Hoje foi um dia difícil, entrei naquele caffe como faço todas as noites depois do expediente, me sentei na mesma cadeira que sempre me sento, pergunto a garçonete se ela ainda tem torta de limão, e peço um café expresso, sem amigos, sem namorado, sem família por perto em uma cidade distante, quem diria que dois anos longe me tornaria uma pessoa tão carente, nunca fui de ter amigos, sempre fui de ter poucos pessoas ao meu redor, uma noite chata, e ninguém em casa para dizer boa noite, tiro um papelzinho do meu bloco de notas, e escrevo nele “-oi? Como está? Vem sempre aqui?” acho que só eu pego os livros da estante, ninguém vai ver esse papel aqui, quem leria além de mim vinte mil léguas submarinas?

Um dia se passou, e novamente estou eu aqui, falando com a garçonete sobre a torta de limão, e pedindo meu café, abro meu livro e o bilhete está aqui, o abro para ver minha letra, porem um fato novo em um dia chato rotineiro, em uma letra muito bonita, li o bilhete segurando minha xicara de café. “-Oi! Eu estou bem e você? Sim, é meu lugar favorito. Assinado cliente da manhã.” Não pode deixar d sorrir, peguei outro papel do bloco de notas, e escrevi “-Que Bom que mais alguém lê Júlio Verne, outro papel em Viagem ao centro da terra. Tem alguma torta recomendar? Assinado cliente da noite.” Eu mais uma vez sem esperar retorno coloquei o livro na estante, comi minha torta e tomei meu café, e paguei minha conta e fui embora para o meu apartamento.

Hoje o meu dia foi um pouco mais corrido no Platão, houve um grande acidente na estrada e tive que cuidar dos que chegaram na emergência, fui até a estante de livros, estava lá viagem ao centro da terra, dessa vez havia dois bilhetes, um era o meu, e o outro um papel de caderno, sentei na mesma mesa, mas dessa vez não pedi a torta de limão, apenas o café, e comecei a ler a carta. “-Olá cliente da noite, tenho sim interesse por Verner, lia quando criança e ainda é um vício gostoso de se ter, tenho uma sugestão de torta, experimente a de morangos e amoras, está magnifica hoje, e você me sugeri alguma torta ou outra coisa? Assinado Cliente da manhã. PS; Outro bilhete em Teorema de Katharine.”

Peguei meu caderno da faculdade e uma caneta, e escrevi, “-Sinceramente não sei como posso sugerir uma torta daqui, por que sempre provei a de limão, acredite se quiser, nunca tinha lido um livro de John Green, dizem que são bons. Mas recomendo que ouça uma música para comer seu lanche John Legend – All of Me.”

Esta noite perdi meu primeiro paciente, ele tinha levado um tiro na coxa esquerda, seria uma cirurgia de rotinha, o que não prevíamos que é que a bala se estilhaçou, e um fragmento cortou a artéria da coxa, causando perda de sangue, e parada cardíaca, fui até a estante e peguei o livro, e havia outra carta, sentei com os olhos ainda doendo de chorar, e comecei a ler. “-A música é linda, a torta de limão é inacreditável, como o fato de você apenas comer isso quando tem tantas opções, recomendo você fazer o mesmo que eu, experimentar um sabor por dia, próxima carta em A culpa é das estrelas, é uma história triste, mas é ótimo em um dia nublado como hoje, espero que já esteja em casa quando começar a chover. Assinado cliente da manhã” Peguei uma folha do meu caderno e escrevi uma carta. “-Oi, sim está chovendo, as luzes da rua estão tremulas na janela, as pessoas passam com seus guarda chuvas, e sinto inveja delas, sinto mais ainda por que todos têm se esforçado tanto, me sinto como Colin, insuficiente, e sem propósito, hoje perde uma vida que estava em minha responsabilidade... Hoje eu provei a de maçã e canela, e um chá de cidreira, eles dois e você me confortaram hoje, obrigada. Assinado cliente da noite.”

Aquilo me fez sorrir, porém ainda doía o quanto eu tinha sido inútil, li os dois livros em uma madrugada e metade da manhã, dormir o resto da manhã te ir ao hospital. Mas uma vez fui até meu local, do livro, e dessa vez tinha uma flor amassada em uma página e mais uma carta. Me sentei com minha xicara de chocolate quente, abri a carta e comecei a ler. “-Querida amiga, perder uma vida não é algo que você possa impedir, entendo sua dor, deixo uma flor e um livro e sua torta de hoje, próxima carta está em Diário de uma paixão, não se deixe abater, e fico feliz que te dei algum consolo, deixo também uma música pra mais esse dia frio, esta manhã não tinha sol, apenas um céu nublado, mas não me senti triste, por que sei que acima das nuvens tem um céu azul, e ele vai voltar a brilhar. Smokey Robinson – Cruisin. Espero que aproveite.” Logo depois a garçonete com um sorriso largo veio até mim com uma torta e o livro, como essa pessoa podia ser tão amável com alguém que mal conhece? Comecei a ficar curiosa em relação a quem era essa pessoa.

Ao chegar em casa fui logo baixando o livro no IPed, como comecei a fazer nas últimas semanas desde conhece o meu amigo secreto, mas uma vez vou até a estante porem o livro não está lá, hoje o Caffe está um pouco cheio, sai procurando o livro pela livraria, lá no canto, perto da janela um belo rapaz de cabelos acima dos ombros estava com o livro nas mãos, ele era muito grande, devi ter aproximadamente 1,90 de altura, forte, porém não musculoso, belos olhos castanhos escuros e uma pele morena, fui sem medo até ele, quando cheguei perto, ele levantou seu olhar e sorriu.

–Então se você é o Colin isso faz de mim uma Lindsey? Você bem mais bonita que sua bela caligrafia de medica, muito prazer em finalmente te conhecer meu nome é Jonathan Collins, sou o dono do café, mas pode me chamar de o cliente da manhã. –Meu Deus!!! Queria enfiar minha cabeça em um buraco passei semanas falando com o dono do café? Ainda bem que nunca falei mal. –E você é?

–Ah.... Eu sou Cecilia... mas meus amigos me chamam de Lia, estava decidida em bater em você por causa da carta...

–Calma, eu senti você deprimida palas letras mas estranhas que o normal, Bianca disse que naquele dia você chorou lendo a carta, e achei que já estava na hora de eu me apresentar, e como um confeiteiro queria saber que tipo de pessoa só prova um tipo de torta, se eu me empenho tanto para fazer tantas tão deliciosas. –Ele sorriu, seu sorriso era charmoso e caloroso, me sentei a sua frente, Bianca a garçonete que nunca me despertou a curiosidade de ler seu crachá, trouce uma torta de chocolate com amoras.

–Esta torta... Está deliciosa... como se chama?

–Cecilia, fiz pra você, não tinha um nome até eu conhecer você, passei semanas vendo você vir ao meu Caffe todos os dias sentar no mesmo lugar, comer a mesma torta e olhar pra cidade pela janela, nunca tive chance de falar com você, sempre pareceu tão cansada...

–Então você tem em observado de longe?

–Não exatamente... só depois que você esbarrou comigo depois de deixar o livro com o bilhete na minha estante de livros. –Ele sabia o tempo todo quem eu era?

–Você não fica aqui toda as noites certo?

–Não, somente nas terças e quintas... Então lia que ficar e conversar?

Depois daquele dia, Jonathan sempre fica comigo depois do trabalho, conversamos até o Caffe fechar, depois ele me leva em casa, e todos os dias pela manhã minha casa cheira a Maçã e canela, chocolate e amoras... e livros antigos, e a futuro. É impressionante o que se pode achar nos livros...