequeno. Ele iniciara seu aprendizado com a mãe, aprendera alguns movimentos com Gohan e sempre treinava com Trunks. Agora que iria para o outro mundo, poderia se aperfeiçoar ainda mais.

Após algumas horas de exercícios, eles entraram na casa, para uma boa noite de sono. Gohan seguiu para o seu quarto, acompanhado por Goku, que carregava Goten nos braços. Depositou o garotinho semi-adormecido na cama, e deu-lhe um beijo na testa. Despediu-se de Gohan e seguiu para o quarto de Chi Chi, para finalmente dar a atenção que ela merecia.

No dia seguinte Goku aproveitaria para visitar a velha amiga Bulma, e saber se Trunks poderia acompanhá-los.

E assim a noite seguiu...

- Vegeta, você pode atender essa campainha?

Amanhecia. O tempo estava fresco, em contraste ao calor do dia anterior. Todos que passavam pela Capsule Corp. a observavam com admiração, não apenas por seu tamanho e pompa, e nem por saberem que aí morava a gênio Bulma e sua família. Todos estavam cientes do mistério que envolvia aquele lugar, já que coisas estranhas aconteciam de vez em quando. De repente, o céu escurecia no meio do dia, e uma grande luz podia ser avistada, vinda daquela residência. Algumas pessoas diziam que até mesmo um enorme dragão chegava a aparecer. Boa parte da cidade não dá muita importância ao fato, por concluir que trata-se de mais alguma invenção do pai de Bulma. Há algum tempo coisas obscuras desse tipo não aconteciam naquela casa, mas as pessoas não deixavam de encará-la como um lugar mágico.

Paralelamente a isso, tudo transcorria normalmente na corporação. Bulma cuidava dos assuntos da Capsule Corp., enquanto Vegeta passava o dia todo nas máquinas de gravidade, treinando. No momento, a milionária dona da corporação se ocupava em verificar um lote de cápsulas Hoi Poi, que aparentemente foram fabricadas com defeito. Vegeta acabava de sair do banho e estava nu, usando apenas uma toalha amarrada à cintura.

- Bulma, eu estou quase pelado, não dá pra atender você?

- Eu não posso, estou ocupada.

- Onde está o Trunks?

- Está brincando lá atrás no jardim. É melhor abrir logo essa porta, já faz um tempão que estão tocando.

"Que mulher mal-criada..." Pensou Vegeta, como de costume. Não havia alternativa senão abrir ele mesmo. Quem quer que fosse, seria mandado embora a pontapés.

O príncipe dos sayajins escancarou a porta com toda violência, já disposto a pronunciar alguns palavrões. Mas ao invés disso, só conseguiu ficar com a boca aberta, as palavras se perdendo em sua própria garganta. Achou que estava vendo coisas, que não era possível... Bem à sua frente estava Kakarotto, todo sorridente, acompanhado do filho menor. Esfregou os olhos pra ter certeza de estar mesmo vendo aquilo.

- K-Kakarotto, você não estava morto? Ei, moleque, esse que estamos vendo é o seu pai, não é?

- É sim, senhor Vegeta. - Respondeu Goten. De repente ficou com as faces ruborizadas.

Vegeta estava olhando tão fixamente para Goku que conseguiu deixá-lo vermelho. Para quebrar a tensão, o sayajin resolveu fazer uma observação.

- Eeeer, Vegeta, se eu te disser uma coisa, será que você vai ficar bravo comigo?

- O que é, Kakarotto?

- Bom, é que a toalha que você estava usando... caiu.

Seguiu-se um rápido momento de silêncio constrangedor, a brisa passando e assobiando pelo local. Porém Vegeta recuperou-se logo, e fora tão veloz em apanhar a toalha e ajustá-la no devido lugar, que pai e filho apenas identificaram o vulto de uma mão, e sentiram o vento que soprou ligeiramente. Quando voltou a encarar Goku, estava corado, e nem um pouco feliz.

- Como é, seu imbecil? Não veio aqui pra ficar plantado na minha porta, não é? Entra de uma vez!

Bulma, que havia terminado sua tarefa, não pôde deixar de acompanhar a cena, e desatou a rir. Enquanto retirava-se para vestir alguma coisa, Vegeta fuzilou-a com o olhar, mas ela nem se deu conta disso. Aproximou-se de Goku e deu-lhe tapinhas nas costas, como sempre fazia quando ficava empolgada. Depois de cumprimentar Goten, voltou-se para seu amigo.

- Goku, há quanto tempo! Mas como você pode estar aqui??

- Ah, Bulma, é uma longa história... Quer que eu lhe conte?

Enquanto o sayajin narrava sua epopéia, Vegeta retornou trajando apenas uma calça jeans. Ainda estava meio molhado, mas sua curiosidade em saber o que aquele miserável estava fazendo em sua casa era maior. Ele e Bulma ouviram o relato, e ao final estavam incrédulos. Mas vinda de Goku, qualquer coisa é possível.

Finalmente Goku explicou o motivo de sua vinda à casa de Bulma. Disse que dentro de 6 horas precisaria voltar para o outro mundo, e queria saber se não poderia levar Trunks para fazer companhia a Goten.

- Bom, por mim não tem problema, Goku, se o Trunks...

- VOCÊ É MESMO UM IDIOTA, KAKAROTTO! Acha mesmo que eu vou deixar o MEU filho ficar andando com você?!

- Qual o problema, Vegeta?

- Não quero que ele se torne um estúpido.

- Mas é só não dar maus exemplos a ele!

- GGGGGGGRRRRRR, AGORA EU MATO ESSE CRETINO!!!

- Mas eu já estou morto...

Goku não falava de modo cínico, e sim com a maior inocência. E era justamente isso o que mais enfurecia Vegeta. Quando este já estava prestes a pular no pescoço do "amigo", Trunks surgiu de repente por uma porta.

- Goten!! Que legal que está aqui!!

- Ah! Oi, Trunks!

- Tudo certo? Só uma coisa... Quem é esse cara que o meu pai está enforcando?

- É o meu pai...

- Seu pai? Mas ele não morreu?

- Eu ainda não entendi direito como ele voltou, mas vou tentar te explicar...

Calmamente, Goten explicou a Trunks a história. Enquanto isso, Vegeta animadamente continuava a enforcar Goku. Bulma não sabia se ria ou apartava os dois.

Sim, mais uma coisa completamente normal acontecia na Capsule Corp....

O vento soprava fracamente, arrepiando os ciprestes. O dia ainda estava muito claro, o sol lançava seus raios oblíquos sobre a terra. Buscando refúgio contra a luminosidade, os pássaros sobrevoavam tranqüilamente, sem notar as pessoas que se reuniam ao redor daquela casinha de campo.

Todos agora se encontravam na casa de Goku, aguardando pela chegada da velha Uranai e que Chi Chi aprontasse as coisas de Goten. Como a mãe zelosa que era, não poderia deixar que nada faltasse ao filho. Por isso arranjou a maior mala de que dispunha, e a estava lotando de roupas, brinquedos, remédios, doces, e toda a sorte de coisas que uma criança pode vir a exigir.

Vegeta não estava nada satisfeito com a demora. A muito contragosto, consentira que Trunks partisse para o outro mundo. Bulma soubera convencê-lo (ameaçou desmontar a máquina de gravidade). Porém o filho parecera adorar a idéia de sair de casa e conhecer um outro lugar.

O príncipe andava de um lado para o outro, braços cruzados, resmungando. No fundo, só não queria admitir que isso seria uma experiência a mais para Trunks, e o faria crescer. Mesmo que não apreciasse a idéia, certamente ele aprenderia algo com Kakarotto. E quando voltasse, o pequeno estaria mais forte. Afinal de contas, não seria tão ruim que o filho conhecesse lugares diferentes, na companhia de alguém "confiável". Só não queria dar o braço a torcer.

Agora faltava muito pouco para que Goku retornasse ao outro mundo. Enquanto conversava com os filhos e Bulma, Chi Chi surgiu de dentro da casa, e largou a enorme mala nas mãos do marido, com mil precauções e advertências para que ele cuidasse bem de Goten. Goku só conseguiu por a mão na cabeça e sorrir dos comentários da esposa, sem entender tudo completamente, mas apreendendo o principal. Condensando e simplificando todo o discurso de Chi Chi, a mensagem era "não torne o nosso filho um delinqüente".

Em meio a uma advertência e outra, a velha Uranai desceu do céu em sua bola de cristal, como se houvesse se materializado lá em cima.

- Está pronto, Goku?

- Claro que sim, vovó Uranai.

- Pai, er... Será essa a última vez que nos veremos?

Gohan encarava o pai seriamente. Talvez aquela fosse mesmo a última oportunidade em que pudessem se ver. Chi Chi aproximou-se do filho mais velho, ficando ao seu lado. Estava silenciosa, mas seus olhos revelavam toda a angústia da despedida.

- Gohan, talvez essa não seja a última vez... Eu terei de trazer Goten e Trunks de volta... E sempre há a possibilidade do Sr. Enma me liberar...

- COMO ASSIM, trazer Goten e Trunks de volta?! - Explodiu a velha, assustando todos.

- Aaai... Eu esqueci de avisar, vovó Uranai... O meu filho e o Trunks vão me acompanhar... Er... Tem algum problema?

- VOCÊ FICOU LOUCO, SEU RAPAZ IRRESPONSÁVEL?! QUER QUE O SR. ENMA ME EXPULSE DO OUTRO MUNDO PRA SEMPRE?!

- Ah mas... Er... Pode deixar que eu mesmo falo com ele, vovó, ele não vai brigar com você... Deixa, vai?

- Não é correto levar pessoas encarnadas ao outro mundo...

- Mas eles não vão ficar lá pra sempre! É só por uma semana! Tenho certeza que se eu conversar com o Sr. Enma, ele não vai se importar.

- Por favor, deixa, vovó! - Pediu Goten.

- Vai, velhinha, não seja má! - Emendou Trunks, para ajudar a convencer a velha.

- Muito bem... O que eu posso fazer? Mas se alguma coisa acontecer, a responsabilidade é toda sua, Goku.

Os garotinhos vibraram, vitoriosos. Goku voltou sua atenção ao resto da família. Estreitou os braços ao redor de Gohan, lembrando-o que ainda o veria de novo. O filho estava quase chorando, mas segurava-se como podia. Pelo contrário, Chi Chi chorava desconsoladamente. Abraçou o marido fortemente, não querendo que ele partisse. Foi presenteada com um beijo, como uma última despedida.

Desvencilhando-se de Chi Chi, o sayajin dirigiu-se à Bulma e também a abraçou, como a boa amiga que ela era. Enfim os dois se separaram, e Goku notou Vegeta bem atrás de Bulma.

- Adeus, Vegeta.

- Adeus é uma palavra muito forte, Kakarotto.

- É, tem razão.

Encararam-se.

- Que é? Não está esperando que eu te abrace também, não é?

- Bom, não... Mas se você quiser...

- DESAPAREÇA LOGO DAQUI, KAKAROTTO!!!!

Sorrindo, Goku caminhou até os garotinhos.

- Sabem voar, meninos?

- Bem, senhor Goku, eu sei mais ou menos. Preciso melhorar mais. - Respondeu Trunks prontamente.

- Hããã... Pai, eu... Não sei voar ainda... - Goten mirava o chão, como que embaraçado.

- Isso não é problema, garotos. Vocês podem aprender comigo no outro mundo.

Assim dizendo, Goku ergueu os dois meninos, um de cada lado do corpo, virados de barriga para baixo. A velha Uranai já ganhava altitude, e o sayajin seguiu-a. Logo, os quatro já eram uma mancha que desaparecia no firmamento, e só os gritos de adeus e despedidas dos que ficaram embalavam a melancolia da partida.

- Nooossa, demais, que legal!!

- Olha só, Trunks, que barato!!

Os meninos seguravam-se em Goku para não caírem no meio do vôo, e ao mesmo tempo apreciavam a bela paisagem do outro mundo. Muitos lugares e construções estranhas, nuvens de todas as cores, as almas passando de um lado ao outro... Inclusive um caminho muito engraçado, um caminho em forma de serpente...

Tudo para os pequenos era novidade, e Goku compartilhava deste sentimento com eles. Aparentemente tinha se esquecido de que, para os garotos permanecerem ali, precisaria da permissão do Sr. Enma, e talvez não fosse fácil obtê-la. Mesmo assim, continuava na mesma agitação das crianças, e servia como um "guia turístico". A única que parecia preocupada era a velha Uranai. Estava totalmente contrariada, e não fazia muita questão de esconder.

- Escute aqui, Goku, eu não tenho nada a ver com a presença desses meninos aqui, entendeu?

- Haha, não se preocupe, vovó, eu converso com o Sr. Enma!

Finalmente alcançaram a construção que servia como um purgatório para as almas que chegavam. Era ali que o Sr. Enma trabalhava, ali julgava e decidia se as almas iriam para o céu ou inferno. Goku entrou pela janela, como era o seu costume, e Uranai o seguiu. A pobre velhinha temia pela reação de Enma, temperamental como era... Talvez não aceitasse a permanência das crianças ali... Porém, eram apenas garotinhos...

- Er... Sr. Enma, com licença?

O juiz do mundo sobrenatural parecia bem atarefado. Estava muito afobado, seus ajudantes não paravam de chegar com mais e mais papéis, e ele resolvia tudo às pressas. Carimbava os documentos após verificá-los por dois segundos, sem nem lê-los direito, e os largava sobre uma pilha enorme que havia se formado.

- O-o que você quer, Goku? Estou muito ocupado...

- Hã... O que houve, senhor Enma?

- Fiquei doente por dois dias e veja só o que aconteceu... Mandei esses inúteis adiantarem o serviço mas é o mesmo que falar com paredes... Tem muitas almas esperando, acumularam-se um monte de papéis... Mas o que você queria mesmo? Ah, como foi lá na terra?

- Foi muito bem, Sr. Enma, obrigado. Bem, hum, eu queria pedir uma coisa... Será que o meu filho e o amiguinho dele poderiam permanecer aqui no outro mundo por uma semana? É que o Goten quis passar mais tempo comigo e... Depois, eu mesmo os levo de volta pra terra... Tem algum problema?

- Hã? A mãe de quem? Faça o que você achar melhor, Goku, não tem problema.

- É mesmo? Que legal!! Obrigado Sr. Enma!!

- Que? "Obrigado a ter senha"? Deste quando você precisa disso? Saia logo daqui, Goku, você está tirando a minha atenção.

Um dos assistentes de Enma encaminhou os visitantes pela saída, atrás da enorme mesa do mandante do lugar. Assim que se viram do lado de fora da sala de audiência, a velhinha pôde respirar aliviada.

- Ufa, ainda bem...

- Que bom que ele deixou, né, vovó Uranai?

- Hã... Olha, Goku... Acho que "deixar'' não é bem o termo... Ele nem estava prestando muita atenção... Estou surpresa, o Sr. Enma é sempre tão atento a tudo...

- É, mas ele estava muito atarefado... E então, meninos, querem conhecer uns amigos meus?

- Queremos! - Gritaram os pequenos, em uníssono.

Goku despediu-se da velhinha enquanto começava a levitar do chão, segurando os meninos. Uranai acompanhou-os com o olhar até perdê-los de vista. Sentiu-se um pouco preocupada, pois os meninos ainda permaneciam naquele lugar por pura sorte. Quando Enma se desse conta do que havia feito, qual seria sua reação? Porém, decidiu que não adiantava nada se afligir. Se o filho queria ficar com o pai, então que aproveitasse o momento. O que importava é que eles estavam felizes. Deixaria as conseqüências para depois.

- Ei, olhem, aquele não é o fofucho? Ele já voltou!

No planeta do grande senhor Kayo os lutadores treinavam arduamente, quando foram interrompidos pela aproximação de um ki muito poderoso, além de dois menores. O borrão foi se aproximando aos poucos, até que a jovem Silfy conseguiu distinguir seu amigo Goku. Ficou mirando o alto, enquanto o sayajin aterrisava, e então divisou duas crianças agarradas ao corpo dele. Todos os habitantes do lugar correram para dar-lhe as boas-vindas e saber das novidades, e Silfy foi a primeira a falar-lhe.

- Fofucho! Você voltou! Ué, quem são esses meninos? Almas perdidas?

- Silfy! Tudo bem? Oopa...!

Sem que Goku esperasse, Silfy o abraçou e trouxe a cabeça dele junto ao peito. Ela era uma garota de personalidade forte, e não fazia cerimônia para nada. Abraçou Goku não porque gostasse dele, mas porque o considerava um grande amigo, e adorava demonstrar isso. Fisicamente, possuía boa altura, alcançando o queixo de Goku. Seus cabelos eram loiros e compridos, os olhos tingidos de um verde profundo. Seu busto era razoavelmente grande e o rosto de Goku perdia-se entre eles nesse exato momento.

- Uff... Silfy, eu tô sufocando... seus peitos cresceram?

Um sonoro "BONC" se fez ouvir à distância, seguido das risadas dos demais lutadores. Goten não entendeu muito bem o que se passava. Em contrapartida, Trunks não sabia como segurar o riso malicioso. Quando Goku conseguiu arrancar o rosto da enorme cratera que havia aberto no chão, encarou Silfy.

- Que foi?!! Eu disse alguma coisa errada?! Ai, essa doeu!

- Você não muda mesmo, heim? Ah, deixa pra lá... Mas você ainda não me respondeu... Quem são esses meninos? Eles não têm auréola...

A história foi repetida uma outra vez. Todos se admiraram ao ouvi-la e não acreditavam que o Sr. Enma pudesse ter permitido tal coisa. Mas enfim, já que havia visitas, se faria o melhor para agradá-las.

Trunks se deu bem com todos. Era um garoto extrovertido, que não se sentia inibido por conversar com adultos. As mulheres o acharam engraçadinho, pelo seu caráter forte e respostas rápidas e seguras. Já Goten parecia ter certa dificuldade em se relacionar com pessoas novas. Sentia-se um pouco encabulado e agarrava-se à perna do pai. Falava gaguejando um pouco, não se sentia à vontade para conversar abertamente. Os amigos de Goku implicaram com o pequeno, mas este se recusava a falar mais que o necessário. Silfy mandou que parassem de incomodar o menino, e tentou conversar com ele sem deixá-lo nervoso. Obteve sucesso, e Goten simpatizara com ela.

Depois que Goku contou todas as novidades e todos conheceram melhor Trunks e Goten, a multidão se dispersou.

Silfy adorou os garotinhos. Sempre gostara de crianças. Afagava os pequeninos e perguntava de tudo a eles, muito empolgada. Quando perguntou a eles se gostavam de lutar, ouviu um sonoro "CLARO!" à duas vozes. A partir daí a curiosidade deles foi aguçada.

- Desculpa, Silfy, mas você é muito forte? - Perguntou Trunks, observando-a atentamente.

- Se eu sou forte? Acho que sim, por que?

- É que você é tão magrinha... Um sopro do meu pai deve te jogar longe! - emendou Goten, com inocência.

- Ora, seu moleque atrevido! - A jovem colocou a mão na cabeça do pequenino e a esfregou, sorrindo. - Quer me ver lutar com o seu pai? Aí você vai ver se ele me joga longe.

- Silfy, eu não acho uma boa idéia...

- Ah, pára com isso, Goku! Vem!

A loirinha agarrou o sayajin pelo braço e fez com que levantasse do chão. Então o levou à uma distância segura dos garotos.

- Ó! Só não vale apelar pro super sayajin fase 2, viu?!

- Tá bom...

- Super sayajin fase 2? Cê sabe o que é isso, Goten?

- Ah... eu não...

Enquanto os garotinhos se questionavam, a luta teve início. Era só um pequeno combate, nada sério. Por isso, Goku permaneceu na sua condição normal, com os cabelos negros. Silfy voou pra cima dele, arremessando um soco contra seu peito, mas o sayajin conseguiu detê-lo com um dos braços. Silfy aproveitou o impulso e deu um salto para trás, enquanto Goku segurava o membro atingido, fazendo uma careta. Mas se recuperou rapidamente e disparou para cima da garota. Lançou um soco contra a loira, mas a figura dela simplesmente desapareceu diante de seus olhos, apenas para reaparecer pelas costas e lhe aplicar uma bela cotovelada. Goku ajoelhou-se ante o golpe inesperado e Silfy recuou para que ele pudesse se recompor.

- Heh... Não adianta... Deste jeito não dá mesmo pra acompanhá-la...

Silfy ouviu atentamente as palavras e já sabia o que estava por vir. Sorriu intimamente. Goku se concentrou por alguns instantes e logo a grande radiação de energia pôde ser sentida, invadindo tudo e provocando um vendaval no lugar. Os meninos olhavam perplexos e quase saíram voando com o vento produzido.

Os cabelos do sayajin começaram a assumir uma cor dourada, até que ficaram loiros por completo. Sua transformação em super sayajin 1 estava completa. Silfy acompanhou e aguardou, ansiosa.

- Que bom! Agora podemos lutar de igual pra igual! - Gritou a jovem, extasiada.

Golpes foram trocados e bloqueados, os dois agora equivaliam em poder.

- Ah! Agora eu sei o que é!! Já vi o meu irmão ficar loiro assim, Trunks! - comentou Goten, com um brilho de reconhecimento no olhar.

- Eu também já vi o meu pai assim. Agora entendi, isso que é um super sayajin!

- Será que a gente também consegue?

- Sei lá, vamos perguntar pro seu pai depois. Nossa! Olha como eles lutam! A tia Silfy é bem forte mesmo!

Goku acabara de ser atingido por uma bola de energia disparada por Silfy. Ela lançou-se em direção ao homem, mas estacou ante o comentário...

- "Tia" Silfy?

Goku aproveitou a distração e recuperou-se, acertando um belo chute no ventre da garota que voou por alguns metros e caiu violentamente no chão. O sayajin ainda disparou um raio de energia, com a intenção não de atingi-la, mas ao solo.

A terra explodiu quando a energia chocou-se contra ela. Silfy protegeu os olhos e Goku aproveitou o momento.

- Renda-se, senão eu me transformo em super sayajin 2!!

- Aaaah!! Tá legal, tá legal, você venceu. Me rendo. Sempre apelando pro super sayajin 2...

- Claro! Se eu não fizer isso, você nunca se rende ou então eu perco!

- Isso é verdade, hehehe... A propósito, fofucho, acho que ninguém te falou da confusão que teve por aqui... - Silfy assumiu um ar de cumplicidade, aproximando-se do sayajin e quase sussurrando em seu ouvido.

- Que confusão?

- Bom, dizem que, há um dia atrás, o Sr. Enma mandou uma alma para o inferno por engano... Mas essa alma se revoltou com isso, e está fazendo uma revolução lá embaixo...

- E o Sr. Enma não fez nada pra corrigir o erro?

- Tsc... Ele está tão preocupado em pôr seu trabalho em dia que nem está prestando muita atenção nisso... E não sabemos se ele errou realmente... Pelo que eu ouvi, essa alma é muito forte... E está destruindo tudo lá no inferno... Ninguém lá embaixo está conseguindo contê-la...

- Hum... Interessante...

Os garotinhos cansaram-se de observar os adultos conversarem e se aproximaram, um tanto intrigados.

- Tia Silfy, me diz uma coisa, você não é da Terra é? - Indagou Trunks, olhando para cima, bem para o rosto da garota.

- "Tia"? Não força, vai Trunks. Não sou tão velha assim. Mas você tem razão, eu não sou da Terra. Sou de um planeta muito distante do seu, chamado Mirus. O pessoal de lá é bem forte, pelo menos os guerreiros. Somos quase tão fortes quanto sayajins.

- UAU, sério?! Que legal! - Explodiu Trunks animadamente, na maior empolgação.

Silfy limitou-se a olhar para o garotinho e sorrir. Achara-o muito simpático. E agora, reparando melhor em Goten, notou que ele se assemelhava muito com o pai.

- Goku, seu filhinho se parece tanto com você... e é tão fofo quanto. Goku...? Tá me ouvindo?

O sayajin não prestou muita atenção às palavras dela, estava absorto em pensamentos. Só foi trazido de volta à realidade porque Goten aproximou-se e deu-lhe um puxão nas roupas. O pai olhou para baixo como que saído de um sonho.

- Hã? Algum problema, Goten?

- No que tá pensando, pai? A Silfy falou com você...

- Ah, desculpe... Só estava pensando em ir lá pro inferno procurar essa alma poderosa...

- Você O QUE?!!

Silfy foi apanhada de surpresa. Sabia que Goku gostava de fazer as coisas mais imprevisíveis possíveis, mas não a este ponto. Para descer ao inferno, novamente precisaria de autorização do Sr. Enma e isso seria meio inviável no momento. Se fosse sem permissão, corria o risco de nunca voltar. Tudo isso passou como um lampejo pela mente de Silfy, e ela transmitiu tudo a Goku.

- Não precisa se preocupar, Silfy, mesmo sem permissão, eu conheço um jeito de voltar do inferno.

- Você não se preocupa com nada, heim?! Como pode pensar tão tranqüilamente? Além disso, você nem conhece essa alma, e se ela for mais forte que você?

- Mas é justamente por isso que eu quero ir lá ver...

- Pai, posso ir junto?

Goten se meteu no meio do turbilhão, e agora os dois adultos o encaravam. Silfy estava incrédula. Se Goku levasse o filho, estaria provado que era mesmo um louco. O menino estava VIVO. E se acontecesse alguma coisa?

Muito ao contrário da garota, Goku mirou o filho sorrindo placidamente. Ficou feliz que o pequeno quisesse acompanhá-lo, pois queria mesmo ficar ao seu lado. Mas, como sempre, sua expectativa pela possibilidade de enfrentar um forte oponente falava mais alto. Gostaria de levar Goten, mas ele não sabia voar... Para ir ao inferno, um dos requisitos básicos era a técnica de vôo. Para chegar lá, era necessário descer pelas nuvens que ficavam entre o Caminho da Serpente, e depois de transpassá-las, eram muitos metros em queda livre. E ficar carregando o filho nos braços pra lá e pra cá sem saber o tipo de aventura que iria encontrar seria no mínimo imprudência.

Haveria de utilizar um dia inteiro para que os pequenos aprendessem a voar com perfeição. Eles já lutavam e sabiam controlar perfeitamente o ki, então não seria muito difícil ensinar-lhes. Esqueceria por um tempo a ida ao inferno e treinaria as crianças. Assim, não arranjaria problemas com Silfy e acalmaria os ânimos, pelo menos por enquanto.

- Goku, prometa que não vai descer ao inferno. - Silfy o encarava séria, querendo passar a impressão de que estava furiosa. Aparentemente, atingiu seu intento.

- Calma, Silfy, não precisa ficar brava, eu vou ficar aqui e ensinar os meninos a técnica de vôo.- Rebateu o sayajin, tentando disfarçar seu objetivo.

Trunks ficou radiante diante da perspectiva de aprender a voar direito. Ficou pulando de alegria ao redor de Silfy, enquanto esta liberava um suspiro de alívio. Mas ambos deixaram de notar Goten. Ele ficara curioso ante à mudança repentina de planos. Seu pai acabara de dizer que iria ao inferno... Aproximou-se dele e puxou-lhe a calça para que olhasse para baixo, enquanto lhe lançava uma carinha confusa.

- Mas pai, você não tinha dito que...?

- Não acha melhor aprender a voar pra poder me acompanhar até lá? - Sussurrou o sayajin, piscando um olho com cumplicidade, porém de um modo juvenil. Agachou-se para ficar à mesma altura de Goten. - Mas tem que prometer não sair de perto de mim. Não sei o que vamos encontrar, e não quero que se machuque.

O pequenino concordou com os olhos brilhando, um sorriso enorme na face. Goku levantou-se, e o filho envolveu sua mão. Com o acordo selado e oculto entre pai e filho, encaminharam-se em direção à Silfy e Trunks, que conversavam distraidamente.

O dia seguinte foi muito agitado. Goku e Silfy treinavam os garotos, e, de quebra, se divertiam com as quedas, os escorregões, as caras feias e os tombos das crianças. Trunks dominara o jeito sem muitas dificuldades, pois já possuía um pré-treinamento, ministrado pelo pai. Goten não tinha base nenhuma, e lhe deu trabalho até conseguir flutuar um pouco acima do chão. Às vezes caía de cara, ou batia o traseiro. Em outras tentativas, quando estava inspirado, conseguia se contorcer como um gato e cair de pé. Numa tentativa mais desastrada, Goku acompanhou de braços estendidos, enquanto o filho flutuava acima de sua cabeça. Porém, Goten perdeu o senso de equilíbrio e seu ki não pôde mais sustentá-lo no ar. Despencou gritando, acertando em cheio a cabeça do pai. Diga-se de passagem, Silfy e Trunks demonstraram muita compaixão diante da cena, estourando de rir.

Goten empregou 3 horas para aprender a sustentar-se sem cair. Assim que aprendeu a firmar-se, Goku se juntou a ele no ar e começou a ensinar-lhe piruetas, rodopios, zigue-zagues e como desviar agilmente de obstáculos no caminho (o que rendeu ao pequeno mais trombos e arranhões no rosto). Com tudo isso, passaram-se mais 5 horas.

Ao fim do dia, os pequenos já voavam eximiamente. Claro que poderiam se aprimorar, mas isso viria naturalmente. Silfy sugeriu que parassem um pouco, já era hora de descansar. Trunks correu para ela e foram andando lado a lado até o alojamento, deixando Goten e Goku um pouco para trás.

Pai e filho se entreolharam, como cúmplices que se comunicavam sem palavras. O sayajin apertou os olhos e deu um largo sorriso a Goten, que retribuiu. Assim, o garoto teve certeza de que o acordo ainda estava de pé. Seria só esperar até o momento certo, para que pudessem fazer a viagem tão esperada. A descida ao inferno. Finalmente encontrariam essa tal alma poderosa.

Os vultos arrastavam-se sorrateiramente pelo alojamento. Caminhavam meio grudados à parede, sem querer chamar a atenção. O dia mal clareava, as trevas insistiam em permanecer no ambiente. Todos os lutadores do outro mundo descansavam tranqüilamente, sem se dar conta que faltavam dois de seus integrantes.

Goku conduzia Goten pelo caminho mais vazio do alojamento, para não correrem o risco de serem descobertos por alguém. O sayajin não queria arranjar problemas, especialmente com Silfy. Mas sua fixação continuava firme, desceria sem pestanejar ao inferno para encontrar o tal espírito.

Alcançaram os portões do lugar sem nenhum ruído, e abriram-nos suavemente. Liberdade. Goku fechou a porta atrás de si e saiu voando velozmente, com o filho em sua retaguarda. O pequeno ainda não possuía a velocidade do pai, por isso, este diminuiu a aceleração.

- Não disse que seria fácil sairmos de lá, filho?

- É! Vai ser muito legal se eu puder lutar com você, pai!

- Mas é aquilo que nós combinamos. Não se afaste de mim. Se acontecer alguma coisa, a Chi Chi me mata... de novo.

A dupla sobrevoou a paisagem como um raio, sem preocupações. Em pouco tempo, alcançaram o Caminho da Serpente, e pousaram nele por alguns instantes.

- Este filho, é o Caminho da Serpente. Me traz muitas recordações...

- É muito grande... Tem um fim?

- Claro que tem, mas é muito longe... mesmo assim, não demoraríamos nem 2 horas pra percorre-lo. Mas deixa pra lá... Abaixo dessas nuvens douradas é o inferno. Você quer mesmo ir comigo?

- Quero!!!

Goku sorriu para o filho, em seguida se atirou entre as nuvens. Goten fez o mesmo. Ao trespassá-las, surgiu a grande distância que os separava do chão. Ambos controlaram o vôo e pousaram habilmente. No chão, Goku pôde reparar melhor no inferno: árvores quebradas, algumas arrancadas pela raiz; a terra estava completamente esburacada e não havia nenhuma alma que geralmente costumava perambular por ali. Um resquício de estranha energia ainda pairava no ar.

Uma arisca figura se movia e espreitava entre os tocos de árvore. Goku sentiu seu ki e sem qualquer aviso prévio, lançou uma rajada de vento, que fez o vulto voar 20 metros para trás. Caiu com um baque, soltando muitas imprecações. Só então o sayajin se deu conta de quem era: um dos ogros que costumavam patrulhar e tomar conta do inferno. Substituindo sua expressão sombria e ameaçadora por uma mais gentil e envergonhada, Goku se aproximou do ogro.

- P-puxa, me desculpe, seu ogro... mas pensei que pudesse ser alguma pessoa perigosa...

- Ora, seu imbecil, você não tem olhos? - Rosnou o ogro, furioso. - Mas... Peraí! Você não é aquele infeliz que caiu aqui há muito tempo? E que anos mais tarde ajudou a pôr aquele andróide no devido lugar? Como é mesmo o nome dele? Ah, o Cell!

- É-é, sou eu mesmo, o Goku.

- Sim, Goku era o seu nome! Ei, será que não pode dar uma mãozinha pro inferno de novo?

- Como assim?

- O Sr. Enma Daiou ficou maluco!! Mandou aquele cara pra cá por engano, e agora ele se revoltou e tá destruindo tudo!! Olha só o caos que ele já fez por aqui!

- Então tem mesmo uma alma muito poderosa aqui, senhor? - Perguntou Goten.

- Claro que tem! Hã, você é filho dele? Você morreu também? E veio logo pro inferno? Que azar!

Goku olhou para o cenário de destruição e depois para o horizonte. Passou algum tempo em silêncio absoluto. Goten e o ogro olharam para ele, sem entender direito. Como que lendo seus pensamentos, o sayajin disse:

- Não consegue sentir o ki, Goten? Preste atenção.

A criança fez o que o pai pedia, e começou a perceber uma grande oscilação de energia, que crescia cada fez mais, a oeste. Goku segurou o filho com a mão esquerda e com a direita aproximou à testa os dedos indicador e médio.

- Pode deixar que a gente cuida desse cara, seu ogro.

Foi a última coisa que o robusto ogro ouviu dos lábios de Goku, antes que este desaparecesse diante de seus olhos.

A poderosa energia enchia o ambiente de pânico e horror. Seu usuário estava descontrolado, lançava bolas de luz para qualquer direção, atingindo solo, árvores e espíritos. As pobres almas, assim que eram tocadas pela energia, desapareciam. Muitas tentavam fugir em desespero, sem ter onde se esconder. Ogros tentavam fazer alguma coisa para segurar aquele rapaz, mas sem sucesso. Eram abatidos como se fossem formigas. Espíritos podem destruir outros espíritos e sem forem mortos pela segunda vez, jamais ressuscitarão em nenhum mundo.

O jovem parecia enlouquecido de desespero. Aquele não era o seu lugar, ele não deveria ter morrido. E ainda mais ter vindo parar no inferno. Não! Ele precisava continuar lutando, não importava contra o que, precisava deixar aquele lugar. Deveria voltar ao seu mundo! Na sua insensatez, continuava a lançar golpes de energia para qualquer lugar, sem se importar com o que atingiriam. Sua dor era mais forte que tudo, ela o sufocava.

- Por quanto tempo vai continuar fazendo isso?

O jovem conseguiu ouvir uma voz que se dirigia a ele. Tentou se acalmar e virar-se para a pessoa desconhecida. Quando cessou de atirar energia e sua visão clareou, divisou um homem, acompanhado de um garotinho, logo atrás. Jogou para trás seu longo cabelo castanho que estava grudado na testa pelo suor, para encarar melhor aqueles dois.

- Quem são vocês? O que querem comigo?

- Eu poderia fazer as mesmas perguntas. Por que está destruindo tudo?

- V-vocês querem me prender neste lugar, não é?! Mas eu não vou deixar!!

O jovem lançou-se insanamente em cima de Goku, mirando-lhe a cabeça. O sayajin reagiu facilmente ao ataque empurrando Goten para um lado, e desviando por centímetros do soco do rapaz de cabelos castanhos.

- Me diga por que está fazendo isso! - O tom de Goku não era violento, mas suplicante. Geralmente gostava de saber o motivo de uma luta, antes de entrar numa.

- Não lhe devo explicações!!

Goten observava tudo, e ajudaria o pai só se fosse necessário. Seria impossível para ele entrar de cabeça na luta agora, pois os dois adultos trocavam socos freneticamente, numa velocidade incrível. Goku não conseguia acompanhar bem os movimentos do jovem, e um soco ou outro penetrava por sua defesa, atingindo-lhe o abdômen. O rapaz começou a levar vantagem, ao acertar uma série de pontapés no sayajin. Finalmente, Goku foi derrubado com um golpe perigosíssimo na cabeça.

- PAPAI!!!

Goten correu cegamente até o pai, mas antes que pudesse chegar para socorre-lo, Goku soergueu-se hesitante, com um corte no lado esquerdo da cabeça, por onde o sangue escorria até o queixo.

- Você é forte como a Silfy... Desse jeito não sou páreo pra você...

O jovem não entendeu as palavras de seu adversário. Perturbado, sentiu a crescente onda de energia, emanada pelo homem à sua frente. Estranhamente, observou seus cabelos ficaram gradualmente dourados e arrepiados. Ao final de sua transformação, o homem parecia muito mais ameaçador, e poderoso. Caminhava com firmes passadas até o jovem, sem demonstrar dúvida ou medo.

- O- o que você fez? Está mais forte!

- Este é o super sayajin um. - Informou Goku, com um olhar atroz, pronto para lutar de igual para igual com o rapaz.

A luta prosseguiu violenta. Os dois lutadores eram imbatíveis, cada qual com suas habilidades. Goku tentou vários golpes que não surtiram efeito em seu oponente, e o mesmo ocorreu com o jovem. O sayajin conseguiu derrubá-lo duas vezes, porém ele sempre se erguia, com mais ódio no olhar. Ambos já estavam ofegantes, com as roupas em frangalhos. Goku tentou uma de suas últimas cartadas.

- KA-ME-HA-MEEEE..... HAAAA!!!!

O jovem foi surpreendido com a magnífica onda de energia lançada em sua direção. Conseguiu pular no último instante, mas seu pé foi atingido. Porém Goku não se deu conta dessa manobra, e o jovem pousou cambaleante às suas costas. Enquanto tentava se recuperar do intenso golpe de energia emanado, o sayajin foi atingido na nuca por um soco certeiro. Caiu desfalecido no chão.

Goten soltou um grito, correndo em direção ao pai. Ao ver o pequeno, o jovem de cabelos castanhos deu um grande salto para trás. Ficou a observar, enquanto a criança tentava virar o grande corpo de barriga para cima. Quando conseguiu fazer isso, Goten tomou um susto. Goku estava sorrindo.

- Esse cara é forte mesmo. Não precisa se preocupar, Goten. Só estou brincando um pouco. Não se esqueça que eu tenho a transformação número dois. - O pai explicou calmamente, enquanto se sentava e alisava os cabelos do filho. - Agora se esconda de novo. Se eu precisar, você me ajuda, tá?

O jovem observou com olhos maliciosos enquanto o garotinho corria para a proteção de uma pequena rocha. Goku se levantou e ficou frente a frente com ele mais uma vez, mas na cabeça do jovem já surgira uma idéia diferente.

- Esse garoto é o seu filho, não é? - Encarou Goku.

- O q...? NÃO!!

Sem que o sayajin tivesse tempo de falar, ou sequer de pensar, o jovem disparara uma incrível quantidade de energia contra o pequeno Goten. O menino não teve reação, e deixou-se ficar no lugar onde estava, os olhos vidrados de admiração e surpresa.

Em uma espécie de câmera lenta, Goten viu a grande bola de energia aproximar-se e protegeu-se com os braços como pôde. Mas estranhamente, aquele poder todo não o atingira. Quando percebeu isso, o garotinho afastou os braços do rosto e abriu os olhos. A primeira coisa que enxergou foi a sombra de alguém maior, que o protegia. Em seguida, mirou o rosto do pai, contorcido pela dor. O corpo dele tremulava, lutando para não desabar, e a fumaça ainda persistia, nos machucados e queimaduras abertos em suas costas. Antes que o pai caísse inconsciente, Goten conseguiu captar o sorriso de alívio nos lábios dele.

Goten aproximou-se do pai desfalecido, num misto de medo e terror. Seus dedos tocaram ligeiramente a face adormecida e machucada, numa inútil tentativa de conseguir alguma reação de Goku. As costas do sayajin receberam um severo dano, a pele estava chamuscada, sangrando em alguns pontos. Goten tinha consciência de tudo isso, enquanto lágrimas brotavam de seus olhos. Não lágrimas de desespero ou tristeza. Lágrimas de ódio. Ódio puro e contido, prestes a explodir. Nunca na sua vida se sentira assim. Olhou furiosamente para o agressor, o jovem de cabelos castanhos. Ele era grande, maior que seu pai, e muito forte. Mas isso não fazia diferença para ele naquele instante... Tudo o que queria era extravasar sua raiva.

- Você... Você machucou o meu pai... Não vou te perdoar NUNCA!!!

Uma incrível energia emergiu do garotinho. O poder foi sentido como um vendaval, pelo agora surpreso jovem agressor. Goten estava furioso, cego em sua ira. O jovem observou estático o pequeno, e foi como se algo aflorasse em sua mente. Ele se viu no lugar de Goten... Antes de morrer, ele também lutara por uma pessoa... E foi assassinado na tentativa de vingar essa pessoa. Momentaneamente rodeado por seus próprios pensamentos, o jovem foi arrancado deles quando uma segunda onda de energia - muito mais forte- emanou de Goten. O pequeno estava ficando igual ao pai... Os cabelos começavam a adquirir uma cor dourada... Seus olhos foram tornando-se mais claros, até ficarem azuis.

O garotinho parecia esgotado após sua transformação, mas sua fúria não diminuíra em nada. Deu dois ou três passos na direção do jovem e então desapareceu. Surgiu acima da cabeça do espantado jovem e o chute foi certeiro. O adulto nem teve tempo de piscar e foi arremessado para trás, cuspindo sangue. Não caiu no chão, pois Goten se adiantara ao corpo lançado numa agilidade impressionante, e o chutara de baixo para cima, agora fazendo com que o jovem voasse para o firmamento.

O jovem tentou recuperar o controle e pôr-se firme no ar, mas antes que pudesse fazê-lo, Goten já havia se adiantado novamente e deu-lhe um soco no rosto, derrubando-o no solo sem que ele pudesse reagir.

Nos instantes em que ficou caído no solo, o jovem pôde refletir sobre o que estava fazendo. Graças à sua estupidez, colocou aquele pequeno e inocente garoto numa situação semelhante à sua. "Eu também lutei para proteger alguém... Mas falhei... Onde eu estava com a cabeça pra fazer tudo isto? Se eu não tivesse atacado logo de cara, talvez eles pudessem me ajudar..."

Goten pousara no solo e vinha na direção do jovem vagarosamente, passo a passo. "Talvez o que eu diga agora não adiante nada, mas eu preciso tentar..." Pensou o jovem, com muita culpa. Graças ao garotinho, ele abrira os olhos, percebera toda a destruição que havia provocado. Mesmo que tivesse sido enviado ao inferno por engano, isso não justificava toda a sua ira e incoerência.

- G-garoto... Eu sei que vai ser difícil você entender... Mas queria que me perdoasse.

- Como é?

- Isso mesmo. Sabe, o meu nome é Aragon, e venho de um planeta muito distante chamado Mirus. Ele está sob ameaça de invasão por um povo de um planeta vizinho e inimigo... Eu era o comandante das forças de defesa do planeta, antes de morrer... A minha esposa... A minha esposa... Quando eu estava no meio de uma luta contra um guerreiro inimigo, fui ferido e ela tentou lutar para me proteger... Mas foi morta... Na minha frente... Eu... Eu tentei vingá-la mas fui morto também... Minha única esperança quando cheguei a este mundo era a de que eu a encontraria de novo... Mas em vez disso, fui mandado pra cá... Pode imaginar como eu me senti? Só queria sair daqui o quanto antes, pra estar junto dela...

O jovem falava sério, seus olhos estavam umedecidos e seu arrependimento o esmagava. Ele destruíra muitas almas e causara muita dor em sua fúria insana. E fez sofrer a criança que agora se tornara um lutador implacável.

A expressão de Goten amoleceu um pouco e ele baixou sua posição de defesa.

- Hãããã... Eu não entendi direito, mas... Você machucou meu pai! Por que você fez isso?

- Eu reconheço o meu erro, garoto. Fui um estúpido... Tentei atacar uma pequena criança... Se você deixar, posso fazer algo por seu pai.

Goten encarou-o um tanto desconfiado. Não estava entendendo muito bem, mas sua curiosidade e inocência o venceram. Quis saber o que o rapaz faria.

O jovem Aragon levantou-se do chão e bateu a terra das roupas. Em seguida, encaminhou-se para o corpo caído logo adiante. Goten estava atento, e alcançou o pai antes do rapaz. Agachou-se olhando feio, e segurou a cabeça de Goku, num gesto de proteção. Aragon chegou ao corpo, abaixando-se ao lado deste.

- Eu conheço uma magia de cura. Posso, garoto?

Ainda segurando a cabeça do pai, Goten fez um "sim" com a cabeça, sem dizer nada. Aragon estendeu a mão para os ferimentos de Goku, no entanto sem tocá-los. Uma cálida energia azulada surgiu da palma de sua mão, envolvendo as costas inteiras do sayajin. Os machucados foram se fechando pouco a pouco até que nada sobrou, a não ser a pele lisa e curada. Goten olhou para o jovem com olhos curiosos.

- Ué... E a roupa, não conserta? - Indagou Goten, apontando para o enorme rasgo na blusa de Goku.

- Haha... Eu conheço magia de cura, garoto, não técnicas de costura...

Aragon permitiu-se sorrir para o garoto. Um pouco mais relaxado agora, Goten também sorriu para ele pela primeira vez. Sem mais palavras, aguardaram silenciosos até que Goku voltasse a si.

O sayajin recobrou a consciência pouco a pouco, enquanto diante de seus olhos formavam-se figuras ainda disformes. Quando despertou completamente, ficou estupefato: Goten estava diante dele, transformado em super sayajin!

- G-Goten, o que aconteceu com você?! Você está como um super sayajin!! - Perguntou um incrédulo Goku, segurando o filho pelos ombros.

- Aah, eu nem sei como eu fiz isso pai! Como a gente faz pra voltar ao normal? - Rebateu o pequeno, um pouco sem jeito.

Goku já começava a explicar, quando de repente lembrou-se de algo. Virou-se bruscamente, para dar de cara com Aragon, sentado numa pedra, esperando que o sayajin se desse conta de sua presença. O primeiro impulso de Goku foi o de atacá-lo. Porém Goten adiantou-se e o segurou pelo pulso, pedindo que ele se acalmasse, para que a história pudesse ser contada.

- Bom, pai, como eu não entendi muito bem, o Aragon te explica, tá?

Um pouco relutante, ele começou a epopéia. Goku ouviu com atenção, com uma certa desconfiança. Mas, como era típico de sua personalidade, sua insegurança logo se esvaiu ao ouvir mais da história, e ao final, já estava sorrindo.

- Er, bom, será que eu expliquei tudo direito, senhor Goku?

- Bom, tem algumas coisas que eu não entendi, mas o principal eu peguei!

- Você é muito parecido com o seu filho... - Comentou Aragon, "animadamente".

- É mesmo? Legal. Bom, como você não é mesmo daqui, vem com a gente, que eu falo com o senhor Enma Dayo... Com certeza, ele vai ver seu erro e te mandar pro lugar certo...

- Você sabe como sair daqui?!

- É claro! Vamos!

Goku guiou os dois para a saída do inferno, a qual descobrira há muito tempo. No caminho, mostrou a Goten como fazer para voltar à forma normal. Estava realmente impressionado que o garotinho tivesse conseguido uma coisa tão incrível, sendo que todos - Gohan, Vejita e ele próprio - haviam se esforçado e sofrido muito para alcançar esse objetivo.

Finalmente depararam-se com a saída do inferno, e se adentraram por ela.

Enma Dayo continuava com muito serviço, mas já conseguira pôr muita coisa em ordem. Agora estava menos preocupado, e realizava seu trabalho com até certa tranqüilidade. Muitas almas haviam sido enviadas para lugares inadequados, mas ele cuidaria disso depois.

Ele parara uns instantes para descansar, quando ouviu sons estranhos. Era como se alguém batesse em algo de madeira. Aguçando o ouvido e perscrutando melhor, notou que as batidas vinham da gaveta de sua escrivaninha. Ao abri-la, quase caiu de costas: lá estavam Goku, um garotinho e um jovem. Goku sorria de orelha a orelha, como se pedindo desculpas pela aparição repentina.

- O- o que você está fazendo aqui, Goku?! Quem são esses?

- Este é Aragon, Sr. Enma, é uma alma que o senhor mandou por engano ao inferno... Ele está procurando a mulher dele, que morreu também...

- Ah, mais uma alma mandada ao lugar errado... Droga de documentos confusos... Ah, você é aquela alma que estava causando confusão lá embaixo?

- Sim senhor, e peço que me desculpe... Entenderei se me der algum tipo de castigo...

- Que castigo, não tenho tempo para isso, rapaz! Ando muito ocupado, sabe? E você estava certo em se revoltar... Me desculpe pelo meu engano... Só espero que não tenha feito muita destruição lá embaixo... Ainda bem que o Goku te trouxe, me poupa muito tempo! Vamos ver... Como é o nome da sua esposa?

- Merly...

- Deixa eu ver... M, m, m... Merly? Não tem ninguém aqui com esse nome... - Informou Enma, enquanto procurava em seu livro de registro de almas.

- Como não? Ela TEM que estar aqui...

- Mas não está... Com certeza ela ainda está viva...

Neste momento, vovó Uranai, que havia ouvido toda a conversa, surgiu de um cômodo contíguo. Trazia nas mãos sua velha bola de cristal, que emitia um forte brilho...

- Esta mulher, Merly... Ainda está viva. Pode conferir com seus próprios olhos.

A velha aproximou-se do trio, e estendeu-lhes a bola, a qual Aragon segurou avidamente. Na imagem que se projetava nela, via-se uma bela mulher, cabelos negros, corpo esguio e ágil, que usava uma blusa e calças marrons. Era forte, e no momento, ela e alguns companheiros rechaçavam a investida do inimigo. Assim que afugentara os invasores, a bela mulher sentou-se na grama, para tomar fôlego e secar o suor.

- E-ela está bem... Está viva e forte... - Soluçava Aragon, com lágrimas quase rolando por sua face.

Enquanto o jovem observava pela bola de cristal, Enma pareceu notar a criança ao lado de Goku.

- E esse menino, Goku? É outra alma que mandei ao inferno por engano?

- Não, esse é meu filho.

- Hã, mas ele morreu também?

- Não, ele está vivo... O senhor não se lembra, senhor Enma? Eu disse que tinha trazido meu filho da terra, pra passar uns dias comigo...

- Você O QUE????

O grito foi tão inesperado que até Aragon voltou-se para ver. A velha Uranai já esbofeteara o rosto com a própria mão, pensando "Burro, idiota!!". Goku não sabia o que dizer, colocara uma das mãos atrás da nuca e sorria idiotamente. Goten apenas assustara-se com a repentina confusão e estava só aguardando.

- Você não tem juízo, Goku... Como pode trazer alguém vivo pra cá? Está bem, eu me excedi um pouco... Vou deixar passar. Mas só porque é você, entendeu? Nem pense em fazer isso de novo! Quando for levar seu filho de volta, me avise.

- O-obrigado... E me desculpe Sr. Enma! Prometo que essa será a única vez.

Acalmados os ânimos, Goku pediu permissão para levar Aragon até o mundo do Grande Senhor Kayo, onde ficavam todos os maiores lutadores. O pedido foi aceito e eles se encaminharam para lá. Nem pai nem filho ousaram comentar algo sobre Trunks, que também estava ali no outro mundo...

- Que bom... Merly está viva...

- Pois é... Ela deve ser bem resistente. Você pensou que ela tinha morrido, mas ela só ficou ferida e desmaiou. - Comentou Goku, enquanto voavam para o lar dos lutadores.

- Mas você não está triste? Porque você não está junto dela... - Perguntou Goten, inocentemente.

- Não... Estou feliz por ela estar bem...

- Mas você não queria ficar junto dela?

- Se eu pudesse, Goten... Gostaria muito de ajudá-la, mas já estou morto...

- Mas a gente pode fazer você voltar a viver...

- Como é?!

- Com as Esferas do Dragão. - Disseram pai e filho, em uníssono.

Aragon apenas aguardou por uma explicação mais detalhada.

- Olha, Trunks-chan, seu amiguinho Goten e o fofucho voltaram de sua aventura misteriosa...

Silfy e Trunks treinavam quando notaram a aproximação dos dois e de uma terceira pessoa. Goku tentou cumprimentar Silfy, mas...

- Seu safado! Foi se aventurar por aí e não chamou nem o Trunks-chan e nem eu... Muito obrigada...

- Ah, desculpa, Silfy, é que eu...

As palavras foram interrompidas por um violento soco na cabeça.

- AAAAAAAAIIIII!! Por que fez isso, Silfy?!

- Isso é por você ter quebrado sua promessa. Eu não disse pra você não ir pro inferno?

- Como você descobriu?

- Intuição... Você ensina os meninos a voar e no dia seguinte some sem maiores explicações... E com a vontade que você estava de ir pra lá... É só juntar uma coisa com a outra...

Todos observavam a cena dando risada. Foi então que Silfy reparou em Aragon.

- Você... É do planeta Mirus, não é?

- Sou, sim... Como você sabia? Intuição também? - Quis brincar Aragon.

- Não, é por uma questão de observação mesmo. Sua compleição e seu tipo de energia...

- Você também é de Mirus?

- Sim...

- Eu tinha pensado que ela era a sua esposa! - Comentou Goku, sorrindo.

A loira se aproximou dele furiosa e por instante pareceu ao sayajin que ela se atiraria em seu pescoço para enforcá-lo.

- Fofucho, eu NUNCA me casei. Além disso, sabe há quantos anos eu morri?! Há mais de 100!!

- Não sabia que você era tão velha...

Os pensamentos de Goku se concretizaram e desta vez, Silfy agarrou mesmo o seu pescoço.

- Seu atrevido... Saiba que eu morri com corpinho de 22, tá?

Passada a confusão, Silfy e Trunks quiseram saber das novidades e sentaram-se para ouvir. O menino parecia ansioso, era como se quisesse mostrar alguma coisa nova. Não parava de se remexer e ficar retorcendo as mãos.

- Silfy, deixa eu mostrar pra eles! - Pediu, ansioso.

- Ah, você já quer mostrar "aquilo"? Tínhamos que fazer uma surpresa! Mas já que está tão ansioso, vá em frente.

Trunks levantou-se e pareceu se concentrar. O trio - Goku, Goten e Aragon - o observavam curiosos.

- Ei, Trunks, o que vai fazer? - Perguntou Goten, fitando-o com um brilho de curiosidade no olhar.

Trunks não se deu ao trabalho de explicações, mostraria na prática. Concentrou seu ki e fez um pouco de força. Logo, liberou uma incrível quantidade de energia, que pegou a todos desprevenidos. Suas feições tornaram-se mais duras e logo seu cabelo tomava um aspecto meio dourado.

O queixo de Goku caiu.

- Si-Silfy, foi você quem ajudou nisso?

- Foi sim, fofo. Como vocês nos abandonaram aqui, resolvemos treinar um pouco. E o Trunks-chan levou tão a sério que deu nisso. Ele ficou com tanta raiva que não conseguia me atingir que se transformou num super sayajin...

Enquanto Goku tentava se recompor, Goten aproximou-se de Trunks para parabenizá-lo. Pegou nas mãos do garotinho de cabelos roxos e começou a pular de alegria. Trunks entrou na brincadeira e acompanhou Goten. Em poucos minutos já estavam lutando, uma luta amistosa, apenas para se divertirem.

- Mas que raça gozada essa dos sayajins... Eles mudam de aparência... - Pronunciou-se Aragon, soturno.

- Você ainda não viu nada, amiguinho... Os sayajins já são estranhos, e aqui à nossa frente está o mais esquisito deles...

- De quem está falando, Silfy?

- Hehe, deixa pra lá, fofucho. - Respondeu a garota, sorrindo com ironia, segurando o ombro de Goku. - Os sayajins podem ser estranhos, mas são extremamente poderosos... E aquele tal super sayajin nível 3, Goku? Você conseguiu essa proeza?

- Ah, ainda não... É uma teoria ainda, vamos ver se consigo pôr em prática.

Após a luta dos garotinhos e de conversaram bastante, os cinco lutadores retiraram-se para o alojamento para finalmente descansarem.

Aragon permaneceu na área pertencente aos lutadores até a hora dos garotinhos partirem. Silfy arranjou-lhe um quarto para pernoitar.

Mas era chegada a hora da volta dos meninos, e por mais duro que fosse, precisavam retornar. No alojamento, Goku ajudara os meninos a arrumar as coisas. Claro que seu auxílio não influenciou muita coisa e os pertences dos pequenos continuaram bagunçados. Silfy, após uma bronca, ajudou os três a se arrumarem. Ao sair, podiam ver algumas garotas que choravam pela partida e os lutadores com rostos pesarosos.

Goten andava um pouco mais atrás do resto do grupo, e Aragon chamou-o de lado.

- Goten, obrigado por tudo e boa sorte. Seja um bom garoto.

- Pode deixar, senhor Aragon! Quando eu voltar pra casa, a primeira coisa que eu vou fazer é ir atrás das Esferas do Dragão! É uma promessa!

- Essas esferas devem ser mesmo incríveis, nunca tinha ouvido falar... Obrigado por mais esse sacrifício.

- Que nada!

- Goten, respeite sempre aqueles que você ama. Sempre demonstre o seu carinho e os faça sentirem-se bem. Só quando você está afastado deles ou quando os perde é que você enxerga seu verdadeiro valor. Essa é uma lição que eu só aprendi quando vim pra cá. Sempre preocupado com guerras, acho que nunca dei a atenção que minha amada necessitava. Você vai se afastar do seu pai agora, mas continue respeitando-o. Ele poderá não estar ao seu lado fisicamente, mas estará sempre em seu coração. E garanto que você poderá vê-lo de novo. Quem ama, protege. Se todos se protegessem neste universo, não haveria tantas desgraças.

- Bom, não sei se eu entendi tudo, mas eu devo sempre respeitar aqueles que gosto, né?

- Exatamente. - Aragon concluiu, pousando a mão na cabeça do garotinho.

- Vamos, Goten, a vovó Uranai já está aqui! Está pronto?

Era Goku quem chamava. O pequeno despediu-se de Aragon com um sorriso, e o lembrou da promessa. Saiu correndo desajeitadamente em direção ao pai e Trunks. Assim que os alcançou, segurou a mão de Goku.

Trunks despedia-se de Silfy. Esta tornara-se muito amiga do menino e sentia-se com o coração apertado por se separar dele. O garotinho agradeceu pelo treinamento dela e disse que sem isso não teria descoberto poderes tão incríveis como o de super sayajin. Silfy segurou-o no colo e deu-lhe um grande abraço.

- Bom, Goku, nós não podemos ir pelo método convencional, porque isso significaria ter que falar com o Sr. Enma, e ele descobriria a presença do jovem Trunks aqui... Bom, já viu a confusão, né? Então já comuniquei a ele que usaríamos o seu teletransporte para ir à terra. - Anunciou a velha Uranai, que sempre se preocupava com o menor dos detalhes.

- Tá legal. Então vou pra casa da Bulma primeiro. Deixe-me sentir o ki de alguém... Estão prontos, meninos?

- SIM!!

- Ótimo, segurem-se em mim... Já achei um ki bem forte. Vamos indo!

- Tchau, gente, até um dia!! - Gritou Goten para os lutadores que acompanhavam a partida.

- Tchau, pessoal! Até mais Silfy! Espero poder lutar com você de novo! - Gritou Trunks.

- Adeus, Trunks-chan...

Assim, os três foram desaparecendo lentamente, juntamente com a velha Uranai. Logo se tornaram borrões, até se extinguirem por completo, deixando para trás todos os novos amigos e aquele mundo tão incrível.

- MALDITO KAKAROTTO!!!! OUTRA VEZ???!!

O bando se materializou depressa no mundo dos vivos. O ki poderoso que Goku sentira era de Vegeta. Porém... O príncipe dos sayajins se encontrava no banho, e pela segunda vez Goku o flagrara "desprotegido". E com o adicional de Trunks, Goten e a velha Uranai. Com sua praticidade de sempre, Vegeta expulsara todos do banheiro aos berros, com exceção de Goku, a quem estrangulava com prazer.

- Parece que o meu pai tá enforcando o seu de novo...

- Eu acho que não tem problema, meu pai já tá morto. Me empresta o radar do dragão, Trunks?

- Claro. Você já vai procurar as esferas?

- Já. Como eu prometi. Só vou esperar pra me despedir do papai.

Assim, Goku reviu a família e os amigos por uma última vez, antes que Goten partisse em busca das esferas. O garotinho havia aprendido uma importante lição no outro mundo. Conhecera o pai e tornara-se mais forte. Agora que crescera em corpo, poderia crescer mais em espírito. Desde modo poderia proteger a quem amava e sempre realizar seus objetivos. Se encontrasse Goku no futuro, faria com que o pai se orgulhasse dele.

Enquanto o sayajin partia de volta ao seu lugar, Goten voava pelos céus até o horizonte infinito, para cumprir uma promessa e realizar seus intentos, para assim melhorar como ser humano.

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Deixem um review, senão, vou ficar triste. T_T 


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