Despedindo-se de Peter Pan escrita por Evangeline


Capítulo 13
XIII - Adeus Peter Pan




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Ele estava caído, agarrado à uma maleta, havia sido arrastado para fora do carro.

Haviam faróis vindos de todos os lados, alguns passavam e iam embora, outros pareciam holofotes direcionados a Pan. As pessoas ao redor estava educadamente afastadas, e pareceram assustadas ao me verem chegar.

Algumas gotas de chuva começavam a cair, fazendo com que algumas pessoas se afastassem ainda mais, abruptamente.

Eu corri até Peter, ajoelhando-me diante dele. A parte da frente do carro estava completamente destroçada, assim como os braços do meu Peter, e o rosto dele, todo machucado.

– Peter. - Eu chamei, esperando que ele abrisse os olhos. E logo ele o fez. O meu ruivo abriu os olhos devagar e soltou um sorriso dolorido que me queimou o coração.

Peter estava em meus braços, exatamente como na primeira vez que o vi: molhado e exausto. Estava com uma maleta preta que ele agarrava fortemente, e me olhava com aquele brilho acolhedor e brincalhão de sempre, apenas com muita dor e pesar juntos.

A chuva não cessava, parecia piorar a cada segundo, exatamente como na primeira vez que o vi, há exatamente seis anos, e continuava nos encharcando. Mas a água que o molhava não me incomodava, e sim o sangue em seus ferimentos. Eu tinha medo que Peter perdesse sangue demais.

– Mary... - Ele sussurrou, tirando uma das mãos da maleta e alisando-me o rosto. - Feliz... - Gemeu. - Cinco anos para nós. - Disse com um sorriso dolorido.

– Feliz cinco anos, meu amor. - Eu falei, debruçada sobre ele e coberta por lágrimas. Ele se esforçou para me oferecer a maleta, e logo eu entendi que aquele era o meu presente. Os soluços do meu choro saíram pela garganta sem que eu conseguisse me controlar. Por um segundo eu pensara que ele havia esquecido.

As minhas mãos tremiam, assim como o meu queixo e as lágrimas escorrendo no meu rosto. Eu tirei a maleta de cima dele, gemendo ainda mais ao ver mais ferimentos em seu dorso, e tentei levantá-lo, mas ele gemia ainda mais de dor.

– Vamos, Peter! - Eu implorava, com a voz trêmula e desesperada.

– Você... - Ele começou com dificuldade, fazendo-me repousá-lo em meu colo e desistir de levantá-lo. - ...acredita em mim... Thatcher? - Perguntou, sorrindo de lado com os olhos semicerrados. Eu sorri em meio a todas as lágrimas e assenti com a cabeça desesperadamente.

– Vou acreditar sempre em você, Peter Pan. - Falei encostando a testa à dele, sem me importar com minhas lágrimas caindo no rosto dele.

– Sabe que... - Ele sussurrou, o sorriso sumira de seu rosto e em seu lugar eu apenas via dor, e não era dor física. - ... preciso ir. - Falou com dificuldade. Eu neguei com a cabeça, com todas as forças. Ele apertava os ferimentos com a mão livre, enquanto eu soluçava em lágrimas e negava. Peter não podia ir.

– Eu preciso ir. - Repetiu, exatamente como na última vez que se despediu de mim, saindo de minha biblioteca, cinco anos antes. O sangue de Peter era como um enorme tapete em cima do asfalto. Ele estava muito pálido e uma parte de mim não queria, não podia acreditar que eu estava o perdendo.

– Não pode! - Implorei. - Peter, você vai ser pai! - Revelei, e o vi arregalar os olhos e sorrir, como que pela última vez. Era como o seu último presente.

– Eu não quero ir... eu preciso. - Falou, e eu assenti, sentindo sua mão enxugar-me as lagrimas.

– Eu te amo, Peter Pan. - Eu falei, como ultimo apelo, implorando para alguém, ou algo, pela ida do meu amor. Ele soltou o ar com força e chorou. Peter Pan chorou diante dos meus olhos, apertando os deles enquanto lágrimas enxiam seus olhos e transbordavam por todo o seu rosto.

– Eu te amo demais, Mary. - Ele disse. Abaixei-me mais um pouco e beijei seus lábios molhados como pude, enquanto ele tentava me retribuir. Tentava esticar o pescoço, mas parecia doer demais. Tentava viver, o meu Peter. Mas era doloroso demais. - E te amo demais, meu anjo. - Falou, tirando a mão de seus ferimentos para colocar sob a minha barriga, enquanto sorria em meio a soluços, e chorava como uma criança.

Logo Pan começou a tossir. Tossia sangue e a cada tossida chorava mais, assim como eu.

– Fique quietinha... - Falou com dificuldade enquanto eu negava com todas as forças. Algo dentro de mim implorava para que o trânsito andasse e a ambulância chegasse, e salvasse o meu Peter, o pai do meu filho, o meu amor. Mas os carros passavam lentamente, quase imóveis. - ...vai ficar tudo bem. - Concluiu, antes de tossir mais. Longe de nós, o som das sirenes já podia ser ouvido, e uma chama de esperança me tocou fundo.

– Não vai. Não sem você. Aguente mais um pouco. - Eu negava e implorava. - Não vou me despedir de você de novo, Pan! - Gritei com ele, enfurecida. Por quê ele não podia aguentar mais? Por quê não ficava comigo? Eu gritei com ele.

Mas Peter Pan já não podia me ouvir.

As lágrimas me escorriam o rosto ao fechar o livro, naquela última página.

A verdade é que o presente de Peter para mim eram dois livros, cada um com um bilhete. Num deles, Peter falava que aquele seria o conto preferido de nossos filhos e netos, e ele estava mais do que certo. Era a história de Peter Pan e Wendy, e as aventuras na Terra do Nunca, com o Capitão Gancho e todos os piratas, sereias e maravilhas que, de fato, Jane adorava, e hoje os nossos netos também adoram. O outro livro, posso lhes dizer que Peter me levou ao meu objetivo, me deu o meu presente. Ele me deu um livro, afinal de contas.

Querida, esta é a minha última tentativa por você, e te digo, se não conseguir com este, não consegue com nenhum. Este é o livro que vai te fazer sorrir e chorar ao mesmo tempo, meu amor.

Quando os nossos cinco anos se tornarem cinquenta, você ainda será a minha Wendy.

Um livro que me fez rir e chorar, e é este vos conto aqui, é este que acabaram de ler. Peter Pan escreveu a nossa história, e dedico esta à ele. A cada vez que o leio rio com nossas aventuras de jovens, desavenças e segredos, mal entendidos. E choro com a emoção de ter vivido um amor verdadeiro, e com a saudade do abraço do meu ruivo aconchegante.

Ao homem que me fez rir e chorar, ao mesmo tempo.

Com amor,

Georgia Wendy Thatcher.


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Notas finais do capítulo

Adeus, Peter... :'(
Triste que, até o final da história, não teve nenhuma recomendação. :(

—-- edit:
Não mais! o/



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