P.O.V Lize

A especificação de JJ sobre o caso não foi nenhum pouco claro no carro, e ela não falou nada objetivo sobre o caso, o que me deixou ainda mais intrigada.

Algo estava acontecendo, e pelo o que eu pensei, ou tentei imaginar, esse caso tiraria noites de sono, e eu já estava exausta de agora.

No meio tempo na viagem, JJ só falava sobre eu estar me envolvendo, ou melhor, como ela falava, eu estava me misturando. Uma grande besteira, eu devo admitir. Mas admito mais alguma coisa, estou infelizmente me envolvendo demais. O plano era certeiro, único, e eu estou saindo do meu caminho. Não sou uma dessas pessoas que fica planejando o caminho, ou algo assim, eu sou o tipo de pessoa que tem um futuro planejado, nunca pensei. Nunca tive nenhuma ideia de futuro, porque na verdade, mal tinha uma ideia de presente, ninguém nunca conseguia me fazer ter uma ideia para levar a vida de um jeito bom, ou saudável. Mas eu sabia de uma coisa, do jeito que infelizmente me conheço bem, alguém vai acabar magoado nessa história e não sou eu.

Nunca me magoo.

Enquanto JJ tagarelava, eu não conseguia prestar atenção em uma palavra sequer que ela falava, tudo parecia tão distante e complicado. Fico me imaginando meses atrás, de bares em bares, tão bêbada e chapada, o que é engraçado pensar nisso, porque agora estou aqui fazendo uma droga de faculdade e trabalhando. Agora eu ajudo as pessoas.

É engraçado pensar nas voltas que a vida dá, você nunca sabe o que estar por vir.

Chegamos ao BAU, e eu não poderia estar mais aliviada em estar em outro lugar que JJ não ficasse tagarelando, e eu fingindo escutar. Odeio fingir coisas, e ultimamente, tenho fingindo muitas coisas.

Quando entramos, todos avisaram que devíamos subir, pois Hotch estava nos esperando junto com o resto da equipe. Poderia sentir o clima tenso que pairava sobre o lugar.

Assim que chegamos, estavam todos sentados, então logo nos acomodamos, JJ resolveu se sentar ao lado de Morgan, e então só restou um lugar entre Reid e Emily.

Morgan estava mais agitado que o normal, o que imaginei que como o caso fosse tão pessoal, envolvia ele. Todos os olhos estavam sobre ele, mesmo que não diretamente.

– Ótimo que vocês chegaram, estamos com um caso especial em nossas mãos hoje – Hotch começou o discurso, enquanto Garcia distribuía as planilhas sobre o caso. – Esse caso, eu devo admitir, é um tanto pessoal... Três dias atrás a prima de Morgan dada como desaparecida pela policia da vizinhança. Analisamos o caso, e cerca de um mês, garotas tem sido sequestradas e mortas.

Todos ficaram chocados e olhávamos para Morgan, resolvi não olhar muito porque já vi que ele estava um misto de sentimentos, e sei que não era para menos. Morgan é o tipo de cara que se importa muito com a família.

– Causa da morte? – Reid perguntou para quebrar o clima.

– Como vemos na imagem, o suspeito não tem um modo de matar constante, ele é muito eclético, mas ainda assim, deixa uma mensagem em todos os corpos das vitimas. Essa é Eleanor Park, 17 anos. Foi dada como sumida uma semana atrás, e seu corpo foi achado no cemitério cinco dias depois, causa da morte... Estrangulamento.

– E o que o suspeito escreve no corpo das vitimas? – Eu perguntei curiosa, apoiando os cotovelos na mesa.

– “no podemos evitar la muerte” – Hotch respondeu olhando diretamente para a tela que tinha as imagens das garotas mortas.

– Não podemos evitar a morte – Falei traduzindo e todos olhavam para mim. Provavelmente não achava que eu falasse alguma coisa além do inglês, o que não deixa de ser um tanto de verdade, não tenho tantos talentos. Eu sou apenas... Viajada.

– Pelo que percebemos o suspeito não perde tempo, nenhum pouco de tempo, temos no máximo cinco dias para encontrar o suspeito, ele ou ela está diminuindo os dias, então temos muito que fazer – Hotch falou depois de explicar nosso caso, acho que agora seria a parte que ele faria a função de cada um. – Emily e Rossi, vocês precisam ir até a delegacia conseguir mais detalhes sobre a morte, e o corpo das meninas. JJ, Lize e Reid vão à casa de cada garota e ver o que descobrem sobre a vida dela. Morgan fica comigo – Ele liderou enquanto concordávamos e nos levantamos. Era difícil olhar para Morgan porque era claro demais o quanto ele estava sofrendo, e isso deve ser difícil.

Todos olhavam para Morgan e falava com ele alguma palavra ou outra de conforto e saiam. Só eu fiquei atrás porque não sabia o que faria ou falaria.

– Hey, garotão – Eu brinquei e ele deu um meio sorriso. – Vamos encontra-la, Morgan. Não se preocupe – Eu afirmei e ele concordou com a cabeça. Dei um soco no seu ombro de brincadeira e saí.

Na saída estavam Spencer e JJ me esperando e entramos no carro rapidamente, fiquei no banco de trás abrindo a planilha dada por Garcia para ver se eu descobria alguma coisa.

– São poucas as informações, não consigo ligar nenhuma garota com a outra, são escolas diferentes, e pelo visto, são pessoas de personalidades totalmente diferentes – Eu murmurei irritada porque não conseguia achar nada.

– Vamos ver o que os pais delas têm a dizer, vamos achar alguma coisa – Assegurou Reid enquanto JJ olhava de relance para nós, e Reid me encarava.

– Eu realmente espero que sim – Eu falei.

– E vamos – Afirmou JJ.

Depois desse momento tenso que tivemos o fim da nossa pequena viagem foi muito curto, e logo estávamos na frente da casa da última vitima encontrada, Eleanor Park. É sempre muito estranho, triste e deprimente entrar naquele mesmo cômodo do qual eu infelizmente estava muito familiarizada, falando com os mesmos pais, porque por mais que sejam diferentes e muitas das vezes casos diferentes, ainda assim, estou com os mesmos pais que perderam alguém que realmente importava, eu estou muito familiarizada com esse sentimento, e agora... Eles nunca poderão vê-las de novo, e essa é sempre a pior parte... Não posso trazê-los de volta.

Eu fiquei um pouco mais atrás de Reid e JJ. Com certeza, JJ conseguiria lidar melhor com os pais do que eu. Nunca fui do tipo sensível, mas sei bem o que estão passando.

Entramos e comecei a analisar o local, cheio de fotos da garota, da sua infância até a sua adolescência, parecia ser bem inteligente na verdade, ela ganhou competições de matemática, turmas olímpicas. Era uma garota bem sucedida para falar a verdade.

Escutei JJ falando e dando suas condolências para os pais, e Reid analisava cada um deles, Spencer apenas estava sendo Spencer. Não poderia culpa-lo, está fazendo seu trabalho, mas JJ sempre lidou com a parte sensível de toda a coisa.

Peguei um retrato que a Eleanor parecia tão feliz, nunca vi alguém tão feliz em toda minha vida. A foto me mostrava uma enorme alegria que ela estava em cima daquele palco, segurando uma medalha. É triste imaginar que alguém que já sorriu desse jeito agora está morta.

Analisei bem o contexto, sou boa fisionomista. Não sou boa com nomes. Gosto de lembrar o rosto das pessoas, mas essa foto aqui, de certeza nunca vou esquecer.

– E quanto a você? – Uma voz atingiu meus ouvidos e eu me virei sabendo que era comigo.

A mãe de Eleanor me encarava, assim como todos da sala.

– Sou Elizabeth Stonem, Senhora – Eu me apresentei, não sabendo muito bem o que ela estava perguntando. Ela se aproximou vendo que eu estava com o retrato da filha em mãos.

– Ela estava tão feliz – A Sra. Park olhou para foto com os olhos cheios de lágrimas, e sorrindo ao ver a filha sorrir tanto assim. – Sabe, você lembra-me muito a minha Eleanor – Ela falou já chorando, aquilo me deixou desconfortável.

– Eu... Sinto muito, Srta. Park – Eu lamentei e ela balançou a cabeça confirmando, e então, do nada, sua mão veio parar do meu rosto enquanto ela alisava. Eu me senti bastante desconfortável naquele ambiente, de verdade. Vi em seus olhos que ela realmente me achou parecida com sua filha.

– Querida? – A voz do seu marido atingiu-lhe e então ela soltou meu rosto e eu soltei minha respiração.

Spencer olhava com os olhos confusos, ele tinha essa mania breve de fazer caretas quando não há tempo.

A Sra. Park sentou-se no sofá ao lado do marido.

E então JJ começou as perguntas diárias, e mostrou uma foto de outra garota que morava por perto e também foi sequestrada. A Sra. Park negou, falando que nunca tinha visto essa garota pela redondeza, mas que sentia muito por ela ter falecido.

– Sabe de algum grupo ou clube que ela participou recentemente, Srta. Park? – Perguntou Reid se sentando ao lado de JJ.

– O único que ela participou foi o Social Girls Club – A mãe respondeu em lágrimas.

– Social Girls Club? O que é isso... Uma intervenção religiosa? – Perguntei. Tentei ao máximo não ser irônica, mas acho que acabei sendo.

– Na verdade, é religioso sim. Nossa filha estava tentando se reconectar com Deus – O Sr. Park respondeu e eu realmente acertei em cheio nessa. Concordei com a cabeça e me levantei olhando para JJ e Reid que me encaravam surpresos.

JJ terminou aquele papo todo, e abraçou a Sra. Park que estava se acabando de chorar, eu percebia o incomodo profundo que isso causava em Spencer, porque ele estava olhando, mas dava para ver sua tristeza clara por estar presenciando mais uma vez isso.

Não sou nenhum tipo de pedra que não tem sentimentos, apesar de que já fui muitas vezes comparada com uma, mas esse tipo de coisa é profundo porque eu passei pela mesma coisa, todos aqui sabemos a dor da perda, mas esse tipo de perda... Ninguém deveria sentir.

Assim que eu saí, dando um breve aceno e falando mais uma vez que sentia muito pela morte da filha deles, e realmente sentia, entramos todos no carro e JJ deu partida. Dessa vez, eu fui à frente com JJ e Reid foi atrás.

Liguei rapidamente para Garcia porque essa história de Social Girls Club estava me incomodando, algo não se encaixava.

– Garcia, você poderia procurar alguma conexão entre as garotas com um grupo chamado Social Girls Club? – Eu perguntei e pude ouvi-la dando risadas do outro lado do celular.

– O que é isso? Um clube de castidade? – Ela indagou do outro lado ainda com ar de risadas. Percebi o olhar de Reid sobre a conversa porque o celular estava no modo viva voz.

– Quase isso – Pude sentir de longe o incomodo de Reid enquanto JJ apenas revirou os olhos.

– Baby, na verdade, eu achei algo... É, Stonem, mais uma vez você está certa, existe sim uma correlação entre as vitimas, todas eram do mesmo grupo – Quando Garcia disse isso, meu peito estufou de alegria porque tinha que ter alguma conexão, e realmente teve.

Fiquei mais tranquila.

Assim que desliguei o celular, virei-me inteiramente para o meu campo de visão ficar entre Spencer e JJ, e eles me olhavam com aquele olhar e eu sabia o que significava, iriamos atrás desse grupo, mas antes teríamos que falar com o resto do grupo e avisar, e principalmente, manter Morgan atualizado.